Seguidores

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Neruda, uma vez mais

 




Voy haciendo de todas un collar infinito
para tus blancas manos, suaves como las uvas.

                                        Poema V


Para que tu me ouças
minhas palavras
se adelgaçam às vezes
como as voltas das gaivotas nas praias .

Colar, cascavel ébrio,
para as tuas mãos suaves como as uvas .

E vejo distante as minhas palavras.
Mais do que minhas são tuas.
Vão trepando na minha velha dor como nas pedras.

Elas trepam assim pelas paredes úmidas .
És tu a culpada deste jogo sangrento.

Elas estão fugindo da minha guarida escura.
Toda cheia de tu, toda cheia.

Antes que tu povoaram a solidão que ocupas,
e elas estão mais acostumados a minha tristeza do que tu.

Agora quero que digam o que quero dizer-te
para que tu ouças como quero que tu ouças.

O vento da angústia ainda as podem arrastar.
Furacões de sonhos ainda, às vezes, podem derrubá-las,

Ouça outras vozes na minha voz dolorida.
Pranto de velhas bocas, sangue de velhas súplicas.
Ama-me, companheira. Não me deixes. Segue-me.
Segue-me, companheira, nesta onda de angústia.

Porém, se vão tingindo com o amor minhas palavras.
Todas o ocupas tu, tudo ocupas.

Vou fazendo de tudo um colar infinito
para as tuas brancas mãos, suaves como uvas.

                                     

1 comentário:

mariferrot disse...

Pablo Neruda, Nobel e Diplomata, um Mago da Poesia, que cantou amor e louvou a vida, com versos maravilhosos deu a volta ao mundo sempre rendido à língua castelhana !!!... Grande Poeta !!!... <3


Beijo Conde