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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Graça Bica //// Querer - te


Querer-te
É um sonho.
que esta envolto
num nevoeiro,

dentro do meu peito,
que oscila com o meu pensamento,
quando chamo o teu nome!
em todas as razões da minha vida,
tu estas presente em mim,
quis em ti meu amor,
vingar os poentes,
abrir todos os botões de rosa
a luz do luar,
fazer tranças de sol
com laços de aguarelas,
sublinhar o teu rosto, com lápis de seda,
para jamais te poder ferir,
envolver-te em lençol de lua cheia,
e ao fim da tarde,
adormecer-te...
no mar feito de cama de cambraia,
e depois trazer-te,
nos meus sonhos,
pujados de amor,
pudesse eu, um dia esperar
e trazer-te de volta para mim,
sem dizer-te adeus...


Graça Bica.

helena guimaraes /// A VIDA PAROU.....

A VIDA PAROU
 A VIDA PAROU
Descrição:
O sol brilha cálido
lá fora.
Hoje não o sinto!
Está tão distante
o velho que lê o jornal
junto ao quiosque.
A vida parou ontem.
Exactamente àquela hora.
Hoje é o vazio
e apesar do sol
está frio.
Vejo os outros,
longínquos,
a fruir a vida
sem tempo.
Eu estou dentro de mim,
com uma réstia de ti
no sentimento,
o teu olhar
no pensamento,
a tua imagem,
esbatida,
a cortar-me a ligação
com a vida..
H.G..Janeiro2003.

Maria do Rosario Pedreira /// Tocar....


Toca-me onde me dói e verás
uma flor a abrir-se lentamente
sobre a pele, a maravilha nunca
adivinhada de um mistério. Esta

é a tua vez de o desvendares -
paixão é uma palavra demasiado
antiga no meu corpo, já não sei a
última vez, a única vez. Toca-me

por isso devagar, não me lembro
da primavera que fez nascer a
doença sobe a ferida, não sinto
o recorte da cicatriz que o tempo

pousou nela. Agora chama-me ao
teu peito com as mãos, tal como a
chuva chama pelos narcisos sem

cessar, ano após ano; diz o meu
nome com os dedos a serem rios
que latejam no coração adormecido

de uma aldeia. Não me adivinhes -
lá, onde me doer, vou recordar-me.


Maria do Rosário Pedreira 
 
 

sábado, 28 de junho de 2014

Miguel Esteves Cardoso /// AMOR.....


Uma das tragédias da nossa idade é a invasão do domínio pessoal por valores que pertencem apenas ao domínio social.
Assim, a liberdade, por exemplo, passou a ser um verdadeiro constrangimento do amor, da amizade. Certas noções de autonomia acabam por destruir a base profunda de uma relação humana séria e sentida: a lealdade. Não se pode querer amar e ser amado sem prescindir daquilo que se preza ser a "liberdade". A lealdade é um constrangimento que se aceita e que se cumpre em nome de algo (de alguém) que se julga (porque se ama) mais precioso que a liberdade. Quando se é independente não se pode depender de (confiar em) ninguém. Não querer ser livre, quando se ama, é não querer ficar sozinho. Se custa abdicar, sacrificar, pactuar, é esse o preço a pagar, por algo que vale muito mais: o valor raro, sem preço, de amar.


Miguel Esteves Cardoso 
 
 
 

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Rainer Maria Rilke //// Paradoxo....


Extingue os meus olhos: ainda te posso ver,
fecha-me os ouvidos: ainda te posso ouvir,
e sem pés ao teu encontro posso ir,
e até sem boca teu nome hei-de dizer.
Quebra-me os braços, posso abraçar-te
com o coração como se estendesse a mão,
pára-me o coração, o cérebro latejará,
e se ao meu cérebro deitares fogo então,
o meu sangue em mim te levará.


