Seguidores

quinta-feira, 26 de março de 2015

Miguel Torga //// Poema melancólico a não sei que mulher


Poema melancólico a não sei que mulher


Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram;
Nos meus versos ficaram
Imagens que são máscaras anónimas
Do teu rosto proibido;
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.
Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração,
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano desolado,
E pergunto porquê, por que razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão...

Miguel Torga

Portugal (Vila Real) 1907-1995
in Diário VII
Editor: Coimbra Editora

  



Sem comentários: