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sábado, 29 de novembro de 2014

Pablo Neruda ///// Amar...


Mulher, teria sido teu filho, para beber-te
o leite dos seios como de um manancial,
para olhar-te e sentir-te a meu lado e ter-te
no riso de ouro e na voz de cristal.
Para sentir-te nas veias como Deus num rio
e adorar-te nos ossos tristes de pó e cal,
para que sem esforço teu ser pelo meu passasse
e saísse na estrofe - limpo de todo o mal -.
Como saberia amar-te, mulher, como saberia
amar-te, amar-te como nunca soube ninguém!
Morrer e todavia
amar-te mais.
E todavia
amar-te mais e mais.

Pablo Neruda

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

António Ramos Rosa //// Quando te vi senti um puro tremor de primavera

Quando te vi senti um puro tremor de primavera
e a voluptuosa brancura de um perfume
No meu sangue vogavam levemente
anénomas estrelas barcarolas
O silêncio que te envolvia era um grande disco branco
e o teu rosto solar tinha a bondade de um barco
e a pureza do trigo e de suaves açucenas
Quando descobri o teu seio de luminosa lua
e vi o teu ventre largamente branco
senti que nunca tinha beijado a claridade da terra
nem acariciara jamais uma guitarra redonda
Quando toquei a trémula andorinha do teu sexo
a adolescência do mundo foi um relâmpago no meu corpo
E quando me deitei a teu lado foi como se todo o universo
se tornasse numa voluptuosa arca de veludo
Tão lentamente pura e suavemente sumptuosa
foi a tua entrega que eu renasci inteiro como um anjo do sol


António Ramos Rosa 




Maria Teresa Horta //// Auto- retrato

 
Eu sou outra em mim mesma
e sou aquela
Sou esta
dançando sobre as lágrimas
Sou o gozo
no gosto de ser espelho
e me faz multiplicar em todo o lado
Eu sou múltipla
veneno em minha veia
Estrangeira
rasgando o seu passado
Sou cruel
dúplice e sedenta
mil vezes morri no desamparo
Eu sou esta que nego
e a outra onde me afirmo
faço nela e naquela o meu retrato
E se na história desta me confirmo
na vida da outra não me traio
Feita de ambas à beira do abismo
sou a mesma mulher nascida em Maio
 
Maria Teresa Horta
 
in INQUIETUDE (Quasi Edições, 2006)
Arte: Anne DeWailly
 
 

Musica

http://youtu.be/UeiCLfKi0YI




http://youtu.be/pZsW6M1VA7k




Eugénio de Andrade //// Quase nada....

 
O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.
 
 

EUGÉNIO DE ANDRADE




quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Paul Éluard ///// Declaração....


Pedinte não posso viver na ignorância
Preciso de ver ouvir e abusar
De te ouvir nua e ver nua
Para abusar das tuas carícias
Por felicidade ou por desgraça
Sei de cor o teu segredo
Todas as portas do teu império
As portas dos olhos as portas das mãos
As portas dos seios e da tua boca onde toda a língua se liquefaz
E a porta do tempo aberta entre as tuas pernas
A flor das noites de verão com lábios de fúria
No limiar da paisagem onde a flor ri e onde a flor chora
Mesmo guardando essa palidez de pérola morta
Enquanto dás o teu coração enquanto abres as pernas
És como o mar embalas as estrelas
És o campo do amor unes e separas
Os amantes e os loucos
Tu és a fome tu és o pão tu és a sede tu és a grande embriaguez
É a a derradeira aliança entre a força do bem e o querer do devaneio.

