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quinta-feira, 30 de março de 2017

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Marta Vinhais








NOITE




Hoje…
Não me peçam palavras
Pois não as saberei dizer...

...

Hoje…
Pode o Vento suplicar, seduzir,
Ou até mesmo ameaçar
Que não o vou escutar…


Hoje…
Declaro a Noite minha
E só quero silêncio...



Marta Vinhais   

Foto de Antonio Maria.

O caminho e a flor. António Ramalho



LINDÍSSIMO......



O caminho e a flor.

Era uma vez um caminho.....que não caminhava...
Era uma vez um caminho, que se cruzava com muitos outros caminhos......
Um caminho ....que cruzava pontes, navegava mares, corria montes, serras e vales.......
Era um vez um caminho.... que sabia voar, envolver-se no azul do céu.....e contemplar a vida...
Muito caminhava, sem caminhar.....muito chegava, sem chegar...e acabando sempre no deserto......
Um dia...encontrou uma flor no caminho.....que exalava um perfume de encantamento....
Sem saber, o perfume levou-o para caminhos desconhecidos, sensações inebriantes....que o levavam para lá da imaginação....
O perfume fez correr a água no deserto....
O perfume fez nascer a vida no olhar....
- Onde me leva este perfume, linda Flor? - perguntou o caminho
- Leva-te ao caminho do coração...........-respondeu a Flor
O caminho absorveu o perfume.......envolveu a Flor.....e correram no calor das sensações…
O Sol acordou...... A lua brilhou.......As árvores cantaram uma canção.......e juntos chegaram ao coração........
Criaram a meta e descobriram a beleza da partilha....Juntos descobriram a vida...
Para lá do coração, estará sempre um caminho e uma flor.......



António Ramalho   

Foto de Fatima Pereira.

quarta-feira, 29 de março de 2017

Joaquim Pessoa







São as Pessoas como Tu

São as pessoas como tu que fazem com que o nada queira dizer-nos algo, as coisas vulgares se tornem coisas importantes e as preocupações maiores sejam de facto mais pequenas. São as pessoas como tu que dão outra dimensão aos dias, transformando a chuva em delirante orvalho e fazendo do inverno uma estação de rosas rubras. 
As pessoas como tu possuem não uma, mas todas as vidas. Pessoas que amam e se entregam porque amar é também partilhar as mãos e o co...rpo. Pessoas que nos escutam e nos beijam e sabem transformar o cansaço numa esperança aliciante, tocando-nos o rosto com dedos de água pura, soltando-nos os cabelos com a leveza do pássaro ou a firmeza da flecha. São as pessoas como tu que nos respiram e nos fazem inspirar com elas o azul que há no dorso das manhãs, e nos estendem os braços e nos apertam até sentirmos o coração transformar o peito numa música infinita. São as pessoas como tu que não nos pedem nada mas têm sempre tudo para dar, e que fazem de nós nem ícaros nem prisioneiros, mas homens e mulheres com a estatura da vida, capazes da beleza e da justiça, do sofrimento e do amor. São as pessoas como tu que, interrogando-nos, se interrogam, e encontram a resposta para todas as perguntas nos nossos olhos e no nosso coração. As pessoas que por toda a parte deixam uma flor para que ela possa levar beleza e ternura a outras mãos. Essas pessoas que estão sempre ao nosso lado para nos ensinar em todos os momentos, ou em qualquer momento, a não sentir o medo, a reparar num gesto, a escutar um violino. São as pessoas como tu que ajudam a transformar o mundo.




Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

Foto de Fatima Pereira.

ALEXANDRE O'NEILL //// O amor é o amor









O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?



ALEXANDRE O'NEILL

in ABANDONO VIGIADO (1960), in POESIAS COMPLETAS 1951/1986 (INCM, 3ª ed. , 1995)


Foto de Antonio Maria.

terça-feira, 28 de março de 2017

Deixe a menina / Chico Buarque e Mart`nália





Mart’nália é uma combinação explosiva de duas pessoas. Martinho da Vila e Anália Mendonça. Nunca ouvi a sua mãe cantar, mas pelos vistos a alquimia responsável pelo nascimento deste ser especial, misturou de forma perfeita o que havia de melhor para misturar. Excepção feita ao nome... mas isso sou eu, que não tenho o gosto brasileiro para criar nomes originais.
Mart’nália canta, compõe, toca “violão” e é exímia percussionista, sendo que esta última “habilidade” já a fez correr mundo, integrando as bandas de grandes músicos, antes de se ter aventurado como cantora.
Hoje e aqui, podemos vê-la como convidada do Chico Buarque, num espectáculo ao vivo, fazendo um dueto numa mistura de duas velhas canções dele, “Sem compromisso” e “Deixe a menina”.
O contributo dela, que deixa o Chico tão feliz quanto desconcertado... é algo como se alguém encontrando uma fogueira, resolvesse juntar-lhe gasolina, tal é o balanço, o gozo, a irreverência, a provocação irresistível e a recriação irremediável das canções que, como uma avalanche, arrastam a habitual pacatez dele para parte incerta.
Mart’nália é uma força da Natureza que merece ser muito mais conhecida.

