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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Se..............................

Se duvidas que teu corpo...



Se duvidas que teu corpo
Possa estremecer comigo –
E sentir
O mesmo amplexo carnal,
– desnuda-o inteiramente,
Deixa-o cair nos meus braços,
E não me fales,
Não digas seja o que for,
Porque o silêncio das almas
Dá mais liberdade
às coisas do amor.

Se o que vês no meu olhar
Ainda é pouco
Para te dar a certeza
Deste desejo sentido,
Pede-me a vida,
Leva-me tudo que eu tenha –
Se tanto for necessário
Para ser compreendido.

António Botto

Foto:Shubina Olga

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Tão meu....tão nosso.....



Nosso amor não virou areia não...
Vejo no meu coração
Que, apesar do silêncio,
Se ele ainda bate é no compasso
Do teu jeito, do teu passo.

O que quero de ti
Sei que queres de mim.

Nem vou te falar que só em ti penso
E, se vivo ausente, a ausência recompenso
Com o intenso, o desejo sem fim,
Que sempre senti
De te amar com todo carinho
O máximo de tempo e de mansinho
Quando posso.

Este é o estranho amor ....tão meu... tão nosso.

Ecloga.....




Sonhei
contigo embora nenhum sonho
possa ter habitantes, tu a quem chamo
amor, cada ano pudesse trazer
um pouco mais de convicção a
esta palavra. É verdade o sonho
poderá ter feito com que, nesta
rarefacção de ambos, a tua presença se
impusesse - como se cada gesto
do poema te restituísse um corpo
que sinto ao dizer o teu nome,
confundindo os teus
lábios com o rebordo desta chávena
de café já frio. Então, bebo-o
de um trago o mesmo se pode fazer
ao amor, quando entre mim e ti
se instalou todo este espaço -
terra, água, nuvens, rios e
o lago obscuro do tempo
que o inverno rouba à transparência
da fontes. É isto, porém, que
faz com que a solidão não seja mais
do que um lugar comum saber
que existes, aí, e estar contigo
mesmo que só o silêncio me
responda quando, uma vez mais
te chamo.

Nuno Júdice

Foto:Dennis Mecham

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Bastava-nos amar. E não bastava....

Sábado, Fevereiro 26, 2011




Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.

Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar

a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.

Joaquim Pessoa

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Não procuro um amor entre os cardos




Não procuro um amor entre os cardos,
se é entre os cardos que me vês, procura
pensar que um amor não se perde por ali
nem por ali se deve encontrar. se estou
entre os cardos, meu amor, é para te esquecer
e se me vires, pensa que é por ti, absolutamente por ti
que procuro apenas dores, apenas fardos,
para lentamente matar o meu coração. e
se me vires cair, se entretanto me vires no chão,
não me apanhes, não me ajudes, pensa que
já ninguém passeia nos cardos e que o
amor, para castigo dos que morrem, recomeça
num outro lugar, seguramente à tua espera.
depois sorri mesmo que te seja difícil, se por
mais difícil que seja para mim ver-te sorrir
é entre os cardos que devo partir, quando
fugazmente te souber passando, tão parecida
com ires buscar a felicidade sem mim e eu
só mais uns segundos, já meus anjos preparados.

Valter Hugo Mãe

Imagem retirada do Google

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

De : César Moro



El amor al desperdirse

César Moro

El amor al despedirse dice: sueña conmigo
el sueño es una bestia huraña
que hace revolverse los ojos con la respiración
entrecortada pronunciar tu nombre
con letras indelebles escribir tu nombre
y no encontrarte y estar lejos y salir dormido
marchar hasta la madrugada a caer en
el sueño para olvidar tu nombre
y no ver el día que no lleva tu nombre
y la noche desierta que se lleva tu cuerpo

O amor ao se despedir

O amor ao se despedir disse: sonha comigo
o sonho é um besta mal-humorada
que faz revolver os olhos com a respiração
entrecortada pronunciar o teu nome
com letras indeléveis escrever o teu nome
e não encontrar-te e estar distante e sair dormido
marchar até a madrugada cair no
sonho para esquecer o seu nome
e não ver o dia que não leva o teu nome
e a noite deserta que leva o teu corpo.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

tragédia brasileira..mas , podia ser noutro país.




Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade,

Conheceu Maria Elvira na Lapa, - prostituída, com sífilis, dermite nos dedos,
uma aliança empenhada e o dentes em petição de miséria.

Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou
médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.

Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.

Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez
nada disso: mudou de casa.

Viveram três anos assim.

Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.

Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos,
Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua
Clapp,
outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato,
Inválidos...

Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de
inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em
decúbito dorsal, vestida de organdi azul.

Manuel Bandeira

domingo, 20 de fevereiro de 2011

De : Paul Nguyen



Afterbelievers

Paul Nguyen

Love is like your shadow, stop trying to chase after it,
because it'll run away from you.
Learn hard to walk away from it
than it'll come after you.

Depois das crenças

O amor é como a tua sombra, pare de tentar persegui-lo,
porque ele vai fugir de você.
Aprenda como é difícil a partir dele
que ele virá atrás de você.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

deita-te......

Entre os teus lábios



Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

Eugénio de Andrade

Será que sim......?????????????'''

NO MEU OLHAR ESTOU AUSENTE, NADA ME PRENDE

Quarta-feira, Fevereiro 16, 2011

Eu sei, não te conheço, mas existes



Eu sei, não te conheço mas existes.
por isso os deuses não existem,
a solidão não existe
e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira
ou um grito.

Não me perguntes como mas ainda me lembro
quando no outono cresceram no teu peito
duas alegres laranjas que eu apertei nas minhas mãos
e perfumaram depois a minha boca.

Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.
ao é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos
sobre a tua nudez
como uma sombra no deserto.
É apenas este rio que me percorre há muito e desagua em ti,
Porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
É apenas uma tristeza inadiável, uma outra maneira de habitares
Em todas as palavras do meu canto.

Tenho construído o teu nome com todas as coisas.
tenho feito amor de muitas maneiras,
docemente,
lentamente
desesperadamente
à tua procura, sempre à tua procura
até me dar conta que estás em mim,
que em mim devo procurar-te,
e tu apenas existes porque eu existo
e eu não estou só contigo
mas é contigo que eu quero ficar só
porque é a ti,
a ti que eu amo.

Joaquim Pessoa

Imagem retirada do Google

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

há flores que são para sempre....



Nunca voy a olvidarte

Juan Andrés Leiwir

Esa misteriosa luz
que a veces ilumina la frente
caprichosa inspiración,
que aparece cuando quiere,
logro que una vez un poeta
con mucha pasión escriba:
“Nunca digas nunca…”
“Nunca digas siempre…”
Pero no puedo com el estar de acuerdo,
se que mi corazón no me miente
yo digo: “Nunca” voy a olvidarte
y digo: “Siempre” voy a quererte.

Nunca vou te esquecer

Esta misteriosa luz
que, às vezes, ilumina a fronte
inspiração caprichosa,
que aparece quando bem quer,
levou a que uma vez um poeta
com imensa paixão escrevesse:
“Nunca digas nunca...”
“Nunca digas sempre...”
Porém, não posso com ele estar de acordo,
sei que meu coração não me mente
eu digo: “Nunca” vou te esquecer
e digo: “Sempre vou te querer”.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Dum grande poeta.....

Domingo, Fevereiro 13, 2011

As duas flores



São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!

Castro Alves

Imagem retirada do Google

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

...dádiva.....................