Paul Éluard


 

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Hamilton Ramos Afonso //// A alma e as mãos....


um mais um ...com o carinho que já conheces srsrsr bj


 
Todos os nossos gestos de afecto começam na alma ,
que nos dita a vontade de interagir
com o nosso semelhante , das diferentes formas
que os afectos revestem, seja , o amor, a amizade
ou apenas um gesto de solidariedade
por causas mais diversas...
A vontade da alma ,
transmite-se ao veículo onde tudo começa,
as nossas mãos,
que vazias se preenchem de ternura ,
carinho, vontade de ajudar,
estendendo-se para quem delas necessita
servindo de lenitivo,
alento,
refrigério para as agruras da vida
e calor solidário face a uma situação
de penúria ou de desgaste...
São estas mãos vazias
que quero encher com as tuas
para que sintas que elas te ajudarão
em horas de dificuldades, com a ternura
e o carinho que já conheces.

Hamilton Ramos Afonso 




de são reis



Eu ainda acredito em milagres
Todos os dias vejo um...
..quando o sol insiste e rompe
o mais denso nevoeiro
afasta as nuvens
e resplandecente
aquece a terra orvalhada
e desabrocha as flores
que teimam em se fechar
Quando insistente
acorda as aves
inunda o meu quarto
me desperta
e me lembra
que tenho um dia novinho em folha
esperando que eu o escreva
Eu ainda acredito em milagres. E tu?!
                                                                     
                                                                          de São Reis

NOTA :  

               Por ser um dia "" especial "" para
               mim 26/ XI / 14 , este poema.....



ESPECTACULAR COM LINDOS EFEITOS





 

A arte de ampliar ‘bolas de sabão’ e subdividi-las...

Efeitos surpreendentes.
 
 


J. G. de Araújo Jorge //// Chovia ..... chovia....

 
Chovia... chovia...
 
 
 
 
Naquela tarde, como chovia!
Me lembro de que a chuva caía
lá fora
sem parar,
e seu surdo rumor até parecia
um sussurro de quem chora
ou uma cantiga de embalar...
Me lembro que tu chegaste
inquieta, ansiosa,
mas logo te aconchegaste
em meus braços, quietinha...
(...enrodilhada como uma gatinha...)
E eu quase não sabia o que fazer:
se de encontro ao meu peito te deixava adormecer...
se te mantinha acordada, para seres minha...
Me lembro que chovia... chovia sem parar...
E que a chuva caía a turvar as vidraças
anoitecendo o quarto em seus tons baços...
Me lembro de que te sentia
aconchegada em meus braços...
Me lembro que chovia...
E de que era bom porque chovia,
e porque estavas ali, e porque eu te queria...
Sim, me lembro que tudo era bom...
E que a chuva caía, caía,
monótona, sem parar,
naquele mesmo tom...
Naquela tarde, amor, como chovia!
Agora, quando longe de ti, nem sou mais eu
em minha melancolia,
não posso mais ouvir a chuva cair
que não fique a lembrar tudo o que aconteceu
naquele dia...
Naquele dia...
enquanto chovia...

J. G. de Araújo Jorge 



domingo, 23 de novembro de 2014

SÃO REIS... Perguntas sem resposta...

Um Mais Um!!!!!!com votos de uma boa semana...apesar da chuva......que haja Sol no teu coração--bj‏
 
 
Pergunto-me se as borboletas
se sentem de facto dançar no estômago
quando se ama
ou se os olhos desabrocham
e vêem tudo mais cor de rosa
Pergunto-me qual o nível de loucura
que é preciso ter
para se mergulhar de cabeça
assim num amor que
tanto pode durar uma vida
como apenas minutos
Pergunto-me se chegados que somos
a uma certa altura da vida
se acreditamos mesmo em Deus
ou apenas em algo que sabemos lá
mas não entendemos
Se precisamos ser de novo pequenos
para que nos volte a ingenuidade
e a inocência
Pergunto-me se se mata com ferros
ou se apenas se morre com eles
porque nos espetam um
até à garganta
se o riso e o ódio matam alguém
ou se é apenas a condenação terrena
que nos mata antes da hora
Pergunto-me se de facto desaguo rios
nos teus olhos
ou se é um deserto que miro
de cada vez que te olho
e nunca me dei conta
Pergunto-me que semelhanças
têm os homens entre si
que os faz tão diferentes uns dos outros?
Que dicotomia nos serve de guia
para julgar outras pessoas
e condená-las logo à partida?
E pergunto-me também
se de facto existe um Deus
porque será que dorme
enquanto tanta injustiça
lhe passa bem defronte dos olhos
enquanto nos entrincheiramos
no melhor e no pior que somos
não permitindo que nada nem ninguém
nos molde os sonhos


