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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

M.O.M. Brisa

 


                       Sinto...

Fecho os meus olhos
e sinto...
Sinto que ao olhar
o azul do mar
me inebria,entontece,me acalma.
Inspiro a pureza do aroma.
Então,
estendo as minhas mãos
e toco
a tua sensibilidade.
O teu sorriso
aquece
as minhas palavras
que ao compasso
dos meus dedos
te tocam com ternura.
M.O.M. (Brisa)
http.//poetadossonhosmeus.blogspot.pt





sábado, 28 de novembro de 2020

Um instante , apenas UM instante....






                             

UM INSTANTE, APENAS UM INSTANTE

 


Sim. Eu negarei tudo, se me perguntarem,

de vez que te interessa negar o que aconteceu,

menos o afeto que trago como um troféu

de ter sido o teu mais efêmero amor,

erro de uma única e breve vez.

Sei bem que dirás que minto

(e pode ser verdade),

por minha memória ser fragmentada,

estilhaçada, destruída

por tanto amor que dei.

Reinaste em mim,

como uma rainha absoluta,

guia da criança perdida

numa misteriosa gruta

que me atordoava

e me convertia num amante sacerdote,

que venerava sua deusa

com beijos sobre o ventre,

com carícias brutas e delicadas,

com uma paixão desenfreada,

com os dedos em delírio

e uma sofreguidão incessante, 

tocando músicas inexistentes no teu corpo

que tremia como se estivesse em agonia.

Em agonia, nem sabia,

era eu que estava.

Antes de ti,

com certeza, estava morto.

Pena que, depois de ti, também.

Pode dizer o que quiseres.

Eu negarei, é claro,

porque tu queres,

porém, hás te lembrar

mesmo tudo tendo sido

muito rápido, célere, veloz,

da saciedade e da plenitude,

que permaneceu em nós,

como me disse um dia,

apesar de tanto tempo.

E se a boca mente,

a mente sempre sabe

distinguir entre a mentira e a verdade.

Podes negar tudo:

menos aquele momento de felicidade!

 

Ilustração: Wedfoto.net.





Abel Feu

 



                          POESIA

Um lugar na minha alma
Agora que não nos vemos
e nossas vidas correm pelos dias,
cada vez mais distantes,
sinto, às vezes, um desejo enorme
de te ver em alguma tarde, tomar um café
contigo, saber como tu vais....
Agora que não nos vemos
e nos temos perdido,
não penses que esqueci tuas coisas.
Guardo boas recordações, e poemas
Que te escrevi (te recordas?); guardo
cartas e fotos...
e um lugar
na minha alma, onde, se quiseres
sempre, sempre podes estar.
Abel Feu



sexta-feira, 27 de novembro de 2020

David Maria Turoldo

 



                                                          Do último canto, Garzanti, 1991

 

Eu não sei quando vai amanhecer

não sei quando posso

caminhar pelas ruas do teu paraíso

 

Não sei quando os sentidos

pararão de gemer

e o coração suportará a luz.

 

E a mente (oh, a mente!)

já embriagada será

finalmente calma

e lúcida:

 

e poderei ver o teu rosto

sem corar.


David Maria Turoldo  




           

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Depois do amor

 



                          Depois do amor



                         Gosto quando,

depois do amor,
vens e fazes ninho dos teus braços,
a acolher-me o corpo, amante do teu afago,
e encaixas o meu
no teu cansaço.

Gosto quando te desfazes em carícias
dum enrolar e desenrolar
de dedos no meu cabelo
e me beijas, baixinho, ao ouvido
para não acordar a lassidão
que o amor nos deixou…

Gosto quando me afagas a alma nua
e guardas minhas costas no teu peito.
Gosto de beijar o teu sorriso,
quando deslizo a minha perna sobre a tua
e nossos pés se aquecem num bem-querer.

