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sábado, 30 de junho de 2018









Vida... I



Ouve a voz do teu coração
e sente o crescimento da semente
de ternura e carinho que nele depositei...

Deixa que ela germine , e dê lugar
a uma bela planta que floresça em flor
que nos inebrie, na sua luxuriante cor
e no perfume, intenso, do amor...

Então é tempo de terminares o caminho
e ficares , porque eu entretanto
vou preparando a vida...

HAMILTON RAMOS AFONSO

Arte: Sergey Ignatenko

Foto de Antonio Maria.

Nuno Júdice





De Stock: Raia do homem


































Como as rosas selvagens, que nascem 
em qualquer canto 
O seu campo  
é infinito: alma e corpo. E, para além deles,  
o mundo das sensações, onde entra sem 
bater à porta, como é a porta de exceção sempre que 
quiser entrar.

Tu, que me ensina o que é 
amor, que as flores selvagens: a sua 
púrpura brilha no teu rosto. O perfume  
corresponde ao peito, derrama-se no estuário 
do ventre, sobe até os cabelos que se soltam 
por entre a brisa dos murmúrios. Roubo aos teus  
lábios como suas pétalas.  E as rosas não murcham, com  o tempo, é porque o amor como alimento.

 Nuno Júdice



quinta-feira, 28 de junho de 2018

António Ramos Rosa
















Amanheceu a minha vida no teu rosto
de uma doçura intensa e tão suave
como se um divino fundo nele brilhasse
Eu era o que nascia soberanamente leve
e encontrava na limpidez o centro do equilíbrio
Só em ti cheguei amanhecendo 
na minha madurez Entrei no templo 
em que a luz latente era a secreta sombra 
Foste sonhada por meus olhos e minha mãos 
por minha pele e por meu sangue
Se o dia tem este fulgor inteiro é porque existes 
E é porque existes que se levanta o mundo 
em quotidianos prodígios 
em que ao fundo brilha o horizonte certo


António Ramos Rosa

Isabel de Sousa ( luadiurna )








Lua ancestral

Vestes a noite
com a tua claridade nua
ritos ancestrais de brumas e feitiços
vagueias em mim
desde mais atrás de Avalon
e a noite é tua
percorres os sentidos
perpetuas os desejos
em lagos oníricos onde se perturba a razão
mágica é a tua presença
oh lua encantada
e eu percorro o deserto
das reticências do sentir
à procura de ti de mim
e do significado do mistério
habitas a noite
imaginas os sonhos
és lua noturna
e no teu olhar
acodes às manhãs
onde o dia se anuncia
afago-te a mão da aurora
e chamo-te a mim
envolvo-te num sorriso aberto
e sinto-te
noturna e diurna
neste eterno retorno
que me sabe a ti

Isabel de Sousa ( luadiurna )  
Foto de Antonio Maria.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Nala Marques.






DEPOIS DE TI
Dentro de mim guardo de ti
Réstias de sol,brilho de estrelas,
Pedaços de lua,
Um imenso mar, finas areias
E duas sombras, a minha e a tua.
Fora de mim
Guardo teus abraços, teus beijos,
E flutuando as tuas mãos, o teu olhar
Carregado de desejos.
Depois de ti,
Depois de mim,
Nada ficou para guardar meu amor,
A não ser,
A solidão no coração
E esta dor...

Nala Marques.  

Foto de Antonio Maria.

terça-feira, 26 de junho de 2018

De ; maria olinda maia ( M.O.M )






EM sonho...
Em sonho 
vi alegria doce
sonhei contigo...

Em sonho
não hà antes nem depois
porque já existe amor.

Sonhar contigo
é como o sol agradável
para mim.

E lá estavas tu...
Com um sorriso no rosto.
Eu me aproximava ainda mais de ti
e procurava a tua mão,
era tudo uma doçura
e o teu beijo parecia acordado,
em sonho como é na vida.

Abri os olhos
e o sonho estava vivo.

M.O.M   
Foto de Maria Olinda Maia.

Ricardo- águialivre








Procuro-te nas estações do ano.