Não me peçam palavras melífluas
quando apenas a sonora gargalhada
me irrompe do peito como pedra lascada
nem sorrisinhos de catálogo de moda
quando o mijar numa esquina da cidade
é um acto poético e cheira a vida
não me peçam gestos simétricos e convencionais
quando um cosmopolítico manguito
abarca toda a náusea
de Bordalo a Pasolini
Não me peçam nunca aquilo que vós quereis
porque eu dou apenas aquilo que possuo
e que é esta raiva enorme de cuspir
esta feroz vontade de gritar
e o sexo amplo enorme e predisposto
a fertilizar o amor em todas as esquinas
peçam-me a mim
nada mais
e dar-vos-ei tudo o que possuo
o suor o sangue o sexo
EU
e comigo dar-vos-ei o homem primitivo
o que recusa a civilização do marketing
o que caga nas gravatas dos public-relations
mas que aposta no futuro único do
CRESCEI E MULTIPLICAI-VOS
Sim peçam-me a mim
Tomai e comei

ESTE É O MEU CORPO

Fernando Peixoto

Foto:Solatges Irina

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011



O risco de ser ou não ser

Isto de querer ser o que não se é, meu amor,
Pode ser uma óptima coisa
Quando se é actriz ou actor.

Isto de querer ser o que se é, meu amor,
Pode ser uma coisa muito boa
Dependendo do carácter de quem for.

Já isto de não querer não ser uma coisa nem outra
Me parece assim tão natural
Que acontece com qualquer pessoa normal.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

o mar sempre o mar....

0 Homem e a Água



Deixa-me ser o que sou,
o que sempre fui,
um rio que vai fluindo.
E o meu destino é seguir... seguir para o mar.
0 mar onde tudo recomeça...
Onde tudo se refaz...

Mário Quintana

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

De: Julia Prilutzky Farny



XV

Julia Prilutzky Farny

Este miedo de ti, de mí... De todo,
Miedo de lo sabido y lo entrevisto,
Temor a lo esperado y lo imprevisto,
Congoja ante la nube y ante el lodo.
Déjame estar. Así No te incomodo?...
Abajo ya es la noche, y hoy has visto
Cómo acerca el temor: aún me resisto
Pero me lleva a ti de extraño modo.
Déjate estar. No luches: está escrito.
Desde lejos nos llega, como un grito
O como un lerdo vértigo rugiente.
Me darás lo más dulce y más amargo:
Una breve alegría, un llanto largo...
Sé que voy al dolor. Inútilmente.

XV

Este medo de ti, de mim...de tudo,
Medo do conhecido e do entrevisto,
Temor ao esperado e ao imprevisto,
Angústia diante da nuvem e do lodo.
Deixa-me estar. Assim. Não te incomodo?
Lá embaixo já é noite, e hoje já foi visto
Como se acerca o temor: ainda resisto.
Porém, me leva a ti de estranho modo.
Deixa-te estar. Não lutes: está escrito.
Desde distante nos chega, como um grito
Ou como uma calma vertigem estridente
Me darás o mais doce e o mais amargo:
Uma breve alegria, um pranto largo...
Sei que vai doer. Inutilmente

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

e amorosamente, Girondo....



¡TODO ERA AMOR!

¡Todo era amor... amor!
No había nada más que amor.
En todas partes se encontraba amor.
No se podía hablar más que de amor.
Amor pasado por agua, a la vainilla,
amor al portador, amor a plazos.
Amor analizable, analizado.
Amor ultramarino.
Amor ecuestre.
Amor de cartón piedra, amor con leche...
lleno de prevenciones, de preventivos;
lleno de cortocircuitos, de cortapisas.
Amor con una gran M, con una M mayúscula,
chorreado de merengue,
cubierto de flores blancas...
Amor espermatozoico, esperantista.
Amor desinfectado, amor untuoso...
Amor con sus accesorios, con sus repuestos;
con sus faltas de puntualidad, de ortografía;
con sus interrupciones cardíacas y telefónicas.
Amor que incendia el corazón de los orangutanes,
de los bomberos.
Amor que exalta el canto de las ranas bajo las ramas,
que arranca los botones de los botines,
que se alimenta de encelo y de ensalada.
Amor impostergable y amor impuesto.
Amor incandescente y amor incauto.
Amor indeformable. Amor desnudo.
Amor amor que es, simplemente, amor.
Amor y amor... ¡y nada más que amor!

Tudo era amor!

