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sábado, 30 de novembro de 2013

Natália Correia /// Sinais que no amor se adiantam




No teu olhar se esfuma e desvanece
A cidade onde o corpo por enquanto é preciso.
É quando a outra face do luar aparece
E o balir das ovelhas tem o som do meu riso.
Para tapar meu seio já nenhum astro tece
A roupa com que outrora saí do paraiso.
O pudor é da terra. Só por isso anoitece
E a nudez dos amantes é não darem por isso.
A semente do filho que em nós amadurece
Trouxe-a no bico a pomba que o seu reino prepara.
Por isso na cidade já ninguém nos conhece
Pois que ambos trazemos esse filho na cara.


Natália Correia

Yma Sumac - Gopher Mambo /// Do Perú para todo o mundo




From a Fairy Tail

Mário Castrim /// COMO É QUE


Como é que eu,

ouvindo tão mal, distingo
o teu andar desde o princípio do corredor?



Como é que eu,
vendo tão pouco, sei
que és tu  que chegas, conforme a luz?



Como é que eu,
de mãos tão ásperas, desenho
a tua cara mesmo tão longe dela?



Onde está
tudo o que sei de ti
sem nunca ter aprendido nada?



Serei ainda capaz
de descobrir a palavra
que larga o teu rasto na janela?




(Que seria de nós
se nos roubassem os pontos de interrogação?)


Mário Castrim
 
in «Os Dias do Amor»,


Renata Pallotini /// Forma quase uma fome



Há uma forma exata
de se dizer amor

mas ninguém sabe dela
senão que a desconhece.

e que tenta solvê-la.

Poema beijo encontro

tudo isso é a só busca
ansiosa e desesperada

dessa forma esperada
de se dizer amor.

Forma quase uma fome
que não morre nem come.


Renata Pallotini
 

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Consolação




Só o que me enriquece
É saber que tuas palavras me iluminam
Como o pisca-pisca da arvorezinha de natal.
Só me consola  permanecer quieto
Me isola da violência em potencial.
Porém, o meu desejo passeia por tão distante
Que, nas festas, as bebidas e

 as comidas inconvenientes
São o meu normal.
Só a chuva trazendo um friozinho gostoso
Me faz bem.
Ah! Chuva malvada! Na pasmaceira da tarde
Desperta um coração que arde
Ao me lembrar do meu bem!
Não importa. A alegria maior,
E, com a qual me contento, é tê-lo
Como o maior prazer no meu pensamento
De que uma dia a terei com maior desejo
Do que jamais sonhei!






quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Alvares de Azevedo


Meu desejo? era ser a luva branca
Que essa tua gentil mãozinha aperta:
A camélia que murcha no teu seio,
O anjo que por te ver do céu deserta....

Meu desejo? era ser o sapatinho
Que teu mimoso pé no baile encerra....
A esperança que sonhas no futuro,
As saudades que tens aqui na terra....

Meu desejo? era ser o cortinado
Que não conta os mistérios do teu leito;
Era de teu colar de negra seda
Ser a cruz com que dormes sobre o peito.

Meu desejo? era ser o teu espelho
Que mais bela te vê quando deslaças
Do baile as roupas de escomilha e flores
E mira-te amoroso as nuas graças!

Meu desejo? era ser desse teu leito
De cambraia o lençol, o travesseiro
Com que velas o seio, onde repousas,
Solto o cabelo, o rosto feiticeiro....

Meu desejo? era ser a voz da terra
Que da estrela do céu ouvisse amor!
Ser o amante que sonhas, que desejas
Nas cismas encantadas de langor!


Alvares de Azevedo (1831-1852)


Miguel Torga - Cântico de Amor




Mascaras

Joan Manuel Serrat /// Poema de amor



Poema de amor

Joan Manuel Serrat

El sol nos olvidó ayer sobre la arena,
nos envolvió el rumor suave del mar,
tu cuerpo me dio calor,
tenía frío
y, allí, en la arena, entre los dos nació este poema,
este pobre poema de amor
para ti
Mi fruto, mi flor,
mi historia de amor,
mi caricias.
Mi humilde candil,
mi lluvia de abril,
mi avaricia.
Mi trozo de pan,
mi viejo refrán,
mi poeta.
La fe que perdí,
mi camino
y mi carreta.
Mi dulce placer,
mi sueño de ayer,
mi equipaje.
Mi tibio rincón,
mi mejor canción,
mi paisaje.
Mi manantial,
mi cañaveral,
mi riqueza.
Mi leña, mi hogar,
mi techo, mi lar,
mi nobleza.
Mi fuente, mi sed,
mi barco, mi red
y la arena.
Donde te sentí,
donde te escribí
mi poema…

Poema de amor 

O sol nos esqueceu, ontem, sobre a areia,
nos envolveu o rumor suave do mar,
teu corpo me deu calor,
tinha frio,
e, ali, na areia, entre nós dois nasceu este poema,
este pobre poema de amor,
para ti.