Gosto quando a tua mão não cabe na minha,
quando a quero adormecer…






Francisco Brines

 



                             QUANDO EU AINDA SOU A VIDA

A vida me rodeia, como naqueles anos

já perdidos, com o mesmo esplendor

de um mundo eterno. A rosa cortada

do mar, as luzes caídas

dos pomares, o fragor das pombas

no ar, a vida em torno de mim,

quando ainda sou vida.

Com o mesmo esplendor e envelhecidos olhos,

e um amor fatigado.

Qual será a esperança? Viver ainda;

e amar, enquanto se esgota o coração,

um mundo fiel, embora perecível.

Amando o sonho roto da vida

e, ainda que não pudesse ser, não maldizer

aquele antigo engano do eterno.

E o peito se consola, porque sabe

que o mundo pode ser uma bela verdade.



Francisco Brines





Maria do Rosário Pedreira

                         





                            "O meu mundo tem estado à tua espera; mas
não há flores nas jarras, nem velas sobre a mesa,
nem retratos escondidos no fundo das gavetas. Sei
que um poema se escreveria entre nós dois; mas
não comprei o vinho, não mudei os lençóis,
não perfumei o decote do vestido.
Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome
(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);
se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira –
estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro
com a violência de um incêndio; mas parto
antes de saber como seria. Não me perguntes
porque se mata o sol na lâmina dos dias
e o meu mundo continua à tua espera:
houve sempre coisas de esguelha nas paisagens
e amores imperfeitos – Deus tem as mãos grandes"
Maria do Rosário Pedreira




quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

 




                           Abraça-me

...
Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos.
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes.
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais.
Uma vez que nem sei se tu existes.
Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'





terça-feira, 24 de novembro de 2020

Fernando Assis Pacheco

                 

                 



                       (do) amor...

Não sei
se o que chamam amor é este apaziguamento.
Não sei se comias fogo. Tuas abelhas
voam agora em círculos tranquilos.
Mães serenam seus filhos no ventre,
não sei se o que enfim chamam
amor é esta areia fina.
Agora estamos um dentro do outro,
fazemos longas visitas deslumbradas
porque "o nosso prazer lembra um rio vagaroso
no meio de juncos ao cair da tarde."
As palavras tornam-se esquivas. Com o silêncio
falaríamos melhor de tudo isto.
Não sei se o que chamam amor
é a cama desfeita o sol fugindo,
uma vontade louca de beber
a grandes goles a noite entorpecente.
Com o silêncio, o silêncio sem nome:
morrermos a meio do filme
simples, calada, dedicadamente.
Eras tu, amor? - Era eu, era eu!
Um barco junto à margem. E cegonhas.
Fernando Assis Pacheco




Lindolf Bell

 


                                                                             


    

                    



O pássaro
conhece o horizonte.
A redondez
da terra.
E a primavera que anuncia
no canto solitário.
E na espera.

O pássaro não sabe
que eu sei, solitário,
atrás da vidraça
estas coisas que ele sabe.

Mas o pássaro
sabe de coisas
que nunca saberei
atrás das vidraças.


Lindolf Bell
In Código das águas 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Casimiro de Abreu

 



                               

QUE É SIMPATIA



Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.

Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.

São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.

Simpatia - meu anjinho,
É o canto de passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'agosto
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é quase amor!

Casimiro de Abreu

Albano Martins

 




                                              

FLOR DA PAIXÃO



Sei agora
que a paixão
é azul e coroada
como o sangue e a cabeça
das rainhas. Que tem
nome de flor
e é ímpar. Porque,
se o não fosse,
não seria paixão.

Albano Martins,

de "Castália e Outros Poemas"

Albano Martins

 



                                

HÁ EM TEUS OLHOS...


***

Há em teus olhos, dados ao momento,
uma tristeza de água reprimida,
que é como o pressentimento
duma próxima despedida.
Tristeza que faz lembrar
dias perdidos de outono
com luz pálida a incidir
nas folhas mortas de sono.
Deixa que a esperança os molhe,
os inunde de alegria.
Cada noite passa e colhe
o gosto dum novo dia.


Albano Martins
in SECURA VERDE E OUTROS POEMAS