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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Recomeça….




Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
Miguel Torga

domingo, 30 de dezembro de 2012

De : miguel Hernández




Silbo de la llaga perfecta

Miguel Hernández

Ábreme, amor, la puerta
de la llaga perfecta.
Abre, amor mío, abre
la puerta de mi sangre.
Abre, para que salgan
todas las malas ansias.
Abre, para que huyan
 las intenciones turbias.
Abre, para que sean
fuentes puras mis venas,
Mis manos cardos mondos,
pozos quietos mis ojos.
Abre, que viene el aire
de tus palabras… ¡Abre!
Abre, amor, que ya entra…
¡Ay!
Que no se salga… ¡Cierra!
Silvo de uma fenda perfeita

Abre-me, amor, a porta
a fenda perfeita.
Abre, amor meu, abre
a porta do meu sangue.
Abre, para que saíam
todas as ânsias más.
Abre para que  fujam
todas as intenções turvas.
Abre, para que sejam
fontes puras minhas veias,
Minhas mãos cardos puros,
poços quietos meus olhos.
Abre, para que venha o ar
de suas palavras ... Abre!
Abre, Amor, que já entra ...
Oh!
Que não saia ... fecha!
 
Do blog spersivo

De : José Ángel Buesa







Amor tardío

José Ángel Buesa

Tardíamente, en el jardín sombrío,
tardíamente entró una mariposa,
transfigurando en alba milagrosa
el deprimente anochecer de estío.

Y, sedienta de miel y de rocío,
tardíamente en el rosal se posa,
pues ya se deshojó la última rosa
con la primera ráfaga de frío.

Y yo, que voy andando hacia el poniente,
siento llegar maravillosamente,
como esa mariposa, una ilusión;

pero en mi otoño de melancolía,
mariposa de amor, al fin del día,
qué tarde llegas a mi corazón...

Amor tardio

Tardiamente, no jardim sombrio,
tardiamente entrou uma borboleta
transfigurando numa manhã bonita
o deprimente anoitecer de estio.

E sedenta de mel e do rocio,
tardiamente no roseiral pousa,
pois, já se despojou da última rosa
com a primeira aproximação de frio.

E eu, que vou andando até o poente,
sinto chegar maravilhosamente,
como esta borboleta, uma ilusão;
 
Do Blog spersivo
porém,  em meu outono de melancolia,
borboleta de amor, ao fim do dia,
sinto que tarde chegas ao meu coração .

sábado, 29 de dezembro de 2012

tudo nada.




Todo de todo, nada de nada

Carlos Gargallo

No me quedan ya más noches para arder
ni canto en la garganta
(ni silbido mudo siquiera).

Nada, nada.

¿Como podré decirle a mi hijo
cuanto pude haberlo querido,
como, si no llegó nunca a nacer...?

Todo aquello que amé
se fue cayendo por la borda de la vida,
toda injusticia,
amaneció en mi cama cada mañana...

Cada vez que escribo un verso para amar,
confundido
me atraganto con sus esquirlas.

!Ah!, si todo fuera tan sencillo
como dicen los poetas que escriben poemas de amor,
este mundo dejaría de llorar...

menos yo.


Tudo de tudo, nada de nada

Eu não tenho mais noites para arder
nem canto na garganta
(nem assobio mudo sequer.)

Nada, nada.

Como posso dizer ao meu filho
o quanto pude havê-lo querido,
como, ele nunca chegou a nascer ...?

Tudo aquilo que amei
foi ficando pleos caminhos da vida,
toda a injustiça,
amanheceu na minha cama cada manhã ...

Cada vez que eu escrevo uns versos para amar,
confuso
me atrapalho com as estrofes.

Ah, se tudo fosse tão simples
como dizem os poetas que escrevem poemas de amor
este mundo deixaria de chorar ...

menos eu.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

De : Sônia Schmorantz/ HOJE


  • HOJE



    Hoje sou este azul,
    sou entardecer, silêncio e magia,
    sou do mar a imensidão,
    sou da brisa a serenidade,
    sou perfume, sou pecado,
    sou vida e paixão,
    sou luz de luar beijando o mar...

    Hoje sou esta natureza,
    sou vento que desenha nuvens,
    sou a noite e seus pássaros,
    voando nas asas do vento...
    Sou mulher cheirando a flor,
    alguém a quem chamam de poeta,
    mas sei que poetisa não sou,
    sou mulher desta natureza,
    meus versos são apenas sentimentos
    que dançam nas ondas do mar...
    HOJE



Sônia Schmorantz



Hoje sou este azul,

sou entardecer, silêncio e magia,

sou do mar a imensidão,

sou da brisa a serenidade,

sou perfume, sou pecado,

sou vida e paixão,

sou luz de luar beijando o mar...



Hoje sou esta natureza,

sou vento que desenha nuvens,

sou a noite e seus pássaros,

voando nas asas do vento...

Sou mulher cheirando a flor,

alguém a quem chamam de poeta,

mas sei que poetisa não sou,

sou mulher desta  natureza,

meus versos são apenas sentimentos

que dançam nas ondas do mar...
      ·


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Tu eras também uma pequena folha


Quinta-feira, Dezembro 27, 2012

 

 



Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.


Pablo Neruda

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Elegia




Nem os dias longos me separam da tua imagem.


Auto-Retrato
.
Abro-a no espelho de um céu monótono, ou
deixo que a tarde a prolongue no tédio dos
horizontes. O perfil cinzento da montanha,
para norte, e a linha azul do mar, a sul,
dão-lhe a moldura cujo centro se esvazia
quando, ao dizer o teu nome, a realidade do
som apaga a ilusão de um rosto. Então, desejo
o silêncio para que dele possas renascer,
sombra, e dessa presença possa abstrair a
tua memória.

Nuno Júdice

De : fernando Pessoa


Tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espectáculo que posso. Assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, palco falso, cenário antigo, sonho criado entre jogos de luzes brandas e músicas invisíveis.


Fernando Pessoa
in Livro do Desassossego


Fábrica de Escrita
Foto: Tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espectáculo que posso. Assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, palco falso, cenário antigo, sonho criado entre jogos de luzes brandas e músicas invisíveis.





Fernando Pessoa 

in Livro do Desassossego



Fábrica de Escrita
  

O balanço ( positivo ) está concluido. UM BEM HAJA A TODOS PELOS SEUS COMENTARIOS.



A LeitoraA leitora abre o espaço num sopro subtil. 
Lê na violência e no espanto da brancura. 
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa. 
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco. 
Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra. 

Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento. 
Desce pelos bosques como uma menina descalça. 
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva 
em chama de água. Na imaculada superfície 
ou na espessura latejante, despe-se das formas, 

branca no ar. É um torvelinho harmonioso, 
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira 
na sede obscura de palavras verticais. 
A água move-se até ao seu princípio puro. 
O poema é um arbusto que não cessa de tremer. 

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A Razão de ser Natal (Poema de Natal)



      





Aos " seguidores " residentes e aquem me visita diariamente , desejo UM BOM NATAL E UM NOVO ANO repleto de felicidade.

MERRY CHRITMAS

HAPPY HOLIDAYS

PAÍSES :

PORTUGAL   BRASIL  UNTd States  FRANCE  PHILIPPINES  GERMANY

RUSSIA  UNTd KINGDAM   KOREA  MADEIRA  MOÇAMBIQUE , etc.

 

A noite caíra há já muito tempo,
A multidão sorria,
Festejava-se neste dia de Dezembro
Mais um Natal!
Natal de presentes
P'ra toda a criança
Mas, como tantos outros,
Um natal de mentira!


Estava frio,
A lua era redonda
Como que para iluminar,
A festa que ia já terminar
Sem nada de novo,
Sem mesmo se falar
Que chegara o Redentor!


Alguém dissera:
"Jesus nasceu"
Mas isso era apenas
Mais um motivo para brincar,
Ninguém ousou exclamar,
Ninguém ouviu dizer:
- Ele veio para AMAR!


A razão da alegria foi esquecida:
Deus enviou–O
Para salvar o mundo!
Jesus um dia nasceu,
Para eu hoje te falar
Que ele te pode salvar,
E não será em vão
Mais uma festa de NATAL!

De: Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'


Inocência  
The Sun by the Atmospheric Imaging Assembly of NASA's Solar Dynamics Observatory - 20100819.jpg
Vou aqui como um anjo, e carregado 
De crimes! 
Com asas de poeta voa-se no céu... 
De tudo me redimes, 
Penitência 
De ser artista! 
Nada sei, 
Nada valho, 
Nada faço, 
E abre-se em mim a força deste abraço 
Que abarca o mundo! 

Tudo amo, admiro e compreendo. 
Sou como um sol fecundo 
Que adoça e doira, tendo 
Calor apenas. 
Puro, 
Divino 
E humano como os outros meus irmãos, 
Caminho nesta ingénua confiança 
De criança 
Que faz milagres a bater as mãos. 


Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

De. Miguel Torga

Ícaro



Minhas asas humanas de
poeta!
Derreteu-as o sol da lucidez.
Cego, abria-as ao vento
Da inspiração
E voava.


Mas pouco a pouco,
Como quem desperta,
Dei conta da cegueira.
E fui perdendo altura.

Agora canto apenas
Ao rés-do-chão da vida,
A olhar o descampado
Do céu azul
Aberto à graça doutras emoções.

E o canto é triste assim desiludido.
Falta-lhe a perspectiva e o sentido
Que tinha quando eu tinha as ilusões.

Traindo ( e muito) a Catulo






CARMEN CVII
 
Catulo
Si cui quid cupido optantique obtigit unquam
insperanti, hoc est gratum animo proprie.
quare hoc est gratum nobis quoque, carius auro,
quod te restituis, Lesbia, mi cupido:
restituis cupido atque insperanti, ipsa refers te
nobis. o lucem candidiore nota!
quis me uno vivit felicior, aut magis hac res
optandas vita dicere quis poterit?
Carmen CVII

Se de repente  acontece o que sempre anseiamos  e queremos
isto nos será intimamente agradável para a alma.
De fato, isto é melhor e mais desejável que o ouro para mim
porque  tu voltastes  a mim, Lesbia,
minha querida, voltastes a mim, esperada inesperada
A luz do dia mais branca se nota!
Quem será mais feliz do que sou,
o que mais posso desejar na vida?


Do blog : by spersivo

Mariza - Promete, Jura




PROMETE JURA....


Estás a pensar em mim, promete, jura
Se sentes como eu o vento a soluçar
As verdades mais certas mais impuras
Que as nossas bocas têm p'ra contar
Se sentes lá fora a chuva estremecida
Como o desenlaçar duma aventura
Que pode ou não ficar por toda a vida
Diz que sentes como eu, promete, jura
Se sentes este fogo que te queima
Se sentes o meu corpo em tempestade
Luta por mim amor, arrisca, teima
Abraça este desejo que me invade
Se sentes meu amor, o que eu não disse
Além de tudo o mais do que disseste
É que não houve verso que eu sentisse
Aquilo que eu te dei e tu me deste





segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

.De. Ramón López Valverde





Alma en pena

Ramón López Velarde

A fuerza de quererte
me he convertido, amor, en alma en pena.

¿Por qué, Fuensanta mía,
si mi pasión de ayer está ya muerta
y en tu rostro se anuncian los estragos
de la vejez temida que se acerca,
tu boca es una invitación al beso
como lo fue en lejanas primaveras?

Es que mi desencanto nada puede
contra mi condición de ánima en pena
si a pesar de tus párpados exangües
y las blancuras de tu faz anémica,
aun se tiñen tus labios
con el color sangriento de las fresas.

A fuerza de quererte
me he convertido, amor, en alma en pena,
y con el candor angélico de tu alma
seré una sombra eterna.

Alma penada

À força de te querer
me hei convertido, amor, em alma penada.

Por que, santa fonte minha,
se a minha paixão de ontem já está morta
e em teu rosto se anunciam os estragos
da velhice temida que se acerca,
tua boca é um convite ao beijo
como o foi em distantes primaveras?

Eis que meu desencanto nada pode
contra a minha condição de ânimo em pena
Se, apesar de
tuas pálpebras exangues
e a brancura de tua tez anêmica,
ainda se tingem teus lábios
com a cor sangrenta dos morangos.

À força de te querer
me hei convertido, amor, em alma penada,
e com a candura angelical de tua alma
serei uma sombra eterna.
 
Do blog : By Spersivo




domingo, 16 de dezembro de 2012

A Forma Justa

As cidades poderiam ser claras e lavadas 
Pelo canto dos espaços e das fontes 
O céu o mar e a terra estão prontos 
A saciar a nossa fome do terrestre 
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia 
Cada dia a cada um a liberdade e o reino 
— Na concha na flor no homem e no fruto 
Se nada adoecer a própria forma é justa 
E no todo se integra como palavra em verso 
Sei que seria possível construir a forma justa 
De uma cidade humana que fosse 
Fiel à perfeição do universo 

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco 
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo 


Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas 

sábado, 15 de dezembro de 2012

O amor é o amor....

Poema
Alexandre O'Neill Alexandre O'Neill Portugal 1924 // 1986 Poeta
O Amor é o Amor O amor é o amor — e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor
e trocamos — somos um? somos dois?
espírito e calor!

O amor é o amor — e depois?

Alexandre O'Neill, in 'Abandono Vigiado
'
51


Há palavras que nos beijam...

Há palavras que nos beijam
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado) 

11 Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

De: Alexandre O´neill



sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

São as pessoas como tu....

São as Pessoas como Tu São as pessoas como tu que fazem com que o nada queira dizer-nos algo, as coisas vulgares se tornem coisas importantes e as preocupações maiores sejam de facto mais pequenas. São as pessoas como tu que dão outra dimensão aos dias, transformando a chuva em delirante orvalho e fazendo do inverno uma estação de rosas rubras.
As pessoas como tu possuem não uma, mas todas as vidas. Pessoas que amam e se entregam porque amar é também partilhar as mãos e o corpo. Pessoas que nos escutam e nos beijam e sabem transformar o cansaço numa esperança aliciante, tocando-nos o rosto com dedos de água pura, soltando-nos os cabelos com a leveza do pássaro ou a firmeza da flecha. São as pessoas como tu que nos respiram e nos fazem inspirar com elas o azul que há no dorso das manhãs, e nos estendem os braços e nos apertam até sentirmos o coração transformar o peito numa música infinita. São as pessoas como tu que não nos pedem nada mas têm sempre tudo para dar, e que fazem de nós nem ícaros nem prisioneiros, mas homens e mulheres com a estatura da vida, capazes da beleza e da justiça, do sofrimento e do amor. São as pessoas como tu que, interrogando-nos, se interrogam, e encontram a resposta p
ara todas as perguntas nos nossos olhos e no nosso coração. As pessoas que por toda a parte deixam uma flor para que ela possa levar beleza e ternura a outras mãos. Essas pessoas que estão sempre ao nosso lado para nos ensinar em todos os momentos, ou em qualquer momento, a não sentir o medo, a reparar num gesto, a escutar um violino. São as pessoas como tu que ajudam a transformar o mundo.

hold me...don't let me go! Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'







 

Não canto porque sonho

 

 



Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
O teu sorriso puro,
A tua graça animal.
Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria 
somente um bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinha.
Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
Por vê-los nus e suados.


Eugénio de Andrade

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

ESTE NATAL VAI SER DIFERENTE....

ESTE NATAL NÃO VAI SER DIFERENTE

 Mesmo sem ter imagens violentas
 Do Líbano, do Sudão, seja onde for
 Este Natal não vai ser diferente
 - Neste Natal continua a dor

 Mesmo que as montras tenham tanto luxo
 E a estatística nos diga o que se come
 Este Natal não vai ser diferente
 - Neste Natal continua a fome


 Mesmo que se façam mil discursos
 E a gente mais anime quem é triste
 Este Natal não vai ser diferente
 - Neste Natal a solidão existe


 E mesmo que os pobres, hoje, tenham ceia
 E a guerra pare um pouco neste dia
 Este Natal não vai ser diferente
 - Este Natal será uma utopia


 Mas mesmo que a verdade seja isto
 E continue a fome, a dor e a violência
 Há-de nascer de novo, um novo Cristo
 Que nos acorde, de vez, a consciência




 Fernando Campos de Castro
ESTE NATAL NÃO VAI SER DIFERENTE

Mesmo sem ter imagens violentas
Do Líbano, do Sudão, seja onde for
Este Natal não vai ser diferente
- Neste Natal continua a dor
Mesmo que as montras tenham tanto luxo
E a estatística nos diga o que se come
Este Natal não vai ser diferente
- Neste Natal continua a fome


Mesmo que se façam mil discursos
E a gente mais anime quem é triste
Este Natal não vai ser diferente
- Neste Natal a solidão existe


E mesmo que os pobres, hoje, tenham ceia
E a guerra pare um pouco neste dia
Este Natal não vai ser diferente
- Este Natal será uma utopia


Mas mesmo que a verdade seja isto
E continue a fome, a dor e a violência
Há-de nascer de novo, um novo Cristo
Que nos acorde, de vez, a consciência




Fernando Campos de Castro

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A Festa do Silêncio / António Ramos Rosa



Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.

POEMA OCTOGÉSIMO QUARTO



A manhã rompe-se com o canto dos pássaros e as flores
amarelas pedem justiça ao vento, que saiu de casa feliz,
para incendiar nos pensamentos a intimidade do dia. Ga-
nham entusiasmo as minhas mãos, os olhos dizem-me
que hoje a felicidade é po
ssível, que é de vida que se ali-
menta a fogueira do amor.

E eu caminho com a sabedoria das coisas que escolheram

apaixonar-se pelo mar, essas coisas simples que procu-
ram tornar ainda mais simples cada minuto, cada gesto,
cada beijo.
Amo as coisas simples porque a sua simplicidade é a de
carregar o mundo, grávidas que estão da sua nudez, sa-
bendo que a morte não é mais que uma palavra e o amor
são todas as palavras, as doces e temíveis palavras que
vestem a vida de brocados e de sedas tão macias, tão ra-
ras, tão intensas como a simples e profunda memória do
cheiro e do sabor que só tem a pele de uma mulher.


JOAQUIM PESSOA, in GUARDAR O FOGO (A publicar)

Variacion de : Alex Pausides




VARIACIÓN                                                                   

Alex Pausides

Cómo olvidar entonces esa luz
que alguien ha prendido en nuestros ojos
y nos echarnos el viento en brazos
y apagar su sed terrible
Ahora mismo iría a buscarte bella Eurídice
y nos alzaría los ojos hasta que no se abrieran
los astros en tu rostro
lejos de la niebla
muy lejos del humo y del abismo
Variação

Como esquecer, então, esta luz
que alguém prendeu em nossos olhos
e nos jogou o vento nos braços
para saciar sua sede terrível
Agora mesmo iria te buscar bela Eurídice
e levantaríamos os olhos até que não se abririam
as estrelas no teu rosto
longe da névoa
muito longe da fumaça e do abismo

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Amei demais....




Madruguei demais. Fumei demais. Foram demais 
todas as coisas que na vida eu emprenhei. 
Vejo-as agora grávidas. Redondas. Coisas tais, 
como as tais coisas nas quais nunca pensei. 

Demais foram as sombras. Mais e mais. 
Cada vez mais ardentes as sombras que tirei 
do imenso mar de sol, sem praia ou cais, 
de onde parti sem saber por que embarquei. 

Amei demais. Sempre demais. E o que dei 
está espalhado pelos sítios onde vais 
e pelos anos longos, longos, que passei 

à procura de ti. De mim. De ninguém mais. 
E os milhares de versos que rasguei 
antes de ti, eram perfeitos. Mas banais. 


Joaquim Pessoa

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O Teu Riso....

  
 
                                                                 
Tira-me o pão, se quiseres, 
tira-me o ar, mas  
não me tires o teu riso.  
This is Halloween!!


Não me tires a rosa, 
a flor de espiga que desfias, 
a água que de súbito 
jorra na tua alegria, 
a repentina onda 
de prata que em ti nasce. 

A minha luta é dura e regresso 
por vezes com os olhos 
cansados de terem visto 
a terra que não muda, 
mas quando o teu riso entra 
sobe ao céu à minha procura 
e abre-me todas 
as portas da vida. 

Meu amor, na hora 
mais obscura desfia 
o teu riso, e se de súbito 
vires que o meu sangue mancha 
as pedras da rua, 
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos 
como uma espada fresca. 

Perto do mar no outono, 
o teu riso deve erguer 
a sua cascata de espuma, 
e na primavera, amor, 
quero o teu riso como 
a flor que eu esperava, 
a flor azul, a rosa 
da minha pátria sonora. 

Ri-te da noite, 
do dia, da lua, 
ri-te das ruas 
curvas da ilha, 
ri-te deste rapaz 
desajeitado que te ama, 
mas quando abro 
os olhos e os fecho, 
quando os meus passos se forem, 
quando os meus passos voltarem, 
nega-me o pão, o ar, 
a luz, a primavera, 
mas o teu riso nunca 
porque sem ele morreria. 


Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda