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sábado, 31 de março de 2018

"Cântico Negro", de José Régio








 poema de José Régio dito pelo actor Marco D´Almeida. 

“Cântico Negro”
“Vem por aqui”- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui”!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
—Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: “vem por aqui”?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
a ir por aí…
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei para onde vou,
Não sei para onde vou
—Sei que não vou por aí!
José Régio   



Ruy Belo





Muriel

Às vezes se te lembras procurava-te
retinha-te esgotava-te e se te não perdia
era só por haver-te já perdido ao encontrar-te
Nada no fundo tinha que dizer-te
e para ver-te verdadeiramente
e na tua visão me comprazer
indispensável era evitar ter-te
Era tudo tão simples quando te esperava
tão disponível como então eu estava
Mas hoje há os papéis há as voltas dar
há gente à minha volta há a gravata
Misturei muitas coisas com a tua imagem
Tu és a mesma mas nem imaginas
como mudou aquele que te esperava
Tu sabes como era se soubesses como é
Numa vida tão curta mudei tanto
que é com certo espanto que no espelho da manhã
distraído diviso a cara que me resta
depois de tudo quanto o tempo me levou
Eu tinha uma cidade tinha o nome de madrid
havia as ruas as pessoas o anonimato
os bares os cinemas os museus
um dia vi-te e desde então madrid
se porventura tem ainda para mim sentido
é ser solidão que te rodeia a ti
Mas o preço que pago por te ter
é ter-te apenas quanto poder ver-te
e ao ver-te saber que vou deixar de ver-te
Sou muito pobre tenho só por mim
no meio destas ruas e do pão e dos jornais
este sol de Janeiro e alguns amigos mais
Mesmo agora te vejo e mesmo ao ver-te não te vejo
pois sei que dentro em pouco deixarei de ver-te
Eu aprendi a ver a minha infância
vim a saber mais tarde a importância desse verbo para os gregos
e penso que se bach hoje nascesse
em vez de ter composto aquele prelúdio e fuga em ré maior
que esta mesma tarde num concerto ouvi
teria concebido aqueles sweet hunters
que esta noite vi no cinema rosales
Vejo-te agora vi-te ontem e anteontem
E penso que se nunca a bem dizer te vejo
se fosse além de ver-te sem remédio te perdia
Mas eu dizia que te via aqui e acolá
e quando te não via dependia
do momento marcado para ver-te
Eu chegava primeiro e tinha de esperar-te
e antes de chegares já lá estavas
naquele preciso sítio combinado
onde sempre chegavas sempre tarde
ainda que antes mesmo de chegares lá estivesses
se ausente mais presente pela expectativa
por isso mais te via do que ao ter-te à minha frente
Mas sabia e sei que um dia não virás
que até duvidarei se tu estiveste onde estiveste
ou até se exististe ou se eu mesmo existi
pois na dúvida tenho a única certeza
Terá mesmo existido o sítio onde estivemos?
Aquela hora certa aquele lugar?
À força de o pensar penso que não
Na melhor das hipóteses estou longe
qualquer de nós terá talvez morrido
No fundo quem nos visse àquela hora
à saída do metro de serrano
sensivelmente em frente daquele bar
poderia pensar que éramos reais
pontos materiais de referência
como as árvores ou os candeeiros
Talvez pensasse que naqueles encontros
em que talvez no fundo procurássemos
o encontro profundo com nós mesmos
haveria entre nós um verdadeiro encontro
como o que apenas temos nos encontros
que vemos entre os outros onde só afinal somos felizes
Isso era por exemplo o que me acontecia
quando há anos nas manhãs de roma
entre os pinheiros ainda indecisos
do meu perdido parque de villa borghese
eu via essa mulher e esse homem
que naqueles encontros pontuais
Decerto não seriam tão felizes como neles eu
pois a felicidade para nós possível
é sempre a que sonhamos que há nos outros
Até que certo dia não sei bem
Ou não passei por lá ou eles não foram
nunca mais foram nunca mais passei por lá
Passamos como tudo sem remédio passa
e um dia decerto mesmo duvidamos
dia não tão distante como nós pensamos
se estivemos ali se madrid existiu
Se portanto chegares tu primeiro porventura
alguma vez daqui a alguns anos
junto de califórnia vinte e um
que não te admires se olhares e me não vires
Estarei longe talvez tenha envelhecido
Terei até talvez mesmo morrido
Não te deixes ficar sequer à minha espera
não telefones não marques o número
ele terá mudado a casa será outra
Nada penses ou faças vai-te embora
tu serás nessa altura jovem como agora
tu serás sempre a mesma fresca jovem pura
que alaga de luz todos os olhos
que exibe o sossego dos antigos templos
e que resiste ao tempo como a pedra
que vê passar os dias um por um
que contempla a sucessão de escuridão e luz
e assiste ao assalto pelo sol
daquele poder que pertencia à lua
que transfigura em luxo o próprio lixo
que tão de leve vive que nem dão por ela
as parcas implacáveis para os outros
que embora tudo mude nunca muda
ou se mudar que se não lembre de morrer
ou que enfim morra mas que não me desiluda
Dizia que ao chegar se olhares e não me vires
nada penses ou faças vai-te embora
eu não te faço falta e não tem sentido
esperares por quem talvez tenha morrido
ou nem sequer talvez tenha existido

Ruy Belo    


Foto de Antonio Maria.

Porque estamos na Quaresma, Semana Santa







POESIA


QUARESMA

Sento-me aqui no chão
ao pé do madeiro
onde estás crucificado.
Não vou ajoelhar
porque és meu irmão
pela ralé seviciado,
filho de um Pai
que te deixou cair,
como anho imolado
no altar do sacrifício.
Um mártir necessário
para unir os cacos
dos vasos de Deus.
Sento-me aqui
aos pés do teu madeiro,
a pensar que foi em vão.
De tanta sevícia não há perdão,
que a humanidade quer
um mártir qualquer
para espiar o seu pecado,
desde que não seja no seu adro
a escolha, a pesca, a definição.
Sento-me aqui
aos pés do teu madeiro,
onde te esvais, abandonado
dos teus afins, dos teus apaniguados,
sozinho, como qualquer humano
em sua signa, que luta pelo que o anima
que o faz ser em sua existência.,
mas foge à expiação.
Não tens amigos, que os amigos
se escondem na hora da tempestade.
se coarctam, se somem na luta
para se defenderem na disputa,
e depois te enterram
ungindo-te com os óleos santos.
Esperam que, com o beneplácito do Pai,
ressuscites das trevas
e limpes, com o teu sacrifício,
os pecados deles
a sua ganância, o seu desperdício,
a sua luxúria, o vão artifício,
numa egoísta quimera.
Sento-me aqui no chão
ao pé do teu madeiro,
meu irmão mártir
do tempo, da Humanidade,
que não descobre caminho
nem sendeiro
que a leve, hoje em desalinho,
ao redesenho da felicidade,
ao conseguir ser gente
no nevoeiro, na adversidade.
Ser Homem, ser Mulher em Maiúsculas
sem minúsculas e sem esdrúxulas.

Helena Guimarães 



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sexta-feira, 30 de março de 2018

Uma poesia de Gabriel García Márquez









                                             
Si alguien llama a tu puerta…”

Gabriel García Márquez

Si alguien llama a tu puerta, amiga mía,
y algo en tu sangre late y no reposa
y en su tallo de agua, temblorosa,
la fuente es una líquida armonía.

Si alguien llama a tu puerta y todavía
te sobra tiempo para ser hermosa
y cabe todo abril en una rosa
y por la rosa se desangra el día.

Si alguien llama a tu puerta una mañana
sonora de palomas y campanas
y aún crees en el dolor y en la poesía.

Si aún la vida es verdad y el verso existe.
Si alguien llama a tu puerta y estás triste,
abre, que es el amor, amiga mía.

SE ALGUÉM BATE À TUA PORTA

Se alguém tocar em tua porta, amiga minha,
e algo em teu sangue bate e não descansa
e em seu tronco de água, temerosa,
a fonte é uma líquida harmonia.

Se alguém toca à tua porta e, todavia,
te sobra tempo para ser formosa
e cabe todo abril em uma rosa
e pela rosa se sangra o dia.

Se alguém bate à tua porta uma manhã
ao som de pombos e de sinos
e ainda crês em dor e na poesia.

Se ainda a vida é verdade e o verso existe.
Se alguém bate à tua porta e estás triste,
Abre, que é o amor, amiga minha.

Ilustração: Clave Mágica - WordPress.com.

