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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

PROCURO_TE....



PROCURO-TE
 
 
Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.
 
Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.
 
Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.
 
Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.
 
Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.
 
Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre - procuro-te.

Sem luz



Os dedos doridos
dançam nas minhas mãos
ao som da música
que ainda sabemos entoar.
Mesmo doridos (os dedos) e as tuas mãos
em mim, são palavras de amor,
de esperança
e - talvez - de um fogo de nós.
Não me deixes sem luz.

Paula Raposo,

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

QUER.......



 
...Vive comigo um amor sem moda
Ou se for de moda, que seja antiga
 Me manda uma “cartinha”Com letras
“redondinhas”Cheias de “eu te amo”
Me escreve uma poesia Cheia de “riminha”
 Me proponha uma jura
Daquelas que não se fazem:
“Quer ser pra sempre,
Sempre minha?”
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cáh Morandi

Rodrigo Leao & Lula Pena - "Pasion"


QUIERO PERDERME EN TU CUERPO


AINDA SOU EU... São Rei


 
 
 
 
 
 
 I will hold your tears in my eyes
 
 
 
Hoje ainda sou eu
que me olho no espelho
que vejo um reflexo
que nem sei mais se é meu
 
Mas sei que não serei assim para sempre
 
Hoje ainda sou eu que escrevo
e que a custo escrevo o que sinto
amanhã poderei ser outra que não eu
 
Hoje ainda sou eu poesia
canto de cotovia
que te veio acordar
amanhã poderei ser apenas névoa
que dorme contigo
no teu recanto
no canto do teu olhar
 
Hoje ainda sou eu que te adormeço
que rabisco sentimentos
que deambulo segredos
meus e teus
e de mim me esqueço
só pra te velar
 
Hoje ainda sou eu a corda do teu violino
o coração desassossegado
a falta de tino
a paixão desenfreada
o compasso feito melodia
nos versos da tua canção
 
Hoje ainda sou o teu poema
a estrofe incabada
a palavra por dizer
esquecida no canto da tua boca
 
Amanhã serei apenas outra
a louca
a insensata
que da vida farta
resolveu dar um basta
e perdida de si
resolveu te amar
e com isso se castigar
 
hoje ainda sou eu
a que te encanta os olhos
a que de ti se lembra
e de quem tu lembras...
amanhã não sei quem serei...
nem sei se te amarei...
 
São Reis

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Um poema de São Reis





 
 
 
Tenho saudade de te ver
de não te ver
de te beijar
de não te beijar
de te tocar
de não te tocar
de te ter
de não te ter
sede de ti
e sede sem ti
 
Tenho saudade de ti
ponto final
Como a árvore tem saudade
do vento que a sacode
e a água da terra que a engole
de um só trago
e os pássaros do calor quente
de uma asa protectora
e o céu das nuvens carregadas
e a lua das estrelas abrilhantadas
 
Saudades todos os seres vivos têm:
uns de umas coisas , outros de outras
e ponto final...
Saudades não se discutem e gostos também não
 
São Reis
16-abr-2012

domingo, 27 de janeiro de 2013

Tudo é possível no nosso imaginário*




Flutua-se no espaço nas asas do vento,
tudo é perfeito no sentir,
a vida não acontece...
Se dá e se recebe iluminada!
 
O mar corre para o rio com sede do seu abraço,
as estrelas vestem-se de flores...
as flores grinaldam-se na lua,
as árvores são aves soltas que poisam no ar...
só o sol se mantem no seu lugar...
neste estranho mundo os homens se passeiam no ar...
mergulham nas profundezas do mar,
tudo lhes é respirável...
e a terra é o seu leito onde adormecem a sonhar*
... Sorrio...
Poeta eu??? Nem pensar... só no sonhar...
 
C.C.
 
Tudo é possível no nosso imaginário*

O círculo




Na correnteza do tempo
Neste eterno fluir
Se modificam universos,
        mundos, mares e espaços.
Não há história ou passado
Nem quem saiba quantos passos
        a Natureza já deu.
Se há algo que, de fato,
algum dia já morreu
fora da ilusão dos homens.
Neste palco de mudanças
nunca me sinto sozinho.
Povoado de esperanças
ignoro mil caminhos,
e, por mais livre, estou
preso na teia das circunstâncias.
Se a vida desfaz laços
outros laços se compõem
como se pulasse apenas
para as outras instâncias.
E esta inconstância do mundo
mal se grava na memória
       que, esquecida,
vislumbra por vago tempo,
perplexa,
o doce mistério da vida.  

