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sexta-feira, 30 de junho de 2017

Herberto Helder
























Ele disse que
quando
lhe tocava nas zonas quentes a luz do vento abria as searas profundas
encapelava o ouro, os corredores do ar
através das palavras - perguntou:
porquê? O sangue bate mão na mão, perguntou se aquilo era tocar em tudo,

disse: toco num objecto ele brilha
objectos que se crispam perguntou se os objectos eram espasmos
do espaço. Disse, os corpos são varas de ouro plantadas.
A seiva rutila nelas. Tocava, abalava organismos, elementos
límpidos, varas vivas.
O ar sem fundo erguia-se de dentro dos sítios. Disse:
o génio ininterrupto de multiplicares
o teu espaço luminoso - e
cada vara brilha de si mesma e da outra vara próxima.
Em que recessos te queimo, virgens, em que
inexplicáveis redes de imagens
buracos
de vento nas searas eriçadas varas com força?
Tu de onde o ar se levanta
se te afastas do teu nome até seres inominável quando toco
o teu nome se
te aproximas com o nome que tu és, essa abundância.
Ele disse: o remoinho da estrela na sua clareira.
Porque se fundem com os dedos as matérias selvagens, ah
como refulge o bocado de carne, que chegue
devagar à boca, refulja
ela também aquela que devora.
Células terríveis, como vibram, células das coisas que trazes
à sua pulsação. O mover
dos dedos move o mundo, disse que era o nexo oculto na arte
de cada coisa.
A leveza da mão desequilibra a chama, a atmosfera dá-lhe
tanta potência. Se te
toco, disse. Se
te devasto no recôndito empunhando as unhas contra a cabeça
coroada quando te deslocas a fôlego
e peso, as translações radiais de ti a mim. Toda
a electricidade
corre pelas fibras dos substantivos, acende-os, trança-os, transforma-os
numa
constelação vergada. Tu
transformas-te - alargas os braços apanhando a claridade onde
os longos arcos
reflexos:
o garfo na boca, a labareda cortada na testa, os laços de carne sob o vestido

com uma cor olhada instantânea.
Disse que a mão compõe a sintaxe de botões luzindo que
quando lhes tocava
o nome do mundo crescia tanto -



Herberto Helder

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Victor Hugo





O Homem e A Mulher
O homem é a mais elevada das criaturas;
A mulher é o mais sublime dos ideais.
O homem é o cérebro;
A mulher é o coração.
O cérebro fabrica a luz;
O coração, o AMOR.
A luz fecunda, o amor ressuscita.
O homem é forte pela razão;
A mulher é invencível pelas lágrimas.
A razão convence, as lágrimas comovem.
O homem é capaz de todos os heroísmos;
A mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece, o martírio sublima.
O homem é um código;
A mulher é um evangelho.
O código corrige; o evangelho aperfeiçoa.
O homem é um templo; a mulher é o sacrário.
Ante o templo nos descobrimos;
Ante o sacrário nos ajoelhamos.
O homem pensa; a mulher sonha.
Pensar é ter , no crânio, uma larva;
Sonhar é ter , na fronte, uma auréola.
O homem é um oceano; a mulher é um lago.
O oceano tem a pérola que adorna;
O lago, a poesia que deslumbra.
O homem é a águia que voa;
A mulher é o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço;
Cantar é conquistar a alma.
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra;
A mulher, onde começa o céu.

De ( Victor Hugo)   

Foto de Antonio Maria.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Isabel De Sousa







Lua ancestral

Vestes a noite
com a tua claridade nua
ritos ancestrais de brumas e feitiços
vagueias em mim
desde mais atrás de Avalon
e a noite é tua
percorres os sentidos
perpetuas os desejos
em lagos oníricos onde se perturba a razão
mágica é a tua presença
oh lua encantada
e eu percorro o deserto
das reticências do sentir
à procura de ti de mim
e do significado do mistério
habitas a noite
imaginas os sonhos
és lua noturna
e no teu olhar
acodes às manhãs
onde o dia se anuncia
afago-te a mão da aurora
e chamo-te a mim
envolvo-te num sorriso aberto
e sinto-te
noturna e diurna
neste eterno retorno
que me sabe a ti

Isabel de Sousa ( luadiurna )


Foto de Antonio Maria.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Joaquim Pessoa








Abraça-me
...

Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos. 
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes. 
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais. 
Uma vez que nem sei se tu existes.


Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'  

Foto de Antonio Maria.