SÃO REIS
23nov14 






sábado, 22 de novembro de 2014

Leonard Cohen //// Dance Me To The End Of Lov




LETRA TRADUZIDA 

Dance Me To The End Of Love

Dance-me até sua beleza com um violino ardente
Dance-me através do "pânico até eu estou reunido com segurança dentr
Levante-me como um ramo de oliveira e ser minha pomba de volta para casa
Dance-me até o fim do amor
Dance-me até o fim do amor
Ah, deixe-me ver sua beleza quando as testemunhas se foram
Deixe-me sentir você se movendo como eles fazem na Babilônia
Mostre-me lentamente o que eu só sei os limites de
Dance-me até o fim do amor
Dance-me até o fim do amor
Dance-me ao casamento agora, dançar me mais e mais
Dance-me muito carinho e dançar me muito tempo
Nós dois somos de nós sob o nosso amor, estamos nós dois acima
Dance-me até o fim do amor
Dance-me até o fim do amor
Dance-me para as crianças que pedem para nascer
Dance-me através das cortinas que nossos beijos têm desgastado
Levante uma barraca de abrigo agora, embora toda linha está dividida
Dance-me até o fim do amor
Dance-me até sua beleza com um violino ardente
Dance-me através do pânico até eu se reuniram com segurança dentr
Toque-me com a mão nua ou me toque com sua luva
Dance-me até o fim do amor
Dance-me até o fim do amor
Dance-me até o fim do amor


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Miguel Torga

risooooooooosssssssssssssss  sou mesmo  lollllllll bjis

Outono
Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.


                                  Miguel Torga 







Isabel Sousa (luadiurna)



Guardei para ti as madrugadas do sonho
quando disse que te amava
e os meus olhos plenos de ti escorreram
pelo sol que era a lua encostada no teu rosto

beijos de ternura nasceram nos meus lábios
e o sorriso onde a realidade ainda não doía
levitava nesse querer ver~te em toda a parte
e nada mais havia senão o teu rosto e o teu nome
hoje sei que o tempo me doi e me enlouquece
e as lágrimas que me adentram são inúteis
_as palavras são sufocos instalados na rotina-
a saudade há-de gelar e o sol será a sombra
e a sombra um resquício dos enganos onde a verdade
nunca foi mais do que um sonho em sobressalto
um dia rir-me-ei de ser menina
nesse dia serei mais adulta mais mulher
será tarde ,digo eu, mas será ainda cedo p'ra saber
que há um tempo em que se sofre por se amar
uma sombra perseguida na memória
ninguém muda assim tanto de si mesmo
e esse será o tempo de partir

Isabel Sousa (luadiurna)

ninguém muda assim tanto de si mesmo
e esse será o tempo de partir....
Isabel Sousa (luadiurna)
 

Laura Santos //// Sinto a tua falta

 
 

                                        Sinto a tua falta

                                        quando
                                         no mofo dos dias
                                         os braços da aurora me acordam
                                         e do peito uma ave se solta em voo de luz
                                         em direcção à nora
                                         onde os meus olhos bebem a manhã
                                         na névoa do velho alcatruz.

