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sábado, 31 de dezembro de 2011

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Meus olhos verdes



Eu sonho acordado
muitas vezes sem dar por isso
olhando o infinito
através dos meus olhos verdes
nem sempre verdes é certo
às vezes azuis
outras cinzentos
variando durante o dia
conforme a intensidade da luz
do sol ou das estrelas
passando a verde se escuto
- o silêncio do mar longo e profundo
e o canto das cigarras
em noite cheia de lua

cinzento é um tempo de ninguém
vindo de fora sem prever

azul o rosto da manhã
de um instante de saudade escrito na memória

verde a força que deposito
no amor e me alimenta o coração

os meus olhos são verdes
azuis ou cinzentos ?
a mim pouco importa
aos outros também

verde é simplesmente
a cor do momento
- um símbolo de esperança
sortilégio de olhar
e ver o mundo
em mais um dia que vivo
e sinto

João-Maria Nabais

Imagem retirada do Google

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Poemas mal comportados / Como manda a medicina



LINDA RIBEIRO


Ah!Chiquinha abre as perninhas
Como abre o coração!
Dar é um ato sagrado,
Se do agrado,
Não se deve negar amor, não.

Ah! Chiquinha, minha neguinha,
nada de discriminação.
Dar, e com gosto, rainha,
é uma forma de oração.

Mais depressa, minha filhinha,
siga a intuição,
vamos nesta toadinha
só gozar à prestação.

Toda boa medicina
recomenda ao coração!
Faz assim...
Faz assim não!
Faz do jeito que quiser...
Negócio bom é mulher!

domingo, 25 de dezembro de 2011

Que tu és....

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus : Princípio e Fim!...

(Florbela Espanca)

Quem?..............

...

Não sei quem és. Já te não vejo bem...
E ouço-me dizer ( ai, tanta vez!...)
Sonho que um outro sonho me desfez?
Fantasma de que amor? Sombra de quem?

Névoa? Quimera? Fumo? Donde vem?...
- Não sei se tu, Amor, assim me vês!...
Nossos olhos não são nossos, talvez...
Assim, tu não és tu! Não és ninguém!...

És tudo e não és nada... És a desgraça...
És quem nem sequer vejo; és um que passa...
És o sorriso de Deus que não mereço...

És Aquele que vive e que morreu...
És Aquele que é quase um outro Eu...
És Aquele que nem sequer conheço...

Florbela Espanca

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O meu gostar de ti....


Há um caminho marítimo
Há um porto por achar no verbo amar
Há um demandar , um longe que é aqui
E o meu gosto de TI é este mar....

De: Manuel Alegre



Agradecimento:

A todos os visitantes deste meu blog , venho desejar UM BOM NATAL

E UM FELIZ NOVO ANO DE 2012.

BRASIL:
Curitiba,Montenegro,Maringá,Ribeirão Preto,Cachoeirinha

Vitoria,Caxias do Sul, Fortaleza, Goiãnia,Campo Mourão,

S,Caetano do Sul , Rio de Janeiro , Brasilia , Belo Horizonte,

Niteroi, S.Paulo, etc

PORTUGAL :

Porto, Lisboa, Leiria, Almada, Viseu , Castelo Branco,

V.N.De Famalicão , Vila Nova de Gaia , S.M.Infesta , Maia , etc.


GERMANY :

Shwenfurt

SPAIN :

Barcelona


SWITZERLAND :

Amriswil


BELGIUM :

Brussels

E muitos outros países....

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Natal




Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.

Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.

Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

Manuel Alegre

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Quando te vi senti um puro tremor de primavera


ALESSANDRA (HAIR FASHION STYLE)




Quando te vi senti um puro tremor de primavera
e a voluptuosa brancura de um perfume
No meu sangue vogavam levemente
anénomas estrelas barcarolas
O silêncio que te envolvia era um grande disco branco
e o teu rosto solar tinha a bondade de um barco
e a pureza do trigo e de suaves açucenas
Quando descobri o teu seio de luminosa lua
e vi o teu ventre largamente branco
senti que nunca tinha beijado a claridade da terra
nem acariciara jamais uma guitarra redonda
Quando toquei a trémula andorinha do teu sexo
a adolescência do mundo foi um relâmpago no meu corpo
E quando me deitei a teu lado foi como se todo o universo
se tornasse numa voluptuosa arca de veludo
Tão lentamente pura e suavemente sumptuosa
foi a tua entrega que eu renasci inteiro como um anjo do sol

António Ramos Rosa

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

é que ela......


