Seguidores

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

De : Afonso Estebanez Stael

SUAVE É A ESPERA...
 
Deixa a tua alma numa rosa
e um sonho no amanhecer
para ver minha esperança
que hoje espera te rever...
 
Tu não precisas do tempo
quando o amor acontecer.
O amor te chega na brisa
quando o sonho alvorecer.
 
Deixa o coração na porta
e um arco-íris no jardim...
A esperança se comporta
como flor dentro de mim.
 
Que suave é toda espera
para quem quer renascer
num sonho de primavera
que renasce sem morrer...
 
 
Poema dedicado à Johanna R.Estebanez Stael
In Do Penoso Ofício de Sonhar
 
 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ausência



Quero dizer-te uma coisa simples:
a tua ausência dói-me.
Refiro-me a essa dor que não magoa, que se limita à alma;
mas que não deixa, por isso,
de deixar alguns sinais -
um peso nos olhos, no lugar da tua imagem, e um vazio nas mãos.
Como se as tuas mãos lhes tivessem roubado o tacto.
São estas as formas do amor,
podia dizer-te; e acrescentar que as coisas simples
também podem ser complicadas,
quando nos damos conta da diferença entre
o sonho e a realidade.
Porém, é o sonho que me traz a tua memória;
e a realidade aproxima-me de ti,
agora que os dias correm mais depressa,
e as palavras ficam presas numa refracção de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de mim -
e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência me dói.
Nuno Júdice

há no meu ombro lugar para o teu cansaço










Não caibo nesta tarde que me desfolhas
sobre o coração. Renovam-se-me sob os passos
todos os caminhos e o dia é uma página que, lida
e soletrada, descubro inatingível como o vento, a rua e
a vida.
As mesmas mãos que antes desfraldavam
domésticas insígnias abaixo dos beirais
emprestam novos pássaros às árvores.
Pétala a pétala chego à corola desta minha hora.
Roubo o meu ser a qualquer outro tempo,
não há em mim memória de alguma morte,
em nenhum outro lugar me edifiquei.
Arredondas à minha volta os lábios para me dizer,
recuo de repente àquele princípio que em tua boca tive.
Eu sei que só tu sabes o meu nome
- tentar sabê-lo foi afinal o único
esforço importante da minha vida.
Sinto-me olhado e não tenho mais ser
que ser visto por ti. Há no meu ombro lugar
para o teu cansaço e a minha altura é para ser medida
palmo a palmo pela tua mão ferida.






Ruy Belo

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

ÚLTIMO CANTO



Na pálida escassez do Sol poente,
vejo a tua face no horizonte ainda infinda
....e as coisas que falo comigo, dizem:
“Talvez não fosse eu, assim tão amada.”
“Talvez não te fosse eu, assim tão querida.”

Mas por trás da janela do meu quarto embaciada,
de tanto desejar a tua vinda,
... ...não há forma, não há dúvida que te esqueça,
ou que me faça ser assim p`ra toda a vida.


Já na luz improvisada que rasga a noite,
escrevo mais que um grito e nada importa
…a certeza que abandonaste os meus sinais,
é o amor, que me deixa para sempre...
e quase morta...

Raquel Calvete



domingo, 24 de fevereiro de 2013

Folhas

Sábado, Fevereiro 23, 2013




Era uma folha pousada
no cotovelo do vento;
e pairava, deslumbrada,
entre morte e movimento.

Era uma folha: lembrava,
de tão frágil, o momento
em que a vida ficava
escrava do teu juramento.

Era uma folha: mais nada.
Antes fosse esquecimento!

David Mourão-Ferreira

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Cada um tem o seu pedaço de tempo ...



Cada um tem
o seu pedaço de tempo
e seu pedaço de espaço, 
seu
fragmento de vida
e seu fragmento de morte.

Porém, às vezes, as peças são alteradas
e alguém vive com a vida de outro
ou alguém morre com a morte de outro.

Quase ninguém está feito
tão só consigo próprio.
Porém, há muitos que são
nada mais do que um erro:
estão feitos com as
peças
totalmente trocadas.

De: Roberto Juaroz


 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Quando te vi senti um súbito tremor de Primavera




Quando te vi senti um puro tremor de primavera
e a voluptuosa brancura de um perfume
No meu sangue vogavam levemente
anénomas estrelas barcarolas
O siêncio que te envolvia era um grande disco branco
e o teu rosto solar tinha a bondade de um barco
e a pureza do trigo e de suaves açucenas
Quando descobri o teu seio de luminosa lua
e vi o teu ventre  largamente branco
senti que nunca tinha beijado a claridade da terra
nem acariciara jamais uma guitarra redonda
Quando toquei a trémula andorinha do teu sexo
a adolescência do mundo foi um relâmpago no meu corpo
E quando me deitei a teu lado foi como se todo o universo
se tornasse numa voluptuosa arca de veludo
Tão lentamente pura e suavemente sumptuosa
foi a tua entrega que eu renasci inteiro como um anjo do sol.


António Ramos Rosa

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Quanto, quanto me queres? António Botto




 
Quanto, quanto me queres? — perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.
 
Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida...
 
Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar...
 
Não perguntes, não sei — não sei dizer
 Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.
 
stock photo : silhouette of bridge and pair of lovers on city background
 
 
.
 
 
 
 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

ONDE, O VIOLINO? José Gomes Ferreira

 
Chove...
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
 
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.





 
 
                                     

domingo, 17 de fevereiro de 2013

A verdade


A Verdade A verdade é semelhante
 a uma adolescente
vibrante, flexível, em radiosa sombra.
Quando fala é a noite translúcida no mar
e a esfera germinal e os anéis da água.
Um apelo suave obstinado se adivinha.
 
Ela dorme tão perfeitamente despertada
que em si a verdade é o vazio. Ela aspira
à cegueira, ao eclipse, à travessia
dos espelhos até ao último astro. Ela sabe
que o muro está em si. Ela é a sede
 
e o sopro, a falha e a sombra fascinante.
Ela funda uma arquitectura volante
em suspensas superfícies ondulantes.
Ela é a que solicita e separa, delimita
 
 
 

e dissemina as sílabas solidárias.
 
António Ramos Rosa, in "Volante Verde
 
 
 

Casa de : David Mourão Ferreira




Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão ...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Ausência




Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


Carlos Drummond de Andrade

Cuando me enamoro Andrea Bocelli


O IMPOSSÍVEL CARINHO

 
Escuta, eu não quero contar-te o meu 
desejo
Quero apenas contar-te a minha 
ternura
Ah se em troca de tanta felicidade 
que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!
 
(Manuel Bandeira)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Agradecimento aos países que me visitam


Brasil   30
Untd States  4
Norway  1
Germany  4
Untd Kingdam  3
 Koreya  1
Phlipines  1
Span  5
Moçambique 1
Angola 1
Colombia 1
Canada  1
Saud Arabia 1 
Ecuador  1

PORTUGAL DE LÉS A LÉS...

E muitos outros...

Eternamente



 

 
Quando a tua lembrança me vem presente ao pensamento
e o espaço fechado de um quarto ou de uma sala me oprimem
como se sufocar fosse ,
tenho necessidade de encontrar em espaços abertos o sentido
e a noçao de liberdade para chorar a ausência
 
Nessas alturas é junto ao Mar que vou encontrar refrigério
para a dor que oprime o meu coração, a vontade de te abraçar
que nunca se concretizou, a vontade de te olhar olhos nos olhos
e de te dizer que me fazes falta, que preciso de ti junto a mim,
e é perante a imensidão e a força desse mar
que sempre nos separou , que encontro forças para não desitir de ti,
de construir ao menos uma amizade sólida
e que um dia entendas que o caminho não era esse ,
mas o da escolha do amor, por mais escolhos que houvesse
no nosso caminho.
 
Digo-te.
com a certeza de que o amor que te tenho ,
continua presente no meu dia a dia e no meu coração,
que por mais que doa a saudade,
por mais que doa a ausência
é a ti que quero continuar a amar,
é a ti que pertencerá sempre o meu coração…
 
O Mar é a testemunha da minha saudade ,
da minha determinação em nunca esquecer que te amarei ,
para a eternidade…
 
De :  
Hamilton Afonso
 
 
 

Letra para uma valsa romântica




A tarde agoniza
Ao santo acalanto
Da noturna brisa.
E eu, que também morro,
Morro sem consolo,
Se não vens, Elisa!

Ai nem te humaniza
O pranto que tanto
Nas faces desliza
Do amante que pede
Suplicantemente
Teu amor, Elisa!