Era tudo o amor ... amor!
Não havia nada mais que amor.
Em todas as partes se encontrava o amor.
Não se podia falar mais que de amor.
Amor passado por água, à la baunilha,
Amor ao portador, amor à prazo.
Amor analisável, analisado.
Amor ultramarino.
Amor equestre.
Amor de papel maché, amor de leite ...
Pleno de prevenções, de preventivos;
Pleno de curto-circuitos, de rodapés.
Amor com um grande M, com M maiúsculo,
Coberto de merengue,
Coberto de flores brancas ...
Amor espermatozóico, esperançoso.
Amor desinfetado, amor melado ...
Amor com acessórios, com peças de reposição;
Com sua falta de pontualidade, de ortografia;
Com interrupções cardíacas e telefônicas.
Amor que incendeia o coração dos orangotangos,
dos bombeiros.
Amor que exalta o coaxar das rãs nas valas,
que arranca os botões das botas,
que se alimenta de e de salada.
Amor impostergável e amor imposto.
Amor incandescente e amor incauto.
Amor indeformável. Amor nu.
Amor, amor que é simplesmente amor.
Amor e amor ... E nada mais que amor!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011


Em vez de tentar escapar de
certas lembranças, o melhor
é mergulhar nelas e voltar
à tona com menos
desespero e mais sabedoria....
Marta Medeiros

pois....

Porque não soube merecer



Porque não soube merecer a glória, a mais suave
de me deitar a teu lado
e que o sangue a palavra
abolisse a diferença entre o meu corpo e a minha voz
porque te perdi
não sei quem sou

António Ramos Rosa

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Gozo V



Vigilante a crueldade
no meu ventre

A fenda atenta
e voraz
que devora o que é
dormente

a febre que a boca
empresta
a vela que empurra o vento

a vara que fende
a carne

a crueldade que entende
o grito sobre o orgasmo
que me prende e me desprende

Maria Teresa Horta

Foto:Ed Gordon

mas, doce....



Never Have I Fallen

Rex A. Williams

Your lips speak soft sweetness
Your touch a cool caress
I am lost in your magic
My heart beats within your chest
I think of you each morning
And dream of you each night
I think of your arms being around me
And cannot express my delight
Never have I fallen
But I am quickly on my way
You hold a heart in your hands
That has never before been given away

Nunca havia me apaixonado antes

Teus lábios falam docemente macios,
Com um toque fresco de carícia
E me perco na tua magia
Meu coração bate dentro do teu peito
E penso em ti cada manhã
E sonho em ti a cada noite.
Eu penso que teus braços me estreitam
E não podem expressar o meu prazer.
Nunca havia me apaixonado antes,
Mas, sigo mansamente o meu caminho
Tu segurastes meu coração em tuas mãos
Isto nunca tinha acontecido antes.

Eu tambem não sei o ....

Terça-feira, Fevereiro 01, 2011

Mar, Mar e Mar



Tu perguntas, e eu não sei,
eu também não sei o que é o mar.

É talvez uma lágrima caída dos meus olhos
ao reler uma carta, quando é de noite.
Os teus dentes, talvez os teus dentes,
miúdos, brancos dentes, sejam o mar,
um mar pequeno e frágil,
afável, diáfano,
no entanto sem música.

É evidente que minha mãe me chama
quando uma onda e outra onda e outra
desfaz o seu corpo contra o meu corpo.
Então o mar é carícia,
luz molhada onde desperta
meu coração recente.

Às vezes o mar é uma figura branca
cintilando entre os rochedos.
Não sei se fita a água
ou se procura
um beijo entre conchas transparentes.

Não, o mar não é nardo nem açucena.
É um adolescente morto
de lábios abertos aos lábios da espuma.
É sangue,
sangue onde outra luz se esconde
para amar outra luz sobre as areias.

Um pedaço de lua insiste,
insiste e sobe lenta arrastando a noite.
Os cabelos de minha mãe desprendem-se,
espalham-se na água,
alisados por uma brisa
que nasce exactamente no meu coração.
O mar volta a ser pequeno e meu,
anémona perfeita, abrindo nos meus dedos.

Eu também não sei o que é o mar.
Aguardo a madrugada, impaciente,
os pés descalços na areia.

Eugénio de Andrade