Nala Marques






DEPOIS DE TI

Dentro de mim guardo de ti
Réstias de sol,brilho de estrelas,
Pedaços de lua,
Um imenso mar, finas areias
E duas sombras, a minha e a tua.
Fora de mim
Guardo teus abraços, teus beijos,
E flutuando as tuas mãos, o teu olhar
Carregado de desejos.
Depois de ti,
Depois de mim,
Nada ficou para guardar meu amor,
A não ser,
A solidão no coração
E esta dor...


Nala Marques.  
Foto de Antonio Maria.


segunda-feira, 26 de junho de 2017

valter hugo mãe






 Calor interior....



Às vezes perco-me nos caminhos que
conheço. Adormeço nos ruídos do
mundo sonhando banalidades...
enquanto sou feliz. Sempre que
falho e fecho os olhos, imagino
outra pessoa perto de mim aquecendo as
mãos no calor do meu corpo como nas labaredas
de uma pequena fogueira




valter hugo mãe   

Foto de Antonio Maria.

Pablo Neruda





Fostes minha, fui teu

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos...
Já não se adoçará junto a ti a minha dor.


Mas para onde vá, levarei o teu olhar 
E para onde caminhes levarás a minha dor.


Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos 
Uma curva na rota por onde o amor passou.


Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame 
Daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.


Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste 
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.


Do teu coração me diz adeus uma criança
E eu lhe digo adeus.



Pablo Neruda   

Foto de Antonio Maria.

são reis





Lembras-te daquele sentimento
que se esconde no fundo de nós
que transparece nos gestos
que se humedece nos olhos
que se estreita nos dedos
que pulsa nas veias
que arde na pele
que geme que nem um condenado
e que zumbe no nosso ouvido
como se fosse um passado
tornado presente?
Nada mudou aqui!
Aqui continua morando a saudade
que cresce a cada dia que passa


são reis   

Foto de Antonio Maria.

domingo, 25 de junho de 2017

Letra JORGE ROSA





"Morri Ontem"


Morri ontem
Toda a vida que eu vivesse / Jurei que te dedicava
E toda a a vida deixava / No dia em que te perdesse
Deixei de ver-te, ceguei / Quis falar-te e fiquei mudo
Os meus sentidos e tudo / Que era meu, abandonei
Morri ontem, podem crer
Á hora em que o sol, morria
Á hora triste, em que o dia
É dia, e deixa de o ser;
Comigo nunca mais contem
Pois de mim mais nada existe
Morri quando tu partiste
Partiste ontem, morri ontem
A vida que Deus me deu / Só foi minha até á altura
Em que por sagrada jura / Todo o meu viver foi teu
Sem saberes o que fazias / Presa a outro amor fugiste
Sem pensares quando partiste / Que a minha vida partia

Letra JORGE ROSA  


sábado, 24 de junho de 2017

Davia Mourão Ferreira





TERNURA

Desvio dos teus ombros o lençol, 
que é feito de ternura amarrotada, 
da frescura que vem depois do sol, 
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade! 
Há restos de ternura pelo meio, 
como vultos perdidos na cidade 
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente, 
e é ternura também que vou vestindo, 
para enfrentar lá fora aquela gente 
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós 
a despimos assim que estamos sós!



DAVID MOURÃO-FERREIRA, PROFESSOR, ESCRITOR E POETA PORTUGUÊS


FOTO DO AUTOR DO POEMA

Foto de Antonio Maria.

helena guimares





NÃO SEI

Não sei porque
me acalma o mar,
quando as águas revoltas 
se desfazem nos rochedos.
Não sei porque 
a imensidão me capacita
do nada.
Mas vogo na ondulação
como em berço de ninar.
Perdem - se entre água e céu
todos os meus medos.
Aqueço ao sol
a minha alma gelada.
Mergulho na plenitude
do entardecer
e desperto em paz
para reviver.  


helena guimaraes
Porto , 1995

Do livro " Manhãs de Setembro " em 1998
Pag.23

" Nascuntur poetae , fiunt
oratores
Foi esta sentença latina
que me ocorreu ao ler ,
deleitada , as Manhãs de
Setembro...
De facto , a poesia é um
dom ,não se aprende! ..."   