"É que ela tem qualquer coisa
além de beleza qualquer coisa de triste
qualquer coisa que chora
qualquer coisa que sente saudade.
Um molejo de amor machucado.
Uma beleza que vem da tristeza
de se saber mulher."
( Vinicíus de Moraes )

confeso que ainda te....

..... fecho os olhos imaginando que és tu!

Caminho com precaução para que nada nos derrube....

domingo, 18 de dezembro de 2011





Para todos os meus amigos desejo um Santo e Feliz Natal.

DA AUTORA E TAMBEM DA MINHA PARTE....

A MELHOR PRENDA DE NATAL

Aquela pequena melodia
de um Natal distante
na vontade da partilha,
tocou infantil
aos meus ouvidos.
Um sininho apenas,
voo de asa
envolto em pensamento,
o parar do momento
num etéreo esvoaçar
da memória de outros dias,
caminho percorrido
em notas prenhas de azul.

Explodiu o sonho
em cada doce tinir.
O Natal cobriu-se de estrelas
do outro lado da vida.
Foi mãos dadas em tarde fria
junto ao mar,
foi lágrimas à luz das velas,
cumplicidade sem lugar, sem tempo.
Foi abraço de sono
e beijos de amanhecer…
Foi sonho….
A melhor prenda de Natal!

De: helena guimaraes

Poemas mal comportados....

Como manda a medicina


Sury Cunha - www.hotmagazine.pt


Ah!Chiquinha abre as perninhas
Como abre o coração!
Dar é um ato sagrado,
Se do agrado,
Não se deve negar amor, não.

Ah! Chiquinha, minha neguinha,
nada de discriminação.
Dar, e com gosto, rainha,
é uma forma de oração.

Mais depressa, minha filhinha,
siga a intuição,
vamos nesta toadinha
só gozar à prestação.

Toda boa medicina
recomenda ao coração!
Faz assim...
Faz assim não!
Faz do jeito que quiser...
Negócio bom é mulher!

Ouçam......

sábado, 17 de dezembro de 2011

Pena este interprete , já nos ter deixado....

Trova do vento que passa




Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

De: José Antonio Pérez-Montoro

Dezembro 15/ 2011


AMOR PRIMERO



Hicimos el amor por vez primera
y el amor se hizo luz e inundó todo,
anegando hasta el último recodo,
y la sensación fue tan verdadera

de que el amor creado una carne era,
amor tan vivo fue en aquel periodo,
que yo no supe hallar oculto modo
de trazar linde, la sutil trinchera

entre amada y amor o amor y amada.
Toqué un seno, cual perfecta esfera;
total amor palpé en mano estigmada.

Por eso, en otras veces cualesquiera,
pide aquella experiencia recordada:
-Hagamos el amor por vez primera.

Primeiro amor

Fizemos amor pela vez primeira,
e o amor se fez luz inundando tudo
até o último recanto alagando,
com a sensação que foi tão verdadeira

de que nós dois só uma carne era,
um amor tão vivo naquele período,
que não soube achar oculto modo
de traçar lindes, ou subtil trincheira,

entre a amada e o amor, o amor e a amada.
Toquei um seio, qual perfeita esfera;
total o amor palpei com a mão espalmada.

Por isto, em outras vezes, qualquer que queira,
peço aquela experiência agora recordada:
-Façamos o amor como da vez primeira.

me estremeces quando.....

música , para quem tem " sangue índio" chamado de pele vermelha...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

De: Paolo Ruffilli....




L’OGGETTO DEL PENSIERO




E’ un’astrazione
e non un fatto:
l’oggetto
di un pensiero
un concetto
più che un sentimento
uno stato desiderato
inseguito dalla mente
eppure insoddisfatto
perduto prima
di averlo conquistato
e, dunque, mai goduto
(sempre sul punto
di essere... ) creduto
e delirato:
il senso del piacere.

