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terça-feira, 31 de março de 2015

são reis ///// Um beijo que sabe a ti


Beija-me a face com os teus lábios mel
impregna-me o rosto do azul dos teus olhos
e trespassa a minha pele
de extremo a extremo
como só tu sabes
E não te importes com o que possam dizer
quem assim nos vir
Há dias em que preciso de ser acordada
com um beijo a saber a ti

são reis  



domingo, 29 de março de 2015

ALEXANDRE O'NEILL //// O amor é o amor


O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?


ALEXANDRE O'NEILL

in ABANDONO VIGIADO (1960), in POESIAS COMPLETAS 1951/1986 (INCM, 3ª ed. , 1995)





sexta-feira, 27 de março de 2015

Cecília Meireles ///// Interrogação


Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Cecília Meireles  





quinta-feira, 26 de março de 2015

Miguel Torga //// Poema melancólico a não sei que mulher


Poema melancólico a não sei que mulher


Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram;
Nos meus versos ficaram
Imagens que são máscaras anónimas
Do teu rosto proibido;
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.
Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração,
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano desolado,
E pergunto porquê, por que razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão...

Miguel Torga

Portugal (Vila Real) 1907-1995
in Diário VII
Editor: Coimbra Editora

  



quarta-feira, 25 de março de 2015

Manuel António Pina //// Sorriso


Regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa.
Faço de conta que não é nada comigo.
Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro.
Devagar te amo e às vezes depressa, meu amor,
e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro,
entro no amor como em casa.

Manuel António Pina  



terça-feira, 24 de março de 2015

Eugénio de Andrade //// Deita-te

 
 
 

Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.
No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

Eugénio de Andrade  


segunda-feira, 23 de março de 2015

CESÁRIO VERDE //// Arrojos ( excerto )


ARROJOS (excerto) 




Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso aos grandes rios
E a terra sob os pés abalaria.
Se aquela por quem já não tenho risos
Me concedesse apenas dois abraços,
Eu subiria aos róseos paraísos
E a Lua afogaria nos meus braços.
 

CESÁRIO VERDE

(publicado no "Diário de Notícias" de 22 de Março de 1874)
in "OBRA COMPLETA" (Portugália Ed., s.d.) 



domingo, 22 de março de 2015

Torquato da Luz //// Mudez

Mudez

Quando por fim voltares, traz no olhar
a nesga de areal onde algum dia
te encontrei entre a espuma e a maresia,
passeando a surpresa de haver mar.
Traz também nos cabelos o luar
e deixa que o veneno da poesia
nos envenene aos dois em sintonia,
como exige o mistério do lugar.
Talvez assim eu possa finalmente
segredar-te as palavras que não soube
dizer-te no momento em que te vi
pela primeira vez e, de repente,
o mundo foi tão grande que não coube
na minha voz e logo emudeci
...

Torquato da Luz 




sexta-feira, 20 de março de 2015

Nuno Júdice //// Sonhei contigo embora nenhum sonho

Sonhei contigo embora nenhum sonho 



Sonhei contigo embora nenhum sonho
possa ter habitantes tu, a quem chamo
amor, cada ano pudesse trazer
um pouco mais de convicção a
esta palavra. É verdade o sonho
poderá ter feito com que, nesta
rarefação de ambos, a tua presença se
impusesse - como se cada gesto
do poema te restituísse um corpo
que sinto ao dizer o teu nome,
confundindo os teus
lábios com o rebordo desta chávena
de café já frio. Então, bebo-o
de um trago o mesmo se pode fazer
ao amor, quando entre mim e ti
se instalou todo este espaço -
terra, água, nuvens, rios e
o lago obscuro do tempo
que o inverno rouba à transparência
das fontes. É isto, porém, que
faz com que a solidão não seja mais
do que um lugar comum saber
que existes, aí, e estar contigo
mesmo que só o silêncio me
responda quando, uma vez mais
te chamo.