Meu fruto, minha flor,
minha história de amor,
minhas carícias
Minha humilde lamparina,
minha chuva de abril,
minha avareza
Meu pedaço de pão,
meu velho refrão,
meu poeta
A fé que perdi,
meu caminho
e o meu reboque
Meu doce prazer,
meu sonho de outrora,
minha bagagem
Meu suave canto,
Minha melhor canção,
minha paisagem
Meu manancial,
meu canavial,
minha riqueza
Minha lenha, minha lareira,
meu lugar, meu lar,
minha nobreza
Minha fonte, minha sede,
meu barco, minha rede
e a areia

Onde te senti
onde te escrevi
o meu poema.



Joan Manuel Serrat 

 

 

Alberto Caeiro /// Hoje de manhã saí muito cedo


Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte 
varria para um lado,
E segui o caminho para onde
 o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.

                    Alberto Caeiro
 
 
Poesia com chuva

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Natércia Freire. /// AMOR



AMOR


Vibrátil, fina, perfumada e clara
ondula a aragem que o amor provoca.
Longe respira a vida. Aqui o sonho.
Tudo é infância de águas e colinas
Na manhã dos teus olhos.
E vôos de mãos dadas.
E cantos, cantos de infinito amor,
Nos galhos, nas correntes e nas sombras veladas.




Envolve-se de nuvem nosso abraço.
Vibrátil, fina, perfumada e clara
ondula a aragem. Fadas e duendes
agitam instrumentos na folhagem.



Vibrátil, fina, imperceptível, fluída
orquestra ao longe. Ao fundo dos sentidos.
Dedos de flores ondeiam sobre a pele
de Céus indefinidos.


Cantam mistérios bocas fascinadas.
Abrem corolas sob a luz que as toca.
Vibrátil, fina, perfumada e clara
ondula a aragem que o amor provoca


Natércia Freire.
 
(in «Poemas»)


in «Caminhos da Moderna Poesia Portuguesa»,
sel. e organiz. de Ana Hatherly
Colecção Educativa, número 8, D.G.E.P
.
 

Paco Bandeira //// De Amar Nunca me Deixes



Saíra-douradinha

Alberto Caeiro /// O amor é uma companhia


 
O amor é uma companhia

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na
ausencia dela
 
 Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com
 a cara dela no meio.

                                     Alberto Caeiro
 

Quando me vês assim


Quando me vês com estes olhos

Que não querem te olhar,

é que ao te ouvir falar penso na chuva

sem deixar de te escutar.

 

Porque a tua voz, minha amiga, como água

rumoreja amor

e pensando na chuva parece

que te escuto melhor.

 

Quando me vês assim com estes olhos

que te olham sem te ver,

é que através de ti vejo ao meu sonho,

sem deixar de te amar.

 

Porque tenho na tua transparência suave

um milagroso véu

com o qual, para sorte de meus olhos,

vejo tudo azul como o céu.
 
Anoitecer .
 
 

Rodrigo Braula Coutinho /// No silêncio nos encontramos

uma flor com AMOR




No silêncio nos encontramos
Tu e eu.
Assim nos damos.
Que bom o futuro de quem
Por passado tem
O que entre nós aconteceu


Não creias pois nesse ecoar
Que a falar se entende a gente.
É no intervalo da palavra
Nessa pausa de ruído ausente
Que o teu coração o meu lavra
Que em silêncio se grita o que se sente
 
 Rodrigo Braula Coutinho
 
 

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Sophia de Mello breyner /// PARA ATRAVESSAR CONTIGO O DESERTO DO MUNDO

muitos...


Para atravessar contigo o deserto do mundo 
Para enfrentarmos juntos o terror da morte 
Para ver a verdade para perder o medo 
Ao lado dos teus passos caminhei 
 
Por ti deixei meu reino meu segredo 
Minha rápida noite meu silêncio 
Minha pérola redonda e seu oriente 
Meu espelho minha vida minha imagem 
E abandonei os jardins do paraíso 
 
Cá fora à luz sem véu do dia duro 
Sem os espelhos vi que estava nua 
E ao descampado se chamava tempo 
 
Por isso com teus gestos me vestiste 
E aprendi a viver em pleno vento 


Sophia de Mello breyner


Por isso com teus gestos me vestiste 
E aprendi a viver em pleno vento 
 
Rockabilly
 
 

Esta saudade...



