Seguidores

sábado, 31 de outubro de 2015

João Dimas

Também recordo e escondo
 Os fervorosos beijos que nunca te dei
 Os poemas que nunca te disse, e escrevi para ti
 Porque me apaixonei, e nunca disse a ninguém.
 Também recordo o contorno do teu rosto inflamado
 ... E as doces metáforas que li no silencio dos teus lábios.
 Sim, ainda sinto o teu cheiro, quando escrevo saudade...
 E choro a impossibilidade...De ser o teu príncipe encantado.


 Autor: João Dimas 💕 In, " Este é o livro do meu desespero "


sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Leonor O . ////// Vôo

Vôo
 
 
Não me forces a olhar o passado,
 Um lugar estranho e longínquo,
 Onde o amor era real e surreal, de tão intenso.
 Porque o hoje e o aqui é um pálido quotidiano,
 E a neblina duma vida que já não existe
 A não ser nos mais recônditos cantos da minha memória.
Não me fales de amor a não ser que no teu peito
 Uma estrela se incendeie ao som do meu nome.
 Mas se o teu medo ficar de mãos dadas com o meu,
 E as côres que vislumbrares forem caleidoscópicas,
 Atreve-te a olhar-me com olhos de anjo, de amigo,
 talvez uma paixão serena, incerta, mas real,
 E pronta a descolar.


Leonor O. 

Resultado de imagem para fotos de mãos


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Catarina Pinto Bastos //// Quando

Quando
 
 
 Quando a minha-tua ternura
 já cansada e desvalida
 de olhar teus olhos ensombrados,
 sem encontrar vislumbre de guarida,
 se afasta com nostalgia…
Recolho cada um dos pedaços
 que se espalharam pelo chão,
 reunindo-os num laço-abraço,
 juntinhos sem nenhum espaço
 no peito, onde dorme o meu coração
 No leito amargo e duro...da solidão


 Catarina Pinto Bastos   






Mia Couto //// O Amor, Meu Amor

O Amor, Meu Amor 
 
 
Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.
Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.
E toco-te
para deixares de ter corpo
e o m
eu corpo nasce
quando se extingue no teu.
E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.
Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.
Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.
Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.
E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.
E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.


 Mia Couto   






quarta-feira, 28 de outubro de 2015

alvaro de campos


 "Dá-me lírios, lírios,
 E rosas também.
 Mas se não tens lírios
 Nem rosas a dar-me,
 Tem vontade ao menos
 De me dar os lírios
 E também as rosas.
 Basta-me a vontade,
 Que tens, se a tiveres,
 De me dar os lírios
 E as rosas também,
 E terei os lírios –
Os melhores lírios –
E as melhores rosas
 Sem receber nada,
 a não ser a prenda
 Da tua vontade
 De me dares lírios
 E rosas também.

alvaro de campos  



terça-feira, 27 de outubro de 2015

Maria Teresa Horta /// Pergunta


Pergunta... 

Nunca afinal eu soube
que eras tanto
 nem que vinhas da noite
e eras cedo
 Um braseiro de rosas
ou a esperança
 Um bálsamo de cânfora
ou o medo
 Nunca afinal eu soube
que eras tanto
 nem que vinhas de noite
e eras tempo
 Por isso te pergunto
já sem esperança
 O que hei-de fazer
com um coração aceso?

 Maria Tersa Horta   


CLIQUE NO ENDEREÇO :

Besame Mucho!!!!!!!!!!



https://youtu.be/XLo39hP-jug

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

João Dimas /// Chuva fértil

Chuva fértil



 São os teus braços quando me abraçam
 são teus lábios quando soletram o meu nome
 Chuva fértil... É quando inesperadamente eu recebo uma carta de amor, e vem assinada por Ti
 Chuva fértil... É quando as maçãs do meu lanche, me inundam de sucos e sabores do teu beijo, que há muito tempo não tenho...Porque estás longe.
 Porque a enxurrada da vida nos afastou.
 Chuva fértil´...
 Seria não ter mais distância, para acrescentar aos dias da tua ausência.



Autor: João Dimas

 In, " Este é o livro do meu desespero " à procura de editores  






David Mourão Ferreira //// As últimas vontades

As últimas vontades
 
 
 

Deixa ficar a flor,
a morte na gaveta,
o tempo no degrau.
Conheces o degrau:
o sétimo degrau
depois do patamar;
o que range ao passares;
o que foi esconderijo
do maço de cigarros
fumado às escondidas...
Deixa ficar a flor.
E nem murmures.Deixa
o tempo no degrau,
a morte na gaveta.
Conheces a gaveta:
a primeira da esquerda,
que se mantém fechada.
Quem atirou a chave
pela janela fora?
Na batalha do ódio,
destruam-se,fechados,
sem tréguas,os retratos!
Deixa ficar a flor.
A flor? Não a conheces.
Bem sei.Nem eu.Ninguém.
Deixa ficar a flor.
Não digas nada.Ouve.
Não ouves o degrau?
Quem sobe agora a escada?
Como vem devagar!
Tão devagar que sobe...
não digas nada.Ouve:
é com certeza alguém,
alguém que traz a chave.
Deixa ficar a flor.