Nuno Júdice 



Manuel Alegre //// Teoria do Amor

Teoria do amor

Amor é mais do que dizer.
Por amor no teu corpo fui além
e vi florir a rosa em todo o ser
fui anjo e bicho e todos e ninguém.
Como Bernard de Ventadour amei
uma princesa ausente em Tripoli
amada minha onde fui escravo e rei
e vi que o longe estava todo em ti.
Beatriz e Laura e todas e só tu
rainha e puta no teu corpo nu
o mar de Itália a Líbia o belvedere.
E quanto mais te perco mais te encontro
morrendo e renascendo e sempre pronto
para em ti me encontrar e me perder.


Manuel Alegre  


quinta-feira, 19 de março de 2015

Florbela Espanca ///// Os versos que te fiz....

Os versos que te fiz



Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolencia de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!
Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Florbela Espanca 




Paul Éluard ///// Revelação


Aliviei-te de angústias e inquietações, de tudo
O que nos pode atormentar através de tudo através de nada
Teria eu podido não te amar a ti
Tu nem que fosse só pela tua gentileza
Como um pêssego após outro pêssego
A desfazer-se na boca como um verão
Toda a angústia todo o tormento
De continuar vivendo a ser ausente
E a escrever este poema
No lugar do poema vivo
Que não escreverei
Como não estás aqui comigo
Os mais tênues esboços do fogo
Preparam o derradeiro incêndio
As mais pequenas migalhas de pão
Bastam aos moribundos
Eu conheci a virtude viva
Eu conheci o bem tornado corpo
Eu recuso a tua morte mas aceito a minha
Teria desejado fazer um jardim
Da sombra que de ti se estende sobre mim
Repousado o arco fazemos parte da mesma noite
E eu quero continuar a imobilidade que agora é tua
O discurso inexistente
Que começando em ti acabará em mim
Comigo voluntário obstinado em revolta
Apaixonada como tu pela terra-maravilha.

Paul Éluard  





quarta-feira, 18 de março de 2015

Maria Helena Guimaraes //// MULHER


Mulher é Terra
é vaso, é semente.
É paz, é guerra,
lágrima, sorriso.`
É força, é luta
é grito.
É regaço e alimento,
Oásis no deserto.
É o amor por dentro.
Mulher é laço
Túnica, sari
Burka ou véu.

É o mundo num abraço,
um bocadinho de céu.
É calor e é desejo.
O infinito num beijo!

Maria Helena Guimarães 

Editora Minerva, Poesis XVI   

Sophia de Mello Breyner Andresen

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
... Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes
e calma."

Sophia de Mello Breyner Andresen 



terça-feira, 17 de março de 2015

Fernando Campos de Castro //// Acaricia-me


Liberta as tuas mãos pelo corpo
E deixa que depois tudo aconteça
Acaricia o peito no meu peito
Acaricia até que eu desfaleça
Enlaça os meus cabelos com ternura
Afunda nos meus braços teus desejos
Respira em cada poro esta loucura
No oceano imenso dos meus beijos
Desliza as tuas mãos pelo meu rosto
Ungido pelo sal e o suor
Encosta a tua pele à minha pele
Acaricia até morrer d’amor
Segreda-me palavras que enlouquecem
Navega no meu corpo em ondas loucas
Acaricia os lábios que se acendem
No fogo de prazer das nossas bocas
Acaricia amor, acaricia-me
Com todo o sentimento e emoção
Acaricia amor, acaricia-me
Numa onda d’espuma e de paixão
Acaricia amor, acaricia-me
E dá-me o teu perfume, o teu sabor
Sem medo meu amor acaricia-me
Acaricia amor o nosso amor

Fernando Campos de Castro 



segunda-feira, 16 de março de 2015

Miguel Torga //// Desfecho

Desfecho
Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te...
(Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte).
Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente,
Do teu vulto calado,
E paciente...
E lutei, como luta um solitário
Quando, alguém lhe perturba a solidão
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso na agressão.
Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia...
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na teimosia

Miguel Torga  



são reis /// Enquanto pude !