A saudade de você, meu amor, é tão feroz
que me deixa, hoje, sem voz
e nem versos consigo escrever..
Só me resta beber como um camelo
para suportar o deserto de tua ausência
e munir-me de infinita paciência
sem previsão de te voltar a ver
e só me sustenta a doce ilusão
de que, onde estiver, estou no teu coração
assim, como sempre, tu estais no meu. 



SIMPLESMENTE MULHER (II)

António Ramos Rosa /// Meio dia



Contemplo a mulher adormecida. Ocupa uma metade do terraço, longa e voluptuosamente extensa, constelada de um siêncio que é todo aéreo e ondulante. Em volta o mundo converteu-se num pomar unânime. É um meio-dia interminável. Tudo está imóvel, fixo, como um centro. As superfícies lisas, brancas, sem reflexos, sem sombras. Imperceptível, insondável é o gesto fulgurante da imobilidade. A intensidade da presença identifica-se com o vazio da ausência. O meu corpo entende o corpo da mulher, enrola-se nas volutas da sua música silenciosa, adere às paisagens brancas do seu corpo completo. Imóvel, não procuro palavras, nem as mais leves e transparentes: sinto-me fluido, extremamente aberto. Conheço as sensações da mulher nua: água, terra, fogo e vento. Conheço-a e amo-a através delas, numa relação de felicidade intensa e ao mesmo tempo imponderável. O sono da mulher é de horizontes múltiplos e em si germina o centro abrindo o aberto sem limites.
António Ramos Rosa
 
 
 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

EU GOSTO DE VOCÊ - TRIBALISTAS



Rita.

PABLO NERUDA /// Soneto de Amor




Talvez não ser é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando o meio-dia
como uma flor azul, sem que caminhes
mais tarde pela névoa e os ladrilhos,

sem essa luz que levas na mão
que talvez outros não verão dourada,
que talvez ninguém soube que crescia
como a origem rubra da rosa,

sem que sejas, enfim, sem que viesses
brusca, incitante, conhecer minha vida,
aragem de roseira, trigo do vento,

e desde então sou porque tu és,
e desde então és, sou e somos
e por amor serei, serás, seremos.
......................................................................................................................................
e desde então sou porque tu és

beijo

Mariana.
PABLO NERUDA
 
 

Sá de Freitas. /// OS OLHOS DE QUEM AMA


Pode-se descobrir nos olhos de quem ama,
A luz que brilha intensa e faz-se cristalina,
Mostrando a alma toda a se envolver na chama,
De uma paixão imensa e forte que domina.

Força instintiva essa, n'alma adormecida,
Que, ao despertar se agita, cresce e se reponta
Do coração, e muda inteira a nossa vida.
Fazendo a mente, em sonhos,flutuar sem conta.

E assim o olhar de quem se entrega totalmente
À força da paixão, se expande livremente ,
Rompendo da tristeza o denso e negro véu.

Porque depois que o amor no coração desperta,
A gente se transforma e vive igual poeta,
Olhando para o mundo e vislumbrando o Céu.
 

Joaquim Pessoa /// Amei demais




Madruguei demais. Fumei demais. Foram demais
todas as coisas que na vida eu emprenhei.
Vejo-as agora grávidas. Redondas. Coisas tais,
como as tais coisas nas quais nunca pensei.

Demais foram as sombras. Mais e mais.
Cada vez mais ardentes as sombras que tirei
do imenso mar de sol, sem praia ou cais,
de onde parti sem saber por que embarquei.

Amei demais. Sempre demais. E o que dei
está espalhado pelos sítios onde vais
e pelos anos longos, longos, que passei


à procura de ti. De mim. De ninguém mais.

E os milhares de versos que rasguei
antes de ti, eram perfeitos. Mas banais.


