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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Entrevista



Telefonam-me do jornal:
-Fale de amor-
diz o repórter,
como se falasse
do assunto mais banal.

-Do amor? -Me rio
informal. Mas
ele insiste:
-Fale-me de amor-
sem saber, displicente,
que essa palavra
é vendaval.

-Falar de amor? -Pondero:
o que está querendo, afinal?
Quer me expor
no circo da paixão
como treinado animal?

-Fala...-insiste o outro
-Qualquer coisa.
Como se o amor fosse
- qualquer coisa -
prá se embrulhar no jornal.

-Fale bem, fale mal,
uma coisa rapidinha
-ele insiste, como se ignorasse
que as feridas de amor
não se lavam com água e sal.

Ele perguntando
eu resistindo,
porque em matéria de amor
e de entrevista
qualquer palavra mal dita
é fatal.

Affonso Romano de Sant'Anna

Foto:Mehmet Alci

domingo, 30 de maio de 2010

Entre os teus lábios



Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

Eugénio de Andrade

Foto:Janosch Simon




ME HAN TIRADO UN BESO ESTA MAÑANA

Ramón de Almagro

Me han tirado un beso esta mañana,
me lo enviaron los labios de un niño,
y tú sabes cuanta sed hay en el alma,
de una simple muestra de cariño.

Me han tirado un beso esta mañana,
y mira como influyen estas cosas,
que mi aburrido día de semana,
de golpe... se pobló de mariposas.

Me atiraram um beijo esta manhã

Me atiraram um beijo, esta manhã,
me enviaram os lábios de um menino
e tu sabes quanta sede há em minha alma,
de um simples sinal de carinho.

Me atiraram um beijo, esta manhã,
e veja a influência destas coisas,
tanto que meu aborrecido dia da semana
de repente ...se encheu de borboletas.

sábado, 29 de maio de 2010

sexta-feira, 28 de maio de 2010

pois é.....diz-me.

Diz-me o teu nome



Diz-me o teu nome - agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão

com os teus dedos - como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,

como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro - assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o

nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.

Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim.

Maria do Rosário Pedreira

Foto:Piotr Kowalik

Do Outro Lado



Quando enfim abri os olhos
debruçado sobre ti, eu olhava teus cabelos finos
tão leves, como um tênue mistério em tua nuca...
E o pequenino lóbulo de tua orelha
onde pendurei o brinco do meu beijo.

E fiquei a pensar que estava ali, tão presente
em ti
e nem me vias...

...Tu estavas do outro lado,
em toda parte de minha vida,
e nem sabias...

J.G. de Araújo Jorge

Foto:Joris Van Daele

quinta-feira, 27 de maio de 2010












Poema do que tinha de ser

O fato é que de ti só quero
o que tens de diferente, de parecido e de melhor,
Mas, o pior, contigo, é muito bom também.
Nem quero saber das coisas que não quiser me dizer
Embora esteja doido para te dizer
Muito mais do que queres saber:
Palavras amorosas, dengos e mesmo desejos pervertidos,
Que trago comigo.

Ah! Me pego pensando no teu rosto
Como será quando estiveres alvoroçada
Por pegar teus seios,
Que receios terás
Se te lamber mais do que devo
Numa fantasia única
De que és sorvete
Que sonhei quando criança.

A realidade é que, perto de ti,
Todo olhar meu é pornográfico
Como um gráfico
De uma realidade inevitável,
De um destino
Que não se pode fugir.

Imagens



Meus olhos percorreram teu rosto...
Envolvi-me em tua alma inocente.
Não entendi o que você me disse,
Fiquei encantado com a ópera da sua voz:
A música dos anjos.

Você não existe...

Apenas imagens...
Sentimentos são puros

Apenas a lembrança...
Anjos resistem ao tempo

O mundo é feito de imagens,
A imagem do amor é você.
Até hoje não sei se sonhei
Ou continuo acordado.
Quero voltar ao passado,
Tentar encontrar você no futuro.

A fotografia do tempo na lembrança
De quem testemunhou
A queda de um anjo na terra.

- Talvez este sonho nunca acabe.

Thiago Maia

Foto:Howard Schatz

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Coisa amar



Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te logamente como dói

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

Manuel Alegre

Foto:Shubina Olga

terça-feira, 25 de maio de 2010

Pediste e te dei



Tu, pediste a rosa,
Dei-te.

Uma vez em meus braços,
pediste-os,
eu dei.

Com, doçura pediste,
fidelidade,
e dei.

Quando falei vantagens,
dos sonhos meus,
tu pediste,
e os dei.