David Mourão Ferreira 


domingo, 25 de outubro de 2015

João Guimarães Rosa //// Sono das águas



SONO DAS ÁGUAS


 Há uma hora certa,
no meio de noite, uma hora morta,
em que a água dorme. Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d’água,
nos grotões fundos.

E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir…

Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
nas placas de folhagem.
E adormece
até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes…

Mas nem todos dormem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono…
 
 
João Guimarães Rosa   
 
 
 

Nuno Júdice //// FOGO

Fogo 


Eu, sabendo que te amo,
E como as coisas do amor são difíceis,
Preparo em silêncio a mesa
do jogo, estendo as peças
sobre o tabuleiro, disponho os lugares
necessários para que tudo
comece: as cadeiras
uma em frente da outra, embora saiba
que as mãos não se podem tocar,
e que para além das dificuldades,
hesitações, recuos
ou avanços possíveis, só os olhos
transportam, talvez, uma
hipótese de entendimento. É então que chegas,
e como se um vento do norte
entrasse por uma janela aberta,
o jogo inteiro voa pelos ares,
o frio enche-te os olhos de lágrimas,
e empurras-me para dentro, onde
o fogo consome o que resta do nosso quebra-cabeças.


 Nuno Júdice  






sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Nuno Júdice //// Plano

Plano




 Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
 que se despeja no copo da vida, até meio, como se
 o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
 como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
 boca. Pergunto onde está a transparência do
 vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
 de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
 são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
 da alma suja de restos, palavras espalhadas
 num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
 hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
 esperando que o tempo encha o copo até cima,
 para que o possa erguer à luz do teu corpo
 e veja, através dele, o teu rosto inteiro.

 Nuno Júdice  


quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Duras sensações de um tesouro escondido
 
 
 Duras sensações de um tesouro escondido
 Alicerces de uma viagem em noite escura
 No despertar de um sorriso desconhecido
 Estarão certamente finas gotas de ternura
 Teus lábios doçuras d`ma fantasia por ter
 Noites de estrelas iluminando a escuridão
 Anelados sonhos que nos podem oferecer
 Gotas de amor saídas do teu puro coração
 Olhar o além do desconhecido entardecer
 Onde a distância é a saudade de te não ter
 Abandonada em meu corpo, doce carência
 Chagas endurecidas nos estrépitos da razão
 Curvas do teu corpo, vielas da minha ilusão
 Qual tesouro escondido da minha apetência

 .
 Publicada por Ricardo- águialivre  
 
 
 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

David Mourão-Ferreira

Deixa ficar comigo a madrugada,
 para que a luz do Sol me não constranja.
 Numa taça de sombra estilhaçada,
 deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
 onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
 Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
 E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
 que acendas, para tudo ser perfeito,
 à cabeceira a luz do teu joelho,
 entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
 para a minha ilusão do Paraíso.



David Mourão-Ferreira  





terça-feira, 20 de outubro de 2015

helena guimarães ///// O sonho e o medo....

A alma a esvoaçar
o espaço,
dedos a definir
imaginários
contornos,
o pensamento
submerso,
o sol aquietando-me
o peito,
neste sentir sem jeito,
sem razão,
num universo de sonho
a fluir na quietude
da tarde.
Sorvo o deleite
que invento,
embriago-me
no sentimento
para esquecer
o medo,
a angústia
da dúvida
que na razão
desperta
a cada
momento.
 
helena guimaraes
 
Janeiro 2003   
 
 O SONHO E O MEDO
 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Catarina Pinto Bastos ///// Abraço-te sempre

Abraço-te sempre




…que tu precisares
 Um abraço só tem sentido,
 Quando é compartilhado
 Doado e consentido com
 O coração acompanhá-lo.
 Um abraço só é sentido,
 Quando quem o dá entrega
 O afecto que é pretendido
 Pra acompanhar quem o leva
 Um abraço sem nenhum sentido
 É o abraço de circunstância
 Por obrigação para quem é cedido,
 Não deixa nenhuma lembrança
 Sem um dia pré-concebido
 Para abraçar quem o precisa
 Dou o meu abraço (des)medido
 A quem dele necessita.


© Catarina Pinto Bastos   





Nuno Júdice //// Nós.................

Nós...



A mão que esconde mais do que oferece,
os olhos de presa dominando o caçador.
E os teus lábios que murmuram a prece
de quem só reza no instante do amor.


E se falasse dos teus olhos, dos teus braços
desse corpo em que me perco e te ganho,
não mais acabaria o que tem de acabar;


uma respiração de suspiros e de abraços
neste canto em que és tudo o que eu tenho,
nesta viagem em que não tem fundo o mar.


