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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

João Dimas Fiotte

QUERO
 
 
 
 

 Sentir os teus beijos
sonhar o calor real da tua carne
satisfazer os teus íntimos desejos
Ondular na espuma do teu corpo, Amar-te ......

Quero ser contigo
o amor provável
o romance proibido
a pagina marcada no livro da vida
o inesquecível
Quero a realização dos tempos contigo
Aqui onde o sonho começa ilustrando a vida real
Seremos o presente e o infinito conciliável
 
 


In, " AMOR PROIBIDO " à procura de editores
Autor: João Dimas Fiotte  




 

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Hamilton Ramos Afonso

Quero-te em mim


"Qual das nossas peles...

se vergará à sede
e a carne à vontade?
 
Pele e carne
que em chamas
sucumbem ao amor
efeitos colaterais
do vulcão em que
se transformam dois seres
que se amam…
Suprema contradição
as peles arrepiam-se de frio
no calor intenso do verão,
fervem de calor no
frio gelado do inverno…
A carne ,
fraca,
sucumbe à tentação
do amor e entrega-se ,
pele com pele em volúpia
ao prazer prometido
pelas carícias mutuas ,
que a convidam à entrega,
ao abandono e ao deleite
do prazer do amor…
Quem sucumbirá primeiro?
eu ?
ou tu?
Talvez os dois
em simultâneo
em êxtase final
no derrame
da minha seiva
no teu cálice sagrado…
E as nossas peles
arrepiar-se-ao no calor
e queimarão em pleno frio…
 

Hamilton Ramos Afonso
 
 
Versos de São Reis, que inspiraram o meu poema 
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Casimiro de Abreu

 
 
 
 
Quando Tu Choras
 
 
 
 
Quando tu choras, meu amor, teu rosto
Brilha formoso com mais doce encanto,
E as leves sombras de infantil desgosto
Tornam mais belo o cristalino pranto.
Oh! nessa idade da paixão lasciva
Como o prazer, é o chorar preciso:
Mas breve passa - qual a chuva estiva -
E quase ao pranto se mistura o riso.
É doce o pranto de gentil donzela,
É sempre belo quando a virgem chora:
- Semelha a rosa pudibunda e bela
Toda banhada do orvalhar da aurora.
Da noite o pranto, que tão pouco dura,
Brilha nas folhas como um rir celeste,
E a mesma gota transparente e pura
Treme na relva que a campina veste.
Depois o sol, como sultão brilhante,
De luz inunda o seu gentil serralho,
E às flores todas - tão feliz amante -
Cioso sorve o matutino orvalho.
Assim, se choras, inda és mais formosa,
Brilha teu rosto com mais doce encanto:
- Serei o sol e tu serás a rosa...
Chora, meu anjo, - beberei teu pranto!
 
 
 
Casimiro de Abreu  
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 28 de agosto de 2016

Nala Marques

 
 
 
 
Se eu voltasse a amar alguém.
Seria um homem como tu,
Gentil amoroso como eu te vejo,
Um homem ...

Com quem qualquer mulher
Vive a sonhar
E com ele deseja trocar
O seu primeiro beijo.
Pudesse eu voltar a amar
Esse homem serias tu,
Já estou a imaginar viver junto de ti!
Que bom seria ver o teu sorriso meigo
Sentir o teu olhar ardendo de desejo
E os teus braços apertados
Em volta do meu corpo em frenesim!
Sentir a tua boca, sobre a minha boca,
Matando a fome dos meus beijos,
Saciar dos nossos corpos os desejos
Depois adormeceres junto de mim.
E quando chegasse o novo dia
Acordar dentro dos teus braços,
Se eu voltasse a amar,eu juro,
Que o nosso amor jamais teria fim.


Nala Marques.(poetisa e escritora)  






 

sábado, 27 de agosto de 2016

© NUNO JÚDICE

UM AMOR



Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão, ...

puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhamos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.



 © NUNO JÚDICE 

In A Partilha dos Mitos, 1982

Arte: Glenn Harrington 

 

Meus olhos verdes de João Maria Nabais

Meus olhos verdes





Eu sonho acordado
muitas vezes sem dar por isso
olhando o infinito
através dos meus olhos verdes
nem sempre verdes é certo
às vezes azuis
outras cinzentos
variando durante o dia
conforme a intensidade da luz
do sol ou das estrelas
passando a verde se escuto
- o silêncio do mar longo e profundo
e o canto das cigarras
em noite cheia de lua

cinzento é um tempo de ninguém
vindo de fora sem prever

azul o rosto da manhã
de um instante de saudade escrito na memória

verde a força que deposito
no amor e me alimenta o coração

os meus olhos são verdes
azuis ou cinzentos ?
a mim pouco importa
aos outros também

verde é simplesmente
a cor do momento
- um símbolo de esperança
sortilégio de olhar
e ver o mundo
em mais um dia que vivo
e sinto

João-Maria Nabais

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

João Luís Barreto Guimarães

A meias
Bebo o meu café enquanto bebes
do meu café. Intriga-me que faças isso.
Se te posso pedir um...

(se podes tomar um igual)
porque hás-de querer do meu?
Que
não. Que não queres. Escuso
de pedir
que não queres. Então
começo
um cigarro e tu fumas do
meu cigarro dizes
«tenho quase a certeza de
não acabar um sozinha» por isso
fumas do meu. Dá-te
gozo esse roubar
de
leves goles furtivos
dá gozo participar
do prazer que eu possa ter
contigo
(e entre nós)
dá-se agora tudo
a meias.



João Luís Barreto Guimarães    



 

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Mário Quintana

Bilhete...
Se me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa-em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem
devagarinho,
que a vida é breve,
e o amor mais breve ainda…
 
 
 
(Mário Quintana)
Amor- Tela de Gustav Klimt    
 
 
 
 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Jose Gabriel Duarte

 
 
Mulher-Flor
Sinto luz no brilho dos teus olhos...
Um rasgar de desejo nos teus lábios
Um leve aroma a jasmim
Que me faz voltar
Que me faz sentir de onde vim.
O vento frio da noite
Que te arrefecia
Não amanheceu
No regar de espuma da noite
Acalmou.
O cálice do teu corpo
Voltou a florir
Renasceste mulher
Botão de flor
Querendo abrir...



©JGD Jose Gabriel Duarte
in No Outro Lado de Mim (Chiado Editora)   



 

Antonio Ramos Rosa

rosto...
Vejo o teu rosto quotidiano 
como se a penumbra 
tivesse olhos 
ou como se as raízes pudessem ver 
através da sombra 

Estou no húmus da casa 
no húmus do silêncio 
e vejo através das vértebras 
de uma luz subterrânea 
o teu rosto de terra 

Há sempre muros e muros 
e o nevoeiro dos dias 
mas tu és a chama 
sobre a mesa posta 

Vem a noite e as serpentes 
envolvem as lâmpadas 
e reduzem o espaço 
Cada um procura 
na palma das mãos 
os grãos verdes do mar 

O monstro vago da noite 
desfoca o nosso olhar 
e os joelhos vacilam 
O teu rosto persiste 
como se o teu torso fosse 
o tronco de uma árvore



António Ramos Rosa   
 
 
 
 

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Eugénio de Andrade

adormecer 

    

 
 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 Cansado de ser homem durante o dia inteiro 
chego à noite com os olhos rasos de água. 
Posso então deitar-me ao pé do teu retrato, 
entrar dentro de ti como num bosque. 

É a hora de fazer milagres: 
posso ressuscitar os mortos e trazê-los 
a este quarto branco e despovoado, 
onde entro sempre pela primeira vez, 
para falarmos das grandes searas de trigo 
afogadas na luz do amanhecer. 