José Gomes Ferreira






























Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
as crianças violadas
nos muros da noite
úmidos de carne lívida
onde as rosas se desgrenham
para os cabelos dos charcos.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
diante desta mulher que ri
com um sol de soluços na boca
- no exílio dos Rumos Decepados.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
este sequestro de ir buscar cadáveres
ao peso dos poços
- onde já nem sequer há lodo
para as estrelas descerem
arrependidas de céu.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
a coragem do último sorriso
para o rosto bem-amado
naquela Noite dos Muros a erguerem-se nos olhos
com as mãos ainda à procura do eterno
na carne de despir,
suada de ilusão.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
todas as humilhações das mulheres de joelhos nos tapetes da súplica
todos os vagabundos caídos ao luar onde o sol para atirar camélias
todas as prostitutas esbofeteadas pelos esqueleto de repente dos espelhos
todas as horas-da-morte nos casebres em que as aranhas tecem vestidos para o sopro do
silêncio
todas as crianças com cães batidos no crispar das bocas sujas
de miséria...

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro...

Mas não por mim, ouviram?
Eu não preciso de lágrimas!
Eu não quero lágrimas!

Levanto-me e proíbo as estrelas de fingir que choram por mim!

Deixem-me para aqui, seco,
senhor de insónias e de cardos,
neste ódio enternecido
de chorar em segredo pelos outros
à espera daquele Dia
em que o meu coração
estoire de amor a Terra
com as lágrimas públicas de pedra incendiada
a correrem-me nas faces
- num arrepio de Primavera
e de Catástrofe!


José Gomes Ferreira

BOAS MANEIRAS












Durante uma aula de Boas Maneiras, a professora diz:
- Rodrigo, se você namorasse uma rapariga fina e educada e,durante o jantar, precisasse de ir ao WC, o que diria?
- Segura as pontas aí que eu vou dar uma mijinha.
- Isso seria uma completa falta de educação!
Armando, o que é que você diria?
- Mil desculpas, preciso ir ao WC, mas já volto.
- Melhor, mas é desagradável mencionar o WC durante as refeições.
E você, Joãozinho, seria capaz de usar a sua inteligência para, ao menos uma vez, mostrar boas maneiras?
- Eu diria:
-Minha princesa, peço licença para me ausentar por um momento, pois vou estender a mão a um grande amigo que pretendo apresentar-lhe depois do jantar.

BOM FIM-DE-SEMANA

Mia Couto






POEMA
Para Ti

Foi para ti 
que desfolhei a chuva 
para ti soltei o perfume da terra 
toquei no nada 
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras 
e todas me faltaram 
no minuto em que talhei 
o sabor do sempre

Para ti dei voz 
às minhas mãos 
abri os gomos do tempo 
assaltei o mundo 
e pensei que tudo estava em nós 
nesse doce engano 
de tudo sermos donos 
sem nada termos 
simplesmente porque era de noite 
e não dormíamos 
eu descia em teu peito 
para me procurar 
e antes que a escuridão 
nos cingisse a cintura 
ficávamos nos olhos 
vivendo de um só 
amando de uma só vida

Mia Couto   
Foto de Antonio Maria.

Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas'










Estrela da tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca tardando-lhe o beijo morria.
Quando à boca da noite surgiste na tarde qual rosa tardia
Quando nós nos olhámos, tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos, unidos, ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia.


       Meu amor, meu amor
       Minha estrela da tarde
       Que o luar te amanheça
       E o meu corpo te guarde.
       Meu amor, meu amor
       Eu não tenho a certeza
       Se tu és a alegria
       Ou se és a tristeza.
       Meu amor, meu amor
       Eu não tenho a certeza!

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram.
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite se deram
E entre os braços da noite, de tanto se amarem, vivendo morreram.

       Meu amor, meu amor
       Minha estrela da tarde
       Que o luar te amanheça
       E o meu corpo te guarde.
       Meu amor, meu amor
       Eu não tenho a certeza
       Se tu és a alegria
       Ou se és a tristeza.
       Meu amor, meu amor
       Eu não tenho a certeza!

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso se é pranto
É por ti que adormeço e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!


Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas'
   

Apesar de conhecer bem o poema e a canção, fui revê-los com mais atenção. Parece que ainda fiquei a gostar mais, também por qualquer coisa funda que bate cá dentro, um arrepio ou estremecimento.
O poema é lindíssimo!  