Rainer Maria Rilke
 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Mário Cesariny /// Derivações sobre o ter e o tempo...


eu tinha um velho tormento
eu tinha um sorriso triste
eu tinha um pressentimento

tu tinhas os olhos puros
os teus olhos rasos de água
como dois mundos futuros

entre parada e parada
havia um cão de permeio
no meio ficava a estrada

depois tudo se abarcou
fomos iguais um momento
esse momento parou



Mário Cesariny 
 
 
 

valter hugo mãe /// Calor interior....


Às vezes perco-me nos caminhos que
conheço. Adormeço nos ruídos do
mundo sonhando banalidades
enquanto sou feliz. Sempre que
falho e fecho os olhos, imagino
outra pessoa perto de mim aquecendo as
mãos no calor do meu corpo como nas labaredas
de uma pequena fogueira



valter hugo mãe
 

quarta-feira, 25 de junho de 2014



Acordei... senti a tua respiração serena.
Encaixados, teu braço sobre o meu corpo,
tua mão repousada sobre o meu sexo.
Com a ternura do Amor... Sorri!

A memória, como máquina do tempo,
levou-me a umas horas antes de adormecermos.
Quando fizémos amor.
O quarto, iluminado por velas, sombras oscilantes nas paredes.
Assim te seduzi.
Lentamente, do teu corpo, peça a peça despi.
O toque na tua pele era como veludo ou cetim.
Emanavas o odor natural de pele de homem vestido de desejo.
Nú! Olhei-te e vi o perfeito de Adónis que és para mim.
Não vi... as marcas dos anos, cicatrizes de vida vivida e quantas vezes sofrida.
Vida a dois partilhada.
Vi o corpo sem mácula do homem amado, por ser a tua Alma que observava.
Com meu olhar e alma te percorri... interior e exterior.
Pronto estavas para o nosso desejo consumar.
Perdemo-nos nas carícias ternas, nos afagos ousados,
nos preliminares prolongados.
O prazer de dar prazer, transporta-nos a dimensões que, não são ilusões.
Existem... são nossas e, nelas damos vazão a todo a nossa excitação.
Indubitável prazer da carne... sabemos como nos provocar.
Bocas, mãos, línguas, beijos... percorreram cada recanto nosso.
Rondaste o portão do meu jardim, semeado de flores abertas para ti.
Nele entraste, juntos fizémos o caminho de amantes sem pudor
Suavemente no início... depois, ahhh depois como alasões selvagens
livres, em galope numa pradaria, demos vazão ao fogo que em nós ardia.
Minhas unhas marcaram tua pele, quando o orgasmo em ambos explodiu.
Paz... serenidade.
Nossos corações abrandaram, respiração normalizada.
Amo-te... Amamo-nos. Corpos e Almas saciadas de prazer e Amor.
Encaixamo-nos. No descanso de guerreiros do amor, abraçados adormecemos.
Sorri de novo. Beijei-te no ombro.
Cerrei os olhos e, feliz ao mundo dos sonhos retornei.


©Susana Maurício
Junho 2014
(ao abrigo do código do direito de autor)
 
 

terça-feira, 24 de junho de 2014

Julieta Venegas & Marisa Monte //// Ilusion

 
 
 

Al Berto /// Penso

 


penso na morte
mas sei que continuarei vivo no epicentro das flores
no abdómen ensanguentado doutros-corpos-meus
na concha húmida de tua boca em cima de números mágicos...

anunciando o ciclo das águas e o estado do tempo

a memória dos dias resiste no olhar de um retrato
continuo só
e sinto o peso do sorriso que não me cabe no rosto
improviso um voo de alma sem rumo mas nada me consola

é imprevista a metereologia das paixões
pássaros minerais afastam-se suspensos
vislumbro um corpo de chuva cintilando na areia

até que tudo ser perde na sombra da noite… além
junto à salgada pele de longínquos ventos


Al Berto
 
 

são reis /// Falo-te de amor!


