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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

De : Florbela espanca

SUPREMO ENLEIO



Quanta mulher no teu passado, quanta!
Tanta sombra em redor! Mas que me importa?
Se delas veio o sonho que conforta,
A sua vida foi três vezes santa!



Erva do chão que a mão de Deus levanta,
Folhas murchas de rojo à tua porta...
Quando eu for uma pobre coisa morta,
Quanta mulher ainda! Quanta! Quanta!



Mas eu sou a manhã: apago estrelas!
Hás-de ver-me, beijar-me em todas elas,
Mesmo na boca da que for mais linda!



E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás-de encontrar ainda...


in «Charneca em Flor», 1930
Foto: SUPREMO ENLEIO

 

Florbela Espanca



 Quanta mulher no teu passado, quanta!

Tanta sombra em redor! Mas que me importa?

Se delas veio o sonho que conforta,

A sua vida foi três vezes santa!



 



Erva do chão que a mão de Deus levanta,

Folhas murchas de rojo à tua porta...

Quando eu for uma pobre coisa morta,

Quanta mulher ainda! Quanta! Quanta!



 



Mas eu sou a manhã: apago estrelas!

Hás-de ver-me, beijar-me em todas elas,

Mesmo na boca da que for mais linda!



 



E quando a derradeira, enfim, vier,

Nesse corpo vibrante de mulher

Será o meu que hás-de encontrar ainda...  



 

in «Charneca em Flor», 1930

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