Enquanto pude fantasiei o meu desejo
com a minha hipocrisia
Enquanto pude desenhei-te
fonte da minha imaginação
musa dos meus poemas
carne rasando a minha boca
e tocando a minha alma
Enquanto pude
colei todos os teus pedaços
que juntos com os meus
fizeram das minhas noites
a minha maior agonia
e o meu maior suplício
Imaginei-te serena e incólume
passeando-te nas fronteiras do meu desconhecido
Hoje reconheço que eras demais para mim
Nunca quiseste as mesmas coisas
nunca rimos pelas mesmas coisas
nunca detestámos as mesmas coisas
Fomos fogos fátuos
que depressa ardemos
na fogueira do prazer
na mácula
de quem se atira de cabeça
por algo que deseja muito
Hoje passeio-me sozinho
no meu poema
Não há mais tu para me desassossegares
me fazeres ferver o sangue
me deixares a boca sedenta
de tanta sede
e a carne ao rubro
de tanta fome
Hoje sou apenas eu...
eu..e os meus cacos todos por colar
eu e essa imensidão a que alguém chamou consciência
Hoje sou apenas eu
Eu e essa tua profunda ausência
a martelar dentro de mim
a sugar-me o sangue
a ferir-me a alma
Enquanto pude
fui por dois
amei por dois
quis por dois
Hoje mal me sustento
na minha raiz precocemente podada
e passeio-te nas minhas palavras
como se fosses um jardim acabado de florir!...

são reis 

 


Mia Couto //// A Demora


O amor nos condena:
demoras
mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.
Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.
Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.
Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.
Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.
O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.

Mia Couto
in ” idades cidades divindades”.






domingo, 15 de março de 2015

Paula Mendonça //// Urgência.....

»
Precisava hoje de um abraço
que me enlaçasse, me embalasse
E que sem me apertar
me apertasse tanto
E que fosse maior a ternura desse abraço
que as vagas do meu pranto…
Precisava hoje de um sorriso
mesmo que tímido, mesmo que brando
Que inundasse de luz solar
este dia de escuridão anunciada
Um sorriso que despoletasse o meu sorriso
… E que o abraçasse…
… E que assim permanecesse …
Como se no mundo nada mais existisse
para além dos nossos dois sorrisos…
Precisava hoje de um olhar atento
que me despisse a alma
que me olhasse por dentro
me sarasse as feridas, me curasse as mágoas
Um olhar, que me olhando,
me devolvesse a calma
e a alegria de amar e olhar a vida com outros olhos…
Precisava hoje de um par de mãos
que me enxugasse as lágrimas
e me cobrisse de afagos
que me segurasse a mão
e nela prendesse a eternidade…
Precisava hoje de um colo
feito de ternura
e com o cheiro de rosas silvestres
Um colo que me alentasse e me embalasse
até que o sono me vencesse…
Um colo aonde me sentisse novamente criança
sem pressa de acordar…
Talvez, hoje, mais do que nunca,
precisasse do teu colo, Mãe.


Paula Mendonça  



sábado, 14 de março de 2015

Pablo Neruda //// Peço silêncio


Agora me deixem tranquilo.
Agora se acostumem sem mim.
Eu vou fechar os olhos
E só quero cinco coisas,
Cinco raízes preferidas.
Uma é o amor sem fim.
A segunda é ver o outono.
Não posso ser sem que as folhas
Voem e voltem à terra.
A terceira é o grave inverno,
A chuva que amei, a carícia
Do fogo no frio silvestre.
Em quarto lugar o verão
Redondo como una melancia.
A quinta coisa são teus olhos,
Matilde minha, bem amada,
Não quero dormir sem teus olhos,
Não quero ser sem que me olhes:
Eu troco a primavera
Pra que tu fiques me olhando.
Amigos, isso é tudo o que quero.
É quase nada e quase tudo.
Agora, se querem que se vão.
Vivi tanto que um dia
Terão de esquecer-me com força,
Apagando-me do quadro negro:
Meu coração foi interminável.
Mas porque peço silêncio
Não creiam que vou morrer:
Pois é exatamente o contrário:
Acontece que vou viver.
Acontece que sou e que sigo.
Não será, pois, senão que dentro
De mim crescerão cereais,
Primeiro os grãos que rompem
A terra para ver a luz,
Porém a mãe terra é escura:
E dentro de mim sou escuro:
Sou como um poço em cujas águas
A noite deixa suas estrelas
E segue só pelo campo.
Trata-se de que tanto vivi
Que quero viver outro tanto.
Nunca me senti tão sonoro,
Nunca tive tantos beijos.
Agora, como sempre, é cedo.
Voa a luz com suas abelhas.
Deixem-me só com o dia.
Peço permissão para nascer.


Pablo Neruda   



quinta-feira, 12 de março de 2015

Joaquim Pessoa ///// Sou a Tua Casa


Sou a tua casa, a tua rua, a tua segurança, o teu destino. Sou a maçã que comes e a roupa que vestes. Sou o degrau por onde sobes, o copo por onde bebes, o teu riso e o teu choro, o teu frio e a tua lareira. O pedinte que ajudas, o asilo que te quer acolher. Sou o teu pensamento, a tua recordação, a tua vontade. E também o artesão que para ti trabalha, o medo que te perturba e o cão que te guia quando entras pela noite. Sou o sítio onde descansas, a árvore que te dá sombra, o vento que contigo se comove. Sou o teu corpo, o teu espírito, o teu brilho, a tua dúvida. Sou a tua mãe, o teu amante, o marfim dos teus dentes. E sou, na luz do outono, o teu olhar. Sou a tua parteira e a tua lápide. Os teus vinte anos. O coração sepultado em ti. Sou as tuas asas, a tua liberdade, e tudo o que se move no teu interior. Sou a tua ressaca, o teu transtorno, o relógio que mede o tempo que te resta. Sou a tua memória, a memória da tua memória, o teu orgulho, a fecundação das tuas entranhas, a absolvição dos teus pecados. O teu amuleto e a tua humildade. Sou a tua cobardia, a tua coragem, a força com que amas. Sou os teus óculos e a tua leitura. A tua música preferida, a tua cor preferida, o teu poema preferido. Sou o que significas para mim, a ternura que desagua nos teus dedos, o tamanho das tuas pupilas antes e depois de fazer amor. Sou o que sou em ti e o que não podes ser em mim. Sou uma só coisa. E duas coisas diferentes.


Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'




Maria Helena Guimarães //// DEIXA SÓ....


 
POEMA
De Maria Helena Guimarães

DEIXA SÓ...
Deixa só que os meus olhos
acariciem teu corpo,
mesmo de longe e sòzinhos.
No meu caminho de escolhos
o ver-te é chegar ao porto,
vencer os ventos daninhos.
Meus olhos não te magoam
quando exploram , dolentes,
o teu corpo de mansinho.
Não te julgam. Só perdoam.
Bebem-te os gestos, frementes,
e cobrem-te de carinho.
Olhar-te, estou consciente,
é flor de suave fragância,
aromas desconhecidos.
Só por si é suficiente
para diminuir esta ânsia
e adormecer os sentidos.
Deixa pois que os meus olhos
o teu corpo acariciem
mesmo de longe, ansiosos.
E como flor entre abrolhos
só de ver-te se saciem
e deixem de estar saudosos.

Maria Helena Guimaraes

Do livro """ INTIMIDADES """
Ano 1994 , pag. 27  







quarta-feira, 11 de março de 2015

são reis

Render-me!
Baixar todas as defesas e render-me
e deixar-me navegar
dentro do teu mar...
e sentir que nele posso viver e amar
e que serás rochedo
onde possa me despenhar
sem medo de me magoar!


são reis
 
 

terça-feira, 10 de março de 2015

José Gabriel Duarte /// Mulher-Flor


Sinto luz no brilho dos teus olhos
Um rasgar de desejo nos teus lábios
Um leve aroma a jasmim
Que me faz voltar
Que me faz sentir de onde vim.
O vento frio da noite
Que te arrefecia
Não amanheceu
No regar de espuma da noite
Acalmou.
O cálice do teu corpo
Voltou a florir
Renasceste mulher
Botão de flor
Querendo abrir...

©JGD  Jose Gabriel Duarte
 in No Outro Lado de Mim (Chiado Editora) 





photo © Carl Perutz 
Marilyn Monroe, 1958

Especialmente......

Especialmente,para ti!!!!


Sempre te esperei,
e sem saber quem tu eras, reconheci-te!
Apercebi-me que eras, no fundo,
o sonho que eu nunca tinha sonhado.
O meu corpo repousa agora nas tuas pétalas,
e é embalado pela tua música,
que me acalma num abraço quente.
Não quero acordar nunca!
Sinto que há magia entre nós
e que não é preciso falar.
O vento pega nas minhas palavras
e silenciando-as, entrega-as no teu coração.
O teu olhar diz-me tudo,
e acompanha o ritmo descompassado do meu ser,
que cavalga velozmente entre as nuvens.
Não quero abrandar nunca!
 
