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sábado, 31 de julho de 2010

Hora



Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.

Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.

E dormem mil gestos nos meus dedos.

Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.

Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.

E de novo caminho para o mar.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Foto:Yuri Bonder

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Segredo



O segredo está no amor,
é evidente,
mas também em sabermos
afastar do nosso convívio
o que não presta.
Só quem se libertou
do medíocre e do vazio
poderá ser feliz.

Torquato da Luz

Foto:Christian Coigny

quarta-feira, 28 de julho de 2010

....penso em ti.




Pois eu não, por Deus não, eu não te esquecerei
até que me separe de minha alma...
(Khamsá')


Penso em ti quando solto,
o lobo dos sentidos salta sobre mim
na sede indizível dos perdidos.

Penso em ti, na noite, antes perfumosa,
a devassar janelas e lençóis.
Agora, névoa, visgo de dor
que atravesso entre gemidos.

Penso em ti quando se alteia
o mar e, músico, deixa no ar
um tremor, um alarido,
tal qual o amor.

Penso em ti quando
recua o mar
levando o espanto de todo início
e, vago, deixa o sal
para que nada morra
nem a saudade do que hoje é findo.

terça-feira, 27 de julho de 2010




Você, com aquelas conversas moles


Diga Púrpura



Diga púrpura mais uma vez.
Que bonito!
Deixa beijar, ............
..........., não sabe quanto amo.

Não diga adeus,
Nem vá embora.
Quero te olhar um pouco mais.

Achas graça!?...
Que desgraça!
Gosto de Você.

Teus cabelos... Olhos...
Boca...

Diga púrpura outra vez...
Mais perto...
Assim...
Pense em mim e nada mais.

Claudio Antunes Boucinha

Dança



Eu me lembro de teu corpo
Esgueirando-se sensual
Pela gula de meu olhar.
No compasso rítmico,
Sibilando,
Trazendo para mim
Tua arte feita de carne.
Degusto na memória,
Ansioso,
O arfar de teus seios
E o suor de tua face.
Que gozo escondia teu sorriso?

Paulo Mont'Alverne

Foto:Kharlamov Sergey

segunda-feira, 26 de julho de 2010




Uma dama
em chama
me chama
pra cama

Tchello

domingo, 25 de julho de 2010

..antes que amanheça.....





Antes que o dia amanheça...


Antes que o dia amanheça
e os primeiros raios de sol nos beije
deixe-me te olhar mais uma vez, te amar.

Quero guardar em minha lembrança
o teu lindo sorriso, o calor do teu corpo
o cheiro de tua pele impregnado em mim.

Antes que se despeça quero teu beijo molhado.
Teu abraço mais apertado e ouvir teu coração.
Quero ouvir tua voz suave dizendo: espere-me
Para que eu não me desespere e morra de amor.

Antes que o dia amanheça deite-se em meu peito
nada fale, em silêncio quero armazenar teu calor.

( Joe Luigi )

....de: augier de volta





No te voy a decir...

Angel Augier

No te voy a decir
que quiero ser la arena
que tus pies desnudos acaricie,
ni los rayos del sol que bajen jubilosos
a dorar más aún
la fina miel que forma tu epidermis,
ni el agua que la abrace con su espuma
ni el viento que la bese
y agite sus cabellos.

Sólo quiero pedirte que no dejes
que el beso y la caricia
de la arena y las olas,
de la luz y del aire,
destruyan la huellas de los míos
ni mi recuerdo que te sigue
como muda presencia inevitable.


Não vou te dizer ...

Não vou te dizer
que quero ser a areia
para acariciar teus pés descalços,
ou os raios do sol que baixem jubilosos
a dourar mais ainda
o fino mel que forma tua epiderme,
nem a água que te abraça com sua espuma
nem o vento a beijar
e agitar teus cabelos.

Só quero pedir-te para que não deixes
que beijos e carícias
da areia e das ondas,
da luz e do ar,
destrua os meus vestígios
nem memória que te segue
como silenciosa presença inevitável.

sábado, 24 de julho de 2010

......águas......