(Do livro A Alquimia da Vida, Editora Castanheira/Printer Laser, 1999).

Poema de Ary, Logo se vê !!!!!!




Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutra pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse ao abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever em sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte
faz devorar em jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chega ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.

Esse que despe a poesia
como se fosse mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.

Ary dos Santos, in 'Resumo'
Tema(s): Poeta Ler outros poemas de José Carlos Ary dos Santos

E depois do amor....

Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei…

E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós

Paulo de Carvalho com letra de José Niza e música de José Calvário
Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei…

E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós

Paulo de Carvalho com letra de José Niza e música de José Calvário

sábado, 26 de janeiro de 2013

Quando te vi senti um puro tremor de primavera

 

 

 

Quando te vi senti um puro tremor de primavera
e a voluptuosa brancura de um perfume
No meu sangue vogavam levemente
anénomas estrelas barcarolas
O siêncio que te envolvia era um grande disco branco
e o teu rosto solar tinha a bondade de um barco
e a pureza do trigo e de suaves açucenas
Quando descobri o teu seio de luminosa lua
e vi o teu ventre largamente branco
senti que nunca tinha beijado a claridade da terra
nem acariciara jamais uma guitarra redonda
Quando toquei a trémula andorinha do teu sexo
a adolescência do mundo foi um relâmpago no meu corpo
E quando me deitei a teu lado foi como se todo o universo
se tornasse numa voluptuosa arca de veludo
Tão lentamente pura e suavemente sumptuosa
foi a tua entrega que eu renasci inteiro como um anjo do sol

António Ramos Rosa

De : Ezra Pound/ A Girl




A Girl

Ezra Pound

The tree has entered my hands,
The sap has ascended my arms,
The tree has grown in my breast -
Downward,
The branches grow out of me, like arms.

Tree you are,
Moss you are,
You are violets with wind above them.
A child - so high - you are,
And all this is folly to the world.
Uma garota

A árvore entrou nas minhas mãos,
A seiva ascendeu aos meus braços,
A árvore cresceu no meu peito -
para baixo,
os galhos crescem para fora de mim, como os braços.

A árvore é você,
o musgo você é,
Você é as violetas com vento sobre elas.
Uma criança - tão alta - você é,
E tudo isto é loucura para o mundo.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Para mi corazón basta tu pecho...


POEMA 12
Para mi corazón basta tu pecho...


Para mi corazón basta tu pecho,
 para tu libertad bastan mis alas.
 Desde mi boca llegará hasta el cielo
 lo que estaba dormido sobre tu alma.

 Es en ti la ilusión de cada día.
 llegas como el rocío a las corolas.
 Socavas el horizonte con tu ausencia.
 Eternamente en fuga como la ola.

 He dicho que cantabas en el viento
 como los pinos y como los mástiles.
 Como ellos eres alta y taciturna.
 y entristeces de pronto, como un viaje.

 Acogedora como un vicio camino.
 Te pueblan ecos y voces nostálgicas.
 Yo desperté y a veces emigran y huyen
 pájaros que dormían en tu alma.

PABLO NERUDA

Para mi corazón basta tu pecho...


Para mi corazón basta tu pecho,
para tu libertad bastan mis alas.
Desde mi boca llegará hasta el cielo
lo que estaba dormido sobre tu alma.

Es en ti la ilusión de cada día.
llegas como el rocío a las corolas.
Socavas el horizonte con tu ausencia.
Eternamente en fuga como la ola.

He dicho que cantabas en el viento
como los pinos y como los mástiles.
Como ellos eres alta y taciturna.
y entristeces de pronto, como un viaje.

Acogedora como un vicio camino.
Te pueblan ecos y voces nostálgicas.
Yo desperté y a veces emigran y huyen
pájaros que dormían en tu alma.