O objecto do pensar


E uma abstração
e não um fato;
o objecto
de um pensar
um conceito
mais que um sentimento
um estado desejado
perseguido a partir da mente
e por isto insatisfeito
perdido antes
de ser conquistado
e, portanto, não gozado
(sempre próximo
de ser ... ) creio
e deliro:
o senso do prazer.

De: helena guimaraes


Título: NATAL
 NATAL
Descrição:

Natal

de sonhos e esperança,

de azevinho,

decorações multicores,

o calor de um carinho

em meu coração

de criança.

O lume de uma lareira,

o calor na minha alma,

chama de sonho que guardo,

esperança que ilumina,

preenche

o dia a dia

de uma doce fantasia.

Tua amizade,

um carinho,

é o presente que quero

no Natal

no sapatinho.


DE: HELENA GUIMARAES

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Fado: "Património Imaterial da Humanidade"- Fado: "Intangible Heritage of Humanity"

ouçam......

Quem foi que riu na noite silenciosa




Quem foi que riu na noite silenciosa,
Que o riso deu à noite a forma duma rosa?

E quem chorou depois na noite densa,
Que a rosa se desfez em lágrima suspensa?

Natália Correia

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A minha cidade....

Eu sei, não te conheço....., mas existes ...


Uma flor de mulher




Eu sei, não te conheço mas existes.

por isso os deuses não existem,
a solidão não existe
e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira
ou um grito.

Não me perguntes como mas ainda me lembro

quando no outono cresceram no teu peito
duas alegres laranjas que eu apertei nas minhas mãos
e perfumaram depois a minha boca.

Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.

não é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos
sobre a tua nudez
como uma sombra no deserto.
É apenas este rio que me percorre há muito e desagua em ti,
Porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
É apenas uma tristeza inadiável, uma outra maneira de habitares
Em todas as palavras do meu canto.

Tenho construído o teu nome com todas as coisas.

tenho feito amor de muitas maneiras,
docemente,
lentamente
desesperadamente
à tua procura, sempre à tua procura
até me dar conta que estás em mim,
que em mim devo procurar-te,
e tu apenas existes porque eu existo
e eu não estou só contigo
mas é contigo que eu quero ficar só
porque é a ti,
a ti que eu amo.


Joaquim Pessoa

domingo, 11 de dezembro de 2011

sábado, 10 de dezembro de 2011

POEMA DA ESPERA......


Bad Girl




Talvez seja melhor
Que não venhas.
Ou, melhor ainda se nunca
tivesses vindo.

Porque se assim fosse
Não sentiria
O que estou sentindo
Tamanha ausência de significado.

Talvez seja melhor
Que não venhas.
Podes não ser
Mais nada do que foi
E só matar
O que houve entre nós dois.

Tanto tempos separados
Deve fazer diferença
E se, de repente,
Somos dois estranhos?

Não, é melhor que não venhas.
Melhor permanecer, como agora,
Sem saber por quais caminhos,
Lugares e bancos
Os teus sonhos repousam.

No entanto há uma parte de mim
Que insiste
Em que, de fato, jamais partistes.
E ainda sonha
Com os dias gloriosos
De tua volta
E me sussura
Que não te esquecerei.

Talvez seja melhor que não venhas-
Repito, ansioso, por ouvir tua voz rouca
Me chamar, novamente, de “Meu lindo”!

ouçam este poema.....

musica que eu gosto....

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

SIN LLAVES Y A OSCURAS/Sem chaves e às escuras

DE:

Fabián Casas

Era uno de esos días en que todo sale bien.
Había limpiado la casa y escrito
dos o tres poemas que me gustaban.
No pedía más.

Entonces salí al pasillo para tirar la basura
y detrás de mí, por una correntada,
la puerta se cerró.
Quedé sin llaves y a oscuras
sintiendo las voces de mis vecinos
a través de sus puertas.
Es transitorio, me dije;
pero así también podría ser la muerte:
un pasillo oscuro,
una puerta cerrada con la llave adentro
la basura en la mano.


Foi um desses dias em que tudo vai bem.
Havia limpado a casa e escrito
dois ou três poemas que eu gostava.
Não pedia mais.

