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sábado, 24 de junho de 2017

Davia Mourão Ferreira





TERNURA

Desvio dos teus ombros o lençol, 
que é feito de ternura amarrotada, 
da frescura que vem depois do sol, 
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade! 
Há restos de ternura pelo meio, 
como vultos perdidos na cidade 
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente, 
e é ternura também que vou vestindo, 
para enfrentar lá fora aquela gente 
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós 
a despimos assim que estamos sós!



DAVID MOURÃO-FERREIRA, PROFESSOR, ESCRITOR E POETA PORTUGUÊS


FOTO DO AUTOR DO POEMA

Foto de Antonio Maria.

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