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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Francisco Brines

 



                             QUANDO EU AINDA SOU A VIDA

A vida me rodeia, como naqueles anos

já perdidos, com o mesmo esplendor

de um mundo eterno. A rosa cortada

do mar, as luzes caídas

dos pomares, o fragor das pombas

no ar, a vida em torno de mim,

quando ainda sou vida.

Com o mesmo esplendor e envelhecidos olhos,

e um amor fatigado.

Qual será a esperança? Viver ainda;

e amar, enquanto se esgota o coração,

um mundo fiel, embora perecível.

Amando o sonho roto da vida

e, ainda que não pudesse ser, não maldizer

aquele antigo engano do eterno.

E o peito se consola, porque sabe

que o mundo pode ser uma bela verdade.



Francisco Brines





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