Para o mundo andar,
minhas pernas,
as dei.

O tempo fez uma volta,
o arco reluziu,
te dei.

Meu tronco,
o abraçaste,
e a ti o dei.

O horizonte infinito,
tal qual o desejo,
e o dei.

Minha cabeça,
junto os pensamentos,
a ti dei.

Nada mais restando,
para te dar,
devolveste-os.

E, novamente,
não pediste a rosa
mas a ti dei.

Uma vez pediste-me,
por inteiro,
e me dei.

Eis o ciclo do amor:
esse se dar,
receber-se de volta,
e, de novo, dar-se.

José do Vale Pinheiro Feitosa

Tela:Magritte


Esquecer

Tu podes esquecer e as recordações
Se colam na minha pele como um castigo

Tu podes esquecer, eu só vivo
da saudade do querer que eu perdi

Tu podes esquecer e toda noite
Mil voltas sempre dou sem o esquecimento

Tu podes esquecer, como eu queria
Esquecer como tu... sem um suspiro.

segunda-feira, 24 de maio de 2010




Nesta noite, hoje, agora, já, há
esta imensa necessidade de teus braços. de tuas coxas, de teus seios.
Todo meu pensamento se resume a este desejo reconhecido
que me impele a dizer todas as palavras jamais pensadas
que brotam como flores incompreensíveis
para que compreendas o pouco significado do amanhã
quando,agora, já, neste momento,
representas tudo e tudo represento:
um homem, uma mulher e o doce momento
em que a vida mostra a mágica da paixão
e busca o prazer, a única ilusão real.


Nuvens



Nua vens
eu nas
nuvens.....

Tchello

Foto:Allan Jenkins

domingo, 23 de maio de 2010

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Sunday, April 25, 2010




Dê-me tua mão

Dê-me tua mão e dançaremos;
dê-me tua mão e me amarás.
como uma flor seremos
como uma flor e nada mais ...
O mesmo verso cantaremos,
no mesmo passo dançarás.
Como uma espiga ondularemos
como uma espiga e nada mais.
Te chamas Rosa e eu, Esperança;
porém, teu nome esquecerás,
porque seremos uma dança
na montanha e nada mais ...

sábado, 22 de maio de 2010

Penélope



Mais do que um sonho: comoção!
Sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.

E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.

Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.

David Mourão-Ferreira

Imagem retirada do Google

sexta-feira, 21 de maio de 2010






Sei que comprei
Alguns sapatos a mais
Que gastei, gastei demais,
Mas foi você quem me seduziu
Quem se iludiu, me iludiu
E acostumou mal assim.
E não posso dizer que não gostei
Se, o doce, agora, acabou
O dinheiro também
Não me importo, meu bem,
Se tiver pra viver
Num lugarzinho qualquer
Só de peixe e farinha
Você pode dizer
Perdi tudo que tinha,
Porém aquela mulher
Ainda é minha,
Só minha!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Faz-me o favor



Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor - muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

Mário Cesariny

Foto:Joel Riner

quarta-feira, 19 de maio de 2010



Los dos estamos idos de la mente
desde que nos queremos
desde que nos amamos

Estamos como locos de remate
de tanto que nos vemos
y nuestro amor nos damos.

Pasamos días y noches siempre juntos
gritando pero fuerte que nos queremos mucho
la gente nos apunta con el dedo
pero qué nos importa
yo de eso nada escucho

Los dos estamos idos de la mente
andamos como locos
por el mundo perdido
tus brazos se parecen a los míos
tu cara y mi cara
se encuentran confundidos.


terça-feira, 18 de maio de 2010




BAGDAD

Antonio Gala


Bagdá

Tinha tanta necessidade de que me amasses,
que sem nada mais ver declarei meu amor.
Tirei minhas luzes, pontes e rodovias,
roupas artificiais.
E te deixei nua, inexistente quase,
sob a lua e minha.
As princesas sumérias,
quando foram queimadas com jóias brilhantes,
ainda assim brilhavam os seus dentes jovens;
seus crânios se quebraram antes de seus colares;
se fundiram seus olhos antes de suas medalhas ....
Sob a lua ainda brilhavam seus dentes,
quando te possui nua e minha.

A Máscara



Quem de nós tem a coragem
de aceitar a sua imagem,
aquela imagem sem graça,
sem rasgos, imagem baça
que o espelho teima em reflectir?

Quem de nós tem a ousadia,
no viver do dia a dia,
de retirar a mordaça
gritando ao vento que passa
o seu interno sentir?