Joaquim Pessoa

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

ANA MARIA DOMINGUES, /// Carta 36


 
 ANA MARIA DOMINGUES, in CARTAS A ROMEU (Ed. de autor, 2013)

*
Ilustração, por © Jaroslav Kourbanov
*

(LT)




Carta 36

Coloca as tuas mãos no meu rosto, agora. Douradas de amor. Não todo, claro. Só o-certo-amor. Aquele que nos apraz. Lendário. Inventado de madrugada. Na melancolia mansa das tuas pálpebras. Na intimidade branca das minhas pupilas. Essas, onde correm todos os lugares.Todos os rios. Todos os sítios. Ousando fazer coisas. Ousando dizer coisas. Semeando por aí, tão perto de nós, jornadas de campos longínquos. Adiados dentro de mim.
E, por cima: o meu sorriso. Aquele que dizias ser o teu jardim. A crescer. A florir. A prolongar-se nos teus olhos, que a certa altura emudecias. De tal forma que fazias parte dele, e nessa parte ele é, ainda, autenticamente Teu!




quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sophia de Mello Breyner Andresen //// Em todos os jardins

. Em todos os jardins

Em todos os jardins hei-de florir,
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir

Todas as praias onde o mar ondeia.

Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.

Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como num beijo.

Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.



Sophia de Mello Breyner Andresen*

Antonio Ramos Rosa /// Teu corpo principia


PORQUE TU EXISTES 
NO FUNDO DOS MEUS OLHOS :)



srsrsrsr bj

TEU CORPO PRINCIPIA



Teu corpo principia
Dou-te um nome de água
para que cresças no silêncio.
Invento a alegria
da terra que habito
porque nela moro.
Invento do meu nada
esta pergunta.
(Nesta hora, aqui.)
Descubro esse contrário
que em si mesmo se abre:
ou alegria ou morte.
Silêncio e sol - verdade,
respiração apenas.
Amor, eu sei que vives
num breve país.
Os olhos imagino
e o beijo na cintura,
ó tão delgada.
Se é milagre existires,
teus pés nas minhas palmas.
ó maravilha, existo
no mundo dos teus olhos.
ó vida perfumada
cantando devagar.
Enleio-me na clara
dança do teu andar.
Por uma água tão pura
vale a pena viver.
Um teu joelho diz-m
e
 
a indizível paz.

Antonio Ramos Rosa







quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Nuno Júdice ///



Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
Ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
Magoa, que se limita à alma, mas que não deixa,
Por isso, de deixar alguns sinais - um peso
Nos olhos, no lugar da tua imagem, e
Um vazio nas mãos, como se tuas mãos lhes
Tivessem roubado o tacto. São estas as formas
Do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
As coisas simples também podem ser complicadas,
Quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade.
Porém, é o sonho que me traz à tua memória; e a
Realidade aproxima-me de ti, agora que
Os dias que correm mais depressa, e as palavras
Ficam presas numa refracção de instantes,
Quando a tua voz me chama de dentro de
Mim - e me faz responder-te uma coisa simples,
Como dizer que a tua ausência me dói.


Nuno Júdice



Vinicius de Moraes /// Amor em paz



Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar

Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste

Quando se desfaz
Vinicius de Moraes

APRENDA A USAR O FLASH PORTÁTIL - PARTE 77

(Do livro A Alquimia da Vida //// O círculo



Na correnteza do tempo
Neste eterno fluir
Se modificam universos,
        mundos, mares e espaços.
Não há história ou passado
Nem quem saiba quantos passos
        a Natureza já deu.
Se há algo que, de fato,
algum dia já morreu
fora da ilusão dos homens.
Neste palco de mudanças
nunca me sinto sozinho.
Povoado de esperanças
ignoro mil caminhos,
e, por mais livre, estou
preso na teia das circunstâncias.
Se a vida desfaz laços
outros laços se compõem
como se pulasse apenas
para as outras instâncias.
E esta inconstância do mundo
mal se grava na memória
       que, esquecida,
vislumbra por vago tempo,
perplexa,
o doce mistério da vida.  


(Do livro A Alquimia da Vida, Editora Castanheira/Printer Laser, 1999).

Casimiro de Brito /// Noite por Ti Despida



 Adulta é a noite onde cresce
o teu corpo azul. A claridade
que se dá em troca dos meus ombros
cansados. Reflexos
                                  coloridos. Amei
o amor. Amei-te meu amor sobre ervas
orvalhadas. Não eras tu porém
o fim dessa estrada
sem fim. Canto apenas (enquanto os álamos
amadurecem) a transparência, o caminho. A noite
por ti despida. Lume e perfume
do sol. Íntimo rumor do mundo.