                                        Quando
                                          os raios do meio-dia escorrem
                                          pelas paredes num lamento
                                          e o calor refugiado na sombra
                                          não me refresca o pensamento
                                          na hora dorida que se arrasta
                                          sem vontade de morrer na lonjura
                                          que de ti me afasta.
                                          E é vertical a tua lembrança
                                          caindo a prumo. Transportando
                                          para as masmorras da esperança
                                          a escuridão da noite e a voz
                                          que permanece muda
                                          no atalho da distância.
                                          O brilho das coisas raras esconde-se
                                          na seiva dos lírios e num desejo
                                          feito cobiça de águas invioladas
                                          onde se atrevem temerários sonhos;
                                          os últimos sobreviventes
                                          do amor e da morte. Reféns
                                          suspensos de grandes asas
                                          que se despenham fazendo estremecer
                                          os alicerces dos homens e das casas.
                                          Apanho-os do chão, labareda feita água
                                          na plenitude do nada, dura solidez
                                          em que me sinto e me distraio
                              
                                         quando
                                          atravesso o rio e os meus passos
                                          lentamente marginais
                                          não alcançam como dantes
                                          os desígnios dos espaços siderais
                                          e uma nota em dó menor
                                          atormenta o sono das pedras.

                                        Quando
                                          ao cair da tarde uma folha seca
                                          soa em corrupio no vento
                                          e desaparece sem o regresso
                                          do sol ao firmamento.

Laura Santos



 Composta e cantada por Jacques Brel em 1959, "Ne Me Quitte Pas" é segundo o autor, uma canção não sobre o amor mas sobre a cobardia dos homens. Neste caso sobre a sua própria cobardia em relação a Suzanne Gabriello.









são reis

Depois...
Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão
devagar sobre o peito da terra e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas que ali estão a
crescer: o linho e genciana; as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis; a menta perfumada para
as infusões do verão e a teia de raízes de um
pequeno loureiro que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo. A vida nunca
foi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo.
Se bem que chova ainda, não te importes: pousa a
tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor
da tempestade que faz ruir os muros: explode no
teu coração um amor-perfeito, será doce o seu
pólen na corola de um beijo, não tenhas medo,
hão-de pedir-to quando chegar a primavera.

Maria do Rosário  Pedreira


 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Só musica.....










Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"

Só porque FLORBELA È  FLORBELA srsrsrsrsrsrsr beijo grande


Saudades Saudades!
 
Sim.. talvez.. e por que não?...
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!
 
 
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
 
 
 

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Lábios vermelhosLábios v Este texto é espetacular e com muita verdade , pois , foi assim que eu o vivi em tempos que já lá vai...

Deixa-me Falar-te de AmorNesta era em que tudo é fabricado, em que nada é natural, em que nada é puro; em que os primeiros beijos se trocam por telemóvel, se fala por sms e os ditos «encontros românticos» acontecem no cinema, entre um balde de pipocas e um copo de coca-cola, nesta era, que já não é minha, já não é tua, já nem é nossa; deixa-me falar-te de amor. Não quero falar deste «amor» novo, feito de «roda-bota-fora», que nasce podre e é vazio. Não te quero falar do amor para passar tempo, que se joga na Internet; nem daquele que se conhece num bar ou numa discoteca. 

Não: deixa-me falar-te de amor como o conheço, da mesma forma lamechas e (hoje) tão fora de moda; a mesma que te ensinaram os teus pais ou os teus avós; como era antigamente, quando passeavam junto ao rio, por vezes de mãos dadas, e coravam ainda, se encontravam alguma cara conhecida. Deixa-me falar-te do amor que me ensinaste. O amor que me ensinaste começou por um acaso, porque, por acaso, eu estava sozinha e tu também. O amor que me ensinaste não foi cozinhado nem confeccionado a propósito. 

No nosso amor, tu dás-me a mão e eu coro; convidas-me para sair e eu hesito; brincas com os meus caracóis e eu gosto; bebemos chá e ficamos ébrios; passeamos à beira-rio e pode ser que nos beijemos. No nosso amor, não somos só amantes, mas somos cúmplices. E companheiros. Olhas para mim e lês-me nas entrelinhas. Olho para ti e sei-te de cor. Sorrio e mergulhas nesse sorriso. Abraças-me e absorves-me inteira. Dizes-me «amo-te» e eu acredito. 
O amor que me ensinaste é puro, é natural, é biológico, sem corantes nem conservantes. Mas deixa-me contar-te um segredo: nesta era, que já não é minha, já não é tua, já nem é nossa; o nosso amor, ainda encanta! 