Há quantas Primaveras te procuro neste mundo
Pelas ruelas, dias e noites, de infinita escuridão
Fazendo de ti o devaneio mais forte e profundo
Sentindo o bater do teu, junto ao meu coração
.
Há quantos Verões vagueio pelas sombras vadias
Sem te encontrar, sem te ver, sem sequer te ouvir
Não sei contar os passos, as noites, tantos dias
Que cansado, descanso na beleza do teu sorrir
.
Há quantos Invernos me visto de fino sentimento
Sentindo como a torna me leva a sítios distantes
Viajo através do imaginário do meu pensamento
A fim de te amar como já te amei, por instantes
.
Há quantos Outonos te procuro pelas noites frias
Como se nessa viagem não houvesse outras vidas
Um amor onde os olhares são noites tão vazias
Dentro das nossas existências já tão esquecidas

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Eugénio de Andrade






Photo: Man Ray
Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha. 



Eugénio de Andrade

domingo, 24 de junho de 2018

Manuel António Pina

Regresso

Regresso devagar ao teu 
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que 
não é nada comigo. Distraído percorro 
o caminho familiar da saudade, 
pequeninas coisas me prendem, 
uma tarde num café, um livro. Devagar 
te amo e às vezes depressa, 
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo, 
regresso devagar a tua casa, 
compro um livro, entro no 
amor como em casa.

Manuel António Pina   

Foto de Antonio Maria.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

João marinheiro, inéditos 2013






alfazema...

 
 
Alfazema o cheiro lembras...
depois os olhos a dizerem tanto
os sentidos
o coração desalvorado
o toque dos lábios na pele, tempestades eletrizantes a caírem sobre nós
tu
eu
os dois, um único ser entrelaçado
a tua respiração ofegante
o ar no meu peito a não ser o preciso, a sufocar

o coração desalvorado, o peito pequeno para tanto sentir.

Eu a sentir-te
tu a sentir-me
a pele
a tua língua tímida a descobrir-me
eu a deixar que me desnudes a alma
eu a querer-te

tu a querer-me

desejo

os dois desejo

amor

é isso

ainda não te disse hoje

amo-te.

João marinheiro, inéditos 2013
fotografia de  Koert Michiels

Poema de José Luís Peixoto








Olhos fechados

Fecho os olhos. vejo luzes de cidades distantes. a noite
distante. vejo o brilho de um sonho tão impossível.
a escuridão é absoluta. a escuridão é infinita.
todos os cegos sabem que a escuridão é a morte.
fecho os olhos. vejo aquilo que se vê com os
olhos fechados.
a tua ausência é, em cada momento, a tua ausência
a tua ausência é, em cada momento, a tua ausência.
não esqueço que os teus lábios existem longe de mim.
aqui há casas vazias. há cidades desertas. há lugares.
mas eu lembro que o tempo é outra coisa, e tenho
tanta pena de perder um instante dos teus cabelos.
aqui não há palavras. há a tua ausência. há o medo sem os
teus lábios, sem os teus cabelos. fecho os olhos para te ver
e para não chorar.


Poema de José Luís Peixoto    

Foto de Antonio Maria.

terça-feira, 19 de junho de 2018








Deixas-me assim ...
Mais uma vez ...
De semblante carregado ...
Sem saber o que virá ...
Dentro de mim uma Tempestade,
Uma Luta,
Mais uma vez ...
Não sou o que queres ...
Mas aqui estamos ...
Não me amas ...
Mas fazes-te sentir ...
Desejas-me às vezes,
Sentes falta às vezes ...
E aqui fico 
Tempestade incompleta,
Há espera de um sinal teu ...
Preciso que acalmes este Furacão em mim
Que me faças sentir Importante,
Não pela Força que tenho ...
Mas pela Fraqueza que não domino ...
Deixas-me assim,
Mais uma vez ...
Tu ...

CC    
Foto de Para Ti apenas.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Nuno Júdice








geometrias...
Entre o teu corpo e a paisagem vejo abrir-se 
a distância que me leva de mim a ti. E se 
entre mim e ti outra distância não houvesse, 
limito-me a contar os passos que dou para 
que a conta não acabe. Tu, porém, olhas-me 
neste fundo de tabuada, e deixas que o teu 
braço seja a régua onde a distância se mede 
pelo abraço que falta. Então, acerto a conta 
pelo triângulo que o outro braço forma, 
quando seguras a cabeça, e fecho nesse ângulo 
a soma dos corpos que totalizam o amor.