Quem deixa cair a máscara?
Fantasia construída
de cada um para si.
Máscara de Rei, de Profeta,
de intelectual, de poeta,
de homem muito importante
que não esquece a cada instante
o gesto, o sorrir conveniente,
a vénia subserviente,
que nunca o desmascara.

Quem deixa cair a máscara?

Helena Guimarães

Não quero amar-te



Não!! Não quero amar-te.
Não posso amar-te!
Mas és sol
do meu pensamento,
em ti a cada momento.

Lua das frias noites,
abraço
na minha solidão
de todos acompanhada,
sem norte, sem sul,
sem nada,
básicos seres
nesta imensidão
sem fim.

Não quero amar-te!
Seria o meu holocausto
na ara do teu corpo,
tua alma.
Meu ser no teu absorto,
ali, em êxtase, subjugado,
à espera, num soluço,
do teu beijo desejado.

Não! Não quero amar-te!
Mas a minha fantasia
segue os teus passos
no cumprir do dia a dia,
despe-te a roupa
suga-te o sexo
lambe-te o beijo,
colhe-te o abraço
como um pedaço
de mim!!

Helena Guimarães

Foto:Joris Van Daele

segunda-feira, 17 de maio de 2010



Os dias são feitos de horas e as horas, de minutos

O tempo, algo inútil, que é sempre dissoluto.

Como é o teu amor, uma paixão contra a qual luto.

O livro dos amantes II



Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu és o poema e és a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
não compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.

Natália Correia

Foto:Paul Bolk

domingo, 16 de maio de 2010

Capítulozinho sobre o Amor

Não há nada melhor ou não conheço
Que um corpo se fundir em outro corpo, de forma doce,
Profunda e, se possível, bem devagar...
Com um improvável e cruel carinho
Que se converta aos poucos em pranto e prazer
Que lembra, no seu êxtase, o morrer...
Toda alegria nasce com o sofrer:
Sabe meu coração, que transparente,
Viveu do amor suas loucuras mais sensatas;
As dores doces, os gozos tão dourados,
O cinza dos adeuses, o fluir da prata
E nas suas chamas, como um Titanic humano,
Viu o naufrágio de todos os seus planos,
Ainda que sabendo que, na vida,
Amar é o melhor dos desenganos.





sábado, 15 de maio de 2010



De noite, amada, amarra teu coração ao meu
e que eles no sonho derrotem
as trevas como um duplo tambor
combatendo no bosque
contra o espesso muro das folhas molhadas.
Noturna travessia, brasa negra do sonho.
Interceptando o fio das uvas terrestres
com pontualidade de um trem descabelado
que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.
Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
à tenacidade que em teu peito bate.

Com as asas de um cisne submergido,
para que as perguntas estreladas do céu
responda nosso sonho com uma só chave,
com uma só porta fechada pela sombra.

Pablo Neruda

Foto:Michael Schultes

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A minha amante



Dizem que eu tenho amores contigo!
Deixa-os dizer!…
Eles sabem lá o que há de sublime
Nos meus sonhos de prazer…
De madrugada, logo ao despertar,
Há quem me tenha ouvido gritar
Pelo teu nome…

Dizem - e eu não protesto -
Que seja qual for
o meu aspecto
tu estás
na minha fisionomia
e no meu gesto!

Dizem que eu me embriago toda em cores
Para te esquecer…
E que de noite pelos corredores
Quando vou passando para te ir buscar,
Levo risos de louca, no olhar!

Não entendem dos meus amores contigo -
Não entendem deste luar de beijos…
- Há quem lhe chame a tara perversa,
Dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal -
O meu castigo…
E eu em sombras alheio-me dispersa…

E ninguém sabe que é de ti que eu vivo…
Que és tu que doiras ainda,
O meu castelo em ruína…
Que fazes da hora má, a hora linda
Dos meus sonhos voluptuosos -
Não faltes aos meus apelos dolorosos
- Adormenta esta dor que me domina!

Judith Teixeira

Foto:Konrad Gös




Não quero ser o último a comer-te



Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde

em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde

a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,

para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.

Carlos Drummond de Andrade

roubado de um blog....

..........
Numa última tentativa desesperada entramos apressados no 2001. Primeiro ele e depois eu. Mal entrei no quarto e ele me beijou desesperadamente a boca deixando-me quase sem respiração possivel. Largou-me e foi até a janela terminar o cigarro. Atirei-me na cama enquanto me ria nervosa das peripécias que tínhamos passado para chegarmos a aquele momento tão esperado. Adorava ouvir a respiração dele se acelerando e o português se tornando ainda mais mal falado sendo sistematicamente substituído pelo inglês.....