Ana Rita da Silva Freitas Rocha, in 'Textos de Amor – Museu Nacional da Imprensa' 

são reis

srsrsr beijo.....‏
 
 

Já vesti tantas personagens
tantas roupagens
que não são minhas
Já estive em tantos lugares
já calcorreei tantos trilhos
já vi tantas luas
já quis tantas coisas
já fui tantas pessoas
mas a verdade é que apenas
dentro de mim mesma me sinto bem
apenas sendo simples
me sou inteira
feliz
caule, flor, raíz
apenas inteira
me inebrio com o perfume
de toda e qualquer flor
apenas sendo eu mesma
do princípio ao fim
sem medo de ser quem sou
sem medo de mim...


são reis  


António Ramos Rosa. //// Uma voz na pedra

 
Não sei
se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra
 
António Ramos Rosa.

Foto: Uma Voz na Pedra   
 
   
 
 
 

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Joaquim Pessoa //// Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo

Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo
 
Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo
nem fazer explodir a madrugada nos teus olhos.
 
Eu quero apenas amar-te lentamente
como se todo o tempo fosse nosso
como se todo o tempo fosse pouco
como se nem sequer houvesse tempo.
 
Soltar os teus seios.
Despir as tuas ancas.
Apunhalar de amor o teu ventre.


Joaquim Pessoa



são reis /// Há...............

Há gente que sem o saber
 torna os nossos dias mais felizes
 gente que colora de matizes
 os olhos quando o céu chora

Há gente que gravita
 e sem nos tocar
 deixa-nos a pensar
 quantas coisas boas
 temos para nos alegrar

Há gente que faz eco dentro da gente
 e transforma de repente
 um dia sombrio num dia de verão


são reis
 
 
 
 
 
............................................................
......................................................................
 
E mais que uma onda, mais que uma maré
Tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade
Vai quem já nada teme, vai o homem do leme
 
 
 
 
 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Florbela Espanca //// A Vida...




É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés d'alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!
Todos somos no mundo "Pedro Sem",
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo donde vem!
A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...
Amar-te a vida inteira eu não podia...
A gente esquece sempre o bem dum dia.
Que queres, ó meu Amor, se é isto a Vida!...
 
Florbela Espanca 
 

/

domingo, 16 de novembro de 2014

Carlos Gardel //// Mi Buenos Aires Querido

Mi Buenos Aires Querido
Carlos Gardel
Compositor: Alfredo Le Pera e Carlos Gardel
Mi Buenos Aires querido,
cuando yo te vuelva a ver,
no habrá más penas ni olvido.
El farolito de la calle en que nací
fue el centinela de mis promesas de amor,
bajo su inquieta lucecita yo la vi
a mi pebeta luminosa como un sol.
Hoy que la suerte quiere que te vuelva a ver,
ciudad porteña de mi único querer,
oigo la queja de un bandoneón,
dentro del pecho pide rienda el corazón.
Mi Buenos Aires, tierra florida
donde mi vida terminaré.
Bajo tu amparo no hay desengaño
vuelan los años, se olvida el dolor.
En caravana los recuerdos pasan
como una estela dulce de emoción,
quiero que sepas que al evocarte
se van las penas del corazón.
Las ventanitas de mis calles de Arrabal,
donde sonríe una muchachita en flor;
quiero de nuevo yo volver a contemplar
aquellos ojos que acarician al mirar.
En la cortada más maleva una canción,
dice su ruego de coraje y de pasión;
una promesa y un suspirar
borró una lágrima de pena aquel cantar.
Mi Buenos Aires querido....
cuando yo te vuelva a ver...
no habrá más penas ni olvido..
Mi Buenos Aires Querido
Carlos Gardel
Compositor: Alfredo Le Pera e Carlos Gardel   







DANCEMOS........................................






sábado, 15 de novembro de 2014

Um poema de São Reis

 