Nuno Júdice     
Foto de Antonio Maria.


HELENA GUIMARÃES






POEMA

A alma a esvoaçar
o espaço,
dedos a definir
imaginários
contornos,...
o pensamento
submerso,
o sol aquietando-me
o peito,
neste sentir sem jeito,
sem razão,
num universo de sonho
a fluir na quietude
da tarde.
Sorvo o deleite
que invento,
embriago-me
no sentimento
para esquecer
o medo,
a angústia
da dúvida
que na razão
desperta
a cada
momento.

Helena Guimaraes
Janeiro 2003
FOTO DA POETISA     

Foto de Antonio Maria.

sábado, 16 de junho de 2018

Paul Éluard






















Falo-te através das cidades
Falo-te através das planícies
A minha boca repousa na tua almofada
Os dois lados da parede opôem-se
À minha voz que te reconhece
Falo-te de eternidade

Ó cidades lembranças de cidades
Cidades envoltas nos nossos desejos
Cidades precoces e tardias
Cidades fortificadas cidades íntimas
Despojadas de todos os seus pedreiros
Dos seus pensadores dos seus fantasmas

Campo modelo de esmeralda
Viva vivaz sobrevivente
O trigo do céu sobre a nossa terra
Alimenta a minha voz eu sonho eu choro
Rio e sonho entre as chamas
No meio dos cachos de sol

Sobre o meu corpo o teu corpo estende
A toalha do seu espelho transparente.



Paul Éluard

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Autor desconhecido






Amor, hoje teu nome
a meus lábios escapou
como ao pé o último degrau...

Espalhou-se a água da vida
e toda a longa escada
é para recomeçar.

Desbaratei-te, amor, com palavras.
Escuro mel que cheiras
nos diáfanos vasos
sob mil e seicentos anos de lava --
Hei-de reconhecer-te pelo imortal
silêncio.

Foto de Antonio Maria.

Cidália Ferreira








Deambulando num só sentido

Foto de Cidália Ferreira. 
Deambulando pelo meu universo
Sozinha, num redopio contagiante
Envolta de pensamentos, saudade
Sentindo uma brisa marinha
No meu expressivo semblante
E num sentimento angustiante
Solto o meu grito, em liberdade,
Procuro no meu eu, o sentido perverso
E deixo-me levar pelo vento
Até onde eu puder chegar
Sem nunca desistir de te amar
*
Nos passadiços que a vida me oferece
Onde deixo meu rasto,
Sinto uma solidão em volta
A praia deserta, o sol escondido
As ondas amenas, o cheio do mar
Nada te traz ao meu mundo,
Deambulando num só sentido
Sinto as areias à solta
Uma brisa forte, pensamento profundo
Algo de mim que se quer soltar
E na orla do teu coração, poder ficar.
***
Cidália Ferreira.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Nuno Júdice
































Podia ser aí. Contigo. Com o teu corpo
ainda nu, ou vestido da luz que entra pelas
persianas velhas, trazendo a tremura
das folhas na trepadeira do quintal.

Podia ser de manhã, ou de madrugada,
sabendo que teria de te abraçar para que não
desses pelo frio, com o quarto ainda
húmido da noite, num fim de outono.

Podia não ter sido nunca, se não fossem
assim as coisas: a tua mão ao encontro da
minha, no tampo da mesa, como se fosse
aí que tudo se jogasse, entre duas mãos.


Nuno Júdice

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Laura Ponce












Vivimos en el borde de las cosas
buscando vanamente no tocar el dolor.
Creemos que los bordes son una suerte
de corredor / esa distancia que nos pone a salvo.
Lo cierto es que en los bordes reside la tiranía de las cosas;
ellas ejercen allí y sólo desde allí
su pequeño y mortífero poder:
obligarnos a seguir su forma.
Corro a la par de la sombra de un pájaro que vuela:
no soy pájaro, no soy sombra/ apenas
me sujeto a la plumosa decisión de un ala,
al vaivén azaroso de la luz.
¡Si yo pudiera entrar en el temido corazón de la cosas!



Laura Ponce