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quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Eugénio de Andrade








                       






















Cansado de ser homem durante o dia inteiro 
chego à noite com os olhos rasos de água. 
Posso então deitar-me ao pé do teu retrato, 
entrar dentro de ti como num bosque. É a hora de fazer milagres:  posso ressuscitar os mortos e trazê-los  a este quarto branco e despovoado,  onde entro sempre pela primeira vez,  para falarmos das grandes searas de trigo  afogadas na luz do amanhecer. Posso prometer uma viagem ao paraíso  a quem se estender ao pé de mim,  ou deixar uma lágrima nos meus olhos  ser toda a nostalgia das areias. É a hora de adormecer na tua bocacomo um marinheiro num barco naufragado, o vento na margem das espigas.


Eugénio de Andrade

1 comentário:

mariferrot disse...

Que lindo Poema e que bela é a solidão que corre na pena de Eugénio de Andrade, um Poeta solitário, que se deixou conduzir, pela sua alma, muito antes de partir além universo !!!... <3


Beijo Conde