Hamilton Ramos Afonso



Duplo sentido



Do teu sorriso fizeste o visco 
que me prendeu o olhar
amarrando-o ao teu…
Não queiras prender os teus lábios
apenas ao primeiro beijo
entrega-os à fonte dos meus…


Hamilton Ramos Afonso
Arte : Nelina Trubach-Moshnikova Tutt'Art@

Foto de Hamilton Ramos Afonso -poesia.


quinta-feira, 29 de março de 2018

VOTOS DE SANTA PÁSCOA PARA TODOS








O significado da Páscoa


Páscoa vem do hebraico Pessach, que significa passagem. O evento celebra a Ressurreição de Jesus, após sua crucificação (celebrada na Sexta-Feira Santa). Os judeus comemoram sua páscoa no Pesah, festa que relembra a libertação de Moisés e seu povo, antes escravizado pelo Egito. Já na Europa, a páscoa era um rito pagão de passagem, ocorrido no mês de março, marcando a mudança de um rigoroso inverno, para um novo começo: a primavera. Nos países de língua inglesa, a páscoa é chamada de Easter, em referência à deusa de origem anglo-saxônica Eostre, que representa a fertilidade e o renascimento.
No Período Medieval, os principais presentes da Páscoa eram ovos feitos com metais preciosos. O cacau só surgiria com a colonização da América Espanhola, mais precisamente através do contato com maias e astecas, que tratavam o cacau como sagrado. No restante do mundo, a fruta foi aproveitada no preparo do chocolate, que veio a ser o símbolo da data comemorativa, na forma dos ovos de Páscoa.
Essas histórias podem explicar um pouco sobre os símbolos adotados hoje, como o coelho e os ovos de chocolate na Páscoa. O coelho se reproduz rapidamente (sua gestação dura cerca de 30 dias), sendo símbolo da fertilidade; os ovos são uma forma de representar o nascimento e a renovação da vida (apesar dos coelhos serem mamíferos e, portanto, não nascerem de ovos).
A comemoração da Páscoa hoje é um reflexo das tradições cristãs, judaicas e pagãs. Ovos de chocolates decorados e recheados com surpresas, assim como peixes no jantar podem entreter e manter a família unida, mas não devem pensados como a única razão da Páscoa. Em todas as origens abordadas, é possível compreender que a mensagem do evento está na renovação e na libertação do homem.



VOTOS DE SANTA PÁSCOA PARA TODOS

Jacques Brel - Ne Me Quitte Pas





Jacques Brel - Ne Me Quitte Pas
Ne Me Quitte Pas
Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
À savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
À coups de pourquoi
Le coeur du bonheure
Ne me quitte pas (x4)

Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas (x4)

Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants là
Qui ont vu deux fois
Leurs coeurs s'embrasser
Je te raconterai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas (x4)

On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quite pas (x4)

Ne me quite pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
À te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas (x4)

Não Me Deixe
Não me deixe
Devemos esquecer
Tudo pode ser esquecido
Que já tenha passado
Esquecer os tempos
Dos mal-entendidos
E os tempos perdidos
Tentando saber como
Esquecer as horas
Que as vezes mataram
Com golpes de porquê
O coração da felicidade
Não me deixe (4 vezes)

Eu te oferecerei
Pérolas de chuva
Vindas de países
Onde não chove
Eu vou cavar a terra
Até após a minha morte
Para cobrir o seu corpo
De ouro e luzes
Eu farei um reino
Onde o amor será rei
Onde o amor será lei
Onde você será rainha
Não me deixe (4 vezes)
Não me deixe
Eu inventarei
Palavras sem sentido
Que você compreenderá
Eu te falarei
Sobre os amantes
Que viram duplamente
Seus corações se beijarem
Eu te contarei
A história deste rei
Morto por não poder
Te reencontrar
Não me deixe (4 vezes)
Nós frequentemente vemos
Renascer o fogo
Do vulcão antigo
Que pensamos estar velho demais
Nos é mostrado
Em terras que foram queimadas
Nascendo mais trigo
Do que no melhor abril
E quando vem a noite
Com um céu flamejante
O vermelho e o negro
Não se casam
Não me deixe (4 vezes)
Não me deixe
Eu não vou mais chorar
Eu não vou mais falar
Eu me esconderei lá
Para te contemplar
A dançar e sorrir
E para te ouvir
Cantar e, então, rir
Deixe que eu me torne
A sombra da sua sombra
A sombra da sua mão
A sombra do seu cachorro
Não me deixe (4 vezes)    


ALEXANDRE O'NEILL









POEMA


 O amor é o amor

O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?

ALEXANDRE O'NEILL
in ABANDONO VIGIADO (1960), in POESIAS COMPLETAS 1951/1986 (INCM, 3ª ed. , 1995)


Foto de Antonio Maria.

