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quarta-feira, 29 de junho de 2016

Hamilton Ramos Afonso

A tua boca…

A tua boca,
minha tentação
quando
olhando teu rosto
se escancara
num sorriso,
naquele gaiato sorriso
com que me trazes
enfeitiçado…

Duas tentadoras gomas
franqueiam-me o caminho,
para o seu interior,
transformando-a
no salão de baile
onde nossas línguas,
traquinas e irreverentes,
dançam
a valsa do amor…



Hamilton Ramos Afonso  




segunda-feira, 27 de junho de 2016

são reis

É esta a forma que tenho de te esperar
de enganar o tempo
de fingir que estás aqui
É esse fechar de olhos
e o esperar que tudo passe

ou que nada tenha passado
ou que tudo tenha ficado
como se nada tivesse ido
como se nada tivesse sido mexido


 são reis  



 


quarta-feira, 22 de junho de 2016

Olinda Ribeiro

Lado a lado sem rumo



Não te iludas nesse complexo da solidão
Vem e deita-te a meu lado
Entrelaçamos as mãos
Embarcamos os dois no mesmo sonho e navegamos rumo ao largo
No marulhar das almofadas e da respiração ofegante
Adormeçamos vis-a-vis com o balancear das ilusões
Entrelaçadas que estão as marés das nossas complexadas solidões
Aspiramos das almofadas os odores das nossas histórias passadas
Navegamos  na jangada das emoções
no largo dos sentidos sem rumo
de mãos entrelaçadas
deitados lado a lado
embarcamos
e num só sono
respiramos a partilha da comum solidão

Olinda Ribeiro
19 de Junho de 2015   
 
 
 
 
 

terça-feira, 21 de junho de 2016

Albino Santos

Não sei porquê
hoje lembrou-me que
puzeste na mesa...

aquela toalha de linho
onde as papoilas vermelhas
são beijadas pelo sol bordado
que te sai das mãos!...
Quis afastar esse pensamento
e fui até à margem do rio,
junto das margaridas que tanto gostavas...


Dei por mim a relembrar os tempos idos,
os nossos segredos,
os sonhos perdidos,
as histórias de amor,
os dias mais felizes...
E tudo parece que rebrilha
como pedrinhas de cor
entre as raízes...

Quem sabe, amanhã será primavera!...



  Albino Santos

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Orlando Zabelo

Quis surpreender-te,
convidei-te para jantar,
levei-te à praia
com mesa posta à beira-mar
adoraste a ideia,...

o entardecer está lindo
a felicidade no teu rosto
conta-me o resto
a noite... essa...
apenas a nós pertence.



Orlando Zabelo   



 

domingo, 19 de junho de 2016

MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA


DEPOIS DE TUDO, FICA A LEMBRANÇA DOS LUGARES


 
Depois de tudo, fica a lembrança dos lugares e...
dos seus nomes; dos quartos virados a poente
onde as imagens do rio nunca se repetem nas janelas
e todos os enredos são consentidos sobre as camas.
Ao fundo, havia um armário de madeira com espelho
onde as nossas roupas trocavam de perfume
para que os dias se vestissem sempre melhor.
E, sobre a cómoda, num espelho mais antigo,
a tarde reflectia algumas das alegrias da infância.
Não era o quarto de nenhum de nós,
mas a ele regressávamos sempre com a pressa
de quem anseia os cheiros quentes e antigos
da casa conhecida; como quem espera ser aguardado.
Pressenti, porém, que não era eu quem aguardavas:
uma noite, pedi-te mais um cobertor em vez de um abraço.
 
 
MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA,
 
 in POESIA REUNIDA (Quetzal, 2012) 
 
 
 
 
 

sábado, 18 de junho de 2016

Fernando Campos de Castro

MORRER DE AMOR

Acende as tuas mãos que o corpo pede
E deixa que depois tudo aconteça
Nas fontes do meu peito mata a sede...

Até que tudo em mim se desfaleça

Afaga os meus cabelos com ternura
Afunda nos meus braços teus desejos
Respira em cada poro esta loucura
No oceano imenso dos meus beijos

Segreda-me palavras que enlouquecem
Navega no meu corpo em ondas loucas
Toquemos nossos lábios que se acendem
No fogo de prazer das nossas bocas

Desliza as tuas mãos pelo meu rosto
Beijando as minhas lágrimas de dor
E deixa sobre mim esse teu gosto
Até que tudo em nós morra de amor


 Fernando Campos de Castro

HELENA GUIMARÃES

A alma a esvoaçar
o espaço,
dedos a definir
imaginários
contornos,...

o pensamento
submerso,
o sol aquietando-me
o peito,
neste sentir sem jeito,
sem razão,
num universo de sonho
a fluir na quietude
da tarde.
Sorvo o deleite
que invento,
embriago-me
no sentimento
para esquecer
o medo,
a angústia
da dúvida
que na razão
desperta
a cada
momento.



HELENA GUIMARÃES
Janeiro 2003  


 

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Clarice Lispector



 
(re)versos  


 
Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...


(Agora leia de baixo para cima)

  
Clarice Lispector

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Uma poesia de Alexander Pushkin





I loved  you

Alexander Pushkin

I loved you, and I probably still do,
And for a while the feeling may remain...
But let my love no longer trouble you,
I do not wish to cause you any pain.
I loved you; and the hopelessness I knew,
The jealousy, the shyness - though in vain -
Made up a love so tender and so true
As may God grant you to be loved again.
 
 
 
Eu te amei

Eu te amei, e eu provavelmente ainda amo,
E por um tempo o sentimento pode permanecer ...
Mas, não deixe o meu amor criar problemas para você,
Eu não quero te causar nenhuma dor.
Eu te amei; e a desesperança que eu conheci,
O ciúme, a timidez - embora em vão -
Levaram-me a um amor tão terno e tão verdadeiro
Como só Deus pode conceder-te para ser amada de novo.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Frncisco Valverde Arsénio

É TÃO SIMPLES ESPERAR POR TI














Espero-te num poema
que não fale de pássaros
nem de borboletas,
onde a noite não tem estrelas
nem as ondas do mar beijam a areia.

Espero-te sem arco-íris
ou fénix renascida,
sem o vento a fustigar a copa das árvores,
as sombras caladas nas paredes,
sorrisos distorcidos pelos espelhos
ou janelas viradas para a linha do horizonte.

Espero-te sem palavras
que falem da lua,
do pôr-do-sol,
das cordas de uma harpa
ou do madrepérola
dos botões dum acordeão.

Espero assim,
como da primeira vez que te vi
e em que um único beijo nos prendeu.

Espero-te tal como és
sem artifícios,
sem poses ensaiadas,
sem cobrar o meu silêncio
ou mendigar o meu corpo.

Espero-te… como és,
na simplicidade…
na tua simplicidade.
  
 
 
Francisco Valverde Arsénio

terça-feira, 14 de junho de 2016

Guardei para ti as madrugadas do sonho...
quando disse que te amava
os meus olhos plenos de ti escorreram
pelo sol que era a lua encostada no teu rosto
beijos de ternura nasceram nos meus lábios...

o sorriso onde a realidade ainda não doía
levitava nesse querer ver~te em toda a parte
Já nada mais havia senão o teu rosto e o teu nome
hoje sei que o tempo me doi e me enlouquece
e as lágrimas que me adentram são inúteis
_as palavras são sufocos instalados na rotina-
A saudade há-de gelar e o sol será a sombra
essa mesma não mais que um resquício dos enganos
onde a verdade nunca foi mais que um sonho em sobressalto
Um dia rir-me-ei de ser menina
nesse dia serei mais mulher
será tarde ,digo eu, mas será ainda cedo p'ra saber
que há um tempo em que se sofre por se amar
uma sombra perseguida na memória
ninguém muda assim tanto de si mesmo
esse será o tempo de partir!

Autor desconhecido ????  Me parece que não

mas...... publico à mesma.



Joaquim Pessoa // poema sexagéssimo terceiro ( excerto )





 O amor move-se em círculos
como uma divindade.

A minha língua de petrarca
afunda-se na tua boca para retirar água dos sonetos
do teu corpo, num beijo molhado de sílabas frescas, restos
das odes, barcarolas e canções dos primeiros poetas,
esses poetas desconhecidos cujo amor se perdeu
na inquietação dos dias que nunca foram primavera.
Busco esse amor como uma chave desconhecida
algures dentro de ti e da tua linguagem,
como o cálice de ouro dos antigos cruzados que
mataram por amor. E eu mato-me, sim, mato-me
por amor de ti, e por amor de mim em ti, tu és
o meu cálice sagrado, és o meu vinho, a
minha interminável disputa.

Pudesse eu morrer numa fogueira de versos
e morreria feliz, morreria cantando.
  
Joaquim Pessoa   
 
 
  
 
 
 
 


 
Joaquim Pessoa
in GUARDAR O FOGO
Editora Edições Esgotadas, 2013.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

são reis

Bebo dessa tua saudade
que ainda arde
que ainda queima
e dói
por tudo o que poderia ter sido

por tudo o que não foi
Bebo desse amor
que ainda floresce
que ainda transparece
em cada gesto
em cada silêncio
em cada baixar de olhos
como se as coisas fossem todas
assim tão simples de serem ditas
Mãos frias estas minhas
que se aquecem a cada lembrança tua
como pequenas covardias
a que me permito
sempre que respiro


são reis
13jun16    



Foto de São Reis.


terça-feira, 7 de junho de 2016

Isabel de Sousa


No fundo dos teus olhos

 Anoiteço no fundo dos teus olhos
e na noite, sub-repticiamente
instala-se a cortina do silêncio
Emolduro o teu rosto
no cansaço dos dias baços
e procuro-te na luz maior
de todas as constelações e de todas as criações
no fundo dos teus olhos
é que as palavras se entrelaçam
em dedos de ternura e afagos consentidos
É no fundo dos teus olhos
que amanhecem os dias solares
clandestinos na alma da cidade
as gaivotas
invertem o sentido do vôo
o meu desejo
anoiteço no fundo dos teus olhos
e é no fundo dos teus olhos
que amanheço.


De Isabel sousa(luadiurna)






segunda-feira, 6 de junho de 2016

Hamilton Ramos Afonso //// A alma e as mãos....






 
 
Todos os nossos gestos de afecto começam na alma ,
que nos dita a vontade de interagir
com o nosso semelhante , das diferentes formas
que os afectos revestem, seja , o amor, a amizade
ou apenas um gesto de solidariedade
por causas mais diversas...
A vontade da alma ,
transmite-se ao veículo onde tudo começa,
as nossas mãos,
que vazias se preenchem de ternura ,
carinho, vontade de ajudar,
estendendo-se para quem delas necessita
servindo de lenitivo,
alento,
refrigério para as agruras da vida
e calor solidário face a uma situação
de penúria ou de desgaste...
São estas mãos vazias
que quero encher com as tuas
para que sintas que elas te ajudarão
em horas de dificuldades, com a ternura
e o carinho que já conheces.
 
 

Hamilton Ramos Afonso 



                                                              

sábado, 4 de junho de 2016

CESÁRIO VERDE



NUM ÁLBUM

I...

És uma tentadora: o teu olhar amável
Contém perfeitamente um poço de maldade,
E o colo que te ondula, o colo inexorável
Não sabe o que é paixão, e ignora o que é bondade.
 
 

 II
Quando me julgas preso a eróticas cadeias
Radia-te na fronte o céu das alvoradas,
E quando choro então é quando garganteias
As óperas de Verdi e as árias estimadas.
 
 

 III
Mas eu hei-de afinal seguir-te a toda a parte,
E um dia quando eu for a sombra dos teus passos,
Tantos crimes terás, que eu hei-de processar-te,
E enfim hás-de morrer na forca dos meus braços.


CESÁRIO VERDE   



quinta-feira, 2 de junho de 2016

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NEM SEI

Eu não sei quem te amará, meu amor,
quando eu te deixar,
se a flor do amor secar,
se eu te deixar algum dia.
 
Nem sei se, num lapso de memória,
não amanheces, uma manhã qualquer,
sem te lembrares de mim sequer.
Nem sei se serei capaz de amar;
se tu serás capaz de amar
quando a solidão pesar
nos dias que virão.
Se ainda estarei vivo, ou não,
ou incapaz de lembrar de uma canção.
Nada sei do amanhã:
se há um barco, um navegar, um porto
um lugar onde chegar
sem me sentir absorto
e, se for possível, das tormentas do viver descansar.
 
 
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