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domingo, 10 de novembro de 2013

Poemas mal comportados



Mudança radical

Precisamos viver de um modo mais saudável-
ela me disse um dia com uma mansidão que me assustou.
A televisão desligou, vendeu o carro, jogou fora os celulares
e saiu, suavemente, quebrando os computadores
com o ar de quem se livrava de dores.
Só faltava me convidar para morar em Açores
ou Fernando de Noronha.
Mas, não, foi mais rápida na solução:
comprou um sítio no Baixo Madeira
e, como se a vida fosse uma brincadeira,
me enfiou num barco, numa segunda-feira,
para tomar banho de igarapé,
comer peixe frito,
viver num lugar que não se escutava um grito
e ser comido por mosquitos,
ávidos de carne nova.
Foi de amor uma prova:
aguentei bravamente um mês,
ao fim do qual,
louco por uma tv, uma revista ou um jornal
insisti que devia reconsiderar.
Ela parecia nem me ligar
e ficou por lá
magoando meu coração,
talvez na ilusão de que voltasse,
o que devo dizer que até pensei,
porém, não aguentaria sete dias, sei.
Um ano já passou..
Ela por lá
já deve ter arranjado
um beiradeiro ou um índio
e, se não o fez, foi por azar-
nenhum apareceu naquele lugar.
Com tempo e cachaça tudo esmaece.
E, se, no começo, muito se padece
preenchi o tempo vendo televisão
e, hoje, gosto até de novela.
Sem ela nada mais é como parece
tem horas que dá uma vontade danada
de entrar num site de relacionamentos
ou fazer um cruzeiro ou arranjar uma mulher.
A preguiça é que me faz
andar mesmo só até a janela
para ver uma lua cheia e solitária
inundar de luz o céu
me fazer sentir uma imensa saudade dela
que, em noites assim,
sempre fazia um carinho em mim.

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