Tenho saudade de te ver
de não te ver
de te beijar
de não te beijar
de te tocar
de não te tocar
de te ter
de não te ter
sede de ti
e sede sem ti
Tenho saudade de ti
ponto final
Como a árvore tem saudade
do vento que a sacode
e a água da terra que a engole
de um só trago
e os pássaros do calor quente
de uma asa protectora
e o céu das nuvens carregadas
e a lua das estrelas abrilhantadas
Saudades todos os seres vivos têm:
uns de umas coisas , outros de outras
e ponto final...
Saudades não se discutem e gostos também não
 
São Reis
16-abr-2012 
 
 
 

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Mais um poema de Lina Zerón ///// AÑADIRTE A MI PIEL



Quiero hervirte
en el centro de mis suspiros,
desgreñar tus ansias en mi ansiosa piel,
y encender piras infinitas
en la avenida de mis piernas
para guiar tu clavel por mi noche.

Desmadejar tus besos con mis besos,
en la flor de mi naranjo adormecer tu sed.
Sentir en mi elástico triángulo
azules bocanadas
y convertirte en amaranto ocaso,
para deleitarme con tu espuma,
para echar anclas,
para perseguir gaviotas,
para morir en ti.


 Lina Zerón

Colar-te à minha pele
Quero sorver-te
No centro dos meus suspiros,
Desgrenhar tuas ânsias na minha ansiosa pele,
e acender fogueiras infinitas
nas avenidas das minhas pernas
para guiar teu cravo por minha noite.

Desvendar teus beijos, com meus beijos,
na flor de minha laranja saciar tua sede.
Sentindo no meu triângulo elástico
mordidas azuis
e converter-te em alaranjado ocaso
para deleitar-me com tua espuma,
para abaixar as velas,
para perseguir gaivotas,
para morrer em ti.


 Lina Zerón 



Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" //// Tenho tanto sentimento....

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" 



Paul Éluard ///// Sorriso....


Havia um único sorriso que disputava
Cada estrela à noite que avançava
Um único sorriso para nós os dois
E o azul-celeste nos teus olhos maravilhados
Sobre o fundo da massa da noite
Encontrava a sua chama nos meus
Foi por necessidade de saber que vi
A noite profunda criar o dia
Sem que tivéssemos mudado de aparência.

Paul Éluard 
 

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Maria Olinda Maia ///// EU.....


Eu tenho um sorriso nos meus lábios,
nos meus olhos.
Vejo-te a caminhar pela estrada
que te trás a mim.
Sei que me vês
sem me veres.
Nós nos encontramos na luz...
Tocámo-nos...
O mundo à nossa volta desaparece.
É só tu e eu
na minha ilha encantada.
Um suspiro entre nós...
Pois somos a calma um do outro.
Observo-te por um instante e
envolvo-te em mim.
 
Maria Olinda Maia 
 
 

valter hugo mãe //// Calor interior .....


Às vezes perco-me nos caminhos que
conheço. Adormeço nos ruídos do
mundo sonhando banalidades
enquanto sou feliz. Sempre que
falho e fecho os olhos, imagino
outra pessoa perto de mim aquecendo as
mãos no calor do meu corpo como nas labaredas
de uma pequena fogueira

valter hugo mãe 
 
 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Fernando Campos de Castro //// Ama-me....


Ama-me como se fosse hoje o último dia
Como se a terra parasse de repente
e Deus se resolvesse acabar com o mundo
que a ninguém pertence
Como se o sol em revolta ardesse de ciúmes
e de nós achasse que brilhamos mais
e que somos mais quentes

Ama-me sem dogmas e sem lei nenhuma
como tu bem sabes
Que o amor que nós temos
não suporta leis
nem tolera entraves

Fernando Campos de Castro
(In Inquietudes e outras Atitudes)



Eugénio de Andrade //// Pedido....


De que lado viste chegar
o outono? Por que janela
o deixaste entrar? és tu quem
canta em surdina, ou a luz
espessa das suas folhas?
Em que rio te despes para sonhar?
É comigo que voltas
a ter quinze anos e corres
contra o vento até te perderes
na curva da estrada?
A quem dás a mão e confias
um segredo? Diz-me,
diz-me, para que possa habitar
um a um os meus dias.