“Sem compromisso” e “Deixe a menina” – Chico Buarque e Mart’nália
(Francisco Buarque de Holanda)   





A Mart'nália e tão alegre só de ela chegar parece que a alegria vem junto ... amei a música.






Antonio Ramos Rosa









(Não posso adiar o amor para outro século)


Não posso adiar o amor para outro século
Não posso
...
Ainda que o grito sufoque na garganta
Ainda que o ódio estale e crepite e arda
Sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
Que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indensa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração


António Ramos Rosa.   

(  Foto do autor )

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Salvador Novo







"AMOR"
...
Salvador Novo

Amar es este timido silencio
cerca de ti, sin que lo sepas
y recordar tu voz cuando te marchas
y sentir el calor de tu saludo.
Amar es aguardarte
como si fueras parte del ocaso,
ni antes, ni despues, para que estemos solos
entre los juegos y los cuentos
sobre la tierra seca.
Amar es percibir, cuando te ausentas,
tu perfume en el aire que respiro,
y contemplar la estrella en que te alejas
cuando cierro la puerta de la noche



Salvador Novo    





segunda-feira, 27 de março de 2017

Hamilton Ramos Afonso








Convite
Vem respirar-me -te num beijo
que nos tire o fôlego
pondo-nos a respirar
pela pele um do outro
com a mistura de cheiros
a ser o combustível
que as transforme em fluidos
e aromas do nosso amor...
Vem respirar-me-te
sem pudor



Hamilton Ramos Afonso   


Foto de Antonio Maria.

domingo, 26 de março de 2017

Almada Negreiros









Aconteceu - me.....


Eu vinha de comprar fósforos
e uns olhos de mulher feita...
olhos de menos idade que a sua
não deixavam acender-me o cigarro.
Eu era eureka para aqueles olhos.
Entre mim e ela passava gente como se não passasse
e ela não podia ficar parada
nem eu vê-la sumir-se.
Retive a sua silhueta
para não perder-me daqueles olhos que me levavam espetado
E eu tenho visto olhos !
Mas nenhuns que me vissem
nenhuns para quem eu fosse um achado existir
para quem eu lhes acertasse lá na sua ideia
olhos como agulhas de despertar
como íman de atrair-me vivo
olhos para mim!
Quando havia mais luz
a luz tornava-me quase real o seu corpo
e apagavam-se-me os seus olhos
o mistério suspenso por um cabelo
pelo hábito deste real injusto
tinha de pôr mais distância entre ela e mim
para acender outra vez aqueles olhos
que talvez não fossem como eu os vi
e ainda que o não fossem, que importa?
Vi o mistério!
Obrigado a ti mulher que não conheço.



Almada Negreiros  



Foto de Hamilton Ramos Afonso -poesia.


sábado, 25 de março de 2017

Angelina Alves










Fecho os olhos
Para só ver
A imagem do teu sorriso...
Contemplar a doçura do teu olhar
E viver meu paraíso
Uma noite de luar
Deixei as pegadas na areia quente
Meus pés caminharam junto a ti
Fecho os olhos
E flutuo na imensidão real sentindo o vento.
Sinto o barulho da gente
Que brinca no tempo
Contente.
Entrelacei meus dedos nos cabelos
Acariciados por tuas mãos
Abri meus braços abracei o mar
Abracei o mar contigo em elos 
De paz e harmonia
Fecho os olhos
Hasteamos juntos
A nossa bandeira de amor
Bem alta
Para mostrar com orgulho
Nosso sentimento tão nobre e grandioso
Vejo na minha frente
O mar imenso e majestoso
Azul perfeito
Surpresa maior
Não poderias ter feito.
O mar acalma-me tu sabes
Ajuda-me a refletir
Sempre foi o meu companheiro
Nas horas difíceis
Quem me fez sorrir
Fecho os olhos
E vejo os teus que docemente
Se aproximam devagarinho
Dos meus.
Sinto a nossa respiração
Extasiada no perfume da maresia
Soltei meus lábios
O teu beijo flutuou em mim
Como pura magia.




Escrito por. Angelina Alves   

Foto de Antonio Maria.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Pablo Neruda








Se tu me esqueces


Quero que saibas uma coisa. 
Tu já sabes o que é: 
Se olho a lua de cristal, 
o ramo rubro do lento outono 
em minha janela, 
se toco junto ao fogo 
a implacável cinza ou 
o enrugado corpo da madeira, 
tudo me leva a ti, 
como se tudo o que existe, 
aromas, luz , metais, 
fossem pequenos barcos 
que navegam para estas tuas ilhas 
que me aguardam. 
Pois, ora, se pouco a pouco 
deixas de me amar, de te amar, pouco a pouco, deixarei. 
Se de repente me esqueces, não me procures, 
já te esqueci também. 
Se consideras longe e louco 
o vento de bandeiras que canta minha vida 
e te decides a me deixar na margem do coração 
no qual tenho raízes, pensa que nesse dia
a essa hora levantarei os braços 
me nascerão raízes procurando outra terra. 
Porém, se cada dia,
cada hora, sentes que a mim estás destinada com doçura implacável,
se cada dia se ergue uma flor 
a teus lábios me buscando, 
ai, amor meu, ai minha, 
em mim todo esse fogo se repete, 
em mim nada se apaga 
nem se esquece, do teu amor, amada,
o meu se nutre, 
e enquanto vivas estará em teus braços 
e sem sair  


Pablo Neruda   

Foto de Antonio Maria.


NALA MARQUES







DESEJO IMPOSSIVEL
Eu sempre desejei o impossivel!...
E a maior parte das vezes nem sequer 
O possivel consegui tocar...
Cheguei a querer vêr o invisível!
Até as cores do arco-íris tentei pegar.
Cresci, e a lição não aprendi...
Mal te vi, logo te desejei!
O jogo começou...
Meu olhar correu atrás de teu,
E tu,...tu fosses meu
Ao primeiro beijo que te dei.

Àh!..Mas eu quis mais! Quis demasiado! 
A minha forma de querer é insaciável!...
Não sei se é meu destino, se é meu fado
Tudo quanto desejo...se torna intocável...



NALA MARQUES    

Foto de Fatima Pereira.


quinta-feira, 23 de março de 2017

SÃO GONÇALVES











Às vezes a minha alma é uma nuvem perdida no céu azul que me abraça
e meu corpo ramos frágeis nas raízes do meu caminhar....
Se soubesses como são gelados os ventos do norte que me beijam devagar
São brisas agrestes ferindo meus sonhos expostos ao tempo.
Às vezes sou a fragilidade perdida na imensidão do espaço
outras ,a coragem, a força
vinda do passado olhando o horizonte
corpo banhado nas profundezas
de um céu por inventar.
Às vezes sou como um rio descendo as encostas
num lento desbravar.
Águas furiosas de desventura...
E outras sou como um leito de águas doces
deslizando nas planícies já muito perto do mar.




SÃO GONÇALVES  

Foto de Hamilton Ramos Afonso -poesia.



quarta-feira, 22 de março de 2017

J.G. de Araújo Jorge








As duas faces

Quando te aperto contra mim,
quando te beijo,
percebo que este amor é assim
como uma mistura
de ternura
e desejo,
que não tem fim...

Às vezes, tenho vontade de tomar-te entre as mãos
com a humildade e a pureza de um crente
a desfiar um terço,
tenho vontade de te embalar docemente
com esse cuidado de alguém que embalança
num berço,
uma criança...

E, logo após, ímpetos de te amar,
de te querer e beijar
com volúpias de fogo
e carícias de chama,
como desesperadamente a gente quer
e beija
uma mulher
que se ama,
e se deseja...

Mistura
de ternura e desejo,
de mansa ternura
e desejo violento,
mistura
de morno carinho
e voluptuoso calor
- à vezes te quero como uma criança...
- outras vezes, como um louco, um doente
de amor!

J.G. de Araújo Jorge   


terça-feira, 21 de março de 2017

isabel De sousa ( LUADIURNA )









Lua ancestral


Vestes a noite
com a tua claridade nua
ritos ancestrais de brumas e feitiços
vagueias em mim
desde mais atrás de Avalon
e a noite é tua

percorres os sentidos
perpetuas os desejos
em lagos oníricos onde se perturba a razão

mágica é a tua presença
oh lua encantada

e eu percorro o deserto
das reticências do sentir
à procura de ti de mim
e do significado do mistério

habitas a noite
imaginas os sonhos
és lua noturna

e no teu olhar

acodes às manhãs
onde o dia se anuncia

afago-te a mão da aurora
e chamo-te a mim
envolvo-te num sorriso aberto

e sinto-te 
noturna e diurna
neste eterno retorno
que me sabe a ti

Isabel de Sousa  (  LUADIURNA )


Foto de Lua Diurna.

