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sábado, 31 de março de 2012

Do blog : estados de alma


A lenda das rosas






Segundo uma lenda antiga,
Maria com São José
Fugindo de gente inimiga
Transpôs caminhos a pé.



E à proporção que Maria
Deixava o rasto no chão,
Todo o caminho floria
De rosas em profusão.



Pelos trilhos e barrancas
Das estradas viu-se em breve
O estendal de rosas brancas
Tudo enfeitando de neve.



De um branco suave e doce,
As rosas, nenhuma havia
Pela terra que não fosse
Da cor dos pés de Maria.



Depois de tempos volvidos,
Ao peso da imensa cruz,
Pelos caminhos floridos
Um homem passou: JESUS.



E sobre o estendal de flores,
Do seu corpo o sangue vai
Caindo, e Ele entre mil dores,
Nem geme nem solta um ai.



Passou e, pelas barrancas,
Sob as asas das abelhas,
Dos topos das rosas brancas
Brotaram rosas vermelhas.



Só duas cores havia
De rosas, que aqui registo
A cor dos pés de Maria
E a cor das chagas de CRISTO.


António D'Ávila

quinta-feira, 29 de março de 2012

Diz-me o teu nome




Diz-me o teu nome - agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão

com os teus dedos - como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,

como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro - assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o

nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.

Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim.

Maria do Rosário Pedreira

Foto:Piotr Kowalik

quarta-feira, 28 de março de 2012

o teu nome.....




Flor de acaso ou ave deslumbrante,
Palavra tremendo nas redes da poesia,
O teu nome,como o destino,chega,
O teu nome,meu amor,o teu nome nascendo
De todas as cores do dia!


Alexandre O'Neill

Edith Piaff

Isabel Pantoja....

terça-feira, 27 de março de 2012

...eu.....

...quero...................................




Quero quando eu morra
tuas mãos em meus olhos:
quero a luz, quero o trigo de tuas mãos amadas
passar uma vez mais sobre mim essa doçura:
sentir tua suavidade que mudou meu destino.

Quero que vivas enquanto adormecido,
espero que teus olhos sigam ouvindo o vento,
que sintas o perfume do mar que amamos juntos
e que sigas pisando a areia que pisamos.

Quero que o que amo siga vivo
e a ti amei e cantei sobre todas as coisas,
por isso segues florescendo, florida,
para que alcances tudo o que
meu amor te ordena,
para que passeie minha sombra por teus cabelos,
para que assim conheçam a razão do meu canto.

Pablo Neruda

Foto retirada do Google

segunda-feira, 26 de março de 2012

Agarro-me aos teus dedos




Agarro-me aos teus dedos
como se me afogasse entre os pensamentos:
de bronze são as palavras
as palavras imperecíveis de bronze
que lacrimejam dos teus olhos
como a tortura ou o silêncio
pois é assim, as mãos urdindo
com amor
as confissões que arranquei a outras noites
quando não regressavas...

João Ricardo Lopes

Imagem retirada do Google

Nem o autor, Tchaikovski, teria pensado numa interpretação destas pelo circo chinês. Fabuloso!

domingo, 25 de março de 2012

Há......

Hah!



Há a mulher que me ama e eu não amo.
Há as mulheres que me acamam e eu acamo.
Há a mulher que eu amo e não me ama nem acama.

Ah essa mulher!!!!!!!!

sábado, 24 de março de 2012

De: helena guimaraes



Título: NÃO SEI
 NÃO SEI
Descrição:

Não sei.

Não é dor o que sinto,

nem vazio,

nem desejo.

É a mágoa da perda

pela própria demissão

de abraçar o infinito.

A covardia de um rito.

É a incompreensão

da entrega

num beijo

que me prendeu a alma

me despertou

um soluço

e me orvalhou o olhar.

É não existir razão

de haver um sim

e um não.

É uma alma aberta

expressa em palavras

claras,

onde há lágrimas caladas

que me cobrem,

me fustigam,

me fazem sentir

mesquinha.

È preconceito,

é dilema,

é razão ou sentimento,

o querer e não querer

colher na vida o momento,

o sonho e a fantasia

que é minha.

H.G. janeiro 2003

Há palavras que nos beijam




Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperan
Carlo Martins Photo
ça,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes


Alexandre O'Neill

sexta-feira, 23 de março de 2012

Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo

Falta onibus




Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo
nem fazer explodir a madrugada nos teus olhos.

Eu quero apenas amar-te lentamente
como se todo o tempo fosse nosso
como se todo o tempo fosse pouco
como se nem sequer houvesse tempo.

Soltar os teus seios.
Despir as tuas ancas.
Apunhalar de amor o teu ventre.


Joaquim Pessoa

quinta-feira, 22 de março de 2012

Poesia de Eugenio de Andrade

" Passamos pelas coisas sem as ver,

gastos, como animais envelhecidos:

se alguém chama por nós não respondemos,

se alguém nos pede amor não estremecemos,

como frutos de sombra sem sabor,

vamos caindo no chão, apodrecidos. "



DEVIAS ESTAR AQUI

Devias estar aqui rente aos meus lábios

para dividir contigo esta amargura

dos meus dias partidos um a um

- Eu vi a terra limpa no teu rosto

Só no teu rosto e nunca em mais nenhum....


SEM TI


E de súbito desaba o silêncio.

É um silêncio sem ti,

sem álamos,

sem luas

Só nas minhas mãos

ouço a música das tuas.....

quarta-feira, 21 de março de 2012

Pelo dia da poesia....

