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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Nuno Júdice //// Plano

Plano




 Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
 que se despeja no copo da vida, até meio, como se
 o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
 como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
 boca. Pergunto onde está a transparência do
 vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
 de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
 são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
 da alma suja de restos, palavras espalhadas
 num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
 hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
 esperando que o tempo encha o copo até cima,
 para que o possa erguer à luz do teu corpo
 e veja, através dele, o teu rosto inteiro.

 Nuno Júdice  


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