Ri, desdenha, pisa!
Meu canto, no entanto,
Mais te diviniza,
Mulher diferente,
Tão indiferente,
Desumana Elisa!

Manuel Bandeira

Labirinto ou não foi nada




Talvez houvesse uma flor
aberta na tua mão.
Podia ter sido amor,
e foi apenas traição.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua. . .
Ai de mim, que nem pressinto
a cor dos ombros da Lua!

Talvez houvesse a passagem
de uma estrela no teu rosto.
Era quase uma viagem:
foi apenas um desgosto.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua...
Só o fantasma do instinto
na cinza do céu flutua.

Tens agora a mão fechada;
no rosto, nenhum fulgor.
Não foi nada, não foi nada:
podia ter sido amor.

David Mourão-Ferreira

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

AMO_TE POR TODAS AS RAZÕES E MAIS UMA...



 
 
Amo-te Por Todas as Razões e Mais Uma Por todas as razões e mais uma.
Esta é a resposta que costumo dar-te quando me perguntas por que razão
te amo. Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém. Porque
não pode haver nem há só uma razão para te amar.
Amo-te porque me fascinas e porque me libertas e porque fazes
sentir-me bem. E porque me surpreendes e porque me sufocas e porque
enches a minha alma de mar e o meu espírito de sol e o meu corpo de
fadiga. E porque me confundes e porque me enfureces e porque me
iluminas e porque me deslumbras.
Amo-te porque quero amar-te e porque tenho necessidade de te amar e
porque amar-te é uma aventura. Amo-te porque sim mas também porque não
e, quem sabe, porque talvez. E por todas as razões que sei e pelas que
não sei e por aquelas que nunca virei a conhecer. E porque te conheço
e porque me conheço. E porque te adivinho. Estas são todas as razões.
Mas há mais uma: porque não pode existir outra(o) como tu.
 
Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'
 
 
 
 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Estou vivo e escrevo sol


 
 
 
Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em fios
 frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol
 
Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol
 
A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida
 
Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maraviha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde.
 
 
António Ramos Rosa

Quando vier a......






Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
 
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
 
Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
 
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
 
Alberto Caeiro
1889-1915

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

UM POEMA EXCELENTE....


Quando a noite anoitece....

O vento uiva lá fora
A chuva cai ritmada
Eu nesta cama vazia
Não durmo, sonho acordado

E quando a noite anoitece
Afago(te) sem te tocar
Beijo(te) sem te beijar
Vejo(te) sem te olhar
Sonho(te) sem te sonhar



Basta-me





 
Um jeito peculiar de me olhar do físico além
Conjuga as ausências em versos de esperança
Afirma que as promessas um dia feitas vêm
E o saldo, das duras batalhas, será bonança
 
Não acumula de mim, uma imagem distorcida
Sabe os redemoinhos que brutalmente me sopram
Tem o inicio do fio, das amarras da minha vida
Sabe minhas rendições, e onde meus sonhos pousam
 
Conhece minha fome, faz de sua boca alimento
Como caravela em mar aberto meu corpo navega
Embala meu sono, no doce balanço do vento
Sua rota de navegação faz provocar minha entrega
 
Cobre minha nudez, com sua poesia, rica e vasta
Enlaça-me, protege, cuida e ama, e isto me basta
 
Glória Salles

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

São as pessoas como tu....


Pensamento
Joaquim Pessoa Joaquim Pessoa Portugal n. 1948 Poeta
São as Pessoas como Tu São as pessoas como tu que fazem com que o nada queira dizer-nos algo, as coisas vulgares se tornem coisas importantes e as preocupações maiores sejam de facto mais pequenas. São as pessoas como tu que dão outra dimensão aos dias, transformando a chuva em delirante orvalho e fazendo do inverno uma estação de rosas rubras.
As pessoas como tu possuem não uma, mas todas as vidas. Pessoas que amam e se entregam porque amar é também partilhar as mãos e o corpo. Pessoas que nos escutam e nos beijam e sabem transformar o cansaço numa esperança aliciante, tocando-nos o rosto com dedos de água pura, soltando-nos os cabelos com a leveza do pássaro ou a firmeza da flecha. São as pessoas como tu que nos respiram e nos fazem inspirar com elas o azul que há no dorso das manhãs, e nos estendem os braços e nos apertam até sentirmos o coração transformar o peito numa música infinita. São as pessoas como tu que não nos pedem nada mas têm sempre tudo para dar, e que fazem de nós nem ícaros nem prisioneiros, mas homens e mulheres com a estatura da vida, capazes da beleza e da justiça, do sofrimento e do amor. São as pessoas como tu que, interrogando-nos, se interrogam, e encontram a resposta para todas as perguntas nos nossos olhos e no nosso coração. As pessoas que por toda a parte deixam uma flor para que ela possa levar beleza e ternura a outras mãos. Essas pessoas que estão sempre ao nosso lado para nos ensinar em todos os momentos, ou em qualquer momento, a não sentir o medo, a reparar num gesto, a escutar um violino. São as pessoas como tu que ajudam a transformar o mundo.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Pela luz dos olhos teus/ VINICIUS...






