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sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Refaat Alareer

 ncias, não estremeci nem chorei em voz alta. Sob os golpes do acaso, minha cabeça está ensanguentada, mas inflexível.

  1. Se eu devo morrer
    você deve viver 
    para contar minha história 
    vender minhas coisas 
    comprar um pedaço de pano 
    e algumas cordas, 
    (deixe-o branco com uma cauda longa) 
    para que uma criança, em algum lugar de Gaza 
    enquanto olha o céu nos olhos 
    esperando seu pai que partiu em chamas -
    e não se despedir de ninguém 
    nem mesmo para a sua carne, nem para si mesmo - 
    vê a pipa, minha pipa que você fez, voando 
    acima 
    e pensa por um momento que um anjo está lá 
    trazendo de volta o amor 
    Se eu devo morrer 
    deixe trazer esperança
    deixe ser um conto


    Refaat Alareer



quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Inverno.......................

 

DEC

Inverno, doce inverno das manhãs 
Translúcidas, tardias e distantes 
Propício ao sentimento das irmãs 
E ao mistério da carne das amantes: 

Quem és, que transfiguras as maçãs 
Em iluminações dessemelhantes 
E enlouqueces as rosas temporãs 
Rosa-dos-ventos, rosa dos instantes? 

Por que ruflaste as tremulantes asas 
Alma do céu? o amor das coisas várias 
Fez-te migrar - inverno sobre casas! 

Anjo tutelar das luminárias 
Preservador de santas e de estrelas...
Que importa a noite lúgubre escondê-las? 

Londres, 1939





quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Nunca é tarde para ouvires o teu coração | Natal 2023 | Vodafone Portugal





Esta é uma história sobre amor e como estamos sempre a tempo de o viver. Faz-nos refletir sobre os momentos de grande coragem nas nossas vidas, que nos conduzem à felicidade. ❤️

Jorge de Sena

 

DEC



Natal de quê? De quem? 
Daqueles que o não têm? 
Dos que não são cristãos? 
Ou de quem traz às costas 
as cinzas de milhões? 
Natal de paz agora 
nesta terra de sangue? 
Natal de liberdade 
num mundo de oprimidos? 
Natal de uma Justiça 
roubada sempre a todos? 
Natal de ser-se igual 
em ser-se concebido. 
em de um ventre nascer-se, 
em por de amor sofrer-se. 
em de morte morrer-se, 
e de ser-se esquecido? 
Natal de caridade, 
quando a fome ainda mata? 
Natal de qual esperança 
num mundo todo bombas? 
Natal de honesta fé. 
com gente que é traição, 
vil ódio, mesquinhez, 
e até Natal de amor? 
Natal de quê? De quem? 
Daqueles que o não têm. 
ou dos que olhando ao longe 
sonham de humana vida 
um mundo que não há? 
Ou dos que se torturam 
e torturados são 
na crença de que os homens 
devem estender-se a mão? 


Jorge de Sena





sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Poema especial de Natal História antiga de Miguel torga



Era uma vez, lá na Judeia, um rei.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

João Luis Barreto Guimarães

 


Procura as minhas mãos uma mulher
nos quarenta
pedindo que lhe atrase o outono dos olhos
cansados: "só queria perder dez anos". E 
tento o que de amargo possa ter acontecido
para a ter a desejar punir
um decénio à idade -
dou comigo a lamentar não saber delir
memórias somente
rugas e rídulas (ruínas
pouco marcadas). Na armadilha do tempo
ninguém tomba por engano:
não se expurga a pele por décadas quando muito
dano a
dano. 


João Luis Barreto Guimarães



Mathilde Battenberg, Provence landscape, 1914


segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

João Luis Barreto Guimarães

 Home

  1. Photo: Alexey Titarenko

    O que encerras num abraço quando
    abraças alguém não é
    um corpo: é tempo. Nesse demorar suspenso
    (enquanto deténs outra vida) há
    um corpo que é teu enquanto o reténs
    nos braços
    (porquanto o tens para ti
    suspendendo o movimento)
    enquanto páras o tempo pelo
    tempo
    de um abraço. Mas a
    força dos teus braços é mais fraca do
    que a do tempo e
    tens de ser tu a ceder
    (tens de ser tu a largar) porque
    o tempo não aceita estar parado tanto tempo e
    exige que o soltes para
    tornar ao movimento.