Tomara que chova forte
tomara que chova breve
e as águas tragam o norte
para a beira da minha vista
para que enfim, a sorte
essa mulher distante,
essa mulher arisca
faça deslizar em minha porta
os olhos do meu amor
que mesmo molhado dos céus
irá secar toda a água
que escorre dos olhos meus.

NA ESCURIDÃO DA NOITE - O blog do poeta anónimo

quinta-feira, 22 de julho de 2010





Si mis manos pudieran deshojar



Yo pronuncio tu nombre
en las noches oscuras,
cuando vienen los astros
a beber en la luna
y duermen los ramajes
de las frondas ocultas.
Y yo me siento hueco
de pasión y de música.
Loco reloj que canta
muertas horas antiguas.

Yo pronuncio tu nombre,
en esta noche oscura,
y tu nombre me suena
más lejano que nunca.
Más lejano que todas las estrellas
y más doliente que la mansa lluvia.

¿Te querré como entonces
alguna vez? ¿Qué culpa
tiene mi corazón?
Si la niebla se esfuma,
¿qué otra pasión me espera?
¿Será tranquila y pura?
¡¡Si mis dedos pudieran
deshojar a la luna!!

Federico Garcia Lorca





é um sonho esta vida...



É um sonho esta vida,
mas um sonho febril de um instante único.
Quando dele se acorda,
vê-se que tudo é só vaidade e névoa...

Oxalá fosse um sonho
bem profundo e bem longo,
um sonho que durasse até á morte!...
Eu sonharia com o meu e teu amor.

Gustavo Adolfo Becker

*Gustavo Adolfo Domínguez Bastida
(Sevilla, 17 de Fevereiro de 1836 - Madrid, 22 de Dezembro de 1870)
Poeta e escritor espanhol, um dos expoentes da literatura romântica.

um tributo á minha cidade....

Port-wine



O Douro é um rio de vinho
que tem a foz em Liverpool e em Londres
e em Nova-York e no Rio e em Buenos Aires:
quando chega ao mar vai nos navios,
cria seus lodos em garrafeiras velhas,
desemboca nos clubes e nos bars.

O Douro é um rio de barcos
onde remam os barqueiros suas desgraças,
primeiro se afundam em terra as suas vidas
que no rio se afundam as barcaças.

Nas sobremesas finas, as garrafas
assemelham cristais cheios de rubis,
em Cape-Town, em Sidney, em Paris,
tem um sabor generoso e fino
o sangue que dos cais exportamos em barris.

As margens do Douro são penedos
fecundados de sangue e amarguras
onde cava o meu povo as vinhas
como quem abre as próprias sepulturas:
nos entrepostos dos cais, em armazéns,
comerciantes trocam por esterlino
o vinho que é o sangue dos seus corpos,
moeda pobre que são os seus destinos.

Em Londres os lords e em Paris os snobs,
no Cabo e no Rio os fazendeiros ricos
acham no Porto um sabor divino,
mas a nós só nos sabe, só nos sabe,
à tristeza infinita de um destino.

O rio Douro é um rio de sangue,
por onde o sangue do meu povo corre.
Meu povo, liberta-te, liberta-te!,
Liberta-te, meu povo! – ou morre.

Joaquim Namorado

Imagem retirada do Google

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Aos ciber´s que todos os dias aqui passam de :

Brasil:
S. paulo, Curitiba , Porto Alegre , Maringá , Rio de Janeiro , Manaus , Macaé , Guarema ,
Brasilia , Ribeirão Preto ...

Portugal :
Lisboa , Porto ,Fundão , Castelo Branco , Castro Dáire , ....

Sweden : Norrahammar

Norway : Oslo


Espanha : Madrid ,

entre outros países , o meu obrigado pela v/ visita diária.

Quarta-feira, Julho 21, 2010

E alegre se fez triste



Aquela clara madrugada que
Viu lágrimas correrem do teu rosto
E alegre se fez triste como se
Chovesse de repente em pleno Agosto.

Ela só viu dedos nos teus dedos
meu nome no teu nome. E demorados
Viu nossos olhos juntos nos segredos
Que em silêncio dissemos separados.

A clara madrugada em que parti.
Só ela viu teu rosto olhando a estrada
Por onde um automóvel se afastava.

E viu que a pátria estava toda em ti.
E ouviu dizer-me adeus: essa palavra
Que fez tão triste a clara madrugada.

Manuel Alegre

Imagem retirada do Google

Fazer das coisas fracas um poema.


Uma árvore está quieta,
murcha, desprezada.
Mas se o poeta a levanta pelos cabelos
e lhe sopra os dedos,
ela volta a empertigar-se, renovada.
E tu, que não sabias o segredo,
perdes a vaidade.
Fora de ti há o mundo
e nele há tudo
que em ti não cabe.

Homem, até o barro tem poesia!
Olha as coisas com humildade.


Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

terça-feira, 20 de julho de 2010

para ouvir ....vale a pena...

Estrela da Tarde



Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

Ary dos Santos

Foto: Anna.Edyta Przybysz (aprzybysz)

PS:Gosto muito de Ary dos Santos e para mim esta é a sua melhor poesia de amor.

introspeção,,,,,


Contemplo-te com carinho

Cada traço, cada curva

Do teu corpo

Onde meus olhos se perdem

Envolvida entre as águas calmas

Lanças-me um sorriso tímido

Abres-me os braços

Procurando os meus

Retribui-te o mesmo sorriso

Retiro a minha roupa

De mansinho me aproximo

Unidos pela mesma água

Juntos pelo mesmo amor

Abracei-te

Como antes ninguém me tinha abraçado

Os meus lábios procuram os teus

Quentes e poderosos

Como um hímen se tratassem

As tuas mãos com pele suave

Percorrem o meu corpo

Em simultâneo o mesmo gesto

Vindo de mim

Entramos em êxtase

Sinto-me dentro de ti

Tudo ao meu redor desapareceu

Entre gemidos e mimos

A água formou ondulação

Formando marés vivas

Até que houve um dilúvio

Um dilúvio de prazer

Abraçamo-nos

Para nunca nos separar...


Escrito por Pedro Nobre


Escrito por Pedro Nobre

Soneto de amor



Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua..., – unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... – abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus, não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

José Régio

Foto:Irina Velichko

segunda-feira, 19 de julho de 2010

....nas ervas........

Nas ervas



Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar

os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta

aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.

porque é terrivel
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve.

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.

Eugénio de Andrade

Foto:Sergey Ryzhkov

Anoiteço



Anoiteço
Entro em casa
sobre um tapete de estrelas
e adormeço
no meio delas.

Manuel Filipe, in"Eis uma Casa", pág.34, Edição do Autor

Imagem retirada do Google

domingo, 18 de julho de 2010

de : Enrique Jaramillo Levi




Barco a la deriva

Enrique Jaramillo Levi

Hay que salvar la nave,
su tripulación,
el cargamento.
Sálvala tú que sabes el oficio,
que puedes tranquilizar el desorden
de las máquinas y el fragor de las olas
con el simple roce de tus dedos,
con el bálsamo de una sonrisa.
No permitas que naufrague
este terco barco a la deriva.
Ofrécele al final tu puerto,
condúcelo
a su muelle húmedo,
y verás cómo se aquieta
este incendio voraz
que me consume.

Barco à deriva

Temos de salvar o navio,
sua tripulação,
e o carregamento.
Salva tu que conheces o ofício,
que podes tranquilizar a desordem
das máquinas e o fragor das ondas
com o simples toque de teus dedos,
com o bálsamo de um sorriso.
Não permita que naufrague
este singelo barco à deriva.
Ofereça-lhe ao final teu porto
leva-o
a tua doca
e verás como se acalma
este incêndio voraz
que me consome.

se puder , resista!


Calcinhas de cetin.....hummmmmm
Apressado!
Tire a mão boba daí.
E não dispa-me com os olhos assim!
Com pressa não vais a lugar algum.
Se bem sabes!
Não me entrego a uma ação,
Sou loba noturna...
Adoro uma aventura.
Meu corpo é armadura,
Dispo-o conforme a bravura,
Sou felina, sou feiticeira!
Desvenda-me!
Terás meu uivo e meu cio.

Leek Steffens
05/07/09

Monday, February 01, 2010

Obra do artista plástico Ed. Bernardo.


"Era brabo, Virgulino Lampião, mas era, pra que negar, das fibras do coração, o mais perfeito retrato, das caatingas do sertão."

(Literatura de cordel)



BRASA NO SERTÃO


O cão de fogo

Fez a faísca

Acendeu o pavio

Alumiou o Lampião

Virgulino tocou brasa no sertão

O grande dragão alevantou-se

Sob o inclemente sol da caatinga

Espinho do mandacaru

Mandioca brava

Cabra da peste

Espingarda, sua espada

Gibão de couro, armadura

No chapéu a estrela da justiça sem lei

Samurai do Nordeste

Facínora sanguinário ?

Herói dos desvalidos ?

Robin Hood dos fracos e oprimidos ?

Lampião tocou brasa no sertão

Fez brotar o medo e a admiração

Até que cercado pelos macacos da volante

Caiu sem vida ao chão

Deixou de ser Virgulino

Virou lenda, assombração...


(Gustavo Adonias)

sábado, 17 de julho de 2010

amor sem trégua




É necessário amar,
Qualquer coisa, ou alguém;
O que interessa é gostar
Não importa de quem.

Não importa de quem,
Nem importa de quê;
O que interessa é amar
Mesmo o que não se vê.

Pode ser uma mulher,
Uma pedra, uma flor,
Uma coisa qualquer,
Seja lá do que for.

Pode até nem ser nada
Em que ser se concretize,
Coisa apenas pensada,
Que a sonhar se precise.

Amar por claridade,
Sem dever a cumprir;
Uma oportunidade
Para olhar e sorrir.

Amar como o homem forte
Só ele o sabe e pode-o;
Amar até à morte,
Amar até ao ódio.

Que o ódio, infelizmente,
Quando o clima é de horror,
É forma inteligente
De se morrer de amor.


António Gedeão

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Descobri esta preciosidade........há já muito tempo

Casimiro de Abreu


Canção do exílio


Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!


Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!


O país estrangeiro mais belezas
Do que a pátria não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
Tão doces duma mãe!


Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!


Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!


Quero ver esse céu da minha terra
Tão lindo e tão azul!
E a nuvem cor-de-rosa que passava
Correndo lá do sul!


Quero dormir à sombra dos coqueiros,
As folhas por dossel;
E ver se apanho a borboleta branca,
Que voa no vergel!


Quero sentar-me à beira do riacho
Das tardes ao cair,
E sozinho cismando no crepúsculo
Os sonhos do porvir!


Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
A voz do sabiá!


Quero morrer cercado dos perfumes
Dum clima tropical,
E sentir, expirando, as harmonias
Do meu berço natal!


Minha campa será entre as mangueiras,
Banhada do luar,
E eu contente dormirei tranqüilo
À sombra do meu lar!


As cachoeiras chorarão sentidas
Porque cedo morri,
E eu sonho no sepulcro os meus amores
Na terra onde nasci!


Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!

AMOR E MEDO


Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
"Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"

Como te enganas! meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...

Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.

O véu da noite me atormenta em dores
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair cias tardes,
Eu me estremece de cruéis receios.

É que esse vento que na várzea — ao longe,
Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!


Casimiro de Abreu

Nota:

Casimiro de Abreu


Nota biográfica:

Nascido na fazenda Indaiaçu, em Barra de São João (RJ), José Marques Casimiro de Abreu cedo abandona os estudos secundários, dedicando-se, por influência paterna, ao comércio. Entre 1853 e 1857, vive em Portugal. Retornando ao Rio de Janeiro, o jovem comerciante leva vida boêmia e publica, com sucesso, seu livro As Primaveras (1859). No ano seguinte, morre tuberculoso. Sua poesia, bastante popular, pouco apresenta de inovador. Conhecido como "o poeta da infância", desdobra-se em lamentos exacerbados sobre a pureza perdida. No poema “Amor e Medo”, sintetiza a insegurança adolescente frente ao sexo, o que levou Mário de Andrade a agrupar os poetas do período sob a denominação de “geração do Amor e Medo”.