Agradecimento

A todos os meus amigos de:

Brasil/ Joinville, Campinas, Brasilia , S.Paulo, João Pessoa, Salvador, Jundaí , Vitória, Criciúma,

Campo Grande , Marília , Jaraguá, Florianópolis, Fortaleza, Timóteo , Rio de Janeiro , Cáceres,

Niteroi /S.Gonçalo , S.Bernardo do Campo Rio de Janeiro

Portugal/ V.N.de Gaia , Amiais de Baixo , Lisboa , Aveiro, Carcavelos, Porto, Coimbra

Denmark/ Rodby

Unitd / Atlanta
O Musico

Mozambique/ Maputo

Germany/ Waldaschaff,

obrigados pela visita a este blog

terça-feira, 20 de março de 2012

De: Helena Guimaraes

Título: A MASCARA
 A MASCARA
Descrição:

Quem de nós tem a coragem

de aceitar a sua imagem,

aquela imagem sem graça,

sem rasgos, imagem baça

que o espelho teima em reflectir?

Quem de nós tem a ousadia,

no viver do dia a dia,

de retirar a mordaça

gritando ao vento que passa

o seu interno sentir?

Quem deixa cair a máscara?

Fantasia construída

de cada um para si.

Máscara de Rei, de Profeta,

de intelectual, de poeta,

de homem muito importante

que não esquece a cada instante

o gesto, o sorrir conveniente,

a vénia subserviente,

que nunca o desmascara.

Quem deixa cair a máscara?



De: helena guimaraes

domingo, 18 de março de 2012

A partir dos limites

Domingo, Março 18, 2012




A partir dos limites
das palavras
das árvores
o amor das árvores
as frases do desejo

as sombras
brancas
de outras palavras
outras
outras palavras
brancas

A partir das palavras
e do amor das árvores

O trajecto
mais breve
de uma sombra a outra
pode ser
outra sombra


António Ramos Rosa

Imagem retirada do Google

Segredo ....




Sei um ninho
e o ninho tem um ovo;
e o ovo, redondinho,
tem lá dentro um passarinho novo.

SANHAÇO-VERDE!!!


Mas escusas de me tentar:
nem o tiro nem o ensino;
quero ser um bom menino,
e guardar
este segredo comigo,
e ter depois um amigo
que faça o pino
a voar.


Miguel Torga

sexta-feira, 16 de março de 2012

Noturno a dois

no title 102


O silêncio nos invade
quando o teu olhar se afasta
e se despe, em local incerto.

Tu ausente, desamparada, só,
qual criança envergonhada e triste
como uma flor, perdida no deserto.

Uma lágrima tua, desliza
pura gota de orvalho esquecida,
guardada no silêncio da memória.

E mais outra hora passou
com o nimbo da noite invadindo o sono,
numa madrugada sem glória.

João-Maria Nabais

quarta-feira, 7 de março de 2012

Ausência

Quando não houver amanhã


Num deserto sem água

Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.



Sophia de Mello Breyner e Andresen

terça-feira, 6 de março de 2012

Balada do gelo

Masterpiece

Há nestas noites perdidas
a dor gelada do teu corpo ausente,
do abraço das tuas pernas fendidas
desabrochando num sorriso quente.

é a saudade dolorida
das tuas mãos cruéis
que me rasgam a pele ferida,
desenhando no meu corpo
o mapa do teu desejo,
a mordedura da tua boca salgada
percorrendo-me insaciada
na tortura de um longo beijo.

sempre nestas noites perdidas,
a dor gelada do teu corpo ausente,
da prisão das tuas pernas rendidas
desabrochando num gemido quente.

e quando o sol começa a despontar
e eu consigo adormecer,
juro-te, minha querida,
que nunca mais quero acordar.


António Maga

domingo, 4 de março de 2012

Ser Poeta



Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca

Esquecer



Longos dias de sonho e de repouso...
Ócio e doçura... Sinto, nestes dias,
Meu corpo amolecer, voluptuoso,
Num desfalecimento de energias.

A ler o meu poeta doloroso
E a fumar, passo as horas fugidias.
Entre um cigarro e um verso vaporoso
Sou todo evocações e nostalgias.

Quando por tudo a claridade morre
E sobre as folhas do jardim doente
A tinta branca do luar escorre,

A minha alma, a mercê de velhas mágoas,
É um pássaro ferido mortalmente
Que vai sendo arrastado pelas águas.


Ribeiro Couto

Foto:Jose A Gallego

sábado, 3 de março de 2012

Fado " senhora do livramento "





Senhora do Livramento
Livrai-me deste tormento
De a não ver há tantos dias
Partiu zangada comigo
Deixou-me um retrato antigo....

sexta-feira, 2 de março de 2012

Tentei fugir da mancha mais escura




Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.

David Mourão-Ferreira

Foto:Jonathan Charles

quinta-feira, 1 de março de 2012





Não tenho
Automatic Lover
mais palavras pra te dar
Mas não temas
Ficou-se nosso caso pelos poemas
Pelos livros, pelas canções
Tuas e nossas
E escrevo-te somente
Pra que possas
Guardar nesse baú, que sei que possuis
Os meus beijos
Plenos e azuis
Imensos areais de firmamento...
Ficou o nosso amor escrito no vento
Resta-nos a liberdade
Desejada?
Quem disse que a vida é sempre justa
Que dizer adeus nunca nos custa
Se contigo se vai a vida inteira
No sonho de nós dois junto à lareira?!
Cá dentro, fica o eco e mais nada!...

Maria Mamede, in "Lume", pág.43, Edições Papiro