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sexta-feira, 23 de março de 2018

Mário Cesariny de Vasconcelos






Como a vida sem caderneta 
como a folha lisa da janela 
como a cadela violeta
- ou a violenta cadela? 

Como o estar egípcio emudado 
no salão do navio de espelhos 
como o nunca ter embarcado 
ou só ter embarcado com velhos 

Como ter-te procurado tanto 
que haja qualquer coisa quebrada 
como percorrer uma estrada 
com memórias a cada canto 

Como os lábios prendem o copo 
como o copo prende a tua mão 
como se o nosso louco amor louco 
estivesse cheio de razão 

E como se a vida fosse o foco 
de um baço, lento projector 
e nós dois ainda fôssemos pouco 
para uma tempestade de cor 

Um ao outro nos fôssemos pouco 
meu amor meu amor meu amor 


Mário Cesariny de Vasconcelos    


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