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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Olha teu Jardim .....


cheira-me!



"OLHA
no teu jardim as rosas entreabertas,
e nunca as pétalas caídas;
OBSERVA
em teu caminho a distância vencida
e nunca o que falte ainda;
GUARDA
do teu olhar os brilhos de alegria
e nunca as névoas de tristezas;
RETÉM
da tua voz risadas e canções
e nunca os teus gemidos;
CONSERVA
em teus ouvidos as palavras de amor
e nunca as de ódio;
GRAVA
em tua pupila o nascer das auroras
e nunca os teus poentes;
CONSERVA
no teu rosto as linhas do sorriso
e nunca os sulcos do teu pranto;
CONTA
o azul das tuas primaveras
e nunca as tempestades do verão;
GUARDA
da tua face apenas as carícias,
esquece as bofetadas;
CONSERVA
de teus pés os passos retos e puros,
esquece os transviados;
GUARDA
de tuas mãos as flores que ofertaram,
esquece os espinhos que ficaram;
De teus lábios CONSERVA as mensagens bondosas,
esquece as maldições;
RELEMBRA
com prazer as tuas escaladas,
esquece o prazer fútil das descidas;
RELEMBRA
os dias em que foste água limpa,
esquece as horas em que foste brejo;
CONTA
e mostra as medalhas das tuas vitórias,
esquece as cicatrizes das derrotas;
OLHA
de frente o sol que existe em tua vida,
esquece a sombra que fica atrás;
A flor que desabrocha é bem mais importante do que mil pétalas caídas;
E só um olhar de amor pode levar contigo calor para aquecer muitos invernos;
A bondade é mais forte em nós
e dura muito mais do que o mal que nós mesmos praticamos;
Sê OTIMISTA, e não te esqueças de que...
É NO FUNDO DA NOITE SEM LUAR QUE BRILHAM MUITO MAIS AS ESTRELAS!!!"

Nota: foi.me enviado por e-mail este poema , cujo autor desconheço
e por isso o publico , pois , tem bastante conteúdo e muito mais...

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Para atravessar contigo o deserto do mundo

...




Para atravesssar contigo o deserto do mundo

Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei.

Por ti deixei meu reino meu segredo

Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu orionte
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso.

Cá fora, à luz, sem véu, do dia duro

Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste.

E aprendi a viver em pleno vento.


Sophia de Mello Breyner e Andresen

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Vício virtuoso





st

Teu corpo foi feito para os meus beijos
e tem o sabor de frutas, de doces, de iguarias.
Teu beijo é uma doce selvajaria
que detona adrenalina no meu coração
e faz de cada momento de amor uma vitória.
E se tremo, estremeço, e me perco em emoção,
como se um sopro de Deus convulsionasse a terra,
é que o prazer despertado jamais em si mesmo se encerra.
És muito mais do que uma bandeja de frutas,
um banquete, uma orgia ou um carnaval.
És um manjar que meus lábios nem mereciam
posto, como um milagre, todo dia ao meu dispor
como um manancial inesgotável de amor,
um remédio milagroso,uma poderosa magia
que me enche de vida e de alegria.

As duas mão da terra

Novembro 28, 2011




Eu procurei e era vapor ou sonho
e era o mundo, o rumor do estio
com os seus barcos de folhagem entre as pedras
e o sol por sobre os muros, a linguagem
dos gestos quase imóveis no ardor
monótono e sombrio de uma brancura
que vencia o tempo e era o ombro
e o seio da terra entre o verde e a cinza.
Eu procurava e recebia o sopro
de um fogo em labirintos áridos
e a violência reunia-se num flanco
vermelho, companheira
que ardia adormecida e se elevava
sem sobressaltos à nudez do cimo.
Era como se a terra amasse o sonho
e com a mão de fogo e a mão de agua
desenhasse o instante da primeira
alegria divina. Eu recebia
as formas que se abriam e encerravam
em círculos vagarosos de uma matéria pura.

António Ramos Rosa

Imagem retirada do Google

domingo, 27 de novembro de 2011

Que o melhor de ti ...