Casimiro de Brito, in "Solidão Imperfeita"






terça-feira, 19 de novembro de 2013

CHEGUEVARA CHE / ((( HASTA LA VICTORIA/ SIEMPRE )))



DE UM BLOG QUE MUITO ADMIRO / CHUVISCOS

((( HASTA LA VICTORIA/ SIEMPRE )))

Che vive... a luta continua


Chuviscado por José Gomes


Che Guevara morreu no dia 9 de Outubro de 1967 na aldeia boliviana de Higueras. Foi assassinado, com apenas 39 anos de idade, por "Boinas Verdes Quíchuas", tropa de elite do exército boliviano, treinada pelos Estados Unidos especialmente para esse fim.

Che Guevara morreu como queria, lutando por um ideal que considerava justo.



Dois anos antes, em Outubro de 1965, Fidel de Castro leu a carta que Che Guevara escrevera:


“A Fidel de Castro
Havana. “Ano da Agricultura”

Fidel,

Neste momento lembro-me de muitas coisas – de quando te conheci no México, em casa da Maria Antónia, de quando me propuseste juntar-me a ti; de todas as tensões causadas pelos preparativos...

Um dia vieram perguntar-me quem deveriam avisar em caso de morte, e a possibilidade real deste facto afectou todos nós. Mais tarde soubemos que era verdade, que numa revolução ou se vence ou se morre (se a revolução for autêntica). E muitos companheiros ficaram-se pelo caminho em direcção à vitória...

Hoje, tudo tem um tom menos dramático, porque estamos mais maduros. Mas os factos repetem-se.
Sinto que cumpri com a parte do meu dever que me prendia à Revolução Cubana no seu território e despeço-me de ti, dos camaradas, do teu povo, que agora é meu.

Renuncio formalmente aos meus cargos no Partido, ao meu lugar de ministro, à minha patente de Comandante e à minha cidadania cubana. Legalmente nada me liga a Cuba, apenas laços de outro tipo, que não se podem quebrar com nomeações.

Fazendo o balanço da minha vida passada, acho que trabalhei com suficiente integridade e dedicação para consolidar o triunfo revolucionário. A minha única falha grave foi não ter tido mais confiança em ti desde os primeiros momentos da Sierra Maestra não ter compreendido com a devida rapidez as tuas qualidades de líder revolucionário.

Vivi dias magníficos e, ao teu lado, senti o orgulho de pertencer ao nosso povo nos dias brilhantes, embora tristes, da crise do Caribe (a questão dos mísseis soviéticos em Cuba). Raramente um estadista fez mais do que tu naqueles dias; orgulho-me também de te ter seguido sem vacilar, identificando-me com a tua maneira de pensar, de ver e avaliar os perigos e os princípios.

Outras terras do mundo requerem os meus modestos esforços. Eu posso fazer aquilo que te é vedado devido à tua responsabilidade à frente de Cuba, e chegou a hora de nos separarmos.

Quero que se saiba que o faço com um misto de alegria e pena. Deixo aqui as minhas mais puras esperanças de construtor e os meus entes mais queridos. E deixo um povo que me recebeu como um filho. Isso fere uma parte do meu espírito.

Carrego para novas frentes de batalha a fé que me ensinaste, o espírito revolucionário do meu povo; a sensação de cumprir com o mais sagrado dos deveres: lutar contra o imperialismo onde quer que esteja. Isso consola-me e mais do que isso cura as feridas mais profundas.

Declaro uma vez mais que liberto Cuba de qualquer responsabilidade, a não ser aquela que provém do seu exemplo. Se chegar a minha hora debaixo de outros céus, o meu último pensamento será para o povo e especialmente para ti, a quem digo obrigado pelos teus ensinamentos e pelo teu exemplo, aos quais tentarei ser fiel até às últimas consequências dos meus actos; que estive sempre identificado com a política externa da nossa revolução e assim continuarei; que onde quer que me encontre sentirei a responsabilidade de ser revolucionário cubano, e como tal actuarei.

Não lamento por nada deixar, nada material, para os meus filhos e para a minha mulher. Estou feliz que seja assim. Não peço nada para eles, pois o Estado lhes dará o suficiente para viver e se educarem.

Teria muitas coisas a dizer-te e ao nosso povo, mas sinto que não são necessárias palavras elas não podem expressar o que eu desejaria; não vale a pena rabiscar apressadamente mais qualquer coisa num bloco de notas.

Até à vitória sempre! Pátria ou morte!
(Hasta la victoria siempre! Pátria o muerte!)

Abraço-te com todo o meu fervor revolucionário.

Che”



1997:

Trinta anos depois do assassinato de Che Guevara, os seus restos mortais foram descobertos numa vala comum na cidade de Vallegrande, na Bolívia, por antropólogos argentinos e cubanos.