Silêncios vivos//isabel de carvalho sousa






Guardo-te nas memórias
de um tempo luz....
um tempo de palavras inseguras
de silêncios vivos
a resguardar as manhãs de azul .
No amor, profanado por esfinges,
ocultam-se imagens rebatidas...
são de pedra , os olhos e as mãos...
invadem-me as palavras,
os sonhos
gemem e ardem.
Silêncios abrem-se
na noite dos poemas,
ao desabrigo das palavras .




isabel de carvalho sousa   

Foto de Lua Diurna.



Catarina Pinto Bastos










O Amor



O amor pode ser tanto…e tão pouco facilmente…!...
É anseio de encantar e desejo de querer ficar
O amor vive de pequenas concessões diárias
De atenção, delicadeza, compreensão, doação


Direitos e deveres iguais e repartidos a dois
Porque no amor, não existe o mais…nem o menos,
nem o meu, nem o teu…é o nosso eu completo
que se entrega por inteiro, e só perdura assim.


Sem avaliações. Sem termos de posse. Apenas amor
Apenas cada um… igual a si mesmo com outrem,
não existe cobrança, mas sim cumplicidade e confiança
Não precisar pedir atenção, mas recebe-la naturalmente…


O amor não é uma peça de vestuário a ser provada.
Ou tem-se…ou não. Não se procura…acontece.
Estas palavras não são um poema, mas uma constatação
tirada da experiência de vida e muita emoção vivida
Umas muito felizes…outras mais sofridas.   



Catarina Pinto Bastos 

  
Foto de Hamilton Ramos Afonso -poesia.



EUGÉNIO DE ANDRADE






 TU ÉS A ESPERANÇA, A MADRUGADA




Tu és a esperança, a madrugada....
Nasceste nas tardes de Setembro,
quando a luz é perfeita e mais dourada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.


Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.


Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem,
fundo, como quem bebe a madrugada.



EUGÉNIO DE ANDRADE

in AS MÃOS E OS FRUTOS (Linear, 1977),
in POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE
(Modo de Ler, 2011)


Butterflyfly Blue disse...
Lindo...como sempre......

Foto de Antonio Maria.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Fátima Porto








QUERIA TER ASAS



Queria ter asas...
Ao correr contra o vento
Sentir a brisa no meu rosto
Experimentar a liberdade


Queria ter asas
Soltar as roupas em mim vestidas
Voar na nuvem mais pequena
E minha paixão gritar


Queria ter asas
Numa praia só minha de prazer
Esvoaçar sentimentos ao vento
De um corpo pleno de vontades


Queria ter asas
Fechando os olhos, sonhasse
Que ao abrir os braços, abraçasse
O Amor que trago em mim
Fosse além do infinito…



Fátima Porto   

Foto de Hamilton Ramos Afonso -poesia.


Maria do Rosário Pedreira







Se partires, não me abraces



Se partires, não me abraces - a falésia que se encosta...
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.


Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces -


o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém - longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas ( como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar) ; e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.

Se me abraçares, não partas.




Maria do Rosário Pedreira   


Foto de Antonio Maria.

domingo, 19 de março de 2017

(Maria do Rosário Pedreira)







Nunca te esqueci – é este um amor maior
que atravessa a vida e resiste à cicatriz
do tempo. O que ontem me disseste agora
o ouço, como se nada tivesse interrompido
a magia do instante em que as nossas bocas
se aguardavam na distância de um beijo e
o olhar tocava o corpo antes da mão. Se
hoje vieres por esse livro que deixaste (e cuja
lombada acariciei todos os dias que durou a tua
ausência como uma nesga de sol acaricia um
rosto no Inverno), encontrarás a sopa a fumegar
na mesa, e a camisa engomada no cabide, e os
lençóis da cama imaculados, e um corpo pronto
para qualquer aventura – e ainda o cão deitado
à porta, à tua espera, como na véspera de partires.
Porque os anos não contam para quem assim ama.



(Maria do Rosário Pedreira)   



sábado, 18 de março de 2017

Miguel Torga









Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço......
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...



Miguel Torga,
de Diário XIII