Posso prometer uma viagem ao paraíso 
a quem se estender ao pé de mim, 
ou deixar uma lágrima nos meus olhos 
ser toda a nostalgia das areias.

É a hora de adormecer na tua boca,
como um marinheiro num barco naufragado,
o vento na margem das espigas.


Eugénio de Andrade

De Jaime Sabines /// Amor mío, mi amor


 
 
Amor mio, mi amor
 
Amor mío, mi amor, amor hallado...
de pronto en la ostra de la muerte.
Quiero comer contigo, estar, amar contigo,
quiero tocarte, verte.
Me lo digo, lo dicen en mi cuerpo
los hilos de mi sangre acostumbrada,
lo dice este dolor y mis zapatos
y mi boca y mi almohada.
Te quiero, amor, amor absurdamente,
tontamente, perdido, iluminado,
soñando rosas e inventando estrellas
y diciéndote adiós yendo a tu lado.
Te quiero desde el poste de la esquina,
desde la alfombra de ese cuarto a solas,
en las sábanas tibias de tu cuerpo
donde se duerme un agua de amapolas.
Cabellera del aire desvelado,
río de noche, platanar oscuro,
colmena ciega, amor desenterrado,
voy a seguir tus pasos hacia arriba,
de tus pies a tu muslo y tu costado.
 
 
 
Jaime Sabines  
 
 
 

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Maria do Rosário Pedreira



 Facto...

Nunca te esqueci - é este um amor maior ...

que atravessa a vida e resiste à cicatriz
do tempo. O que ontem me disseste agora
o ouço, como se nada tivesse interrompido
a magia do instante em que as nossas bocas
se aguardavam na distância de um beijo e
o olhar tocava o corpo antes da mão. Se

hoje vieres por esse livro que deixaste (e cuja
lombada acariciei todos os dias que durou a tua
ausência como uma nesga de sol acaricia
um rosto no Inverno), encontrarás a sopa a fumegar
na mesa, e a camisa engomada no cabide, e os
lençóis da cama imaculados, e um corpo pronto
para qualquer aventura - e ainda o cão deitado
à porta, à tua espera, como na véspera de partires.

Porque os anos não contam para quem assim ama.


 
 
Maria do Rosário Pedreira

helena guimaraes





Quando ontem , na conversa,
os teus olhos, ora fugidios,
mergulharam nos meus...

demoradamente.
Houve um singular instante
em que algo indefenido aconteceu.
As palavras voaram no espaço
e tudo à nossa volta se quedou,
repentinamente.
O teu olhar , até aí indiferente,
surpreendeu-se , tornou-se vivo,
inquieto, procurou-me a alma,
interrogativamente.
Quebraram-se as linhas duras de teu rosto,
adoçaram-se os teus lábios num sorriso
e comungamos ternura,
delicadamente....
 
 
 
De helena guimarães
do livro "" Intimidades ""/// 1994 
 
 
 
 

domingo, 21 de agosto de 2016

Fernando Pinto do Amaral

decifrar...
Esta noite morri muitas vezes, à espera
de um sonho que viesse de repente
e às escuras dançasse com a minha alma
enquanto fosses tu a conduzir
o seu ritmo assombrado nas trevas do corpo,
toda a espiral das horas que se erguessem
no poço dos sentidos. Quem és tu,
promessa imaginária que me ensina
a decifrar as intenções do vento,
a música da chuva nas janelas
sob o frio de fevereiro? O amor
ofereceu-me o teu rosto absoluto,
projectou os teus olhos no meu céu
e segreda-me agora uma palavra:
o teu nome - essa última fala da última
estrela quase a morrer
pouco a pouco embebida no meu próprio sangue
e o meu sangue à procura do teu coração.


 
Fernando Pinto do Amaral

sábado, 20 de agosto de 2016

Antonio Ramos Rosa

osmose(s)...






















