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quinta-feira, 9 de março de 2017

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"









Dá a Surpresa de Ser

...
Dá a surpresa de ser. 
É alta, de um louro escuro. 
Faz bem só pensar em ver 
Seu corpo meio maduro.


Seus seios altos parecem
(Se ela estivesse deitada) 
Dois montinhos que amanhecem 
Sem Ter que haver madrugada.


E a mão do seu braço branco 
Assenta em palmo espalhado 
Sobre a saliência do flanco 
Do seu relevo tapado.


Apetece como um barco. 
Tem qualquer coisa de gomo. 
Meu Deus, quando é que eu embarco? 
Ó fome, quando é que eu como ?  



Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Foto de Antonio Maria.

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