    João Luis Barreto Guimarães

sábado, 16 de dezembro de 2023

POEMA

 





O teu perfume

Busco nomes nas minhas memórias 

em vão 

nunca seleccionei as minhas paixões

na manhã seguinte

uma mulher despenteada

dormia na minha cama

sem que eu soubesse o seu nome


por delicadeza

a todas adormecia lendo-lhes poemas

por delicadeza

a todas trazia o pequeno-almoço à cama

depois era o jogo das palavras

em que cada um procurava encaixar 

a sua palavra na palavra do outro

por delicadeza 

tudo acabava em promessas

de próximos dias

da infinitude em que não acreditávamos


busco nomes nas minhas memórias 

em vão ___ no entanto

nunca mais abri a gaveta onde guardo 

o teu perfume de que tu te esqueceste.

Fausto - O Barco Vai de Saída - Ao Vivo no CCB





LIS ENTRE NÓS

 

2023/12/16

LIS ENTRE NÓS


SABES

aquela tristeza maior que o peito.

aquelas lágrimas rolando sem que as possamos impedir.

aquela ausência de palavras impedindo-nos de gritar.

aquele abraço apertado necessário para não cairmos.

aquela falta de luz quando cegamos de dor.

Sabes…

muitas vezes assim me sinto, todas as vezes eu sei que TU SABES.

O Mágico sem mágica

 

O Mágico sem mágica

 


Quando era criança

(não sei explicar a razão)

sei que mudava o mundo 

com o estalar dos dedos. 

E ria de todos os fantasmas 

e dos medos

fazendo os monstros desaparecem 

com um simples abracadabra.

Não sei quando a mágica se desfez. 

Só sei que não consigo mais 

mudar nada. 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

What links Rothko and Mozart?




quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Jorge de Sena

 

DEC

Essa verdade: eu sei, de cada qual. 
Mas a mentira de uns não é verdade de outros, 
quando uns e outros gritam que a detêm, 
como se fosse um património, um vínculo, uma pátria. 
Não: má-fé é só má-fé, e nunca um erro. 
Por todas as verdades à verdade vai 
quem sem má-fé sobre ela se debruce. 
Errando embora, a lealdade intacta 
nos leva pura onde as verdades não. 
E que é verdade, a última verdade? 
Apenas ser-se humano além de nós; 
ouvir e ver, e não ouvir, não ver, 
quanto de nós e de outros nos divida. 
Porque divisos somos na unidade extrema: 
muitos em nós como nos outros muitos. 
Mas de verdade e de erro nos unimos; 
e de má-fé nos repartimos tanto 
que nada resta: a própria morte morre 
em vossas bocas que se fecham falsas 
ou se abrem falsas para mais traição.
E em vossos gestos que, medrosos, tecem 
a rede vil da falsa solidão. 
Como quando a nós abandonamos 
e aos outros entregamos o saber incerto 
do que pensamos ser; ou como quando 
levados vamos pelo vento odioso 
que o mal profunda à nossa volta e em nós; 
como quando não somos, além do que nos prende, 
a soma derradeira que o fulgor da morte 
instantânea fará no estrondo em que chegar: 
eis a má-fé, eis a traição, a infâmia, 
talhadas com fervor nas cómodas lembranças 
de quanto é de família não amar o próximo 
senão como um farrapo que se demitiu 
qual nós nos demitimos não amando nele 
a liberdade irredutível de ser quem 
covardemente em nós não procuramos. 
Que mundanal solicitude a vossa! 
Protestai, defendei, gritai palavras 
que bocas sujas de ouro já rilharam. 
Essas palavras hão-de abandonar-vos, 
e ver-vos-ei sem elas, nus, despidos, 
ante o espelho da vida que, real, 
não há-de reflectir-vos essa imagem vá 
com que iludistes a dignidade humana 
na hora em que o silêncio era a verdade 
do Amor traído em suas faces todas.


Jorge de Sena