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segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

A TODOS UM BOM ANO 2019 .





A TODOS UM BOM ANO 2019



E que o bom senso há muito arredado das mentes de tantos , renasça das cinzas, nos  proteja  e que 2019 seja um ano com menos desigualdades, tragédias, racismo, xenofobia, violência doméstica, corrupção e muita paz social. Acredito que seja possível basta que cada um de nós marque a diferença.

Outra poesia de Duque de Rivas








Letrilla                           
Duque de Rivas

Decidme, zagales,
¿qué fuerza tendrán
los ojos de Lesbia,
que así me hacen mal?
Desde que los vide
ni sé descansar;
perdí mi reposo,
no puedo parar.
Sin duda que fuego
oculto tendrán,
pues, cuando me miran,
me siento abrasar.
Mas no da este fuego
incomodidad,
sino solamente…
no lo sé explicar.
Decidme, zagales,
¿qué fuerza tendrán
los ojos de Lesbia,
que así me hacen mal?

Letrilha

Diga-me, zagales,
que força terão
os olhos de Lesbia,
que assim me fazem mal?
Desde de que os vi
nem sei descansar;
perdi meu repouso,
não posso parar.
Sem dúvida que fogo
oculto terão,
pois, quando me olham
me sinto queimar.
Mas, não me dá este fogo
desconforto
sim somente ...
não o sei explicar.
Diga-me, zagales,
que força terão
os olhos de Lesbia,
que assim me fazem mal?

Ilustração: Gente – iG.

sábado, 29 de dezembro de 2018

E. E. Cummings







Foto: Irving Penn



















Eu gosto do meu corpo quando está com o seu  
corpo. É uma coisa tão nova. 
Músculos melhor e nervos mais. 
eu gosto do seu corpo. Eu gosto do que faz,  
eu gosto de seus comos. Eu gosto de sentir a espinha  
do seu corpo e seus ossos, e o tremor  
-firm-smooth ness e que eu vou de  
novo e de novo  
beijo, eu gosto de beijar isso e aquilo de você,  
eu gosto, acariciando lentamente a penugem, chocante  
do seu pêlo elétrico, e o que é que vem  
por cima de carne separada ... E olhos grandes migalhas de amor,  e possivelmente eu gosto da emoção  de sob mim você é tão nova 


E. E. Cummings

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018









Photo: Bill Brandt






















Há uma regra inflexível no amor: o seu horizonte 
tem a vastidão do mar, para lá do qual outros 
horizontes se abrem se o muro, ao longo da 
praia, não impuser os seus limites a quem 
deseja a viagem. O espírito, porém, seguindo 
um rumo platónico, voa sobre as ondas, 
afastando-se da apressada respiração das marés; 
e é no alto, onde se confundem nuvens e
gaivotas, que o olhar descobre a imensidão
do oceano para que o sentimento o empurra, 
se não houver pela sua frente um porto, 
ou uma ilha, que ponham fim à navegação. 

Mas estas são apenas as convenções que 
obrigam a imaginação; porque se o amor se 
libertar das palavras que o oprimem, dando 
ao corpo a mesma plenitude que se encontra 
neste mar, está aberto o caminho para o abismo 
em que o ser se dilui no puro espaço, onde 
só o azul existe. Então, os dedos tocam 
o teclado do infinito, e ouvir-se-á a música 
dos murmúrios que nenhum ouvido recebe 
se os sons da terra o magoam. E é como 
se o dia durasse, para além do tempo e 
das coisas da vida, até ao fim do mundo.

Nuno Júdice


quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

rui amaral mendes in a noite o sangue [2016] ©







filial...
ensinaste-me nesse tempo que antecede
o florir das magnólias
a beber nos teus olhos as palavras
que te irrompem da boca
numa manifestação intempestiva
qual incontida mas concreta floração
dessa dimensão maior única
por dentro do amor
olho o rio em frente
penso nas palmas abraçando os pés
inseguros e frágeis que
sentes escaparem-te das mãos:
a areia do tempo
escorrendo-te por entre os dedos
na tua disputa contra a irrefutável
passagem do tempo
decretaste a irrelevância de me
saberes desprovido de úbere ventre
e declaraste-me aliado em luta
que era primacialmente tua
hoje carrego as cicatrizes de um corpo
que se expande para albergar
um objecto cardíaco reconstruído ressuscitado
uma reflexão líquida
do rio que me embala na noite
nutrindo os ramos filiais desse amor
com que me engravidaste
consumando a metamorfose
rui amaral mendes in a noite o sangue [2016] ©

Texto alt automático indisponível.


Paul Éluard (tradução Rui Amaral Mendes)







Photo: Man Ray

























Passei as portas do frio / J'ai passé les portes du froid
As portas da minha amargura / Les portes de mon amertume 
Para vir enlaçar teus lábios / Pour venir embrasser tes lèvres

Cidade limitada ao nosso quarto / Ville réduite à notre chambre
Onde da insensata maré do mal / Où l'absurde marée du mal
Fica uma espuma reconfortante / Laisse une écume rassurante

Apenas te tenho a ti como anel de paz / Anneau de paix je n'ai que toi
Reaprendendo contigo o sentido / Tu me réapprends ce que c'est
Da condição humana quando renuncio / Qu'un être humain quand je renonce

A saber se tenho semelhantes/A savoir si j'ai des semblables.



Paul Éluard (tradução Rui Amaral Mendes)

Albano Martins






(da) eclosão...
A noite é uma página escrita onde há uma vírgula depois de cada
letra, um ponto depois de cada palavra, uma exclamação no fim 
de cada frase.
Ao fim de cada período está o teu corpo, aberto num parêntese
longo, que explica a súbita eclosão de auroras nocturnas.
No fim de tudo estão os teus olhos, redondos como duas afirmações,
loiros e despenteados.
Albano Martins   

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terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O erotismo






O erotismo
Gosto do erotismo das palavras doces
que me chegam pelos ouvidos devagar,
bem
devagar...
Para dar tempo à alma para as descascar,
como se descasca uma manga madura sumarenta a pingar de doce...
E saborear devagar,
bem
devagar...


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rui amaral mendes in a noite o sangue






Errâncias...
escrevo a destempo
das verdades que me habitam.
conjugo sujeito, predicado
complementos
unicamente nos momentos
em que substantivos e verbos
adjectivos e pronomes
palavras isoladamente neutras
se alinham
como astros num imenso cosmos
para conferir cor ao fogo que
carrego.
se silêncios entrego
não os cuides vazios:
permanece densa ensurdecedora
a verdade da essência que carregam.
a matéria do poema, sabes!,
são palavras que desejo livres
da ditadura das grilhetas
vazias das circunstâncias,
celebrando a errância de alma minha
por dentro de veredas tuas,
temendo apenas o caos
que sobrevirá à tua ausência.

rui amaral mendes in a noite o sangue [2016] ©


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Carl Sandburg






pedido...
Dá-me fome, 
ó vossos deuses que se sentam e dão ao
mundo suas ordens.
Dá-me fome, dor e desejo,
Encerra-me com vergonha e fracasso
De suas portas de ouro e fama,
Dá-me sua fome mais miserável e mais cansada! Mas me deixe um pouco de amor, Uma voz para falar comigo no final do dia, Uma mão para me tocar no quarto escuro Quebrando a longa solidão. No crepúsculo das formas diurnas Desfocando o pôr-do-sol Uma pequena estrela errante e ocidental Lançada das margens mutáveis ​​da sombra. Deixe-me ir para a janela, Assista lá as formas do dia do crepúsculo E espere e conheça a vinda De um pouco de amor.
Carl Sandburg   






































Give me hunger,
O you gods that sit and give
The world its orders.
Give me hunger, pain and want,
Shut me out with shame and failure
From your doors of gold and fame,
Give me your shabbiest, weariest hunger!

But leave me a little love,
A voice to speak to me in the day end,
A hand to touch me in the dark room
Breaking the long loneliness.
In the dusk of day-shapes
Blurring the sunset,
One little wandering, western star
Thrust out from the changing shores of shadow.
Let me go to the window,
Watch there the day-shapes of dusk
And wait and know the coming
Of a little love. 


Carl Sandburg

domingo, 23 de dezembro de 2018

Nuno Júdice






entrega...

Numa noite antiga de verão em que todas as estrelas
brilhavam nos seus lugares, nessa noite de calor ouvi
as rãs na água dos arrozais, e as nuvens de mosquitos cobriam 
o caminho por onde te via passar, descalça, correndo sobre a terra
até ao pátio da casa fechada onde só os fantasmas viviam,
esperando que lhes abrisses a porta para atravessarem o campo
dos enforcados. Mas tu não os vias, e continuavas
a correr até à estação onde já nenhum comboio parava,
e ias para o canto mais escuro do jardim, despindo a blusa
para libertares o peito do calor da noite, e ofereceres
às estrelas as pontas dos seios.