Se é clara a luz desta vermelha margem
é porque dela se ergue uma figura nua 
e o silêncio é recente e todavia antigo
enquanto se penteia na sombra da folhagem.
Que longe é ver tão perto o centro da frescura

e as linhas calmas e as brisas sossegadas!
O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço
que no umbigo principia e fulge em transparência.
Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo 
que em espiral circula ao ritmo da origem. 

Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola 
do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa.
O seu sorriso é a distância fluida, a subtileza do ar. 
Quase dorme no suave clamor e se dissipa
e nasce do esquecimento como um sopro indivisível. 


António Ramos Rosa

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Myrthes Mathias

Amor é síntese

...
Por favor não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise profunda
Quanto mais eu
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor
Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braço
E eu serei perfeita, amor!
 
 
Myrthes Mathias   
 
 
 
 

Maria do Rosário Pedreira

Dei-te o meu corpo como quem estende um mapa antes da viagem...
para que nele descobrisses ilhas e paraísos e aí pousasses
os dedos devagar, como fazem as aves
quando encontram o verão. ...

Se me tivesses tocado, ter-me-ia desmanchado nos teus braços
como uma escarpa pronta a desabar, ou
uma cidade do litoral a definhar nas ondas.
Mas, afinal, foste tu que desenhaste mapas
nas minhas mãos - tristes geografias,
labirintos de razões improváveis, tão curtas
linhas que a minha vida não teve tempo
senão para pressentir-se.
Por isso, guardo dos teus gestos apenas conjecturas, sombras,
muros e regressos - nem sequer feridas
ou ruínas. E, ainda assim, sem eu saber porquê,
as ondas ameaçam o lago dos meus olhos.

 

 Maria do Rosário Pedreira  
 
 
 
 
 

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

António Ramos Rosa

 
, in 'O Teu Rosto' /// É por Ti que Escrevo
 
 
 
 
.
É por ti que escrevo que não és musa nem deusa
mas a mulher do meu horizonte
na imperfeição e na incoincidência do dia-a-dia
Por ti desejo o sossego oval
em que possas identificar-te na limpidez de um centro
em que a felicidade se revele como um jardim branco
onde reconheças a dália da tua identidade azul
É porque amo a cálida formosura do teu torso
a latitude pura da tua fronte
o teu olhar de água iluminada
o teu sorriso solar
é porque sem ti não conheceria o girassol do horizonte
nem a túmida integridade do trigo
que eu procuro as palavras fragrantes de um oásis
para a oferenda do meu sangue inquieto
onde pressinto a vermelha trajectória de um sol
que quer resplandecer em largas planícies
sulcado por um tranquilo rio sumptuoso
 
 
 
António Ramos Rosa, in 'O Teu Rosto'
 
 
 
 

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Nuno Júdice

contigo...
O anjo que renasce com a tua luz, a forma 
obscura do seu voo, o canto abstracto que 
o envolve, são os motivos do meu canto. 

Podia não saber que um anjo tem a figura 
do espaço, no azul mais fundo do meio-dia, 
ou na treva para que a noite nos arrasta. 

É de onde um bater de asas celeste se ouve 
que tudo começa, como quando te vejo sair 
dessa esquina de memória em que te escondo. 

Partilho com esse anjo uma refeição de salmos, 
e perguntas-me se é isso que espero da vida, 
ou até onde poderei adiar a minha morte. 

"Não dependem de nós as ultimas decisões", digo-te, 
olhando o vazio nos olhos brancos do
anjo que resolve um último problema de xadrez. 

E enxoto-o para o seu ninho de nuvens: é 
contigo que tenho de resolver as dúvidas do 
absoluto, as linhas sem saída do infinito, 

o azul e a treva que me pões em frente, com 
as tuas mãos pousadas no tampo do segredo, 
para que eu abra a caixa dos sentimentos.



Nuno Júdice 
 
 

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Eugenio de Andrade

adormecer 

    





















Cansado de ser homem durante o dia inteiro 
chego à noite com os olhos rasos de água. 
Posso então deitar-me ao pé do teu retrato, 
entrar dentro de ti como num bosque. 

