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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Uma poesia de Francisco Villaespesa







En la penumbra                                   
Francisco Villaespesa

¡La hora confidencial!… Entre banales
palabras, toda entera, te respiro
como un perfume, y en tus ojos miro
desnudarse tu espíritu. ..Hay fatales

silencios… Se oscurecen los cristales;
y se esfuma la luz en un suspiro,
temblando sobre el pálido zafiro
que azula entre tus manos imperiales.

Las tinieblas palpitan… Andan miedos
descalzos por las sedas de la alfombra,
mientras que, presintiendo tus hechizos,

naufraga la blancura de mis dedos
en la profunda y ondulante sombra
del mar tempestuoso de tus rizos.

NA PENUMBRA

A hora confidencial! ... Entre banais
palavras, toda inteira, te respiro
como um perfume, e em teus olhos miro
desnudar-se teu espírito ..Em fatais

silêncios ... Se escurecem os cristais;
e a luz desaparece em um suspiro,
tremendo na pálida safira
que azula entre tuas mãos imperiais.

As escuridões palpitam ... Andam com medo
descalças pelos sedas do tapete,
enquanto, pressentindo teus feitiços,

naufraga a brancura dos meus dedos
na sombra profunda e ondulante
do mar tempestuoso de teus risos.

Ilustração: Francisco Villaespesa.

por Ricardo- águialivre






Amor sentido e adornado

Imagem relacionada

O fogo do teu corpo embriaga-me os sentidos
Embala o meu coração, acalma o meu ego
Sufoca os meus sentimentos incompreendidos
E deixa o meu coração, sem rumo, frio e cego
.
Altera-me a disposição e a minha atitude atenta
Olho-te de soslaio, sinto-me carente e impulsivo
Porque o teu coração, para mim, representa
O remédio que cura o meu sentimento sensitivo
.
É teu corpo uma faísca que me incendeia
Que retira de mim toda a sagaz inocência
És a labareda que pelo meu corpo vagueia
Que me queima e domina a inteligência
.
Desejo-te nesta alucinação flamejante
Quereres despidos, afáveis e apaixonados
Entrega-me o teu corpo em amor cintilante
E eu cuidarei dele com esmeros cuidados
.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Título: O SONHO E O MEDO O SONHO E O MEDO Janeiro 2003






Título: O SONHO E O MEDO
 O SONHO E O MEDO
Descrição:


A alma a esvoaçar
o espaço,
dedos a definir
imaginários
contornos,
o pensamento
submerso,
o sol aquietando-me
o peito,
neste sentir sem jeito,
sem razão,
num universo de sonho
a fluir na quietude
da tarde.
Sorvo o deleite
que invento,
embriago-me
no sentimento
para esquecer
o medo,
a angústia
da dúvida
que na razão
desperta
a cada
momento.

POETISA /  HELENA GUIMARÃES

Janeiro 2003

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

ALEXANDRE O'NEILL, POESIA







O AMOR É O AMOR
O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? - 
espírito e calor!

O amor é o amor - e depois?


ALEXANDRE O'NEILL,
POESIA   

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terça-feira, 27 de novembro de 2018

Ana Alvarenga






Rasgo a noite com as mãos, para que nos deixe passar.
Quero dançar nas vielas estreitas, roubar-te beijos em vãos de escada sombrios, trautear trechos de canções ... as tuas... Brel, Piaff, Aznavour, com acentuado sotaque, até explodires de riso.
Dar-te o braço, encostada ao teu ombro, oferecendo-te um sorriso rasgado na noite escura "ne me quitte pas", em tom trágico-exagerado:

"És perfeita nas tuas imperfeições".
Tocas ao de leve a fila de dentes irregulares, antevendo 'aquela' gargalhada cristalina - aquela que faz os olhos brilharem no escuro, como dois pirilampos reluzentes e traquinas.
E a noite envolve-nos no seu manto de veludo negro, decorado a diamantes.
(...)
Deixa-me em casa, ao amanhecer

Ana Alvarenga   

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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Vasco Gato







tranquilidade
Ter esta chuva mansa 
a palpitar pelas ruas como 
metrónomo que denunciasse 
os recursos imperceptíveis 
com que dentro de mim 
se vai reeditando 
a tua presença

Ludibriar a congestão dos dias 
com um assomo de dança, 
duas ou três árvores 
electrificadas pelo coração distante, 
a transfiguração de uma época 
esbanjada na pedra dos cemitérios, 
todo o cansaço ilegalizado 
por um músculo mais amplo, 
tecido inquebrável 
desta minha natureza 
de teu

Porque o que esse olhar me traz ainda 
apesar do grande pulmão de fuligem 
que se interpôs no nosso voo 
é a esperança numa esquina 
assaltada pelo ferro 
de uma antiga ternura 
da qual não sobrou religião, 
meramente esta alameda 
de poemas mais ou menos assinados 
com que homens e mulheres 
vão desmanchando 
- será? - 
a vileza dos séculos