 
 
 
 


segunda-feira, 9 de março de 2015

Paula Mendonça //// Como esquecer....

Como esquecer
Como esquecer a voz que um dia
Me beijou serenou acolheu
Me fez rir e chorar
Barafustar e ripostar
Me encantou, me embalou
e adormeceu
Como esquecer os olhos que um dia
Me encontraram e ofuscaram
Me ensinaram a rota das estrelas
E me fizeram acreditar que cada estrela era um beijo
E a lua, uma menina apaixonada
Como esquecer os braços que se fizeram enseada
Ou os lábios que mesmo à distância
me beijavam a boca o corpo a alma
Como esquecer as mãos que me tocaram por fora e por dentro
E o corpo que o meu corpo tanto amou?
Alguém sabe como se esquece
Quem um dia foi metade de nós…
… Ou talvez ainda o seja?
 
Paula Mendonça 
 




És tu... a minha flor de lotus mais bela //// Cidália Ferreira

És tu... a minha flor de lotus mais bela
Procurei por todos os lagos
Sentimentos e palavras lindas
Que outrora me sussurravas
Aos meus sentidos eram bem vindas,
Procurei por ti neste canto
Onde deixei minhas lágrimas
E desabafos também,
És minha flor, meu delírio
Contentamento do suplicio
Quando me sinto aquém,
Procurei-te para te dar
Meu coração a sorrir
Com vontade de dizer
Encontrei-te na flor de lotus,
A mais linda do universo
Brilhas nas águas paradas
Fazes as belas cantadas
Deixas teu cheiro no ar
Quando o sol te vem espreitar,
És tu...
 A minha flor de lotus mais bela
Com teu encanto tão salutar.

Cidália Ferreira 
 
 

domingo, 8 de março de 2015

Pelo Dia Internacional da Mulher, com um abraço a todas e a noção que as mulheres são todas iguais, mesmo com vestidos e culturas diferentes

MULHER
Mulher é Terra
é vaso, é semente.
É paz, é guerra,
lágrima, sorriso.`
É força, é luta
é grito.
É regaço e alimento,
Oásis no deserto.
É o amor por dentro.
Mulher é laço
Túnica, sari
Burka ou véu.
É o mundo num abraço,
um bocadinho de céu.
É calor e é desejo.
O infinito num beijo!


Helena Guimarães
Editora Minerva, Poesis XVI  


Orlando Zabelo /////// MULHER..................


Mulher objectiva que sabe o que quer,
Mulher concreta que define as suas metas,
Mulher mãe que proteje a sua cria,
Mulher madura de corpo e alma,
Mulher trabalhadora que não desiste
das suas responsabilidades,
Mulher mulher que também sonha no seu intímo,
Mulher amiga quando sente que pode,
Mulher amante que se entrega a quem ama,
Mulher com várias facetas mas sempre Mulher,
Assim és Mulher que conheço
sem conhecer verdadeiramente...


Orlando Zabelo  



sábado, 7 de março de 2015

Eugénio de Andrade //// Litânia



O teu rosto inclinado pelo vento;
a feroz brancura dos teus dentes;
as mãos, de certo modo, irresponsáveis,
e contudo sombrias, e contudo transparentes;
o triunfo cruel das tuas pernas,
colunas em repouso se anoitece;
o peito raso, claro, feito de água;
a boca sossegada onde apetece
navegar ou cantar, ou simplesmente ser
a cor de um fruto, o peso de uma flor;
as palavras mordendo a solidão,
atravessadas de alegria e de terror,
são a grande razão, a única razão.