Gibrán Jalil Gibrán

Que lo mejor de ti sea para tu amigo.
puesto que él conoce tu bajamar
deja que también conozca tu pleamar.
Y no lo busques para matar las horas
sino para vivir las horas.
Porque su papel es llenar tus necesidades
pero no tu vacío.
Y que en la dulzura de la amistad haya
risas y placeres compartidos.
Porque en el rocío de las pequeñeces
el corazón encuentra su mañana y se refresca".


Que o melhor de ti seja para teu amigo.
posto ele conhece tuas marés
deixa que também conheça a preia-mar.
E não o queiras para matar as horas,
mas, para viver as horas.
Porque seu papel é o de atender às tuas necessidades,
mas, não o teu vazio.
E que, na doçura da amizade, haja
risos e prazeres compartilhados.
Porque no orvalho das pequenas coisas
o coração encontra sua manhã e se refresca.

sábado, 26 de novembro de 2011

Tens flores dentro da pele

Novembro 26, 2011




Tens flores dentro da pele
daquelas que se transforam em pétalas
no teu cabelo feito de vento
num dia quente.

Tens asas dentro dos olhos
com eles vês por detrás do céu
aquele onde te deitas
quando precisas de repousar.

Tens mãos feitas de terra
terra pura que contigo levas
e que deitas inocentemente
no canteiro dos corações.

Tens letras desenhadas nos pulsos
poemas que escreveste com os lábios
de todas as vezes que amaste
sem amar, amando sempre.

Tens a cor verde a pulsar nos ombros
onde carregas, porque és fortaleza feita de areia,
a vida toda que tens para te dar.

Raquel Lacerda

Imagem retirada do Google

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Teu corpo claro e perfeito




Teu corpo claro e perfeito,

– Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...

Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...

Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...

Teu corpo é pomo doirado...

Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...

Teu corpo é a brasa do lume...

Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...

É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Quem em antigas se derrama...

Volúpia da água e da chama...

A todo o momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...

Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...

Manuel Bandeira

Foto:Miles Morgan

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Estou vivo e escrevo sol





Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeceira
que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol

Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol

A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida

Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde

António Ramos Rosa

terça-feira, 22 de novembro de 2011

De : Helena Guimaraes

Fechei a cortina

Entreabríamos o cortinado ao cair da tarde
e deixávamos entrar a música e os duendes.
As begónias cobriam de verde o canto da sala,
adormecias no sofá em frente ao noticiário das oito.
O medo saia do teu corpo, visitava-me na cozinha
desvirtualizava o fio claro do pensamento,
empurráva-me os passos, alongava-me os dedos
em tremores e suores frios de silêncio.
Não consigo ter-te sem o universo que te circunda
onde te amarras numa ânsia de naufrágio.
Inquieta, caminho de novo na autofagia
que me deixa exangue de vontade
no ostracismo de solidão que me cerca.
Agora fechei a cortina e espero quieta.
No escuro procuro a luz das velas que se apagam
quando me aproximo e não descubro a saída
( do labirinto.
Sei que se abrir o cortinado entra a luz
mas com os duendes vens tu e o medo
que me alonga os dedos e os sonhos
(deixam de ter asas.
As árvores são verdes, o céu azul e as coisas
e as pessoas compram-se porque é assim.
Tudo tem um lugar estático e predeterminado
como se viver não fosse uma dialéctica
de cada um consigo e com a sua circunstância.

Até onde vós estais




Oh, presenças amigas, ó momento
em que alongo o braço e toco em cheio os rostos
A minha língua abriu-se para dizer a face
do vento que percorre as vossas vidas.

Estou perante a noite mais profunda,
a delicada noite das raízes: vejo rostos
vejo os sinais e os suores das vossas vidas.

Atravesso árvores subsmersas, ruas obscuras,
poços de água verde, e vou convosco ter,
minhas faces lívidas, mãe, amigos, amores.

A terra que penetro é este chão de terra
com as raizes feridas, com os ferozes pulsos,
A vertente que desço é uma subida às vossas vidas.

António Ramos Rosa

Imagem retirada do Google

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

-


A Conceit

Maya Angelou

Give me your hand

Make room for me
to lead and follow
you
beyond this rage of poetry.

Let others have
the privacy of
touching words
and love of loss
of love.

For me
Give me your hand.