 Não desse amor platónico
que enche páginas e páginas
de versos e poemas

Falo-te do amor da carne
dessa paixão mais velha que eu
desses anos de solidão
em que me enrolo para não sentir...

a tua ausência

Falo-te de amor!
desse amor que transborda
e inebria
que cega e dá vida ao mesmo tempo
que nos prostra e nos ilumina

Falo-te desse silêncio
que hoje veio morar aqui
e dessa imensa paixão real e intensa
que todas as noites dorme comigo!...


são reis
 
Foto: Falo-te de amor!
Não desse amor platónico
que enche páginas e páginas
de versos e poemas

Falo-te do amor da carne
dessa paixão mais velha que eu
desses anos de solidão
em que me enrolo para não sentir
a tua ausência

Falo-te de amor!
desse amor que transborda
e inebria
que cega e dá vida ao mesmo tempo
que nos prostra e nos ilumina

Falo-te desse silêncio
que hoje veio morar aqui
e dessa imensa paixão real e intensa
que todas as noites dorme comigo!...

são reis
 

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Natalia Correia /// Acaso....


Decididamente a palavra
quer entrar no poema e dispõe
com caligráfica raiva
do que o poeta no poema põe.

Entretanto o poema subsiste
informal em teus olhos talvez
mas perdido se em precisa palavra
significas o que vês.

Virtualmente teus cabelos sabem
se espalhando avencas no travesseiro
que se eu digo prodigiosos cabelos
as insólitas flores que se abrem
não têm sua cor nem seu cheiro.

Finalmente vejo-te e sei que o mar
o pinheiro a nuvem valem a pena
e é assim que sem poetizar
se faz a si mesmo o poema.


Natália Correia      
 
 
 










 

Lua diurna //// Quando te vi.....

 


quando te vi
acendi todas as estrelas do espanto e do prazer
abri todos os sorrisos iluminados pelo teu olhar
corri as cortinas do tempo amarrotadas no sotão do passado...


quando te vi
abri todas as portas derrubei todas as barreiras
tirei do armário o vestido de arminho e as flores de laranjeira

e

adornei-me de pureza na pueril inocência das crianças

quando te vi

tatuei o teu nome na alma

e é lá que ainda te guardo
ao abrigo do meu sentir

Isabel de Sousa(luadiurna)
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Foto: quando te vi

quando te vi
acendi todas as estrelas do espanto e do prazer
abri todos os sorrisos iluminados pelo teu olhar
corri as cortinas do tempo amarrotadas no sotão do passado

quando te vi
abri todas as portas derrubei todas as barreiras
tirei do armário o vestido de arminho e as flores de laranjeira

                               e

 adornei-me de pureza na pueril inocência das crianças 

quando te vi

tatuei o teu nome na alma

e é lá que ainda te guardo 
ao abrigo do meu sentir

Isabel de Sousa(luadiurna)
 

domingo, 22 de junho de 2014

António Ramos Rosa //// Tu....



Grito o teu nome
e se as formigas já comem a terra nos meus lábios

Tu dizes vive 
gravitando cada vez mais longe 
cada vez mais dentro 
do meu círculo de veias 

As palavras enterram-se 
na minha voz 
porque tu és o corpo que abandono sempre 
sem querer sem o saber ainda 

Mas é possível 
ir além das imagens 
ou no interior delas afugentar a morte 

Escuto o teu rumor de espaço vivo
e fujo como um prisioneiro 
que pressente o seu corpo de claridade



António Ramos Rosa
 
Carmen Electra | por : Frodo
 
 

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Pedro Mexia /// Expressão...



Este poema começa por te comparar 
com as constelações, 
com os seus nomes mágicos 
e desenhos precisos, 
e depois 
um jogo de palavras indica 
que sem ti a astronomia 
é uma ciência infeliz. 
Em seguida, duas metáforas 
introduzem o tema da luz 
e dos contrastes 
petrarquistas que existem 
na mulher amada, 
no refúgio triste da imaginação. 