Então saí ao pátio para jogar fora o lixo
e atrás de mim, por uma corrente de ar,
a porta se fechou.
Fiquei sem chaves e às escuras
sentindo as vozes dos meus vizinhos
através das suas portas.
É passageiro, eu disse;
mas, assim também podia ser a morte:
um corredor escuro,
uma porta fechada com a chave dentro
e a cesta de lixo na mão.

Metamorfoses da casa





Ergue-se aérea pedra a pedra
a casa que só tenho no poema.

A casa dorme, sonha no vento
a delícia súbita de ser mastro.

Como estremece um torso delicado,
assim a casa, assim um barco.

Uma gaivota passa e outra e outra,
a casa não resiste: também voa.

Ah, um dia a casa será bosque,
à sua sombra encontrarei a fonte
onde um rumor de água é só silêncio.

Eugénio de Andrade

Imagem retirada do Google

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Poema do esquecimento .....







Vendo passar as nuvens fui passando a vida,

e tu, passastes por meu tédio, como uma nuvem.
Enquanto teu coração e o meu se unem
como se vão unindo as bordas de uma ferida.

Os últimos sonhos e os primeiros cabelos brilhantes

entristecem de sombra todas as coisas belas;
e hoje tua vida e minha vida são como as estrelas,
pois, podem se ver juntas, estando tão distantes…

Eu bem sei que o esquecimento, como uma água maldita,

nos dá uma sede maior que a sede que nos quita,
porém, estou tão seguro de poder não lembrar…

E olharei as nuvens sem pensar que te quero,

com o hábito surdo de um velho marinheiro
que ainda sente, em terra firme, o balanço do mar.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

De : Helena Guimaraes

O MEU PAÌS

Ribeira do porto.jpg


Sento-me na minha varanda a fumar um cigarro. O meu sol de Setembro, cálido, tem brilhos de calmaria nas árvores da rua. Os rebentos das gardénias estão amarelecidos das temperaturas de Agosto e folhas queimadas cobrem as hastes das sardinheiras, onde algumas flores resistentes ainda lutam com a falta de água e o sofrimento de oito dias de abandono.O regresso de férias! O regresso ao meu chão depois da viagem a conhecer outras vidas, outras terras. Uma Europa, velha senhora nas angústias de uma crise que torna as pessoas piores, distantes, o turismo masssivo e mal cuidado, o arrastar da nossa condição de latinos pelos caminhos xenófobos de países onde a luta pela vida é o denominador comum, sem sol, sem solidariedade, sem alma.
Fumo o meu cigarro ao sol do sul, reencontrando a calma burguesa do saber estar latino, das temperaturas amenas,do sorriso do empregado que me serve o café, do vinho espesso e quente que me dá aquela pequena tontura de calmaria e plenitude e não a vertigem da altitude onde se sente o bater ritmado das artérias e o sangue a picar nas veias.
Não consigo ainda esvasiar os meus acordares da sensação de permanência um metro acima do meu corpo, numa atmosfera rarefeita, embriagada de verde, lençois de erva aninhada entre as árvores, torrentes de água esverdinhada a descer encrespadas das montanhas, montanhas que escondem o sol, furam as núvens que desabam em trovoadas ao entardecer, os deuses dos cumes zangados a zurzir-nos de chuvadas repentinas.
Deliciei-me ao almoço com um entrecosto no forno que faria as delícias dos paladares habituados aos molhos e ao chucrute.
Fumo o meu cigarro na varanda ao sol de Setembro, cálido, que trás sabor a mar e dou graças por viver em Portugal!

Poemas mal comportados....


...



O meu amor é uma lata de doce

Eu te direi, amor,
Sem nenhum pudor
Que és, para mim, uma lata de biscoitos.
Biscoitos? Não. É muito industrial.
És uma lata de doce artesanal
Das que se come já tendo saudade.
És, na verdade, mais que doce; és mel.
E, no entanto, tens tantos sabores
Que, em certos momentos, até penso
Que o nosso amor seja uma marmelada do destino.
Não importa, amor, não importa.
Nem mesmo que não tenho muito jeito para abrir latas
(nem fechos, nem portas, nem garrafas)
Ao contrário, porém, de outras tarefas em que sou tão displicente,
Anote, que serei determinado, mesmo que inconstante,
Mas, ainda assim seguirei adiante,e, acredite em mim,
Te comerei até o fim.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

cabelos.......