Eugénio de Andrade

Arte: Konstantin Razumov


Clique no endereço :

http://youtu.be/0sHyJp-efuE





J G de Araujo Jorge //// Exaltação do amor

Exaltação do amor

Sofro, bem sei... Mas se preciso fôr
sofrer mais, mal maior, extraordinário,
sofrerei tudo o quanto necessário
para a estrela alcançar... colher a flor...
Que seja imenso o sofrimento, e vário!
Que eu tenha que lutar com força e ardor!
Como um louco talvez, ou um visionário
hei de alcançar o amor... com o meu Amor!
Nada me impedirá que seja meu
se é fogo que em meu peito se acendeu
e lavra, e cresce, e me consome o Ser...
Deus o pôs... Ninguém mais há de dispor!
Se esse amor não puder ser meu viver
há de ser meu para eu morrer de Amor!

J G de Araujo Jorge   



Eugénio de Andrade


.
-- É tão bom ser nuvem
ter um corpo leve,
e passar passar.
-- Leva-me contigo, quero ver Granada,
quero ver o mar.
-- Granada é longe, o mar é distante,
não podes voar.
-- Para que te serve
ser nuvem, se não
me podes levar?
-- Serve para te ver.
E passar, passar.


Eugénio de Andrade  


sexta-feira, 6 de março de 2015

Fernando Campos de Castro //// FAZENDO ROMPER O DIA....

FAZENDO ROMPER O DIA


Quando vieres logo à noite
Como o vento dum desejo
Ficam as sombras lá fora
E sem haver mais demora
Terás a luz do meu beijo
 
Amar-te-ei sem fronteiras
Nos meus sentidos dispersos
Sem haver perto ou lonjura
Serei contigo a loucura
Que o poeta põe nos versos
 
Sentir que os cheiros deslizam
Do teu corpo como um rio
Serei o mar que se agita
Na tempestade infinita
Do teu corpo em desvario
 
Saber que a música é tua
Entre os meus dedos em chama
Seremos mais que alegria
Fazendo romper o dia
Nas sombras da nossa cama


Fernando Campos de Castro  



Clique no endereço :

http://youtu.be/0bPIvQpSC34

Gisela João - - Madrugada sem sono




quinta-feira, 5 de março de 2015

Laura Santos //// Sinto a tua falta....

Sinto a tua falta
quando
no mofo dos dias
os braços da aurora me acordam
e do peito uma ave se solta em voo de luz
em direcção à nora
onde os meus olhos bebem a manhã
na névoa do velho alcatruz.
Quando
os raios do meio-dia escorrem
pelas paredes num lamento
e o calor refugiado na sombra
não me refresca o pensamento
na hora dorida que se arrasta
sem vontade de morrer na lonjura
que de ti me afasta.
E é vertical a tua lembrança
caindo a prumo. Transportando
para as masmorras da esperança
a escuridão da noite e a voz
que permanece muda
no atalho da distância.
O brilho das coisas raras esconde-se
na seiva dos lírios e num desejo
feito cobiça de águas invioladas
onde se atrevem temerários sonhos;
os últimos sobreviventes
do amor e da morte. Reféns
suspensos de grandes asas
que se despenham fazendo estremecer
os alicerces dos homens e das casas.
Apanho-os do chão, labareda feita água
na plenitude do nada, dura solidez
em que me sinto e me distraio
quando
atravesso o rio e os meus passos
lentamente marginais
não alcançam como dantes
os desígnios dos espaços siderais
e uma nota em dó menor
atormenta o sono das pedras.
Quando
ao cair da tarde uma folha seca
soa em corrupio no vento
e desaparece sem o regresso
do sol ao firmamento.

Laura Santos   







Clique no endereço :

http://youtu.be/i2wmKcBm4Ik

José Guilherme de Araujo Jorge //// Triste.....

Triste
Eu hoje acordei triste, - há certos dias
em que sinto esta mesma sensação...
E não sei explicar, qual a razão
porque as mãos com que escrevo estão tão frias...
E pergunto a mim mesmo: - tu não rias
ainda ontem tão feliz... diz-me então
por que sentes pulsar teu coração
destoando das humanas alegrias?...
E, nem eu sei dizer por que estou triste...
Quem me olha não calcula com certeza,
o imenso caos que no meu peito existe...
A tristeza que eu sinto ninguém vê...
- E a maior das tristezas é a tristeza
que a gente sente sem saber por quê!...


José Guilherme de Araujo Jorge 


quarta-feira, 4 de março de 2015

Ana Fonseca /// No veludo dos teus olhos....


NO VELUDO DOS TEUS OLHOS...


