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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Gastón Baquero



SONETO PARA NO MORIRME

Gastón Baquero

Escribiré un soneto que le oponga a mi muerte
un muro construido de tan recia manera,
que pasará lo débil y pasará lo fuerte
y quedará mi nombre igual que si viviera.

Como un niño que rueda de una alta escalera
descenderá mi cuerpo al seno de la muerte.
Mi cuerpo, no mi nombre; mi esencia verdadera
se inscrustará en el muro de mi soneto fuerte…

De súbito comprendo que ni ahora ni luego
arrancaré mi nombre al merecido olvido.
Yo no podré librarle de las garras del fuego,

no podré levantarle del polvo en que ha caído.
No he de ser otra cosa que un sofocado ruego,
un soneto inservible y un muro destruido.

De El álamo rojo en la ventana (1935-1942)

Soneto para não morrer

Escreverei um soneto que se oponha à minha morte
numa parede construída resistente de tal maneira,
que passará o fraco e passará o forte
e ficará  meu nome como se vivera.

Como um menino que roda de uma alta corredeira
descerá pelo meu corpo o seio da morte.
Meu corpo, não meu nome, a minha essência verdadeira
se incrustará na parede de meu soneto forte ...

De repente, eu percebo nem agora nem logo
arrancarei  meu nome do esquecimento merecido.
Eu não poderei livrá-lo das garras do fogo,

não poderei levantá-lo da poeira em que há caído.
Não hei de ser outra coisa que um abafado rogo,
um soneto inservível e um muro destruído.

De “O álamo vermelho na janela” (1935-1942)

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