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quarta-feira, 30 de abril de 2008

Não tenho mesmo....

Quarta-feira, Abril 30, 2008

Não tenho tempo para as estrelas



Se cruzasse o universo
De ponta a ponta,
Buscaria tão somente
Teu coração.
Se vagasse sobre o abismo
Azul e medonho do mar,
Buscaria simplesmente
As profundezas do teu sentimento.
Quando olho o céu noturno
Busco o rumo certo
Para teus suaves abraços.
Não tenho tempo a perder
Olhando as estrelas errantes,
Pois eu mesmo erro na terra
Tentando encontrar meu amor.
Poderia ser tua face
Como aquela constelação
Que me fita com diamantinos luzeiros.
Assim sendo não perderia
Tempo com as galáxias
Pois nas estrelas dos teus olhos
Encontro toda luz que preciso.
Não tenho tempo para as estrelas,
Nem mesmo se caíssem a meus pés,
Porque caminho certeiro como flecha
Para o coração bem amado
Da minha senhora da noite.

Marco António Cardoso

Foto:Yuri Bonder

Á carochinha.....

bebo-te…como água que rebenta das fontes



aqui tens a minha sede. as águas dos rios
somente satisfazem a urgência maior
e nada diz de ti esse líquido que a sede sacia:
queria beber-te nas ondas do teu ciúme
e despedaçar-me no desejo dos teus lábios
queria alcançar a nuvem e colher a rebeldia
das gotas exaltantes dos teus beijos
queria a ribeira da tua pele como a água
que rebenta das fontes
e unidos na mesma sede alcançar o êxtase
na cintilação dos mesmos horizontes
queria o incêndio escrito na mesma sede
e morrer no martírio de doçuras de amante

aqui tens a minha sede: fogo e água da tua boca
ardendo no azul duma água murmurante.



Bernardete Costa (Poetisa portuguesa, 1949- )

sábado, 26 de abril de 2008

Morreu ao amanhecer



Noite de quatro luas
e uma única árvore,
com uma única sombra
e um único pássaro.

Busco na minha carne as
pegadas de teus lábios.
Beija a nascente o vento
sem o tocar.

Levo o Não que me deste,
sobre a palma da mão,
como um limão de cera
quase branco.

Noite de quatro luas
e uma única árvore.
Na ponta de uma agulha
está meu amor – girando!

Frederico García Lorca

Foto:Zeca - The Knight of the Old Code

sexta-feira, 25 de abril de 2008

E depois....

Sexta-feira, Abril 25, 2008

E depois do Adeus



Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder.
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci.
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor
Que aprendi.
De novo vieste em flor
Te desfolhei...
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós.

Canta:Paulo de Carvalho

Música: José Calvário/Letra: José Niza

Para os meus amigos/as



Não esqueci, não esqueço, não esquecerei!

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quinta-feira, 24 de abril de 2008

Porque sinto.....

ZECA AFONSO

Grândola Vila Morena


    Grândola, vila morena
    Terra da fraternidade
    O povo é quem mais ordena
    Dentro de ti, ó cidade

    Dentro de ti, ó cidade
    O povo é quem mais ordena
    Terra da fraternidade
    Grândola, vila morena

    Em cada esquina um amigo
    Em cada rosto igualdade
    Grândola, vila morena
    Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

Abril é a nossa vontade....


ABRIL ANTIGO

Que recitar ou declamar,
Sobre Abril, sobre a história?
Que tenho p’ra vos contar,
Se Abril foi de glória!
Já tudo foi dito e escrito,
Do país é já memória.
Já tudo foi dito e escrito,
Tudo foi declamado:
Do que foi Abril, o grito,
Da arma G3 com cravo.
Faz parte da nossa história,
E na escola é ensinado.
Revolução pela liberdade,
Novo mundo nos foi dado.

Que tenho eu p’ra vos contar,
Se tudo já foi contado!
Falar dos militares de Abril,
Neste país tão mudado?
Falar dos nossos partidos
Que o têm ignorado?
Não!...

Abril são as nossas mãos,
Sempre dadas, sempre unidas.
É a amizade entre irmãos,
São as lutas conseguidas.

Abril é a nossa vontade,
É juventude e mocidade.
Abril é servir a terra
Que Abril aos filhos lega.

É de todos quantos dão,
Amor e fraternidade.
No lugar, terra, nação,
Ensinando a liberdade.
José Faria – Abril 08

terça-feira, 22 de abril de 2008

Também este crepúsculo...




Também este crepúsculo nós perdemos.
Ninguém nos viu hoje à tarde de mãos dadas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Olhei da minha janela
a festa do poente nas encostas ao longe.

Às vezes como uma moeda
acendia-se um pedaço se sol nas minhas mãos.

Eu recordava-te com a alma apertada
por essa tristeza que tu me conheces.

Onde estavas então?
Entre que gente?
Dizendo que palavras?
Porque vem até mim todo o amor de repente
Quando me sinto triste, e te sinto tão longe?

Caiu o livro em que sempre pegamos ao crepúsculo,
e como um cão ferido rodou s minha capa aos pés.

Sempre, sempre te afastas pela tarde
para onde o crepúsculo corre apagando estátuas.


Pablo Neruda

domingo, 20 de abril de 2008



"E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos... "

Pablo Neruda

Foto:Dean Agar

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Quinta-feira, Abril 17, 2008

Mascarada



Você me conhece?
(Frase dos mascarados de antigamente)

- Você me conhece?
- Não conheço não.
- Ah, como fui bela!
Tive grandes olhos,
que a paixão dos homens
(estranha paixão!)
Fazia maiores...
Fazia infinitos.
Diz: não me conheces?
- Não conheço não.

- Se eu falava, um mundo
Irreal se abria
à tua visão!
Tu não me escutavas:
Perdido ficavas
Na noite sem fundo
Do que eu te dizia...
Era a minha fala
Canto e persuasão...
Pois não me conheces?
- Não conheço não.
- Choraste em meus braços
- Não me lembro não.

- Por mim quantas vezes
O sono perdeste
E ciúmes atrozes
Te despedaçaram!

Por mim quantas vezes
Quase tu mataste,
Quase te mataste,
Quase te mataram!
Agora me fitas
E não me conheces?

- Não conheço não.
Conheço que a vida
É sonho, ilusão.
Conheço que a vida,
A vida é traição.

Manuel Bandeira

Foto:Gianluca Nespoli

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Carta aos mortos


    Amigos, nada mudou
    em essência.

    Os salários mal dão para os gastos,
    as guerras não terminaram
    e há vírus novos e terríveis,
    embora o avanço da medicina.
    Volta e meia um vizinho
    tomba morto por questão de amor.
    Há filmes interessantes, é verdade,
    e como sempre, mulheres portentosas
    nos seduzem com suas bocas e pernas,
    mas em matéria de amor
    não inventamos nenhuma posição nova.
    Alguns cosmonautas ficam no espaço
    seis meses ou mais, testando a engrenagem
    e a solidão.
    Em cada olimpíada há récordes previstos
    e nos países, avanços e recuos sociais.
    Mas nenhum pássaro mudou seu canto
    com a modernidade.

    Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
    relemos o Quixote, e a primavera
    chega pontualmente cada ano.

    Alguns hábitos, rios e florestas
    se perderam.
    Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
    ou toma a fresca da tarde,
    mas temos máquinas velocíssimas
    que nos dispensam de pensar.

    Sobre o desaparecimento dos dinossauros
    e a formação das galáxias
    não avançamos nada.
    Roupas vão e voltam com as modas.
    Governos fortes caem, outros se levantam,
    países se dividem
    e as formigas e abelhas continuam
    fiéis ao seu trabalho.

    Nada mudou em essência.

    Cantamos parabéns nas festas,
    discutimos futebol na esquina
    morremos em estúpidos desastres
    e volta e meia
    um de nós olha o céu quando estrelado
    com o mesmo pasmo das cavernas.
    E cada geração , insolente,
    continua a achar
    que vive no ápice da história.

    Affonso Romano de Santa’Anna

Á Benvinda....

Ecce Homo


Desbaratamos deuses, procurando
Um que nos satisfaça ou justifique.
Desbaratamos esperança, imaginando
Uma causa maior que nos explique.

Pensando nos secamos e perdemos
Esta força selvagem e secreta,
Esta semente agreste que trazemos
E gera heróis e homens e poetas.

Pois Deuses somos nós. Deuses do fogo
Malhando-nos a carne, até que em brasa
Nossos sexos furiosos se confundam,

Nossos corpos pensantes se entrelacem
E sangue, raiva, desespero ou asa,
Os filhos que tivermos forem nossos.

José Carlos Ary dos Santos

E de novo a armadilha dos abraços



Foto: Carlos Machado



E de novo a armadilha dos abraços.
E de novo o enredo das delícias.
O rouco da garganta, os pés descalços
a pele alucinada de carícias.
As preces, os segredos, as risadas
no altar esplendoroso das ofertas.
De novo beijo a beijo as madrugadas
de novo seio a seio as descobertas.
Alcandorada no teu corpo imenso
teço um colar de gritos e silêncios
a ecoar no som dos precipícios.
E tudo o que me dás eu te devolvo.
E fazemos de novo, sempre novo
o amor total dos deuses e dos bichos.




Rosa Lobato Faria (Actriz, escritora, autora e poetisa portuguesa, 1932- )

O que tinha de ser



Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem
E eu tua mulher

Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh'alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser


Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim



"A timidez é uma condição alheia ao coração, uma categoria, uma dimensão que desemboca na solidão."

Pablo Neruda


sábado, 12 de abril de 2008