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sábado, 4 de março de 2017

David Mourão Ferreira









    Ternura

    Desvio dos teus ombros o lençol, ...
    que é feito de ternura amarrotada, 
    da frescura que vem depois do sol, 
    quando depois do sol não vem mais nada...
    Olho a roupa no chão: que tempestade! 
    Há restos de ternura pelo meio, 
    como vultos perdidos na cidade 
    onde uma tempestade sobreveio...
    Começas a vestir-te, lentamente, 
    e é ternura também que vou vestindo, 
    para enfrentar lá fora aquela gente 
    que da nossa ternura anda sorrindo...
    Mas ninguém sonha a pressa com que nós 
    a despimos assim que estamos sós!

    David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"
    Foto de Antonio Maria.

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