Seguidores

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018









Photo: Bill Brandt






















Há uma regra inflexível no amor: o seu horizonte 
tem a vastidão do mar, para lá do qual outros 
horizontes se abrem se o muro, ao longo da 
praia, não impuser os seus limites a quem 
deseja a viagem. O espírito, porém, seguindo 
um rumo platónico, voa sobre as ondas, 
afastando-se da apressada respiração das marés; 
e é no alto, onde se confundem nuvens e
gaivotas, que o olhar descobre a imensidão
do oceano para que o sentimento o empurra, 
se não houver pela sua frente um porto, 
ou uma ilha, que ponham fim à navegação. 

Mas estas são apenas as convenções que 
obrigam a imaginação; porque se o amor se 
libertar das palavras que o oprimem, dando 
ao corpo a mesma plenitude que se encontra 
neste mar, está aberto o caminho para o abismo 
em que o ser se dilui no puro espaço, onde 
só o azul existe. Então, os dedos tocam 
o teclado do infinito, e ouvir-se-á a música 
dos murmúrios que nenhum ouvido recebe 
se os sons da terra o magoam. E é como 
se o dia durasse, para além do tempo e 
das coisas da vida, até ao fim do mundo.

Nuno Júdice


1 comentário:

mariferrot disse...

Amar, a infinita imensidão, o amor só por amor, sem retorno nem retribuição, uma linha no horizonte, que olhamos com rendição, que ao parecer que não tem fim, o AMAR também não !!!... <3