Uma opinião

Me dê sua mão

Faça o quarto para me
liderar que vou seguir
você
além desta fúria da poesia.

Deixe que os outros tenham
a privacidade das
palavras sensíveis
e o amor à perda
do amor.

Me dê sua mão
para mim.

domingo, 20 de novembro de 2011

COM O LUAR NOS OLHOS.....


No meio deste oceano profundo e imenso
Em sonhos viajei…Na Viagem da Minha Paixão…



As mulheres…
No jardim onde as maçãs são de ouro
Conheci três mulheres de encanto
Uma negra, uma vermelha, outra branca para meu espanto

Estava a brincar!
Nunca consegui conhecer realmente uma mulher
Nunca entendi o que lhes vai na alma quando sentem
E atiram isso a um coração qualquer.....

....não eu.......



"Não,
Eu Não te esqueci,
somente, enfeitei a saudade
com flôres e sorri
a cada lembrança tua..."

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Poema só para .......




Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...
-Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.

Manuel Bandeira

Imagem retirada do Google

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Este foi roubado....



...sussurras-me...
entre o desejo de te tocar,
vai as asas do desejo poisar,
nas loucas saudades,
que este corpo ha-de matar...

Acerca de mim...

À Tua Espera
Eu sou o que sou, magoei e já fui magoado... Estou literalmente a reaprender a viver!!!! Acreditem para mim isso já é uma vitória... Sei que irei alcançar os meus objectivos, porque estou a aprender a contornar os obstáculos....



Apreciem esta maravilha....

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Estou vivo e escrevo sol



Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeceira
que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol

Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol

A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida

Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde

António Ramos Rosa

Imagem retirada do Google

Amor de fixação....


Só vim te convencer

Que eu vim para não morrer

de tanto te esperar...

Chico Buarque

Sem fantasia



domingo, 13 de novembro de 2011

Aparição amorosa



Doce fantasma, por que me visitas
como em outros tempos nossos corpos se visitavam?
Tua transparência roça-me a pele, convida
a refazermos carícias impraticáveis: ninguém nunca
um beijo recebeu de rosto consumido.

Mas insistes, doçura. Ouço-te a voz,
mesma voz, mesmo timbre,
mesmas leves sílabas,
e aquele mesmo longo arquejo
em que te esvaías de prazer,
e nosso final descanso de camurça.

Então, convicto,
ouço teu nome, única parte de ti que não se dissolve
e continua existindo, puro som.
Aperto... o quê? a massa de ar em que te converteste
e beijo, beijo intensamente o nada.
Amado ser destruído, por que voltas
e és tão real assim tão ilusório?
Já nem distingo mais se és sombra
ou sombra sempre foste, e nossa história
invenção de livro soletrado
sob pestanas sonolentas.
Terei um dia conhecido
teu vero corpo como hoje o sei
de enlaçar o vapor como se enlaça
uma ideia platónica no espaço?

O desejo perdura em ti que já não és,
querida ausente, a perseguir-me, suave?
Nunca pensei que os mortos
o mesmo ardor tivessem de outros dias
e no-lo transmitissem com chupadas
de fogo aceso e gelo matizados.

Tua visita ardente me consola.
Tua visita ardente me desola.
Tua visita, apenas uma esmola.

Carlos Drummond de Andrade

Foto:Ben Heys

Diz-me o teu nome ....diz.




Diz-me o teu nome - agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão

com os teus dedos - como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,

como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro - assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o

nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.

Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim.

Maria do Rosário Pedreira

Foto:Piotr Kowalik

Coração sem imagens




Deito fora as imagens,
Sem ti para que me servem
as imagens?

Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.

Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.

Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.

Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.

Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.

Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.

E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.

Raul de Carvalho

Foto:Paul Dzik

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

De: Rafael Duyos



SONETO

Rafael Duyos

Ese perfume de tu piel que inunda
los poros de la mía si te abrazo,
deja en mi sueño el venturoso trazo
del rosal que, a mi mano se fecunda....
Otra cosa no soy, si no profunda
semilla, polen sobre tu regazo,
estambre de clavel que aprieta el lazo
que te injerta a mi carne vagabunda...
Hueles, Amor, igual que los jardines
de mi Levante moro de azahares....
Hueles, Amor, a algas de mis mares
revolcada en la arena entre jazmines...
Y a nardo, a muerta, a estío en los pinares
¡y a la espuma que anuncia a los delfines!