A segunda estrofe sugere 
que a diversidade de seres vivos 
prova a existência 
de Deus 
e a tua, ao mesmo tempo 
que toma um por um 
os atributos 
que participam da tua natureza 
e do espaço criador 
do teu silêncio. 

Uma hipérbole, finalmente, 
diz que me fazes muita falta.



Pedro Mexia 
 
 

Ilya - Guilty Kisses




quarta-feira, 18 de junho de 2014

Isabel Sousa / luadiurna //// a voz do silêncio

 


dobro a esquina do silêncio

na encruzilhada do tempo
...
procuro o teu rosto
no poema guardado
que te fiz

e não te disse

rasgado na ausência
do teu sentir

ficou-me na boca o gosto amargo
da partida inesperada

talvez esperada nas entrelinhas
daquilo que em ti se adivinha
permanente

todo o mundo
num segundo

em que



disse
que te amava:

o medo, o muro,
o silêncio.

parti assim de ti
de mim
do desengano
do terreno encantado que pisei

conto de fadas
no faz de conta
em que te moves

no horizonte dos enganos

acreditei

que era o teu rosto
que via nas madrugadas
em que acendia uma estrela
para iluminar os teus olhos
no reflexo dos meus

perdida, me encontrei

na encruzilhada do tempo
e foi então que dobrei
esta esquina do silêncio

Isabel Sousa(luadiurna)
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terça-feira, 17 de junho de 2014

Nuno Júdice /// Podíamos....


Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.

Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.



Nuno Júdice
 
 

Zorbas Syrtaki

sexta-feira, 13 de junho de 2014

De Isabel Sousa / Lua diurna //// poema encomendado

 


queria fazer.te um poema
que te gritasse baixinho:

não desistas...

meu amor

por favor
não desistas

Há um principio do fim

na desistência

e o Amor
que se cala na ausência

já não se detém

na ilusão
da aparência

que se tornou vulgar
e sem sentido.

amar é respeitar
é bem querer

não é um entretem
nem um lazer

e se assim for

não deve ser

não se pode amar todos e a ninguem

porque o amor que é amor
..à alma vem

implode sem razão que o defina

é a morte ou
é a vida....

e a vida que se tem

em quem se ama

não pode ser um sonho envenenado
tem que ser de verdade
e p'ra valer


um tudo ou nada

que se entregue
a outro ser....


doado
e consentido

pode ser até um sonho
entontecido

um beijo de ternura embriagado

mas nunca
(ou tão só somente)

um poema encomendado


Isabel Sousa(Lua Diurna)
 
 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Frank Sinatra /// All the Way / de todos os modos...



Quando alguém te ama
Isso não é bom a menos que ele te ame
De todos os modos
Feliz por ele estar perto de você
Quando você precisa de alguém para te incentivar
De todos os modos

Mais alto que a mais alta árvore
É assim que deve se sentir
Mais fundo que o profundo mar azul
É essa sua profundidade se ele for real

Quando alguém precisa de você
Isso não é bom a menos que ela precise de você
De todos os modos

Através dos bons e maus anos
E que tudo entre nós
Venha o que vier

Quem sabe onde esta estrada nos levará
Só um tolo diria
Mas se você me deixar te amar
É certo que eu vou te amar
De todos os modos

De todos os modos

Então, se você me deixar te amar
É com certeza eu vou te amar
De todos os modos
De... todos os... modos
 
 


Paula Raposo /// Anseio breve


Do teu sorriso
guardo a fome
que não saciei;
das tuas palavras
não guardo
o significado,
por não o entender.

Guardo - se quiser -
a liberdade de ser eu,
nas dúvidas que não exibi;
porque na voz
do teu sorriso,
perdi - mais uma vez -
a luz que sempre anseio.
 
