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terça-feira, 14 de junho de 2016

Joaquim Pessoa // poema sexagéssimo terceiro ( excerto )





 O amor move-se em círculos
como uma divindade.

A minha língua de petrarca
afunda-se na tua boca para retirar água dos sonetos
do teu corpo, num beijo molhado de sílabas frescas, restos
das odes, barcarolas e canções dos primeiros poetas,
esses poetas desconhecidos cujo amor se perdeu
na inquietação dos dias que nunca foram primavera.
Busco esse amor como uma chave desconhecida
algures dentro de ti e da tua linguagem,
como o cálice de ouro dos antigos cruzados que
mataram por amor. E eu mato-me, sim, mato-me
por amor de ti, e por amor de mim em ti, tu és
o meu cálice sagrado, és o meu vinho, a
minha interminável disputa.

Pudesse eu morrer numa fogueira de versos
e morreria feliz, morreria cantando.
  
Joaquim Pessoa   
 
 
  
 
 
 
 


 
Joaquim Pessoa
in GUARDAR O FOGO
Editora Edições Esgotadas, 2013.

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