PABLO NERUDA

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas' Tema(s): Amor

Não És Tu Era assim, tinha esse olhar,
A mesma graça, o mesmo ar,
Corava da mesma cor,
Aquela visão que eu vi
Quando eu sonhava de amor,
Quando em sonhos me perdi.
 
Toda assim; o porte altivo,
O semblante pensativo,
E uma suave tristeza
Que por toda ela descia
Como um véu que lhe envolvia,
Que lhe adoçava a beleza.
 
Era assim; o seu falar,
Ingénuo e quase vulgar,
Tinha o poder da razão
Que penetra, não seduz;
Não era fogo, era luz
Que mandava ao coração.
 
Nos olhos tinha esse lume,
No seio o mesmo perfume ,
Um cheiro a rosas celestes,
Rosas brancas, puras, finas,
Viçosas como boninas,
Singelas sem ser agrestes.
 
Mas não és tu... ai!, não és:
Toda a ilusão se desfez.
Não és aquela que eu vi,
Não és a mesma visão,
Que essa tinha coração,
Tinha, que eu bem lho senti.
 
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas' Tema(s): Amor
 
 
 
 Recordação Em Pensamentos
 
 
 
 
 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

OS SILENCIOS....


 
 
 OS SILÊNCIOS
 
Não entendo os silêncios
que tu fazes
nem aquilo que espreitas
só comigo
 
Se escondes a imagem
e a palavra
e adivinhas aquilo
que não digo
 
Se te calas
eu oiço e eu invento
Se tu foges
eu sei não te persigo
 
Estendo-te as mãos
dou-te a minha alma
e continuo a querer
ficar contigo
 
De : Maria Teresa Horta
 
   in Só de amor ( Quetzal Editores 1999 ) 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Este inferno de amar !






Este inferno de amar — como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida — e que a vida destrói —
Como é que se veio a atear,
Quando — ai quando se há-de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra; o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… — foi um sonho —
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Que fez ela? Eu que fiz? — Não não sei
Mas nessa hora a viver comecei…

Almeida Garrett

De : Cristina Correia/ Terra de ninguem


Terra de ninguém
 

 
Terra de ninguém
Imagino que à passagem do tempo
somos uma estância em metamorfose,
percorremos o limite da utopia
a cada batimento da terra
e, só o silêncio nos é revelado.
Basta ler os lugares dos sonhos
e, de quem os habita.
Mas, na orla infinita do tempo incerto
da passagem da nossa existência humana
há ainda versos por ler
no enleio do fio dos dias.
Nada que agrida me é semelhante.
Nada que floresça me é indiferente.
Atravesso desertos
e, nos desencontros
descubro sinais visíveis, mil reflexos
de sustos e refúgios.
Remind.....
Inocularia na humanidade
alimento indispensável
para as almas da terra de ninguém,
onde a bondade ainda brilha.
Oiço, apenas, a memória que madruga
no envelhecimento da paz.
 
 

O Silêncio





Dos corpos esgotados que silêncio
tão apaziguador se levantava!
(Tinha uma rosa triste nos cabelos,
uma sombra na túnica de luz...)
Para o fundo das almas caminhava,
devagar, o sonâmbulo silêncio.
(Que apertados anéis nos braços nus!)
Mas o silêncio vinha desprendê-los.


David Mourão-Ferreira

domingo, 20 de janeiro de 2013

De: Fernando Namora

Alheamento Meu corpo estiraçado, lânguido, ao logo do leito.
 
O cigarro vago azulando os meus dedos.
 
O rádio... a música...
 
A tua presença que esvoaça
em torno do cigarro, do ar, da música...
 
Ausência!, minha doce fuga!
 
Estranha coisa esta, a poesia,
que vai entornando mágoa nas horas
como um orvalho de lágrimas, escorrendo dos vidros
duma janela,
 
numa tarde vaga, vaga...
 
 
Fernando Namora, in 'Mar de Sargaço
 
 
 

Cântico negro. de: José Régio




"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio

Beijemo-nos, apenas...


 
 
Não. Beijemo-nos, apenas,
Nesta agonia da tarde.
 
Guarda
Para um momento melhor
Teu viril corpo trigueiro.
 