Eugénio de Andrade 
 
 
O Encontro de Casais com Cristo - ECC
 
 
 

António Victor RAMOS ROSA //// NÃO POSSO ADIAR O AMOR


Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração

in "O Grito Claro", (1958) Ramos Rosa 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Mia Couto //// No teu tosto...

 
No teu rosto
competem mil madrugadas
Nos teus lábios
a raiz do sangue
procura suas pétalas
A tua beleza
é essa luta de sombras
é o sobressalto da luz
num tremor de água
é a boca da paixão
mordendo o meu sossego
 
Mia Couto 

Foto: No espelho 
o olhar desaparece

às vezes desalojado
no meu próprio corpo

às vezes 
angustiado
pela angústia 
que rola
para lá e para cá como destroços
na rebentação

raspo com um dedo 
o vidro 
e oiço o mundo gritar.

Pia Tafdrup

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Eugénio de Andrade ///// Razão....


O teu rosto inclinado pelo vento;
a feroz brancura dos teus dentes;
as mãos, de certo modo, irresponsáveis,
e contudo sombrias, e contudo transparentes;
o triunfo cruel das tuas pernas,
colunas em repouso se anoitece;
o peito raso, claro, feito de água;
a boca sossegada onde apetece
navegar ou cantar, ou simplesmente ser
a cor de um fruto, o peso de uma flor;
as palavras mordendo a solidão,
atravessadas de alegria e de terror;
são a grande razão, a única razão.

Eugénio de Andrade
 
 

Jaime Sabines ///// Trato de escribir en la oscuridad tu nombre,




 
 
Trato de escribir en la oscuridad tu nombre,

De escribir que te amo.

Trato de decir a oscuras todo esto.

No quiero que nadie se entere,

Que nadie me mire a las tres

De la mañana paseando de un lado

A otro de la estancia,

Loco, lleno de ti, enamorado.

Iluminado, ciego,

Lleno de ti, derramándote.
 
 
Digo tu nombre con todo el silencio de la noche,

Lo grita mi corazón amordazado.

Repito tu nombre, vuelvo a decirlo,

Lo digo incansablemente, y estoy seguro

Que habrá de amanecer.
 
 
Jaime Sabines  
 
 
Trato de, na escuridão, escrever o teu nome,

De escrever que te amo.
Trato de dizer às escuras tudo isto.
Não quero que ninguém saiba,
Que ninguém me veja, ás três
Da manhã passeando de um lado

Ao outro do quintal,

Louco, pleno de ti, enamorado.

Iluminado, cego,

Pleno de ti, derramando-te.
 
 
Digo teu nome em todo o silêncio da noite,

grita o meu coração amordaçado.

Repito teu nome, volto a dizê-lo,
 digo incansavelmente, e estou seguro

Que haverá de amanhecer....  
 
Jaime Sabines
 

António Ramos Rosa /// Noite(s)...


Noite(s)...
A noite chega com todos os seus rebanhos
Uma cidade amadurece nas vertentes do crepúsculo.
Há um íman que nos atrai para o interior da montanha.
Os navios deslizam nos estuários do vento.
Alguma coisa ascende de uma região negra.
Alguém escreve sobre os espelhos da sombra.
A passageira da noite vacila como um ser silencioso.
O último pássaro calou-se. As estrelas acenderam-se.
As ondas adormeceram com as cores e as imagens.
As portas subterrâneas têm perfumes silvestres.
Que sedosa e fluida é a água desta noite!
Dir-se-ia que as pedras entendem os meus passos.
Alguém me habita como uma árvore ou um planeta.
Estou perto e estou longe no coração do mundo.


António Ramos Rosa 


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Florbela Espanca AMAR !

Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca
 
 
 
 
 
 

«As Canções de António Botto»

Envolve-me amorosamente
Na cadeia de teus braços
Como naquela tardinha...
Não tardes, amor ausente;
Tem pena da minha mágoa,
Vida minha!
Vai a penumbra desabrochando
Na alcova
Aonde estou aguardando
A tua vinda...
Não tardes, amor ausente!
Anoitece. O dia finda...
E as rosas desfalecendo
Vão caindo e murmurando:
- Queremos que Ele nos pise!
Mas, quando vem Ele, quando?...


in «As Canções de António Botto»

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

são reis


Quando tudo parecia correr bem
foste embora
largaste a minha mão
e disseste que tudo tinha sido um engano
Que pena!
Logo agora que tinha começado
a aprender a voar
a confiar nas minhas asas
e a entender que o céu é muito mais azul
quando tocado e visto por dentro
 
São Reis
 

Essência...................

Essência...
Não sou nem um nem outro. Porque não me identifico com ninguém e neles não penso. O que sei de mim sei-o reforçadamente. Eu sou a certeza não do que fui nem do que serei mas do que sou, aqui e agora. Não existe outro nem sei o que isso seja. E não sou em mim um outro. Aquilo de que mais me aproximo é deste azul ventoso do céu. Sou vento. É essa a minha matéria, mais do que a dor que sinto quando olho longamente alguma nuvem. Sou a minha própria certeza e nada mais. É ela que me constitui.

João do Vale

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Laura Santos //// Pele....

 
 
Tudo acorda em mim enevoado
quando em mim te afundas e te deitas.
Um torpor, um arrepio na espinha
quando nas minhas coxas te ajeitas
em leve murmúrio abafado
numa vontade que já não é minha.
Seiva, saliva, humidade de poros,
vaga de lume batida em corpo salgado
tropicais cascatas e meteoros
oscilando em revolta navegação
como calado de barco afogado
fogo liberto em silêncio de amarração.
A minha pele adormecida
 é avida de astrolábios desconcertados
de tanta sede acometida.
De gestos de ternura perfumados
de sol, chuva e frescas nuvens
de mastros de coragem levantados.
 
Mas tu hoje não vens...
 
Laura Santos 
 
 
Nu sentado //  Picasso
 
 
 
 
Márcia com JP Simões, "A Pele Que Há Em Mim"(Quando o Dia Entardeceu). Pelo poema, e pela voz do JP Simões. "Sobre a pele que há em mim tu não sabes nada. Dá-me o mar, o meu rio, a minha estrada. O meu barco vazio na madrugada."
 
 
 
 

António Ramos Rosa ///// Corpo....


Procuro no corpo uma gentileza nova
a garua pardente de um pesado rochedo
envolto em longos enrolados e sedosos cabelos
É a densa divindade a divindade leve
dádiva de um firmamento submerso de selvagem suavidade
para além do tumultuoso desastre e da violência dos monstros
Eurídice num barco obscuro com o seu rosto de lua
sobre o seu túmulo branco entre a sombra e o canto
oferece o torso vegetal e o seu seu sombrio sangue
entre nostálgicos murmúrios e voluptuosos queixumes
Ela é a rocha a sombra adormecida
no vermelho silêncio do meu corpo ancestral
e só ela pode dar um rosto eterno ao mar
É ela que se ergue e se estende na praia
desta página aberta ao seu divino corpo
E eu que sou eu senão o seu amante
que vive do seu sopro que bebe o seu silêncio

António Ramos Rosa 
 
 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

são reis //// Quando....

Quando tudo parecia correr bem
vieste tu e roubaste-me os olhos
Depois roubaste-me o sorriso
e eu apenas olhava sem sorrir
Quando tudo parecia correr bem
levaste-me as asas e eu
fiquei presa ao chão
rasteira
mas ainda promissora
Quando tudo parecia correr bem
foste embora
largaste a minha mão
e disseste que tudo tinha sido um engano
Que pena!
Logo agora que tinha começado
a aprender a voar
a confiar nas minhas asas
e a entender que o céu é muito mais azul
quando tocado e visto por dentro
 

São Reis