Vinicius de Moraes

Quando a luz dos olhos meus E a luz dos olhos teus Resolvem se encontrar Ai que bom que isso é meu Deus Que frio que me dá o encontro desse olhar Mas se a luz dos olhos teus Resiste aos olhos meus só pra me provocar Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar Meu amor, juro por Deus Que a luz dos olhos meus já não pode esperar Quero a luz dos olhos meus Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará Pela luz dos olhos teus Eu acho meu amor que só se pode achar Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Gute Nacht (from Winterreise) Schubert Liszt Valentina Lisitsa


Povoamento

 

Ruy Belo
.
No teu amor por mim há uma rua que começa
nem árvores, nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera.
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera
 
 
 

ABRAÇA-ME......

Abraça-me Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos.
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes.
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais.
Uma vez que nem sei se tu existes.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum' 




De : Vinicius de Morais





Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não
 
Vinícius de Moraes

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

De : Daniel Sá "" ao amor - em homenagem a Natália Correia ""

 
Daniel de Sá
 
“Ao amor – em homenagem a Natália Correia”
 
A ilha me perdeu, sou de nenhuma.
Saudade amor de mim, pedra que móis
Meu trigo que ceifei por outros sóis
Onde o suor não se evapora em bruma.
 
Sou valquíria que escolhe os seus heróis.
Minha paixão sou eu. Não me consuma
Outra paixão, amor. Bebo uma a uma
As gotas do veneno com que dóis.
 
Se as ilhas fossem gente, eu era o Pico,
De coração só feito de mistérios
E os longes das paisagens onde fico.
 
Das arribas do ser, a vida tomba
E os amores do Amor a morte fere-os.
Não libertem por mim nenhuma pomba.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

De : Gustavo Adolfo Bécquer




IV
Gustavo Adolfo Bécquer
¡Los suspiros son aire y van al aire!
¡Las lágrimas son agua y van al mar!
Dime, mujer: cuando el amor se olvida,
¿sabes tú a dónde va?

IV

Suspiros são  ar e vão pelo ar!
As lágrimas são água e vão para o mar!
Diga-me, mulher, quando o amor se esquece,
Sabes tu para onde vai?

Talvez





Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...


Pablo Neruda

LINDO!! BELO!! e SUBLIME!! POETAS PORTUGUESES!! NAÇÃO PORTUGUESA COM AMOR


sábado, 2 de fevereiro de 2013

JE T'AIME MOI NON PLUS


Adamo - F comme femme


Love Story


Casablanca


Soneto











Passei ontem a noite junto dela.
Do camarote a divisão se erguia
Apenas entre nós - e eu vivia
No doce alento dessa virgem bela... Tanto amor, tanto fogo se revela
Naqueles olhos negros! Só a via!
Música mais do céu, mais harmonia
Aspirando nessa alma de donzela! Como era doce aquele seio arfando!
Nos lábios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas lembro-me chorando! Mas o que é triste e dói ao mundo inteiro
É sentir todo o seio palpitando...
Cheio de amores! E dormir solteiro!


Álvares de Azevedo

AMIGO



 
 
 

 
 
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!
 
"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
 
"Amigo" (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
"Amigo" é o contrário de inimigo!
"Amigo" é o erro corrigido
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada!
 
"Amigo" é a solidão derrotada!
"Amigo" é uma grande tarefa,
É um trabalho sem fim,
Um espaço sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!
 
Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca