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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009


Estranha forma de vida



Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade
Que todos os ais são meus
Que é toda minha a saudade
Foi por vontade de Deus

Que estranha forma de vida
Tem este meu coração
Vive de vida perdida
Quem lhe daria o condão
Que estranha forma de vida

Coração independente
Coração que não comando
Vives perdido entre a gente
Teimosamente sangrando
Coração independente

Eu não te acompanho mais
Pára deixa de bater
Se não sabes onde vais
Porque teimas em correr
Eu não te acompanho mais

Amália Rodrigues

Foto:Elena & Vitaly Vasilieva

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

SEM FILOSOFIA



Eu não consigo ler mentes
Longe estou de ser vidente,
Ou mesmo de ler a mão,
Mas, por encanto, por intuição,
Sei do que você precisa
E é meu coração que avisa
Que tudo pode ser tão fácil...
Por que dificultar e se iludir?
A questão é apenas táctil:
Deixe o desejo fluir,
Feche os olhos lentamente
E só sente, sente, sente...
Sem pensar em questionar
Razões para o porquê de amar.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O impossível carinho



Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero contar-te apenas a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Manuel Bandeira

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

PERCETO II



(Talvez Obsessões Prazeirosas fosse um bom título)

PERCETO II

Sempre estive, estou errado,
Porém, ser certo é monótono.

Troco o tônico e átono,
As pernas e os bares sem pena.

A pena que me deram, ser poeta,
Me pesa nas pálpebras cansadas.

A minha amada trata o sexo
Como supérfluo e o essencial

Seria tê-la, três vezes ao dia,
Como me receitou o doutor

Que sabe da fraqueza imensa
Do meu pobre e velho coração.

Faz assim não! Faz! A poesia,
Como o sexo, não me dá nenhuma paz!

(Do livro A Alquimia da Vida, Editora Castanheira/Printer Laser, 1999).

um ex-libres...

para abanar o capacete....srsrsrs

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

nem sempre poemas.....

Dádiva



Não me peçam palavras melífluas
quando apenas a sonora gargalhada
me irrompe do peito como pedra lascada
nem sorrisinhos de catálogo de moda
quando o mijar numa esquina da cidade
é um acto poético e cheira a vida
não me peçam gestos simétricos e convencionais
quando um cosmopolítico manguito
abarca toda a náusea
de Bordalo a Pasolini
Não me peçam nunca aquilo que vós quereis
porque eu dou apenas aquilo que possuo
e que é esta raiva enorme de cuspir
esta feroz vontade de gritar
e o sexo amplo enorme e predisposto
a fertilizar o amor em todas as esquinas
peçam-me a mim
nada mais
e dar-vos-ei tudo o que possuo
o suor o sangue o sexo
EU
e comigo dar-vos-ei o homem primitivo
o que recusa a civilização do marketing
o que caga nas gravatas dos public-relations
mas que aposta no futuro único do
CRESCEI E MULTIPLICAI-VOS
Sim peçam-me a mim
Tomai e comei

ESTE É O MEU CORPO

Fernando Peixoto

Foto:Solatges Irina

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PEDRO MIR



POUR TOI

Pedro Mir

Estoy de ti florecido
como los tiestos de rosas,
estoy de ti floreciendo
de tus cosas...
Menudo limo de amores
abona mis noches tuyas
y me florecen de sueños
como los cielos de luna...
Como tú mido los pasos
y la distancia es más corta,
hablo en tu idioma de amor
y me comprenden las rosas...
Es que ya estoy florecido.
Es que ya estoy floreciendo
de tus cosas.

Por ti

Estou de ti florescido
Como os bouquês de rosas,
Estou de ti florescendo
De tuas coisas...
Pequeno limo de amores
Abona minhas noites tuas
E me florescem de sonhos
Como os céus de lua...
Como tu meço os passos
E a distância é mais curta
Falo em idioma de amor
E me compreendes em rosas...
É que já estou florescido.
É que já estou florescendo
De tuas coisas.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Destruição



Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.

Carlos Drummond de Andrade

Foto:Paul Bolk

ESTRANHAR É PRECISO



Estranha Poesia

Num certo momento tudo é estranho.
Estranhos são teus filhos.
Estranha tua mulher.
Tua amante, uma estranha.

Tudo estranho como estranho
É o estranho olhar
No estranho rosto
No espelho estranho
Que estranhamente custo a identificar
Como meu.

Estranho como tudo se perdeu
No estranhamento.

Há um breve momento
De reconhecimento na memória
De um passado estranho:
O da minha estranha vida.
E mais estranho por tudo me ser tão familiar
Como se até mesmo o estranhar
Fosse comum.

E, por estranho que pareça,
Não posso continuar:
Até as palavras
Começam a me parecer estranhas.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Esquecer



Longos dias de sonho e de repouso...
Ócio e doçura... Sinto, nestes dias,
Meu corpo amolecer, voluptuoso,
Num desfalecimento de energias.

A ler o meu poeta doloroso
E a fumar, passo as horas fugidias.
Entre um cigarro e um verso vaporoso
Sou todo evocações e nostalgias.

Quando por tudo a claridade morre
E sobre as folhas do jardim doente
A tinta branca do luar escorre,

A minha alma, a mercê de velhas mágoas,
É um pássaro ferido mortalmente
Que vai sendo arrastado pelas águas.

Ribeiro Couto

Foto:Jose A Gallego

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Poemas para a amiga (Fragmento 5)



Tanto mais eu te contemplo
tanto mais eu me absorvo
e me extasio

Como te explicar
o que em teu corpo eu sinto,
o que em teus olhos vejo,
quando nua nos meus braços
no meus olhos nua,
de novo eu te procuro
e no teu corpo vou-me achar?

Como te explicar
se em teu corpo eu me eternizo
e de onde e como
sendo eu pequeno e frágil
pelo amor me dualizo?

Tanto mais eu te possuo
tanto mais te tornas bela,
tanto mais me torno eu puro.

E à força de tanto contemplar-te
e de querer-te tanto,
já pressinto que em mim mesmo
eu não me tenho,
mas de meu ser, ora vazio,
pouco a pouco fui mudando
para o teu ser de graça cheio.

Affonso Romano de Sant'Anna

Foto:Joris Van Dael