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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Paraíso


 

Deixa ficar comigo a madrugada,

para que a luz do Sol me não constranja. 

Wings

Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,

onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho

que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso

para a minha ilusão do Paraíso.


David Mourão-Ferreira

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Eu sempre pensei...



Eu sempre me pensei                                                 
como assim sou:
um ser que vive a se transformar
na busca inútil d'à perfeição chegar
sem a mínima chance de assim ser.
Se comportando sem o perceber
com os modos mais subtis e imperfeitos.
É verdade que vivo a vida, cá no peito,
E, no pensamento, o mundo carrego
tanto que tudo quanto nego
da forma mais veemente e exacerbada
pode, amanhã, ser a minha estrada,
desejo, busca, e bandeira empunhada.
Muitos pensam que minha vida é uma brincadeira
e veem, minha seriedade, com um espanto
de quem me ouve cantar, se alguma vez canto,
como um exercício de inutilidade.
Nem mesmo sei, se um Deus há,
ou porquê me deixou chegar a esta idade
como um menino,  na curiosidade e na infantilidade,
que não sabe o que fazer com o seu brinquedo
e, amando tanto, do amor tem medo. 

Do blog: by Spersivo

sábado, 25 de agosto de 2012

O nosso mundo


Chapéu Alto


Que importa o mundo e as ilusões defuntas?...
Que importa o mundo seus orgulhos vãos?...
O mundo, Amor?... As nossas bocas juntas!...

Florbela Espanca

Quero tanto aos olhos teus











Letra

Quero tanto aos olhos teusComo o céu quer ás estrelasAdoro essa feições belasComo um crente adora Deus
Desde a hora em que te vi Minh'alma anda presa á tuaComo eu ando atrás de ti Anda o sol atrás da lua
Se um dia o sol se apagar No infinito dos céusQuero a luz do teu olhar E o calor dos lábios teus
Por te querer tanto, afinal Ando a triste, a perguntarComo é possível gostar 
De quem nos faz tanto mal

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Porque gostei....

Contigo nenhum silêncio perturba
o que a boca teimosamente
se inibe de dizer
e era tão fácil abrir os lábios e soletrar "amo-te"

Mas contigo ...

...contigo não preciso de palavras
nem de silêncios
mas apenas de olhos
olhos que não me miram
mas me adentram
que não me vislumbram
mas me possuem
que não me olham de viés
mas me medem ao milimetro
e gravam cada detalhe

...de olhos que me furam

como um ferro em brasa
e de retina colada na minha
arrancam de mim
o que a minha boca não diz
e nenhum Amo-te tem a força
do que aquele que se escapa de um olhar apaixonado..assim como o meu...
Por isso, contigo não preciso de palavras soltas
nem de silêncios prolongados...

...apenas de olhos

olhos fundos e sinceros
como os teus e os meus
e um leito onde encostar o amor
e calar a paixão

apenas isso...


são reis


Imegem: Spartaco Lombardo, in Tutt'Art@

Porque gostei.....

Serena

Henriqueta Lisboa



Essa ternura grave

que me ensina a sofrer
em silêncio, na suavi-
dade do entardecer,
menos que pluma de ave
pesa sobre meu ser.
E só assim, na levi-
tação da hora alta e fria,
porque a noite me leve,
sorvo, pura, a alegria,
que outrora, por mais breve,
de emoção me feria.
 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Trópico ardente


Há dias, como esses, assim                                                
em que, mesmo as esperanças, são torradas
num agosto de tardes e canções desesperadas
em que o futuro tende para o nada
ou se aproxima....
Na verdade, hoje, só me animava
o seu amor, minha menina,
a possibilidade de brincar com a flor
que só o perfume me deixa
com a ingenuidade de que rezar
pode lhe salvar do pecado.
Só o sorriso cálido e a promessa no ar
me faz ainda acreditar
que a beleza ainda há de brotar
neste imenso calor da tarde,
na areia quente que diviso,
com o lerdo sorriso,
e o olhar que se perde
até onde a vista pode alcançar

Ilustração: imprimis.artblog.com.br/22/ 


Do blog By Spersivo

Amo o teu túmido candor de astro






a tua pura integridade delicada 
a tua permanente adolescência de segredo 
a tua fragilidade acesa sempre altiva 
Por ti eu sou a leve segurança de um peito 
que pulsa e canta a sua chama 
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro 
ou à chuva das tuas pétalas de prata 
Se guardo algum tesouro não o prendo 
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto 
que dure e flua nas tuas veias lentas 
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar 
Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva 
para que sintas a verde frescura 
de um pomar de brancas cortesias 
porque é por ti que vivo é por ti que nasço 
porque amo o ouro vivo do teu rosto 

António Ramos Rosa


Imagem retirada do Google

Arte de amar




Não faço poemas como quem chora,

Cheiro de Chão
nem faço versos como quem morre.
Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira
quando muito moço; achava que tinha
os dias contados pela tísica
e até se acanhava de namorar.
Faço poemas como quem faz amor.
É a mesma luta suave e desvairada
enquanto a rosa orvalhada
se vai entreabrindo devagar.
A gente nem se dá conta, até acha bom,
o imenso trabalho que amor dá para fazer.
Perdão, amor não se faz.
Quando muito, se desfaz.
Fazer amor é um dizer
(a metáfora é falaz)
de quem pretende vestir
com roupa austera a beleza
do corpo da primavera.
O verbo exato é foder.
A palavra fica nua
para todo mundo ver
o corpo amante cantando
a glória do seu poder.

Thiago de Mello

CHAMAR-TE MEU AMOR



* Joaquim Pessoa *


Dizer que tudo em ti é movimento

e que há corças nas selvas em redor
do amor que às vezes faço em pensamento
ou do que eu penso quando faço amor.

Dizer que em tudo escuto a tua voz

no mar no vento na boca das searas
o maior amor do mundo somos nós
cobrindo a solidão de pedras raras.

Dizer tudo o que eu digo nunca basta

pois para ti não chegam as palavras
"meu amor" é uma expressão que já está gasta
mas tem sempre um aroma de ervas bravas.

É por ti tudo o que faço e digo e chamo

por ti eu tudo invento e tudo esqueço
dou tudo o que há em mim quando te amo
mas nem sei meu amor se te conheço.
 
s/t

sábado, 18 de agosto de 2012

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

DE: Mariachiara Franceschini



Gocce di pioggia

Mariachiara Franceschini

La pioggia
bussò ai vetri
chiusi.

Penetrò
la barriera
di cristallo

Cadde candida
sul mio volto
si ferì
e pianse dai miei occhi
amari di sale

Pianse fino a terra
e svanì
nel nulla di un istante
nell'eternità di un momento...


Pingos de chuva

A chuva
bateu no vidro
fechado.

penetrando
na barreira
de vidro

caiu cândida
o meu rosto
ferindo
e  dos meus olhos sairam
lágrimas amargas

que caíram lentas na terra
e sumiram
no nada de um instante
na eternidade de um momento ...

Do blog  By Spersivo 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Porque não soube merecer





Porque não soube merecer a glória, a mais suave
de me deitar a teu lado
e que o sangue a palavra
abolisse a diferença entre o meu corpo e a minha voz
porque te perdi
não sei quem sou.

António Ramos Rosa

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Na mão, em dedos leves




Na mão, em dedos leves e suspensos, 

Sentir o fluido peso que se esquiva. 

Ou, com dedos recurvos que se tocam, 
Cingir musculaturas delicadas. 

Ou, prolongando em dedos a mão toda, 
Medir quanto de carne ali se amplia. 

A mão conhece o que mal olhos vêem

Jorge de Sena


Imagem retirada do Google

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Sei ......e sempre soube

Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"
fotografia: miguel atalaia

Olhar do tempo

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Meio-dia




Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém. 

O sol no alto, fundo, enorme, aberto, 

Tornou o céu de todo o deus deserto. 

A luz cai implacável como um castigo. 

Não há fantasmas nem almas, 

E o mar imenso solitário e antigo, 

Parece bater palmas. 


Sophia de Mello Breyner Andresen


Imagem retirada do Google

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Mais uma vez Miguel Antonio Jimenez


Soneto com estrambote                                                                          

Miguel Antonio Jiménez

Senos peras parecen tus violines

desnudos en mi música los muerdo
como cuerpos en fuga los recuerdo
en la gimiente forma sus delfines

Son la carne redonda de sus curvas

que el sueño toca al aire suspendido
en la música forma del gemido
en el verde sombra de sus curvas

Inclina ya la tarde tus pezones

y a través de la música diluye
el mundo que consiente tus razones

Son formas pero son ondulante caricia

fundiéndose en la página que fluye
como tus dos sentidos de justicia

Soneto com estrambote

Seios de peras parecem teus violinos
nus na minha música os mordo
como corpos em fuga os recordo  
gemendo na forma seus golfinhos

São as carnes redondas de suas curvas
que o sono toca no ar suspendido
em música na forma de gemido
na verde sombra das suas curvas

Inclina já na tarde os seus mamilos
e através da música diluí
o mundo que consente tuas razões

São formas, porém,são ondulantes carícias
fundindo-se na página que flui
como teus dois sentidos de justiça
 
Do blog , By Spersivo

Um amor




Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão.
puxaste-me para os teus olhos

transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,

ainda apanhámos o crepúsculo.

As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar

diferente inundava a cidade. Sentei-me

nos degraus, do cais, em silêncio.

Lembro-me do som dos teus passos,

uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,

e a tua figura luminosa atravessando a praça

até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,

o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,

continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha

essa doente sensação que

me deixaste como amada

recordação.


Nuno Júdice

Imagem retirada do Google

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Soneto à tua volta



(Poema de JG de Araujo Jorge extraído do livro
"Eterno Motivo" " - Prêmio Raul de Leoni,
da Academia Carioca de Letras - 1943)

Voltaste, meu amor... enfim voltaste!
Como fez frio aqui sem teu carinho....
A flor de outrora refloresce na haste
que pendia sem vida em meu caminho.

Obrigado... Eu vivia tão sozinho...

Que infinita alegria, e que contraste!
-Volta a antiga embriaguez porque voltaste
e é doce o amor, porque é mais velho o vinho!

Voltaste... E dou-te logo este poema

simples e humilde repetindo um tema
da alma humana esgotada e envelhecida...

Mil poetas outras voltas celebraram,

mas, que importa? – se tantas já voltaram
só tu voltaste para a minha vida...
 
 
 
Cristina.

Trago na palma da mão a luz diurna

Estefania.



Trago na palma da mão a luz diurna: e a ferida no flanco.

O meu deus, o meu demónio, respira fundo e alto.

Ela, a minha múltipla companheira,

é uma coluna silenciosa e ardente.

A luz sela esta aliança entre o sopro e a matéria

e uma voz se eleva nos barcos do silêncio.


António Ramos Rosa

domingo, 5 de agosto de 2012

Mundo




NO MEU OLHAR ESTOU AUSENTE, NADA ME PRENDE

Domingo, Agosto 05, 2012 ás 02.16 da matina




Poderia falar da madrugada
-o tempo mágico-
e das vozes perdidas
entre gargalhadas
e sons inaudíveis.
Poderia falar da noite
que vem sempre
-inexirável e premente-
deitar-se connosco.
Mas, hoje, só posso falar
de saudade, de beijos;
imponderáveis e devaneios,
que me levam
-entre abraços e carícias-
ao fim do Mundo!


De : Paula Raposo

sábado, 4 de agosto de 2012

Bebo......

RAZÃO

Bebo como se o amanhã não existisse
e, algum dia, esta será toda a realidade.
Bebo para tornar a vida bela
e abrir uma janela de acertos
no tanto que errei.
Bebo porque feliz nunca serei.
Bebo por saber que o futuro
é sempre melhor distorcido
e por ter te amado
e por ter te perdido
num passado
que não tem como voltar.
E a ironia
é que vivo por te amar!

ESTE SUEÑO




Miguel Antonio Jiménez

Este sueño sin párpados es un rumor herido
y este aire de vida es un redondo sueño
donde tus ojos ruedan y me siento su dueño
en el agua que juega consumiendo el gemido

Eres mi agua mi fuego mi primera noticia

la pregunta que envuelve la palabra que asoma
su voz hiela en el aire que toma
mi agudo fuego mi mirada en caricia
ESTE SONO

Este sono sem pálpebras
é um rumor ferido
e este ar
de vida é um redondo sono
onde teus olhos
rodam e eu  me sinto dono
na água
que brinca consumindo o gemido

És
minha água, meu fogo minha primeira notícia
a pergunta que envolve a palavra que assoma
sua voz
gela no ar que toma
meu agudo fogo meu olhar de carícia  



Do BLOG:  BY SPERSIVO

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Diz-me tu





Diz-me tu como te quero.
Tu.
Que me calaste as palavras
Num beijo tão longo
Que foste a minha boca
Que foste respirar
Que foste a minha voz.
Diz-me tu como te desejo.
Tu.
Que me ardeste no corpo
Num abraço tão apertado
Que me tornaste e me deste
Um desejo maior
O desejo de nós.
Diz-me tu como te amo.
Tu.
Que me tomaste as palavras
Que me tornaste desejo
E a quem em silêncio chamo
E a quem ardendo amo.
Diz-me tu, meu amor.
Diz-me tu de nós.




POEMA DE :  Encandescente