Wallace Stevens

~










































The night knows nothing of the chants of night.
It is what it is as I am what I am:
And in perceiving this I best perceive myself

And you. Only we two may interchange
Each in the other what each has to give.
Only we two are one, not you and night,

Nor night and I, but you and I, alone,
So much alone, so deeply by ourselves,
So far beyond the casual solitudes,

That night is only the background of our selves,
Supremely true each to its separate self,
In the pale light that each upon the other throws.


Wallace Stevens

quarta-feira, 28 de março de 2018

Resposta sem papas na língua !!!..










Foto de Viva+.

Isabel de Sousa ( luadiurna )






POEMA
Lua ancestral
Vestes a noite
com a tua claridade nua
ritos ancestrais de brumas e feitiços
vagueias em mim
desde mais atrás de Avalon
e a noite é tua
percorres os sentidos
perpetuas os desejos
em lagos oníricos onde se perturba a razão
mágica é a tua presença
oh lua encantada
e eu percorro o deserto
das reticências do sentir
à procura de ti de mim
e do significado do mistério
habitas a noite
imaginas os sonhos
és lua noturna
e no teu olhar
acodes às manhãs
onde o dia se anuncia
afago-te a mão da aurora
e chamo-te a mim
envolvo-te num sorriso aberto
e sinto-te
noturna e diurna
neste eterno retorno
que me sabe a ti
Isabel de Sousa ( luadiurna )  

Foto de Antonio Maria.



Homenagem a Rosa Lobato Faria







UM CONTO....

Ele tirou a roupa com elegância e o seu corpo nu era bem a prova da existência do DEUS que criou o homem ao sétimo dia e descansou. Olhou-a sem a tocar e disse, tira a pulseira, os brincos, esse fio de ouro, quero-te nua, estás cheia de símbolos de classe social e agora não és nada disso, és um bicho soberbo, felino, em pleno cio. Ela obedeceu sem tirar os olhos dos seus olhos daquele dia, e ele procurou a boca dela pelo caminho das coxas, do ventre, dos seios, dos olhos, das orelhas, purificou-se na humidade dos lábios, disse palavras tontas, cântaro, barco à vela, fada, gueisha, camélia, tangerina, iniciou o caminho de volta enquanto as mãos ensaiavam voos de gaivota pela praia, pelos ombros, as costas, as nádegas, e os dedos festejavam e dizia palavras. E o corpo dela de tocaia suspenso entre o céu e a terra, oferecendo-se àquela língua sábia, enquanto o coração, ai dele, se afogava em marés ilimitadas. A sua branca, feminina garganta navegou em todos os cambiantes do murmúrio e do grito, e na hora vermelha, solta de todas as amarras, ouviu-se dizer palavras espantosas, morde-me, inunda-me, mata-me, quero que todos saibam que sou a tua coisa, a tua fêmea, ai.”

In “Os pássaros de seda”
Homenagem a Rosa Lobato Faria   

Salvador Novo










POEMA
"AMOR"
Amar es este timido silencio
cerca de ti, sin que lo sepas
y recordar tu voz cuando te marchas
y sentir el calor de tu saludo.
Amar es aguardarte
como si fueras parte del ocaso,
ni antes, ni despues, para que estemos solos
entre los juegos y los cuentos
sobre la tierra seca.
Amar es percibir, cuando te ausentas,
tu perfume en el aire que respiro,
y contemplar la estrella en que te alejas
cuando cierro la puerta de la noche

Salvador Novo  

Foto de Antonio Maria.

Maria do Rosário Pedreira










POESIA
Se terminar este poema, partirás. Depois da
mordedura vã do meu silêncio e das pedras
que te atirei ao coração, a poesia é a última
coincidência que nos une. Enquanto escrevo
este poema, a mesma neblina que impede a
memória límpida dos sonhos e confunde os
navios ao retalharem um mar desconhecido
está dentro dos meus olhos – porque é difícil
olhar para ti neste preciso instante sabendo que
não estarias aqui se eu não escrevesse. E eu, que
continuo a amar-te em surdina com essa inércia
sóbria das montanhas, ofereço-te palavras, e não
beijos, porque o poema é o único refúgio onde
podemos repetir o lume dos antigos encontros.
Mas agora pedes-me que pare, que fique por aqui,
que apenas escreva até ao fim mais esta página
(que, como as outras, será somente tua – esse
beijo que já não desejas dos meus lábios). E eu, que
aprendi tudo sobre as despedidas porque a saudade
nos faz adultos para sempre, sei que te perderei
em qualquer caso: se terminar o poema, partirás;
e, no entanto, se o interromper, desvanecer-se-á
a última coincidência que nos une.


Maria do Rosário Pedreira    



Foto de Antonio Maria.