Nuno Júdice   

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sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Maria Helena Guimarães






NATAL !
Acabei de fazer o Presépio.
Têm tantos anos as figuras
como terços de vida
eu conto, melancólica,
neste entardecer.
Sento-me e procuro 
o espírito de Natal.
Há uma saudade remanescente
dos Natais da meninice,
de uma festa inocente
em que o Amor era simples,
a família era um porto
em que cada um desaguava
no abraço, na lágrima, no elo
que o ligava para além
das vicissitudes.
Por uma noite eramos crianças!
E entre as rabanadas e os formigos
havia o coração aberto,
o sentido desperto.
Todos eram abrigos
sem crenças, sem leis,
num enorme abraço,
unindo cada pedaço
espalhado pela vida.
Por uma noite,
a reavivar pertença
A reconstruir os laços
pelo tempo esparsos.
Tenho saudades de ser criança! 


quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

por Ricardo- águialivre






Ardendo comigo na chama da paixão




Queima aqui no peito, um lume de paixão
Resíduos naturais dos beijos que trocámos
Amor ardente, cinzas produzidas do vulcão
Que salpicam esse carinho que granjeámos
.
Palavras de ternura no crepúsculo sentido
Onde deixámos arder, o nosso sentimento
Fagulhas de lume,  de um amor enaltecido
Ardendo lentamente no nosso pensamento
.
São os teus lábios fontes de água cristalina
Que os meus molham de doçura pura e fina
Queimando meu corpo em chama reluzente
.
Se uma fagulha envolvesse o teu entardecer
Decerto que nesse lume tu virias desfalecer
E comigo ardias em amor, feliz, docemente
.

Maria do Rosário Pedreira






   

Photo: Bill Brandt

































Erguem-se os ventos e contra mim se assanham,
se rebelam, gritam-me fúrias antigas, incontidas,
e assomam às portas assobiando velhas canções tristes.

Dizem que por eles morreram já algumas aves.
E que os trigos cederam à tentação de os seguir
e se perderam para sempre na planície, como as crianças.

Nunca lhes digas o meu nome, não lhes contes que existo.
Guarda-me agora em ti como um outro segredo -
o teu sono era quente, lembro-me da janela do teu quarto
a dar para o céu, os ventos passavam nela devagar,
mas nunca se detinham

e depois, de manhã, acordávamos sempre junto ao sol.



Maria do Rosário Pedreira

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Ana Alvarenga





O silêncio tem o sabor de amoras silvestres, negras e brilhantes como a noite que abraça os pensamentos.

Sentes o cheiro das estrelas? 

Eu não o sinto; tenho a pele (ainda) impregnadados toques macios e deslizantes, do silêncio a massajar o corpo.


Pressentes o rasto dos sonhos?

Dos sonhos que desenhei para ti, em estátuas e em nuvens, no silêncio do traço fino.

E passeio nos telhados de casas vazias, encontro o silêncio - o teu e o meu -, que me grita, despenteia, empurra-me. Beija-me.



Ana Alvarenga   


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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

António Ramos Rosa
























Quando o corpo é um sorriso aberto ao sol
o alento dança
e o coração estremece como um peixe livre
Pertencemos a um corpo de claridade nua
com a viva delicadeza vegetal
com a transparência do desejo na languidez de um leito
de lentidão aérea e voluptuosa inocência

Toda a terra se torna um país amoroso
e a boca fascinada é concha e água no instante amado
As fontes da palavra jorram de um ventre branco
ou dos cabelos que navegam entre nuvens e veias
Não precisamos procurar a raiz o anel o limite
porque toda a aparência respira nascendo do seu ser
e o fio subtil do silêncio conduz-nos ao jardim
das carícias e dos segredos nupciais
entre as flores do sono num tranquilo ardor

O que queria libertar-se para além dos espelhos
e dos véus das sombras pousou na límpida clareira
onde a corola da terra oferece o seu azul
e o mundo leve renasce navegando nas suas barcas imóveis



António Ramos Rosa


Fernando Assis Pacheco






Foto: Jeanloup Sieff

















Tentas, de longe, dizer que estás aqui.
Com o peso da rua na rua Outono.
O meu coração de-janela para as
pessoas e carros, e as folhas caindo. Mastigo esta solidão como quando era pequeno e jantava diante dos pais zangados: devagar, ausente.

 Fernando Assis Pacheco

E. E. Cummings





Foto: Irving Penn

































Eu gosto do meu corpo quando está com o seu 
corpo. É uma coisa tão nova. 
Músculos melhor e nervos mais.
eu gosto do seu corpo. Eu gosto do que faz,  
eu gosto de seus comos. Eu gosto de sentir a espinha  
do seu corpo e seus ossos, e o tremor 
-firm-smooth ness e que eu vou de 
novo e de novo 
beijo, eu gosto de beijar isso e aquilo de você, 
eu gosto, acariciando lentamente a penugem, chocante 
do seu pêlo elétrico, e o que é que vem 
por cima de carne separada ... E olhos grandes migalhas de amor,  e possivelmente eu gosto da emoção  de sob mim você é tão nova

 E. E. Cummings

Nuno Júdice






Photo: Imogen Cunningham 





















Nua, encosta-se ao que pode ser uma parede
de pano, com erupções líquidas, uma doçura
de musgo, e a cor branca da primavera.
A mão, displicente, apoia-se na anca, numa
impaciência que transparece nos cabelos
soltos de uma noite de amor. A outra
mão, porém, segura um lírio sobre o seio;
e o olhar desce na sua direcção, como
se quisesse saborear o gesto em que uma
falsa timidez se manifesta. Há quanto
tempo está ali? Quem a deixou entregue
ao abandono da sua sombra?
No entanto, com um sorriso irónico,
convida-nos a entrar; e talvez
nos diga o que espera ainda, enquanto
o tempo passa pelo rio do seu corpo. 



Nuno Júdice

domingo, 16 de dezembro de 2018

Edna St. Vincent Millay































Não posso deixar de lembrar 
Quando o ano envelhece -  
outubro - novembro
Como ela não gostou do frio! Ela costumava observar as andorinhas Descendo pelo céu E virando da janela Com um pequeno suspiro agudo. E muitas vezes quando as folhas marrons Eram frágeis no chão, E o vento na chaminé Fez um som melancólico, Ela tinha um olhar sobre ela Que eu gostaria de poder esquecer - O olhar de uma coisa assustada Sentado em uma rede! Oh, linda ao cair da noite A neve cuspidinha! E bonito os ramos nus Esfregando para lá e para cá! Mas o rugido do fogo E o calor do pêlo
E a ebulição da chaleira 
era bonita para ela! Não posso deixar de lembrar Quando o ano envelhece - outubro - novembroComo ela não gostou do frio! 

Edna St. Vincent Millay



sábado, 15 de dezembro de 2018

Nuno Júdice





abandono...
Na cama, onde o teu corpo, de costas, se abandona
aos meus olhos, e os cabelos se espalham pela almofada
és a mais bela das mulheres nuas. Os pés, sobre

os lençóis que o amor amarrotou, cruzam-se,
num breve descanso; e o rosto, de olhos
fechados, esconde o desejo que a tua brancura
me oferece, contra a parede que inscreve
o único limite do nosso amor. O braço direito
caído para o chão, agarra um vazio que encho
de palavras; e o braço esquerdo, sob os seios,
indica-me o caminho em que cada repetição
é uma descoberta. Se te voltares, abrindo os braços,
e mostrando o peito, saberei o rumo seguir,
nesta viagem em que és a proa e o vento; mas
se ficares assim, secreto retrato no atelier
do coração, apenas te peço que entreabras
os lábios, para que um murmúrio nasça
de dentro da tela. Então, cobrir-te-ei as pernas
com o lençol, espalhar-te-ei pela almofada
os cabelos, escondendo a nuca e o ombro; e
deixarei que este poema se derrame sobre ti,
ateando este fogo com que a tua nudez

me incendeia.
Nuno Júdice   

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Cidália Ferreira





Perdi-me no vendaval

Rolou pelo meu rosto como a chuva que cai
Tocada pelo vento, em palavras de vendaval
Onde tanta alegria que sentia, assim se esvai
Junto com a chuva, um coração sentimental

Um sabor amargo, qual sal, em mar revolto
Ondas de magnitude que me levam o sorrir
Quando num soluço peço perdão, mas solto
Uma lágrima, de revolta, por não conseguir

Chove intensamente dentro do meu coração
Que se manifesta, no meu entristecido rosto
Não queria, nem pedi. Perdi-me na emoção
E rolou pelo meu rosto lágrima de desgosto.

Cidália Ferreira