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dama



Uma dama
em chama
me chama
pra cama

Tchello

Foto:Allan Jenkins

quarta-feira, 12 de maio de 2010





Árvore de meus pensamentos
Lança tuas folhas ao vento
Do esquecimento,

Que ao voltarem as primaveras,
Farão em ti as quimeras
Um novo ninho;

E sairão das tuas folhas
Em vez de amargas tristezas,
As canções

Que em outro maio tivestes
Para consolo dos tristes
Corações.

terça-feira, 11 de maio de 2010


Abdico das horas do relógio. Entrego-as a ti... O que quer que as horas sejam, feitas de tempo ou de ponteiros que nunca param. Que ele seja teu escravo como as minhas palavras já o são. Abdico das horas, mesmo que nunca se tenham dado a mim de verdade. E elas ficam-te tão bem...presas ao cabelo ou simplesmente na roupa como um acessorio antigo e cheio de brilho. Troco a palavra pelo beijo. Troco as horas por ti. Olha-me!!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ternura



Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
extático da aurora.

Vinícius de Moraes

Foto:Sergey Ryzhkov

Se.....................




Se quiseres meu amor assim
Como é. Um amor sem limites e calmo.
Pensa nele como se fosse um salmo
Que termina com um palavrão.

Se quiseres meu amor assim
Como é. Um amor sem paixão, indiferente.
Pensa nele como se fosse nascente
Que,de repente, cai feito cachoeira.

Se quiseres meu amor assim
Como é. Um amor sem hora ou recato.
Pensa nele como se fosse um rito santo
Que se purifica porque peca tanto.

Eros Thanatos



1
Ó pureza apaixonadamente minha:
terra toda nas minhas mãos acesa

2
O que sei de ti foi só o vento
a passar nos mastros do verão.

3
Um corpo apenas, barco ou rosa
rumoroso de abelhas ou de espuma.

4
Entre lábios e lábios não sabia
se cantava ou nevava ou ardia.

5
Amo como as espadas brilham
no ardor indizível do dia

6
Seria a morte esta carícia
onde o desejo era só brisa?

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 7 de maio de 2010


Um poema de amor



Não sei onde estás, se falas
ou se apenas olhas o horizonte,
que pode ser apenas o de uma
parede de quarto. Mas sei que
uma sombra se demora contigo,
quando me pergunto onde estás:
uma inquietação que atravessa
o espaço entre mim e ti, e
te rouba as certezas de hoje,
como a mim me dá este poema.

Nuno Júdice

Se........


Se não és um fantasma,
Se não tenho ilusão,
Por favor,
Não, não diga nada,
Nada de explicação.
Me dá só tua mão,
Me olha com o mesmo olhar
Que vou por a música pra tocar.
Só te dou permissão
Para um copo de vinho,
Um carinho, um beijo, talvez,
Antes de dançar.
Como pode ser a última vez
Só preciso que saiba
Que, hoje, me fez
Muito feliz.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

por aqui....ssr

A mulher que passa



Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me concontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacífica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.

Vinícius de Moraes

Foto:Marta Glinska
Aquela que amo
Disse-me
Que precisa de mim.
Por isso
Cuido de mim
Olho meu caminho
E receio ser morto
Por uma só gota de chuva.

hum........

Eternamente sua



Serei eternamente sua pois,
só tu conheces meu cheiro,
meu gosto e meu corpo.
Tu podes me magoar,
me fazer calar e,
ainda assim serei eternamente sua.
Deixarei que beijes outras bocas,
que toques outros corpos,
que sintas o prazer de outros gemidos
e que conheças o íntimo de outros seres.
Deixarei.
Para ter a certeza de que
voltarás e que entenderás que
quando beijaste outra boca
– era a minha que tu querias,
que quando tocaste outro corpo
– era o meu que querias tocar,
que quando sentiste o prazer de outro gemido
– era o meu que querias sentir e, que,
finalmente, quando conheceste
o interior de outro ser
– era o meu interior que tu buscavas
em tuas infinitas procuras.
Deixarei-te livre, para teres a certeza
de que és meu e, assim voltar
com a certeza de que ficarás.
E então, depois de tantas buscas infindas suas,
revelarei-te que estava a sua espera,
assim como sempre estive.
E seremos eternamente nós.

Tatiana V. Mattos

Foto:Elena Vasilieva

terça-feira, 4 de maio de 2010


Cruel ,,,,sou ,,,,srsrrssr

Você que é excessiva,
e alegre,
que tem nos lábios o gosto
de quem oferece o prazer,
como se fosse um riso,
é a mulher que preciso
quando bebo, ou não,
para me despertar a ilusão
e o desejo de te matar...
de beijos!