Desejo


Ó vagas de cabelos esparsas longamente,
Que sois o vasto espelho onde eu me vou mirar,
E tendes o cristal dum lago refulgente
E a rude escuridão dum largo e negro mar;

Cabelos torrenciais daquela que me enleva,
Deixai-me mergulhar as mãos e os braços nus
No báratro febril da vossa grande treva,
Que tem cintilações e meigos céus de luz.

Deixai-me navegar, morosamente, a remos,
Quando ele estiver brando e livre de tufões,
E, ao plácido luar, ó vagas, marulhemos
E enchamos de harmonia as amplas solidões.

Deixai-me naufragar no cimo dos cachopos
Ocultos nesse abismo ebânico e tão bom
Como um licor renano a fermentar nos copos,
Abismo que se espraia em rendas de Alençon!

E ó mágica mulher, ó minha Inigualável,
Que tens o imenso bem de ter cabelos tais,
E os pisas desdenhosa, altiva, imperturbável,
Entre o rumor banal do hinos triunfais;

Consente que eu aspire esse perfume raro,
Que exalas da cabeça erguida com fulgor,
Perfume que estonteia um milionário avaro
E faz morrer de febre um pobre sonhador.

Eu sei que tu possuis balsâmicos desejos,
E vais na direcção constante do querer,
Mas ouço, ao ver-te andar, melódicos harpejos,
Que fazem mansamente amar e enlanguescer.

E a tua cabeleira, errante pelas costas,
Suponho que te serve, em noites de Verão,
De flácido espaldar aonde te recostas
Se sentes o abandono e a morna prostração.

E ela há-de, ela há-de, um dia, em turbilhões insanos,
Nos rolos envolver-me e armar-me do vigor
Que antigamente deu, nos circos dos romanos,
Um óleo para ungir o corpo ao gladiador.

................................................
................................................

Ó mantos de veludo esplêndido e sombrio,
Na vossa vastidão posso talvez morrer!
Mas vinde-me aquecer, que eu tenho muito frio
E quero asfixiar-me em ondas de prazer.


Cesário Verde

ás vezes dá-me para isto.....



Chegas-te branda no meu pensamento e ......

Volto em breve...perdoem.

domingo, 4 de dezembro de 2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Nova Canção do Exílio




Minha amada tem palmeiras
Onde cantam passarinhos
e as aves que ali gorjeiam
De Chocolate
em seus seios fazem ninhos
Ao brincarmos sós à noite
nem me dou conta de mim:
seu corpo branco na noite
luze mais do que o jasmim
Minha amada tem palmeiras
tem regatos tem cascata
e as aves que ali gorjeiam
são como flautas de prata
Não permita Deus que eu viva
perdido noutros caminhos
sem gozar das alegrias
que se escondem em seus carinhos
sem me perder nas palmeiras
onde cantam os passarinhos

Ferreira Gullar

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Acaso


Glamour 3


No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.
A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.

Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.

Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.

Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por gênio, se calhar,
Se calhar, ou até sem calhar,
Maravilha das celebridades!

Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos...
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira,
Mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade,
Numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade
Numa outra espécie de rua;
Por que todas as recordações são a mesma recordação,
Tudo que foi é a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?

Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser... A rapariga loira?
É a mesma afinal...
Tudo é o mesmo afinal ...

Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal.

Álvaro de Campos


Ai....o absinto................

Inesperadamente





Inesperadamente teu amor chega em minha vida,
mulher de beijos profundos e plenitude crescente,
como brota uma muda de um galho caído,
como de um rio seco renasce uma corrente.

Chegas como as nuvens, inesperadamente;

inesperadamente chegas como o verão,
para deixar-me o peso de uma sombra na testa
e uma dor de raízes profundas nas mãos.

É que tua boca alegre me inspira um beijo triste,

e nos teus olhos próximos vejo um olhar ausente,
porque sei que algum dia, como tu vi-este,
te irás de meus braços, inesperadamente...