Quero agora concluir 
as horas derradeiras desta espera 
com uma inclinação de varanda, 
puxar de toda a roupa que trago 
e estender-me aos pingos insistentes 
que anunciam os teus pés, 
enxertar um tempo mais conseguido 
no sangue, na recusa 
da morte branda, 
e ficar deste modo, 
sem exagero de água, 
a precipitar para a rua 
a mão que, nadando na treva, 
escavaste em mim

Vasco Gato   
Texto alt automático indisponível.

domingo, 25 de novembro de 2018

Elizabeth Barrett Browning































Sai de mim. No entanto, sinto que vou ficar de pé  
em frente à tua sombra. Nunca mais  
Sozinho no limiar da minha porta 
Da vida individual, eu devo comandar 
Os usos da minha alma, nem levantar minha mão 
Serenamente no sol como antes, 
Sem o senso daquilo que eu deixei -
Teu toque na palma da mão. A terra mais larga que  
Doom leva para nos separar, deixa o teu coração no meu 
Com pulsos que batem em dobro. O que eu faço  
E o que eu sonho inclui você, como o vinho 
Deve provar de suas próprias uvas. E quando eu peço a  
Deus por mim mesmo, Ele ouve esse teu nome 
E vê dentro dos meus olhos as lágrimas de dois.

 Elizabeth Barrett Browning   



Go from me. Yet I feel that I shall stand 
Henceforward in thy shadow. Nevermore 
Alone upon the threshold of my door 
Of individual life, I shall command 
The uses of my soul, nor lift my hand 
Serenely in the sunshine as before, 
Without the sense of that which I forbore -
Thy touch upon the palm. The widest land 
Doom takes to part us, leaves thy heart in mine 
With pulses that beat double. What I do 
And what I dream include thee, as the wine 
Must taste of its own grapes. And when I sue 
God for myself, He hears that name of thine, 
And sees within my eyes the tears of two.


Elizabeth Barrett Browning





sábado, 24 de novembro de 2018

Hamilton Ramos Afonso






SE...
Se te sentires enclausurado

como se te tivessem fechado
portas e janelas sobram-te
o grito e o arco sem flecha...

Se , por absurdo , fores espelho

e este reflectir a tua alma desalinhada
lembra-te que há sempre solução 
e uma janela que te sorri
pronta a calar-te o grito,
emprestar-te a flecha
e a devolver-te a liberdade...


Hamilton Ramos Afonso
VNP, 9 de Outubro de 2018   


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Estou só






Estou só , não consigo estar só,
É como se estivesse em um deserto perdido,
Sinto falta de mãos dadas , de afecto,
A solidão dói, a ausência machuca,
Fere meu coração.

Estou só ,tão só,
É como se não tivesse bússola,
Sinto falta de um beijo de amor, de paixão,
A solidão cansa, desgasta a alma,
Fere minha essência.

Estou só, não quero estar só,
É como se faltasse o ar,
Sinto falta de conversa, de olhos nos olhos,
A solidão parece eterna, perde o mistério,
Fere a existencia.

Estou só.

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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

FADO - Gonçalo Salgueiro - Cálice de Perdão






FADO - Gonçalo Salgueiro - Cálice de Perdão





Do fundo da alma, raramente se sente tão profundamente!

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

La Vida é um juego Angel González





La Vida é um juego
Angel González


Donde pongo la vida pongo el fuego 
de mi pasión volcada y sin salida.
Donde tengo el amor, toco la herida.
Donde pongo la fe, me pongo en juego.
Pongo en juego mi vida, y pierdo, y luego
vuelvo a empezar, sin vida, otra partida.
Perdida la de ayer, la de hoy perdida,
no me doy por vencido, y sigo, y juego
lo que me queda: un resto de esperanza.
Al siempre va. Mantengo mi postura.
Si sale nunca, la esperanza es muerte.
Si sale amor, la primavera avanza.


A vida em jogo
Onde ponho a vida, ponho o fogo
de minha paixão focada e sem saída.

Onde ponho o amor, toco a ferida.
Onde ponho a fé, me ponho em jogo.
Ponho em jogo minha vida, e perco, e logo
começo outra vez, sem vida, outra partida.

Perdida a de ontem, a de hoje perdida,
não me dou por vencido, e sigo, e jogo
o que me sobra: um resto de esperança.

E sempre vou em frente. Mantenho minha postura.
Sem sair nunca. A esperança é a morte.
Se sai o amor, a primavera avança.

