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terça-feira, 10 de novembro de 2020

[Poema 33 de José Bento in 'Sítios']

 



                       

Quase inertes as mãos, de tão ausentes


E se um dia a minha voz por ti se extinguisse? E se as minhas mãos de tanto te afagar quebrassem? E se o meu coração de tanto bater por ti parasse? 

E se o vento que por mim passa me levasse também? Ou levasse a minha voz? Ou apenas as minhas mãos que por ti e só por ti as cordas afagam?

E se este rio me afogasse de tanto que o tenho bebido com o meu olhar? E se eu me deixasse ir, transformado em música, em música ausente, em música perdida, em palavras inertes e vazias?

E se o ar que banha esta cidade me dilacerasse, me levasse e eu pousasse como uma ave sem vontade no beiral da tua casa?

Sou louco, dizes. Sou louco, sei. Sou louco quando me transformo em música apenas para entrar dentro de ti, sou louco quando quebro as cordas de paixão para que me ouças, para que me queiras. 

Ou não. 

Deixa. Não te quero mais. Vou deixar-me ficar aqui até que uma nuvem me envolva. Cairei então como lágrimas silenciosas sobre ti.






 [Poema 33 de José Bento in 'Sítios']



1 comentário:

mariferrot disse...

A vida extingue-se só por si, são velas que se acendem umas às outras,que se queimam para aquecer até não haver que fazer !!!... <3


Beijo Conde