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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Outono



Este frio que me penetra na alma
Esta lucidez amarga
Este Outono triste
Pessoas com o rosto cerrado
Parece que tudo fica mais negro
Olho em volta e vejo anónimos
No ritual da manhã
A beber o café
Saem apressados para o trabalho.
Passam as horas,
Voltam como autómatos para casa
Jantam, vêem televisão, deitam-se…
No dia seguinte tudo se repete
Onde estão os afectos?
Onde está o calor humano?
Cada vez há mais solidão.
Não se vive, vegeta-se…

Foto:Jerry Uelsmann

domingo, 30 de agosto de 2009

O pequeno sismo



Há um pequeno sismo em qualquer parte
ao dizeres o meu nome.
Elevas-me à altura da tua boca
lentamente
para não me desfolhares.
Tremo como se tivera
quinze anos e toda a terra
fosse leve.
Ó indizível primavera.

Eugénio de Andrade

sábado, 29 de agosto de 2009

ENTENDA....


SE POSSÍVEL


Rabindranath Tagore


Love's gift cannot be given,
it waits to be accepted.

O presente do amor não pode ser dado,
ele espera ser aceito.

Ilustração: http://jfernandolopes.com.sapo.pt/noitesdelisboa.jpg

Tuesday, December 16, 2008

DIVAGAÇÕES




Poema do que tinha de ser

O fato é que de ti só quero
o que tens de diferente, de parecido e de melhor,
Mas, o pior, contigo, é muito bom também.
Nem quero saber das coisas que não quiser me dizer
Embora esteja doido para te dizer
Muito mais do que queres saber:
Palavras amorosas, dengos e mesmo desejos pervertidos,
Que trago comigo.

Ah! Me pego pensando no teu rosto
Como será quando estiveres alvoroçada
Por pegar teus seios,
Que receios terás
Se te lamber mais do que devo
Numa fantasia única
De que és sorvete
Que sonhei quando criança.

A realidade é que, perto de ti,
Todo olhar meu é pornográfico
Como um gráfico
De uma realidade inevitável,
De um destino
Que não se pode fugir.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

FOTOS, FITAS & FLORES

Variações sobre flores

Entre as orquídeas
Os teus lábios entreabertos
Carnudos, vermelhos, tentadores
São a mais bela flor.
Bem os vejo,
Beija flor sedento,
Mas quando beijá-los tento
O vôo, o mel, o sonho perdi.
Enorme é a distância
Da realidade, do mar, de ti....
Que tão próxima
Jamais conheci.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

UM POETA DO ORIENTE




Light Up The Fire

Rami

I gaze into the heart, lowly it may be,
Thought the words be higher still.
For the heart is all the substance,
The speech an accident.
How many phrases will you speak,
Too many for me.
How much burning, burning will you feel,
Be friendly with the fire, enough for me.
Light up the fire of love inside,
And blaze the thoughts away.

Acendendo o fogo

Eu olhei no seu coração, que pode ser tão humilde,
Ter o pensamento ainda mais elevado, ser ainda maior.
Para o coração tudo é a substância,
O discurso, um acidente.
Quantas frases que você me falou,
Demasiadas para mim.
Quanto ardor, quanta paixão irá sentir,
Seja amigável com o fogo, é suficiente para mim.
Acender o fogo do amor interno,
Arder em chamas nos pensamentos mesmo tão distante.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

HOSAM RAGIG


jasmine

hosam ragig

High...high above the mountains
I lay down on the roof of my castle
Looking at the sky,
thinking it may console me
I found another way to find you...
From heart to heart

While I am counting the stars
Suddenly...the moon raises up
to remind me of you, once again

When I smell the jasmine, I know you are close
But where?
I don’t know where...I don’t know when
But some day... some where... I will find you

Jasmim

Alta ... no alto das montanhas
Deitei-me sobre o telhado do meu castelo
Olhando para o céu,
pensando o que podia me consolar
Eu encontrei uma outra forma de te encontrar ...
De coração para coração

Enquanto estava contando as estrelas
De repente ... a lua levantou
para me lembrar de ti, mais uma vez

Quando senti o cheiro de jasmim, eu sabia que estavas perto
Mas aonde ?
Eu não sei aonde ... não sei quando
Mas algum dia ... em algum lugar ... Eu vou te encontrar

terça-feira, 25 de agosto de 2009


ouvindo teus delírios sem nexo
no silencio da noite
em nossa alcova de amor
fazes-me prisioneiro do teu ser
alimenta-me o desejo
de para sempre te querer

BEIJO.........................

BEIJO



Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mais beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.

Jorge de Sena

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

GAMONEDA




Amor

Antonio Ganomeda

Mi manera de amarte es sencilla:
te aprieto a mí
como si hubiera un poco de justicia en mi corazón
y yo te la pudiese dar con el cuerpo.

Cuando revuelvo tus cabellos
algo hermoso se forma entre mis manos.

Y casi no sé más. Yo sólo aspiro
a estar contigo en paz y a estar en paz
con un deber desconocido
que a veces pesa también en mi corazón.


Amor

Minha maneira de te amar é sensível:
te aperto a mim
como se houvesse um pouco de justiça no meu coração
e eu a te pudesse dar com o corpo.