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POESIA

Sei que estás aqui, sempre estiveste.
A tua aura flanando sobre mim é que me veste.
Em todos os lugares encontro a marca dos teus passos.
No sonho me aconchego no enleio dos teus braços.
É inútil esconderes-te no seio dos segredos,
pois tenho a pele lavrada pelo tateio dos teus dedos.
Caminho nas nuvens seguindo o teu roteiro,
guiado pelo perfume do teu cheiro.
Risco no azul navegações de asas
em torno da febre que me consome
e é de ti toda esta fome
que me queima como brasas.

Desconheço o autor/a
Maurice Utrillo - Moulin de la Galette and Sacre-Coeur  

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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

HAMILTON RAMOS AFONSO







MENINA , MULHER…



Mulher adulta,
com cara de anjo
menina arguta
verseja com graça
alma impoluta
tenta enganar com gana
o que o coração lhe dita
que agarre com garra
a oportunidade 
de ser feliz
fazendo feliz 
quem a ama 

HAMILTON RAMOS AFONSO

Arte: Vladimir Volegov*




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terça-feira, 20 de novembro de 2018

João Luís Barreto Guimarães




POESIA
A meias
Bebo o meu café enquanto bebes
do meu café. Intriga-me que faças isso.
Se te posso pedir um
(se podes tomar um igual)
porque hás-de querer do meu?
Que
não. Que não queres. Escuso
de pedir
que não queres. Então
começo
um cigarro e tu fumas do
meu cigarro dizes
«tenho quase a certeza de
não acabar um sozinha» por isso
fumas do meu. Dá-te
gozo esse roubar
de
leves goles furtivos
dá gozo participar
do prazer que eu possa ter
contigo
(e entre nós)
dá-se agora tudo
a meias.

João Luís Barreto Guimarães    

A imagem pode conter: chávena de café e bebida

POESIA Hoje de Hamilton Ramos Afonso






POESIA
Hoje

Hoje precisava,
tanto
abrigar-me na 
enseada dos teus
braços, 
do calor e perfume
do teu colo,
sentir teus lábios,
em beijo casto 
e terno 
nas covinhas da
minha face
e 
das tuas mãos
enlaçadas
nas minhas

Eu hoje precisava
tanto,
de derramar 
ternura,
em contemplação, 
no teu rosto…

Precisava,tanto…
de ti 
e 
tu sabes 
que sim…

Hamilton Ramos Afonso   



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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Fernando Assis Pacheco






Photo: Jeanloup Sieff

















Tentas, de longe, dizer que estás aqui.
Com peso triste caminha na rua o Outono.
O meu coração debruça-se à janela
a ver pessoas e carros, e as folhas caindo.

Mastigo esta solidão
como quando era pequeno e jantava
diante dos pais zangados:
devagar, ausente.



Fernando Assis Pacheco

domingo, 18 de novembro de 2018

Florbela Espanca





Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...

Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...

Florbela Espanca  
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sábado, 17 de novembro de 2018




Photo: Jeanlo up Sieff




















Tu, a que eu amo nesta manhã
que trouxe a tua imagem com os ruídos
da rua, vai até à janela,
levanta as persianas do quarto, e olha
o céu como se ele fosse
um espelho. Diz-me, então,
o que vês? As nuvens que passam
pelos teus olhos? Um azul cuja
sombra te desenha o contorno
das pálpebras? A mancha rosa do nascente
que o horizonte roubou ao
teu rosto? Mas não te demores. Um espelho
não se pode olhar muito tempo e
o céu da manhã é dos que mudam com
as variações da alma. Pode ser que o céu
roube um sorriso aos teus lábios e
mo traga, para que eu o ponha neste poema,
onde te vejo, um instante, enquanto
a manhã não acaba.



Nuno Júdice

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Ana Alvarenga






POESIA  



O silêncio tem o sabor de amoras silvestres, negras e brilhantes como a noite que abraça os pensamentos.

Sentes o cheiro das estrelas? 

Eu não o sinto; tenho a pele (ainda) impregnadados toques macios e deslizantes, do silêncio a massajar o corpo.


Pressentes o rasto dos sonhos?

Dos sonhos que desenhei para ti, em estátuas e em nuvens, no silêncio do traço fino.

E passeio nos telhados de casas vazias, encontro o silêncio - o teu e o meu -, que me grita, despenteia, empurra-me. Beija-me.



Ana Alvarenga  


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segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Carl Sandburg









































Give me hunger,
O you gods that sit and give
The world its orders.
Give me hunger, pain and want,
Shut me out with shame and failure
From your doors of gold and fame,
Give me your shabbiest, weariest hunger!

But leave me a little love,
A voice to speak to me in the day end,
A hand to touch me in the dark room
Breaking the long loneliness.
In the dusk of day-shapes
Blurring the sunset,
One little wandering, western star
Thrust out from the changing shores of shadow.
Let me go to the window,
Watch there the day-shapes of dusk
And wait and know the coming
Of a little love. 


Carl Sandburg