Imagine



Imagine que não há paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
E acima de você apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje

Imagine não existir países
Não é difícil de fazê-lo
Nada pelo que lutar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz

Talvez você diga que
eu sou um sonhador
Mas não sou o único
Desejo que um dia
você se junte a nós
E o mundo, então, será como um só

Imagine não existir posses
Surpreenderia-me se você conseguisse
Sem ganância e fome
Uma irmandade humana
Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo

Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas não sou o único
Desejo que um dia
Você se junte a nós
E o mundo, então, será como um só


John Lennon

de: helena guimaraes

QUE LOUCURA
 QUE LOUCURA

Que loucura é a vida!

Turbilhão de sensações,

de existências

que se estiolam

lentas,

em inerte engano.

Vidas tão cinzentas!

Os sonhos desfeitos dia a dia,

a renascer, límpidos

na mesma utopia.

Que loucura é a vida!

Onde estamos nós?

Somos ou não somos?

Alacres gnomos,

nesta imensidão,

cada vez mais sós.

Nos abstraímos.

Vivemos?

Não. Só existimos!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

não....de : helena guimarães

 NÃO! Descrição:

Não, não é desejo o que sinto!

É esta fome de ti

como se não houvesse caminho

para caminhar,

ar para respirar,

água para molhar-me

os lábios ávidos,

palavras para alimentar-me o dia,

brisa para refrescar-me

a alma esquiva,

um abraço para

velar-me o sono,

um canto para

o meu abandono,

nesta imensa caminhada

que é a minha vida.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

De; helena guimarães

INSONIA
 INSONIA
Descrição:

Nas noites de insónia

converso contigo.

Questionas a eito

com esse teu jeito.

e eu, como a um amigo,

confio-te ainda

os meus pensamentos,

partilho momentos.

Analisas meus medos,

escutas segredos,

mas não vês o rio

que corre pelas faces,

nem sentes o frio

da falta do abraço.

Este ténue laço

de que tenho uma ponta,

solitária e tonta,

flutua a outra no espaço

sem tua mão, sem teu calor.

Porque nos perdemos, amor?


A poesia

A poesia é o meu lar,
É o meu conforto,
Quando escrevo poesia deixo de pensar,
E tudo de mal vai com um sopro.

É o meu mundo,
É onde insisto,
Onde me afundo e onde resisto.

É o meu ser,
É a minha fotografia,
Quem me quiser conhecer,
Basta ler a minha poesia.

É o meu estar,
É o meu hemisfério,
Onde ninguém me pode encontrar,
Onde eu consigo ser sério.

É a minha vida,
É a minha comunicação,
Onde eu saro cada ferida,
Onde escrevo com paixão.


terça-feira, 13 de julho de 2010




A hora íntima



Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: – Nunca fez mal...
Quem, bêbedo, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: – Rei morto, rei posto...
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: – Foi um doido amigo...
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançará um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: – Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: – Não há de ser nada...
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?

Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?

Vinícius de Moraes

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Aparição amorosa



Doce fantasma, por que me visitas
como em outros tempos nossos corpos se visitavam?
Tua transparência roça-me a pele, convida
a refazermos carícias impraticáveis: ninguém nunca
um beijo recebeu de rosto consumido.

Mas insistes, doçura. Ouço-te a voz,
mesma voz, mesmo timbre,
mesmas leves sílabas,
e aquele mesmo longo arquejo
em que te esvaías de prazer,
e nosso final descanso de camurça.

Então, convicto,
ouço teu nome, única parte de ti que não se dissolve
e continua existindo, puro som.
Aperto... o quê? a massa de ar em que te converteste
e beijo, beijo intensamente o nada.
Amado ser destruído, por que voltas
e és tão real assim tão ilusório?
Já nem distingo mais se és sombra
ou sombra sempre foste, e nossa história
invenção de livro soletrado
sob pestanas sonolentas.
Terei um dia conhecido
teu vero corpo como hoje o sei
de enlaçar o vapor como se enlaça
uma ideia platónica no espaço?

O desejo perdura em ti que já não és,
querida ausente, a perseguir-me, suave?
Nunca pensei que os mortos
o mesmo ardor tivessem de outros dias
e no-lo transmitissem com chupadas
de fogo aceso e gelo matizados.

Tua visita ardente me consola.
Tua visita ardente me desola.
Tua visita, apenas uma esmola.

Carlos Drummond de Andrade

Foto:Ben Heys