Paula Raposo
 
 
 
 

terça-feira, 10 de junho de 2014

De ´Raúl Baptista

Tenho em mim
o desejo de ti.
Adoro quando os teus olhos...

sorriem pra mim.
Embarcar num golpe de asa,
pisar a terra em brasa
que a noite já aí vem.

Tudo será construido em silêncio
pela força do silêncio,
mas o pilar mais forte da construção
será apenas uma palavra.

Tão vida e densa como o silêncio
e que nascido do silêncio conduzirá.

Cheguei ao fundo da estrada
aprego-o a sorte pelas ruas da cidade.

Hoje não estou para ninguém
a menos que sejas tu...
mas só tu.
E se quizeres entrar...
para ti eu estou.


De: Raul Baptista
 
 

MAIS UM.......de são reis


Pela sombra dos meus passos
evoco a loucura
enfrento o vento
desfaço e refaço
o silêncio que me tolhe
Tantas vezes voei
como gaivota que procura
e não encontra a praia apetecida…
Vezes sem conta perdi meu voo
julguei ter perdido as minhas asas 
de tanto que me desviei
do caminho que tracei
Em cada pedaço de mim recolho
humildade
ensinamentos
e de cada vez que me olho
e me enfrento
fica em mim a saudade
de ter mais desses momentos
em que sozinha caminho
em que sozinha aprendo
desafiando o meu destino
fazendo e desfazendo
figuras aladas ao vento
e pedindo arrego ao tempo
para encontrar um sonho à medida
dessa vontade que me impele
a ser cada vez mais eu!
são reis
10maio14

segunda-feira, 9 de junho de 2014

helena guimaraes /// Perdida




 Vem…
Dá-me a tua mão.
Plano no infinito,
minhas asas
adejam na bruma do horizonte,
perla-se-me a fronte...

de gotas de impotência.
Voo sem rumo
no sol que se reflecte no mar
sem encontrar o universo.
Esta incapacidade de um verso!
Este voar na fímbria das coisas!
Onde está minha nau
e meu sextante?
Perdi-me de ti.
O sol viaja para poente,
tudo tem regra, tudo é consequente.
Eu adejo as asas
Misturadas com a bruma
sem seguir coisa nenhuma.
E percorro de memória
o teu seu ausente.


HELENA GUIMARÃES
  
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 8 de junho de 2014

Isabel Sousa ///// Lua Diurna./ Ás vezes....

 
·
 
às vezes tenho medo
que as palavras que te escrevo
não passem de lugares comuns

...
mas,não é comum o que trago
embalado no lugar onde o coração
se aconchega

podem ser comuns
as palavras que te escrevo
mas são direitas e limpas

como limpo e direito
é este céu que se abre no meu rosto
no infinito da alma a celebrar-te
com as aves

foi o teu sorriso
que me iluminou o olhar
as mãos e a vida

e
é assim que nasce o amor
aconchegado na alma
num querer escrever a direito
nas linhas tortas da vida!
(porque o que é escrito na alma
só os olhos sabem ler)


por isabel sousa(luadiurna)
 
 

Fernando Campos de Castro /// Chão de saudade

 
Meus olhos são horizontes
Suspensos desta loucura
De procurar duas fontes...

Nos distantes horizontes
Dos teus olhos de lonjura
São dois lagos de desejo
A morrer de sede louca
Tão famintos de desejo
Pela frescura do beijo
Que tu dás a outra boca

Meus olhos por mais que mintas
Não querem dizer adeus
Por mais amor que não sintas
São duas bocas famintas
Em busca dos olhos teus
São aves que andam fugidas
Mas sem terem liberdade
São duas pombas feridas
D’asas fechadas, caídas
No chão frio da saudade



Fernando Campos de Castro

 
 

sábado, 7 de junho de 2014

Eugénio de Andrade Que música escutas tão atentamente

 


Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?...
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.
 
Eugénio de Andrade
 
 
 
Foto: Que música escutas tão atentamente

Eugénio de Andrade

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.