Soneto

Este perfume de tua pele que inunda
os poros da minha se eu te abraço,
deixa no meu sonho o venturoso traço
da rosa que, na minha mão se fecunda
Outra coisa não sou, se não a profunda
semente, pólen em teu regaço,
estame de cravo que aperta o laço
que te injeta a minha carne vagabunda...
Cheiras, amor, igual aos jardins
de laranjeiras aos montes, de suas flores ....
Cheiras, amor, a algas de meus mares
revolta na areia entre os jasmins....
E a nardo, a murta, ao verão entres os pinheiros
E a espuma que anuncia os delfins!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Beijo Roubado....



True Love





Que coisa louca,
essa sua boca
a me provocar!

Deixe de maldade!
Faça minha vontade.
Venha me beijar.

Cole nos meus,
esses lábios de Deus
e me faça sonhar.

Num beijo roubado
com gosto de pecado
quero me saciar.

Dê-me, logo, esse beijo
com tamanho desejo
...de continuar.

(Silvia Munhoz)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

De : Helena Guimaraes a fisga....




Pega-azul (Cyanopica cyanus)

Eu tinha uma fisga
quando era pequena.
Fez-ma o meu irmão,
numa tarde amena
com um ramo em forquilha
de um marmeleiro
que ensombrava o tanque.
Atou-lhe umas tiras de câmara-de-ar
com fio de norte
e pôs-lhe um bocado de couro por fim.
Nem cabia em mim
tal era a alegria e a minha sorte.
Enrolava a borracha à volta do pau
e metia-a na cinta
dos meus calções curtos,
como os garotos
que corriam descalços .
Nunca matou nada com aquela fisga!
Nem pomba, nem coelho ou passarinho
nem sequer uma sardonisca.
Mas era a minha fisga!
Que me fazia igual aos rapazes,
que ganhava jogos
“de quem atira mais longe”,
que me fazia fugir
dos bordados
e do pano do pó.
A minha fisga fazia de mim
aquilo que eu queria ser.

ouçam....vale a pena ouvir. Um clássico ( fado )

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Esta manhã encontrei o teu nome .....




Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida

foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.

Maria do Rosário Pedreira

Foto:Julia Margaret Cameron

sábado, 5 de novembro de 2011

...só para rom.....

Há palavras que nos beijam





Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes

Alexandre O'Neill

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

À noite ser (materiais para confeção de um espanador de tristezas)

Sexta-feira, Novembro 04, 2011




Dedos quietos que crescem
pele nua
brincadeiras como o amor
pêndulo solto de sonhos
lógicas sacudidas
olhar de só-assim
modos de chegar como sementes
manobras de artesão contra o ego
desafio do «eu»
nudez de pele
de mãos
e (sob os teus olhos)
invenção de um sólido espanador de tristeza.

Ondjaki

Foto:Yuri Bonder

para ouvir....

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Tragédia brasileira




Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade,

Conheceu Maria Elvira na Lapa, - prostituída, com sífilis, dermite nos dedos,
uma aliança empenhada e o dentes em petição de miséria.

Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou
médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.

Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.

Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez
nada disso: mudou de casa.

Viveram três anos assim.

Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.

Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos,
Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua
Clapp,
outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato,
Inválidos...

Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de
inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em
decúbito dorsal, vestida de organdi azul.

Manuel Bandeira

Imagem retirada do Google

De: Carlos Canã



Amada

Carlos Canã

Yo te escribo en secreto
mi ángel, mi flor amada.
y tener
de tu amor o boceto
en mi alma ilusionada.

y quisiera poner
una luna en tu piel,
y del cielo traer
un gran beso de miel.

y en tu pecho nacer
mi flor de alborada.

Amada

Eu te escrevo em segredo
meu anjo, minha flor amada.
e ter
de teu amor o esboço
anima toda minha alma.

e quisera por
uma lua na tua pele,
e do céu trazer
um grande beijo de mel.

e no teu peito nascer
a minha flor do amanhecer.