Meus olhos ficam neste parque,
Minhas mãos no musgo dos muros,
Para o que um dia vier buscar-me,
Entre pensamentos futuros.
Não quero pronunciar teu nome,
Que a voz é o apelido do vento,
E os graus da esfera me consomem
Toda, no mais simples momento.
São mais duráveis a hera, as malvas,
Que a minha face deste instante.
Mas posso deixá-la em palavras,
Grava num tempo constante.
Nunca tive os olhos tão claros
E o sorriso em tanta loucura.
Sinto-me toda igual às arvores:
Solitária, perfeita e pura.
Aqui estão meus olhos nas flores,
Meus braços ao longo dos ramos:
E, no vago rumor das fontes,
Uma voz de amor que sonhamos.
Cecília Meireles
Sem comentários:
Enviar um comentário