Em 17 de Outubro de 1997, Che Guevara foi enterrado com pompa na cidade cubana de Santa Clara (onde liderou uma batalha decisiva para o derrube de Fulgêncio Baptista), com a presença da família e de Fidel de Castro.

Embora os seus ideais sejam românticos aos olhos de um mundo globalizado, ele transformou-se num símbolo na história das revoluções do século XX e num exemplo de coerência política.

A sua morte determinou o nascimento de um mito, até hoje símbolo de resistência especialmente para os países latino-americanos e mais recentemente na juventude dos nossos dias.

CHE VIVE E A LUTA CONTINUA
.
 Chuviscado por José Gomes

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Florbela Espanca /// Da minha janela



Da minha janela



Mar alto!

Ondas quebradas e vencidas
Num soluçar aflito e murmurado.

Ovo de gaivotas,
leve,
imaculado,
Como neves nos píncaros nascidas!

Sol!

Ave a tombar,
asas já feridas,
Batendo ainda num arfar pausado.

Ó meu doce poente torturado
Rezo-te em mim,
chorando,
mãos erguidas!

Meu verso de Samain cheio de graça,
Inda não és clarão já és luar
Como branco lilás que se desfaça!

Amor!

Teu coração trago-o no peito...

Pulsa dentro de mim como este mar
Num beijo eterno,
assim,
nunca desfeito!..
.



Florbela Espanca

Pablo Neruda /// A DANÇA



A DANÇA




Não te amo como se fosses uma rosa ou um topázio
Ou a flecha de cravos,
Que o fogo lança.

Amo-te como certas coisas escuras devem ser amadas,
Em segredo,
Entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floresce e carrega,
Escondida dentro de si,
A luz de todas as flores.

E, graças ao teu amor,
Escura no meu corpo
Vive a densa fragrância que cresce da terra.

Amo-te sem saber como ou quando ou de onde.

Amo-te tal como és,
Sem complexos nem orgulhos.

Amo-te assim porque não sei outro caminho além deste
Onde não existo eu nem tu.

Tão perto que a tua mão no meu peito é a minha mão.
Tão perto que,
Quando fechas os olhos,
Adormeço...



Pablo Neruda

 
SAUDADES IMENSAS!!!!!!!!!
GOSTO MUITO DE TI
 
 

 
Admiro o esbelto bailado do teu voo,
em total liberdade,
a forma grácil com que desces célere
até ao rebentar da onda em espuma
para te alimentares …
 
Dou comigo a pensar
nas alturas em que a saudade
se faz mais presente
em te invejar a capacidade de voares,
e aporta-me a vontade de te entregar
o meu pensamento,
para que o leves para junto
daquela(e) a quem entreguei o meu coração,
numa asa a saudade, na outra o afecto…
 
Talvez assim o tempo que nos separa
do abraço que tarda ,
se encurte e a fusão dos corpos perfumados se dê ,
porque as almas,
essas já se pertencem…
 
 
 
 
 
 
Haminton Afonso 

domingo, 17 de novembro de 2013

Marc Satini /// AMOR DE SEMPRE


AMOR DE SEMPRE
DE TANTO
TE QUERER...

DE UMA VEZ POR TODAS
ME RENDO AOS TEUS ENCANTOS
ME CONFESSO
INDEFESO DIANTE
DO PODER
DE TEUS OLHOS
DA FORÇA DE TUA VOZ,

DO PERFUME DE TEU CORPO
E DO SILENCIO
QUE TUA PRESENÇA EM MIM
INSTALA.

E QUIETO
EU QUE NEM ME ATREVO
TE QUERENDO
PERMANEÇO
ESPERANDO
TE ESPERANDO
TE AMANDO.



Marc Satini




 
COMO SE A DISTÂNCIA NÃO BASTASSE,
 
 
 
 


Ânsia

Há pequenas coisas que atiçam o amor
Que nos dão um grande desejo de amar
Uma enorme ânsia de sofrer...


sábado, 16 de novembro de 2013

Joaquim Pessoa /// Quero-te para além das coisas justas




Quero-te para além das coisas justas
e dos dias cheios de grandeza.
A dor não tem significado quando ma roubam as árvores,
as ágatas, as águas.
O meu sol vem de dentro do teu corpo,
a tua voz respira a minha voz.
De quem são os ídolos, as culpas, as vírgulas
dos beijos? Discuto esta noite
apenas o pudor de preferir-te
entre as coisas vivas.

Joaquim Pessoa