É a hora de fazer milagres: 
posso ressuscitar os mortos e trazê-los 
a este quarto branco e despovoado, 
onde entro sempre pela primeira vez, 
para falarmos das grandes searas de trigo 
afogadas na luz do amanhecer. 

Posso prometer uma viagem ao paraíso 
a quem se estender ao pé de mim, 
ou deixar uma lágrima nos meus olhos 
ser toda a nostalgia das areias.

É a hora de adormecer na tua boca,
como um marinheiro num barco naufragado,
o vento na margem das espigas.


Eugénio de Andrade

Fernando Pinto do Amaral



 
Esta noite morri muitas vezes, à espera
de um sonho que viesse de repente
e às escuras dançasse com a minha alma
enquanto fosses tu a conduzir
o seu ritmo assombrado nas trevas do corpo,
toda a espiral de horas que se erguessem
no poço dos sentidos. Quem és tu,
promessa imaginária que me ensina
a decifrar as intenções do vento,
a música da chuva nas janelas
sob o frio de fevereiro? O amor
ofereceu-me o teu rosto absoluto,
projectou os teus olhos no meu céu
e segreda-me agora uma palavra:
o teu nome – essa última fala da última
estrela quase a morrer
pouco a pouco embebida no meu próprio sangue
e o meu sangue à procura do teu coração.
 
 
 
Fernando Pinto do Amaral   
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Federico Garcia Lorca

 
SE MINHAS MÃOS PUDESSEM DESFOLHAR
...
Garcia Lorca, no Dia Mundial da Poesia
Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!
 
 
 
 
Federico Garcia Lorca (1898-1936)  
 
 
 

sábado, 13 de agosto de 2016

Luadiurna ///// Há....

    Há....
 
Há  palavras costuradas dentro do coração
com finíssimos fios de seda
é lá que se guardam  os sentimentos que na alma
afloram  repartidos na verdade do sentir
Há palavras que se (res)guardam por serem direitas e limpas
como direitos e limpos são os caminhos percorridos
são palavras ao rubro que escorrem pelos dedos da noite
onde o toque das estrelas ilumina o universo de quem espera
p`la manhã radiosa onde o sol é o abraço que aquece e reconforta
é o teu sorriso que aquece os dias vulgares
e é o teu nome escrito no horizonte.
 
 

Lua Diurna
 
 
 

Laura Santos ///// A pomba

     
                                              Sonhei que o teu corpo era um riacho.
                                              Nas tuas margens plantei todas as sementes;
                                              De ti tudo nasceu, tudo transformaste:
                                              O que sonhei, o que sonhaste.
                                              Do sol veio a luz,
                                              No teu corpo lavrado floresci.
                                              Depois nem sei, vi que mudaste.
                                              Já não eras riacho, eras fonte seca
                                              Onde mirei o meu olhar.
                                              Do teu corpo nu brotou a árvore,
                                              Dos teus cabelos revoltos, como folhas, o silêncio
                                              As minhas mãos poisaram como pássaros
                                              Nas tuas mãos abertas como pontes.
                                              Tua boca debiquei e tu sorriste.
                                              Do nada surgiu o teu peito branco,
                                              Nas tuas costas graníticas me sentei.
                                              Debrucei-me sobre ti, uma nuvem surgiu;
                                              Do céu dos teus olhos, como grãos
                                              Gotas caíram.
                                              Sequiosa pomba mensageira, uma bebi.
                                              Passei teu território, a fronteira.
                                              Voltei de novo a ti mas não te vi.
                                              Diz-me meu amor porque voaste...
 
 
 
Laura Santos 
 
 
 
CLIQUE  NO ENDEREÇO  ABAIXO  :
 
https://youtu.be/-CsA1CcA4Z8
 
 
 

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Ruthe Ministro /// Por ti permaneço

    Por ti permaneço


É por ti que permaneço.
Esmorecem as horas e
os lugares que fui
e a cidade está já rouca
de tanto silêncio.
É tarde para partir, penso,
mais um poema, só mais
um poema, um final,
um começo...
É tarde e por ti, só por ti,
permaneço.
 
 
Ruthe  Ministro
 
 
 
 
Ruthe Ministro 


 
Ruthe Ministro 

são reis


Esta noite quero escrever um poema na tua pele
que seja feito de palavras e gemidos
de gestos que vêm de dentro
de ternura pura

Esta noite quero que as palavras se escrevam
e permaneçam escritas
muito para além do toque e dos beijos
das chegadas e dos abraços

e das portas de saída

Esta noite quero que os nossos corpos
sejam e saibam a poesia
 
 


 são reis 
 
 

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Hamilton Ramos Afonso

Aparece…

 
 


Caminha esta noite pelos contornos dos meus lábios...

desperta em mim todos os sentidos,
ultimamente hibernados
aprisiona-me à tua vontade
e colhe em mim o fruto fresco da paixão
Aparece e instala-te por dentro de mim,
gasta comigo a tua sofregidão
até não teres mais gotas de suor
para demonstrares o teu prazer…
 
 
Hamilton Ramos Afonso   
 
 
 
 
 

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

António Nobre

Ao cair das folhas
 
 
 

 Pudessem suas mãos cobrir meu rosto,...
fechar-me os olhos e compor-me o leito,
quando, sequinho, as mãos em cruz no peito,
eu me for viajar para o Sol-posto.
De modo que me faça bom encosto
o travesseiro comporá com jeito.
E eu tão feliz! - Por não estar afeito,
hei-se sorrir, Senhor, quase com gosto.
Até com gosto, sim! Que faz quem vive
órfão de mimos, viúvo de esperanças,
solteiro de venturas, que não tive?
Assim, irei dormir com as crianças
quase como elas, quase sem pecados…
E acabarão enfim os meus cuidados.
 
 

António Nobre

Arte: Koukei Kojima    
 
 
 
 
 

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Carlos Drummond de Andrade

Os ombros suportam o Mundo


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus....

Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.



Carlos Drummond de Andrade   









sábado, 6 de agosto de 2016

De Mané

Pelos teus Olhos I...

 
 
 
 
 
 
"Pelos teus Olhos"
 
 
Pelos teus olhos...
E ainda pelos teus olhos
Eu consigo ver uma luz na minha vida
Pelos teus olhos a noite voa
E parece que é sempre ontem
 
Fazer Amor ao som de um slow
Perdidamente nos nossos braços
Com alma de mal me quer bem me quer
Com o cérebro como que apagado
Apaixonado como um adolescente
Sem ti não tenho sorte nenhuma
Sem ti o meu coração arde
Como um mar de fogo
Quero-te...desejo-te
Dispo-te e dispo-te e...
Dispo-te
 
Pelos teus olhos a lua é mais bonita
Pelos teus olhos torno-me assassino
Pelos teus olhos eu subo ao paraíso
Pelos teus olhos eu vejo as estrelas
 
É pelos teus olhos que escrevo esta noite
E enquanto as horas passam
A minha boca consome-se
A dizer-te sempre...
 
Amor...Amor...Amor...
 
 
Mané

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

CARLOS EDUARDO LEAL





CHUVAS
 
 
Espremi uma nuvem com as mãos
Para chover em meu jardim.
Choveu intransitivo, impessoal
Pedinte,
Choveu extrovertido
Trovoadas coloridas
Pingos azuis - teus olhos.
Relâmpagos ofuscaram meus olhos
Um girassol brotou irradiante
E minhas mãos secaram...
Pedintes, ásperas
Duras como um entardecer.
Espremi uma nuvem com as mãos
Para chover em meu jardim.
Choveu tanto, tanto
Que até choveu você em mim. 


CARLOS EDUARDO LEAL