O meu desejo não arde;
E a convivência contigo
Modificou-me - sou outro...(a)
 
A névoa da noite cai.
 
Já mal distingo a cor fulva
Dosa teus cabelos - És lindo!
 
A morte,
devia ser
Uma vaga fantasia!
hold me...don't let me go! 
Dá-me o teu braço: - não ponhas
Esse desmaio na voz.
 
Sim, beijemo-nos apenas,
Que mais precisamos nós?
 
António Botto
 
 
 

De : Charles Bukowski



The Laughing Heart


your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.
O coração rindo

Sua vida é a sua vida.
Não a deixe ser esmagada pela pegajosa submissão.
Fique esperto.
Há outros caminhos.
E existe luz em algum lugar.
Pode até não ser muita luz, mas,
ela vence a escuridão.
Fique esperto.
Os deuses lhe oferecerão oportunidades.
Não deixe de saber.
E as agarre.
E se você não pode vencer a morte, mas,
pode vencer a morte em vida, algumas vezes.
E quanto mais aprender a fazer isto,
maior será a luz.
Sua vida é a sua vida.
Saiba enquanto ela ainda é sua.
Você é maravilhoso,
os deuses esperam se deliciar
com você.

Do blog by spersivo

Mar, Mar e Mar



Domingo, Janeiro 20, 2013





Tu perguntas, e eu não sei,
eu também não sei o que é o mar.

É talvez uma lágrima caída dos meus olhos
ao reler uma carta, quando é de noite.
Os teus dentes, talvez os teus dentes,
miúdos, brancos dentes, sejam o mar,
um mar pequeno e frágil,
afável, diáfano,
no entanto sem música.

É evidente que minha mãe me chama
quando uma onda e outra onda e outra
desfaz o seu corpo contra o meu corpo.
Então o mar é carícia,
luz molhada onde desperta
meu coração recente.

Às vezes o mar é uma figura branca
cintilando entre os rochedos.
Não sei se fita a água
ou se procura
um beijo entre conchas transparentes.

Não, o mar não é nardo nem açucena.
É um adolescente morto
de lábios abertos aos lábios da espuma.
É sangue,
sangue onde outra luz se esconde
para amar outra luz sobre as areias.

Um pedaço de lua insiste,
insiste e sobe lenta arrastando a noite.
Os cabelos de minha mãe desprendem-se,
espalham-se na água,
alisados por uma brisa
que nasce exactamente no meu coração.
O mar volta a ser pequeno e meu,
anémona perfeita, abrindo nos meus dedos.

Eu também não sei o que é o mar.
Aguardo a madrugada, impaciente,
os pés descalços na areia.


Eugénio de Andrade


NOTA:   
Parafraseando Pessoa, o mar espelha precisamente o céu, pois o céu é maior que o mar.

sábado, 19 de janeiro de 2013

De: Álvaro de Campos /Não estou pensando em nada, e que bom!





Não estou pensando em nada
E essa coisa central, que é coisa nenhuma,
É-me agradável como o ar da noite,
Fresco em contraste com o Verão quente do dia.

Não estou pensando em nada, e que bom!

Pensar em nada
É ter a alma própria e inteira.
Pensar em nada
É viver intimamente
O fluxo e o refluxo da vida...
Não estou pensando em nada.
É como se me tivesse encostado mal.
Uma dor nas costas, 


Devaneios
 ou num lado das costas.
Há um amargo de boca na minha alma:
É que, no fim de contas,
Não estou pensando em
nada,
Mas realmente em nada,
Em nada.

. 
 Álvaro de Campos
.
6-7-1935




sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

BASTAVA-NOS AMAR. E NÃO BASTAVA




JOAQUIM PESSOA, in PORTUGUÊS SUAVE (1979), in 125 POEMAS - ANTOLOGIA POÉTICA (Litexa, 1982)


Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.

Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré c
heia.

Marcia.


E bastava. Bastava respirar
a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.








De : José Carlos Ary dos Santos

Filhos dum deus selvagem e secreto
E cobertos de lama, caminhamos
Por cidades,
Por nuvens
E desertos.
Ao vento semeamos
O que os homens não querem.
Ao vento arremessamos
As verdades que doem
E as palavras que ferem.
Da noite que nos gera, e nós amamos.
Só os astros trazemos.
A treva ficou onde
Todos guardamos a certeza oculta
Do que nós não dizemos
Mas que somos.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

ESTIGMA





Filhos dum deus selvagem e secreto
E cobertos de lama, caminhamos
Por cidades,
Por nuvens
E desertos.
Ao vento semeamos
O que os homens não querem.
Ao vento arremessamos
As verdades que doem
E as palavras que ferem.
Da noite que nos gera, e nós amamos.
Só os astros trazemos.
A treva ficou onde
Todos guardamos a certeza oculta
Do que nós não dizemos
Mas que somos.


José Carlos Ary dos Santos, in "Obra Poética", pág.51, Edições Avante

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

CANÇÃO DA FALSA ADORMECIDA





Lya Luft

Se te pareço ausente, não creias:

Hora a hora o meu amor agarra-se aos teus braços,
Hora a hora o meu desejo revolve estes escombros
E escorrem dos meus olhos mais promessas.

Não acredites neste breve sono;
Não dês valor maior ao meu silêncio;
E se leres recados numa folha branca,
Não creias também: é preciso encostar
Teus lábios em meus lábios para ouvir.

Nem acredites se pensas que te falo:
Palavras
São o meu jeito mais secreto de calar


O Amor , Meu Amor Nosso Amor...


O Amor, Meu AmorNosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.

Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.

E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.

E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.

Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.

Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.

Mia Couto, in "idades cidades divindades"
O Amor, Meu AmorNosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.
Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.

E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.

E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.

Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.

Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.


Mia Couto, in "idades cidades divindades"

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Eu trago a sabedoria dos que escutaram sentados



Alexandra Quadros

- Eu sou todas as estradas que nunca percorreste,
sou todos aqueles com quem nunca viveste,
sou a alfazema, o açafrão e as estepes do norte.
Eu sou a neve, e também a espuma.
Sou o negro do carvão e o amarelo do trigo.
Trago um diamante no nariz e ouro na minha orelha.
Eu sou a paixão e também a morte.

Sou o canto profundo e a brisa quente da manhã.
Sou o desejo que te consome de madrugada
e o desejo que te desperta a meio da tarde.
Eu sou aquele que nunca pára.


Eu trago a sabedoria dos que escutaram sentados.
Trago o calor do mediterrâneo.
Eu sou a mistura das línguas e a língua universal,
molhada, intensa, imperceptível, perturbadora.
Eu sou o negro mas também o calor do fogo.
Eu sou a suavidade de um pé descalço
a pisar a terra macia,
sou a força de um salto a enfrentar-se na madeira.
Tenho muitos anos, muitas vidas.
E não sou tempo nenhum.


Alexandra Quadros


de O Eléctrico, Colecção Textos Extraordinários, nº28, Padrões Culturais Editora



Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco

  
                                                        Mário Cesariny


Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco



Mário Cesariny

Capítulozinho sobre o Amor






Jared Padalecki 150x150 Fotos de Homens Bonitos, Sensuais e Sexys!

Não há nada melhor ou não conheço
Que um corpo se fundir em outro corpo, de forma doce,
Profunda e, se possível, bem devagar...
Com um improvável e cruel carinho
Que se converta aos poucos em pranto e prazer
Que lembra, no seu êxtase, o morrer...
Toda alegria nasce com o sofrer:
Sabe meu coração, que transparente,
Viveu do amor suas loucuras mais sensatas;
As dores doces, os gozos tão dourados,
O cinza dos adeuses, o fluir da prata
E nas suas chamas, como um Titanic humano,
Viu o naufrágio de todos os seus planos,
Ainda que sabendo que, na vida,
Amar é o melhor dos desenganos.

domingo, 13 de janeiro de 2013

De : cecilia meireles

Canção da tarde no campo
Caminho do campo verde
estrada depois de estrada.
Cerca de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.

Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha.

Meus pés vão pisando a terra
Que é a imagem da minha vida:
tão vazia, mas tão bela,
tão certa, mas tão perdida!

Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a tarde é minha.