Sonhadora
De pensamentos ao largo
de olhos postos no vento
com o areal nos dedos
e o coração ao leme
deste momento
Sei-te em mim
No turbilhão
Que me aquece o sangue
Me acalma a mente
Me deixa exangue
E abandonada em mim
entrego-me-Te
Às palavras
Onde em cofre guardadas
Serão alma iluminada
Sentimentos
Só te peço...
Guarda-me-te
Deita fora a chave
Esquece os códigos
Que eu saberei lê-los
No veludo dos teus olhos...

ANA FONSECA
in NO LEITO DO MEU PENSAMENTO (Universus, 2011)  







terça-feira, 3 de março de 2015

Maria Helena Guimarães /// Vem meu amigo

VEM MEU AMIGO
 

Vem senta-te a meu lado, meu amigo,
neste silêncio verde de floresta.
Senta-te aqui, quero falar contigo
do que do nosso amor, tão breve , resta.
Recordas-te daquela tarde linda
em que o sol punha na terra matiz ?
Beijaste-me a boca , em ternura infinda
e nos teus braços eu fui tão feliz....
Escorria alegria dos meus olhos
quando, percorrendo só esses caminhos
sabia, que para lá desses escolhos
estavas tu, querendo meus carinhos.
Queimavam de prazer os meus sentidos
quando, inibriada nos teus olhos ternos,
nos corpos ardendo, já perdidos,
trocavamos, na tarde, amores eternos.
Agora percorro só esses caminhos.
Nos meus olhos não há alegria,
já não há prazer, não há carinhos,
somente a dor e a nostalgia.

Maria Helena Guimarães
Do livro "" INTIMIDADES "" ano 1994   


 


Maria do Rosario Pedreira ///// Vieste como um barco carregado de vento

VIESTE COMO UM BARCO CARREGADO DE VENTO



Vieste como um barco carregado de vento, abrindo
feridas de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o tempo de iludires a arquitectura fria do estaleiro
onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se partiste
que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume 
de cera, lento e brando, que já não derrama calor.
Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior do que a minha :
o fio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos. Dizem-me os seus passos
que vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que o meu mar está cercado de litorais, que é tarde
para quase tudo. Por isso, vou para casa
e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.

Maria do Rosário Pedreira  


segunda-feira, 2 de março de 2015

LUADIURNA

acende-se a magia
na cintura dos meus olhos
na orla branca do mar
onde te procuro ao entardecer
nessa linha ténue
que o horizonte desenha
antes do anoitecer
acende-se a magia
na cintura da noite
num braçado de estrelas
perfumando os risos
acariciando os corpos
até ao amanhecer
acende-se a magia
na cintura das palavras
no doce engano que é
perseguir um sonho tecido
nas franjas da ilusão
tantas vezes adiado
e outras tantas consentido
acende-se a magia
na cintura dos teus olhos
emoldurando a noite e
os sonhos e os risos e
os corpos das estrelas


luadiurna   


domingo, 1 de março de 2015

Laura Santos //// Desencontro

DESENCONTRO


Deslizo mansamente o meu coração
no teu pulsar inquieto
Despejo as mil gotas de pólen percorrido
no caminho...
Os teus ramos abarcam as estepes desertas,
esquecidos das viagens incertas...
Espero-te na encruzilhada primeira,
à direita do meu coração desfeito.
Neste rumar-safari desencontrado; espelhos,
palmeiras, palmarés de espuma, parto
nos passos perdidos do pastor.
Peço-te simplesmente por favor,
pede-me um beijo breve
na partida, amor.

Laura Santos   







Clique no endereço 



http://youtu.be/6WpsFVkmS9s

Paula Mendonça


Vem até mim, meu amor…
Quero te amar
matar esta sede
beber do teu corpo
respirar pelo teu nariz
pela tua boca
por cada poro da tua pele
Enredar-me contigo nas margens do desejo
e sermos suor e saliva
esperma e fluidos
Quero saciar de abraços e de beijos,
de carícias e de amor, esta fome…
Fluir livre nas tuas veias
nas tuas artérias, no teu sangue
Fundir-me em ti
até sermos um só
a arder na fogueira imensa do amor que nos consome…


Paula Mendonça