FOTO DA AUTORA

Foto de Antonio Maria.

helena guimaraes







PEDISTE-ME UM DIA UM POEMA
 PEDISTE-ME UM DIA UM POEMA
Descrição:
NÃO-POEMA


Pediste-me um dia um poema,
poema que fosse teu.
                                 Como ave delicada
que agoniza quando presa,
o poema nasce na alma,
movimenta-nos o sangue
com a força do desejo,
humedece-nos os lábios
com a ternura de um beijo,
dança na bainhas dos versos,
plana nas asas da calma,
amordaçado, ele morre
se soletrado fenece.
Poema não compreendido
torna-se vago, emudece.
Procurei o teu poema
no abraço da entrega,
nas pegadas paralelas
de mãos dadas junto ao mar,
na cumplicidade da noite,
na comunhão de um olhar.
Só descobri versos vagos
dançando ao som do medo,
abandonos calculados,
a reserva e o segredo.

                                Pediste-me um dia um poema,
poema que fosse teu.
Mas nesses versos dispersos,
o poema se perdeu.
Não consegui e foi pena.
Poema não construído
torna-se num não-poema!

                          HG  Junho 2004

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Isabel de Carvalho Sousa.







Como uma borboleta

Como uma borboleta 
num incendiado sol de Abril
quis que me visses.
Era meio dia no teu rosto
e por gosto riscavam gaivotas o azul
que prolongava o Rio.
Olhaste-me. Ardeu o dia.



Isabel de Carvalho Sousa. 


Foto de Isabel De Carvalho Sousa.


De Patrícia Carvalho




O amor nasce quando os olhos se cruzam e permanece enquanto se olharem...



Poema de uma AMIGA , que infelizmente já nos deixou   muito nova ainda e com muito para nos dar...



TEU CHEIRO


Teu cheiro...
Entorpece meu desejo, enlouquece meu doce beijo.
Cheiro que vicia a alma e tira minha calma
Cheiro da pele do homem que vai além das minhas vontades

Teu cheiro de macho...
Só meu corpo sente só meu corpo entende

Teu cheiro de Homem...
Só minha mente pode alcançar só minha alma pode decifrar

Sente minha pele, sente meu perfume...
Teu cheiro esta em todos os meus poros
Esta em meus sonhos
Em minha vaidade de mulher

Quer entender?
Vou traduzir em nossa cama com detalhes a sentir
O prazer que o teu cheiro de homem pode causar em meu desejo de mulher

E no final...
Adormeço em seus braços onde
Teu cheiro me acalma me aquece a alma e faz sonhar
Patrícia Carvalho

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Florbela espanca




Ser poeta

Florbela Espanca


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!


É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!


É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!


E é amar-te, assim perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!


José Tolentino Mendonça




...........
perdemos repentinamente 
a profundidade dos campos
os enigmas singulares
a claridade que juramos
conservar
mas levamos anos
a esquecer alguém
que apenas nos olhou


José Tolentino Mendonça   

Foto de Antonio Maria.

Joaquim Pessoa




Quem disse?

Quem disse que o teu nome é uma espada
e as tuas mãos dois rios transparentes?
Quem te acordou naquela madrugada?
O voo da águia? O silvo das serpentes?
Quem sabe que és minha namorada
e me guardas os beijos mais ardentes?
Quem fez uma canção desesperada
com o sexo dos anjos impotentes?
Ó meu amor, quem foi?, quem foi que disse
que se durante a noite alguém nos visse 
fazendo amor de corpos abraçados
nos faria morrer de orgasmo e sede
ou apenas, encostados à parede,
em nome da alegria fuzilados?


Joaquim Pessoa  
Foto de Fatima Pereira.


quarta-feira, 21 de junho de 2017

Albino Santos




Não sei porquê

hoje lembrou-me que
puseste na mesa
aquela toalha de linho
onde as papoilas vermelhas
são beijadas pelo sol bordado
que te sai das mãos!...
Quis afastar esse pensamento
e fui até à margem do rio,
junto das margaridas que tanto gostavas...

Dei por mim a relembrar os tempos idos,

os nossos segredos,
os sonhos perdidos,
as histórias de amor,
os dias mais felizes...
E tudo parece que rebrilha
como pedrinhas de cor
entre as raízes...

Quem sabe, amanhã será primavera!...

Albino Santos  


Foto de Antonio Maria.


terça-feira, 20 de junho de 2017

CANTA CARLOS ZEL




Quero tanto aos olhos teus
Como o céu quer ás estrelas
Adoro essa feições belas
Como um crente adora Deus


Desde a hora em que te vi 
Minh'alma anda presa á tua
Como eu ando atrás de ti 
Anda o sol atrás da lua


Se um dia o sol se apagar 
No infinito dos céus
Quero a luz do teu olhar 
E o calor dos lábios teus


Por te querer tanto, afinal 
Ando a triste, a perguntar
Como é possível gostar 
De quem nos faz tanto mal



( Compositor Manuel de Almeida - fado Lopoes )