Os meus passos no caminho
são como os passos da lua;
vou chegando, vai fugindo,
minha alma é a sombra da tua.

Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.

De tanto olhar para longe,

SENSUALIDADE

não vejo o que passa perto,
meu peito é puro deserto.
Subo monte, desço monte.

Eu ando sozinha
ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.
Cecília Meireles 

sábado, 12 de janeiro de 2013

Simplicidade de Amar

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

De : Mia Couto / " Ânsia "



"Ânsia"

Não me deixem tranquilo
não me guardem sossego
eu quero a ânsia da onda

Ilhéu
o eterno rebentar da espuma
As horas são-me escassas:
dai-me o tempo
ainda que o não mereça
que eu quero
ter outra vez
idades que nunca tive
para ser sempre
eu e a vida
nesta dança desencontrada
como se de corpos
tivéssemos trocado
para morrer vivendo

Mia Couto, em Raiz de orvalho e outros poemas, Caminho, 2009

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

De : São reis....


Venha alguém que me explique
porque insisto na loucura de bordar sonhos
com o teu nome inscrito na lembrança

E embora sabendo que a ternura
é a mãe de todas as loucuras
que não mede nem cores, nem distâncias
que encurta as ausências
e tem no coração o motor e a sua alavanca

Que mesmo assim venha alguém
que me explique
porque me sinto despida
que nem uma criança
quando não tenho a tua mão a embalar-me o sono
a transpirar na minha
a mover músculo de encontro a músculo
a dançar na minha
a entrelaçar-se na minha

Alguém que me explique
porque uma coisa tão simples como uma mão
me faz tanta falta
e aconchega tanto...


são reis
Foto: Venha alguém que me explique

porque insisto na loucura de bordar sonhos

com o teu nome inscrito na lembrança



E embora sabendo que a ternura

é a mãe de todas as loucuras

que não mede nem cores, nem distâncias

que encurta as ausências

e tem no coração o motor e a sua alavanca



Que mesmo assim venha alguém

que me explique

porque me sinto despida

que nem uma criança

quando não tenho a tua mão a embalar-me o sono

a transpirar na minha

a mover músculo de encontro a músculo

a dançar na minha

a entrelaçar-se na minha



Alguém que me explique

porque uma coisa tão simples como uma mão

me faz tanta falta

e aconchega tanto...



são reis

Maria Teresa de Noronha / fado das horas



Nota: esta " senhora " de descendencia aristocrata ( condessa de Sabrosa )  foi  muito aplaudida não só aqui  ( Portugal , como no estrangeiro .)

 A sua dicção, a sua maneira de se expressar, a forma como dominava as figurações intrincadas como os pianinhos e os roubados tornou-a criadora de um estilo muito próprio, que fez escola..




De : Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'

Esperança    
VHY (TE) BEM...
 Tantas formas revestes, e nenhuma 
Me satisfaz! 
Vens às vezes no amor, e quase te acredito. 
Mas todo o amor é um grito 
Desesperado 
Que apenas ouve o eco... 
Peco 
Por absurdo humano: 
Quero não sei que cálice profano 
Cheio de um vinho herético e sagrado.    


Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

De :SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, in OBRA POÉTICA


Serenamente sem tocar nos ecos
Ergue a tua voz
E conduz cada palavra
Pelo estreito caminho.

Vive com a memória exacta
De todos os desastres
Aos deuses não perdoes os naufrágios
Nem a divisão cruel dos teus membros.

No dia puro procura um rosto puro
Um rosto voluntário que apesar
Do tempo dos suplícios e dos nojos
Enfrente a imagem límpida do mar.




© Steve HANKS Watercolor



 
     

CANÇÃO DA HORA INESPERADA



Se não és um fantasma,
Se não tenho ilusão,
Por favor,
Não, não diga nada,
Nada de explicação.
Me dá só tua mão,
Me olha com o mesmo olhar
Que vou por a música pra tocar.
Só te dou permissão
Para um copo de vinho,
Um carinho, um beijo, talvez,
Antes de dançar.
Como pode ser a última vez
Só preciso que saiba
Que, hoje, me fez
Muito feliz.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

De . miguel Torga / Conquista





Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.

Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!