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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Paraíso. David Mourão-Ferreira

 

                      


Paraíso




Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.


David Mourão-Ferreira




                                   

   

1 comentário:

mariferrot disse...

Ninguém está SÓ, a ilusão da presença faz companhia, se a chama inventiva se mantiver acesa !!!...<3


Beijo Conde