Quando aliso teus cabelos
alguma coisa formosa se aninha entre as minhas mãos.

E quase não sei mais. Só aspiro
a estar contigo na paz e estar em paz
com um dever desconhecido
que, às vezes, pesa também no meu coração

Lírica XVII



Amada amada
porque suplicaste
que eu lançasse o meu esperma
contra o negro capim?
Avisaste-me é certo
que apenas te poderias dar
quando a lua furtiva se ocultasse
atrás das montanhas
Mas por um instante
imaginei loucamente
que fosse um acesso de romantismo.

João Melo

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Poema do Silêncio



Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

José Régio

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

LOWELL


FRAGMENT

by Amy Lowell

What is poetry? Is it a mosaic
Of coloured stones which curiously are wrought
Into a pattern? Rather glass that's taught
By patient labor any hue to take
And glowing with a sumptuous splendor,
Transmuted fall in sheafs of rainbows fraughtmake
Beauty a thing of awe; where sunbeams caught,
With storied meaning for religion's sake.

FRAGMENTO

O que é poesia? É um mosaico
De pedras coloridas, que curiosamente é criado
Num padrão? Em vez do vidro que, se trabalhado,
Pelo paciente labor pode tomar qualquer matiz
E brilhar com suntuoso esplendor,
É a palavra transformada numa chuva de arco-iris estilhaçados
Que embeleza as coisas magnificamente e, como raios do sol capturados,
Forja os andares do significado da religião do amor.


Quinta-feira, Agosto 20, 2009

A valsa



Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co'as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranqüila,
Serena,
Sem pena
De mim!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...

Meu Deus!
Eras bela
Donzela,
Valsando,
Sorrindo,
Fugindo,
Qual silfo
Risonho
Que em sonho
Nos vem!
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos lábios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas
A quem ?!

Quem dera
Que sintas
As dores
De arnores
Que louco

Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas,..
- Eu vi!...
Calado,
Sozinho

Mesquinho,
Em zelos
Ardendo,
Eu vi-te
Correndo
Tão falsa
Na valsa
Veloz!
Eu triste
Vi tudo!

Mas mudo
Não tive
Nas galas
Das salas,
Nem falas,
Nem cantos,
Nem prantos,
Nem voz!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues
Não mintas...
- Eu vi!

Na valsa
Cansaste;
Ficaste
Prostrada,
Turbada!
Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão pálida
Então;
Qual pálida
Rosa
Mimosa
No vale
Do vento
Cruento
Batida,
Caída
Sem vida.
No chão!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
Eu vi!

Casimiro de Abreu

A valsa

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Tentei fugir da mancha mais escura



Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.

David Mourão-Ferreira

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Lenda dos Sonhos



Noite
lenta, eterna, magia dos espíritos...
Apalpo a distância do movimento...
O brilho profundo do luar
Aquece o gesto sentido do amor
E transformo-te na lenda dos sonhos.
As estrelas cantam o brilho sublime
Dentro da ternura do teu olhar
Reflectindo sobre a imensidão do oceano
O calor sensual do teu abraço.
Murmúrios delicioso povoam os céus
Embalando a doçura dos teus beijos
E o arco-íris eleva-se no horizonte
Colorindo as ondas quentes dos teus cabelos
Por onde navegam as verdades dos teus sentimentos.
Os sentidos flutuam pelo aroma verdadeiro
Da simplicidade da tua generosidade
Criando a simbiose dos teus desejos.
Na canção embriagante dos sinos celestiais
Envolvo-me na tua sinceridade
E torno-te eterna dentro do meu peito.

Jorge Viegas

Foto:David Clapp

domingo, 9 de agosto de 2009

Valsinha



Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar

Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz.

Vinícius de Moraes/Chico Buarque

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Sobre um mote de Camões



Se me desta terra for
eu vos levarei amor.
Nem amor deixo na terra
que deixando levarei.

Deixo a dor de te deixar
na terra onde amor não vive
na que levar levarei
amor onde só dor tive.

Nem amor pode ser livre
se não há na terra amor.
Deixo a dor de não levar
a dor de onde amor não vive.

E levo a terra que deixo
onde deixo a dor que tive.
Na que levar levarei
este amor que é livre livre.

Manuel Alegre

Foto:Allan Jenkins

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

OSCAR WONG



Luna fértil

Oscar Wong

El mar, la dentellada oscura donde brama la serpiente,
el disco rojo que trasmina.
La Luna viene, fértil,
ilumina tu mirada de ámbar.

Esbelta y tierna me cobijas,
gardenia cándida
tu pupila resplandece.

Bebo tu amor en densos gajos,
insaciable bulle el alba en nuestros cuerpos.


(Del libro Razones de la voz, CNCA, Colec. Práctica Mortal, Méx., 2002.)


A lua fértil

O mar, a gruta obscura de onde brama a serpente,
o disco vermelho que transpira.
A lua vem, fértil,
iluminar o teu olhar de âmbar.

Esbelta e terna me cobiças,
Gardênia cândida
Tua pupila resplandece

Bebo teu amor em densos goles,
Insaciável se agita o amanhecer nos nossos corpos.