Nuno Júdice  


Óleo sobre Tela 30x60 cm
"Nós..."
Rui Pascoal - 2015   



domingo, 18 de outubro de 2015

Helena Guimarães ///// Manhã de inverno

MANHÃ DE INVERNO
 
 
 
Escorrega a chuva nas gaivotas
 que voam contra o vento,
 o sol esquivo
 desenha verde
 no cinzento do mar.
 A espuma desnuda nos rochedos
 uma dança erótica de véus brancos e diáfanos.
 Dança de manhã saciada!
 Uma tristeza sem sentido
 visita-me no sonho
 de um futuro incompleto.
 Mas o dia desagua aqui
 na solidão de uma vida completa
 das ausências
 que vamos sepultando
 na memória.


Helena Guimarães  







sábado, 17 de outubro de 2015

Teresa Brinco de Oliveira //////// Livro em branco

 
 
 
 
 
Livro em Branco
 
 

Não me apetece falar de amor
mas ia contigo ao fim do mundo.

Observo o livro em branco
que me ofereceste um dia.
Folheio-o na esperança de ver
em alguma página uma marca tua
mas o livro era branco, tão branco
como o silêncio em tempos
e no tempo não se resgataram flores,
nem odores, nem palavras. Somente as minhas
o tempo não olvidou. Nem eu.

.

Ainda escrevo com um lápis
as memórias do silêncio. Do teu silêncio

tão guardado na história dos meus dias, e no branco esboço sentidos
que procuro conservar na estreita linha dos sonhos.

Ia contigo ao fim do mundo
se me dissesses  que o fim do mundo eras tu

da primeira à última página.

Teresa Brinco de Oliveira, in “Laços de Luar e outras histórias”, páginas 70 e 71, edições Edita-Me, Dezembro de 2014.



Miguel Torga //// Quase um poema de amor

Quase um Poema de Amor
 
 
 

Há muito tempo já que não escrevo um poema De amor. E é o que eu sei fazer com mais delicadeza! A nossa natureza Lusitana Tem essa humana Graça Feiticeira De tornar de cristal A mais sentimental E baça Bebedeira. Mas ou seja que vou envelhecendo E ninguém me deseje apaixonado, Ou que a antiga paixão Me mantenha calado O coração Num íntimo pudor, — Há muito tempo já que não escrevo um poema De amor.


Miguel Torga  






sexta-feira, 16 de outubro de 2015

João de Deus //// Escreve !



Escreve!
 
 
 
Não sei o que supor
 Do teu silêncio. Escreve!
 Quem é amado deve
 Ser grato ao menos, flor!
 Se eu fosse tão feliz
 Que te falasse um dia,
 De viva voz diria
 Mais do que a carta diz.
 Mas olha, tal qual é,
 Não rias desse escrito,
 Que pouco ou muito é dito
 Tudo de boa-fé.
 Há nesse teu olhar
 A doce luz da Lua,
 Mas luz que se insinua
 A ponto de abrasar...
 Pareça nele, sim,
 Que há só doçura, embora,
 Há fogo que devora...
 Que me devora a mim!
 Que mata, mas que dá
 Uma suave morte;
 Mata da mesma sorte
 Que uma árvore que há;
 Que ao pé se lhe ficou
 Acaso alguém dormindo
 Adormeceu sorrindo...
 Porém não acordou!
 Esse teu seio então...
 Que encantadora curva!
 Como de o ver se turva
 A vista e a razão!
 Como até mesmo o ar
 Suspende a gente logo,
 Pregando olhos de fogo
 Em tão formoso par!
 Ó seio encantador,
 Delicioso seio!
 Que júbilo, que enleio,
 Libar-lhe o néctar, flor!
 Eu tenho muita vez
 Já visto a borboleta
 Na casta violeta
 Pousar os leves pés;
 E num enlevo tal,
 Numa avidez tamanha,
 Que a gente a não apanha
 Com dó de fazer mal!
 Pegada à flor então
 No pé curvinho e mole,
 As asas nem as bole
 Toda sofreguidão!
 Pousou... adormeceu!
 Só vê, só ouve e sente
 O cálix rescendente
 Daquele mel do céu!
 Pois vê com que prazer
 E com que ardente sede
 Te havia... que não hei-de!...
 Também beijar, sorver!
 Mas eu só peço dó,
 Só peço piedade!
 Mata-me a saudade
 Com duas Unhas só!
 Eu, a não ser em ti,
 Achar alívios onde?
 Escreve-me! responde
 A carta que escrevi!
 Cansado de esperar
 Às vezes quando saio,
 Pensas que me distraio?
 Pois volto com pesar!
 Concentra-se-me em ti
 A alma de tal modo,
 Que esse bulício todo
 Nem o ouvi, nem vi!
 Ninguém te substitui
 Porque só tu és bela!
 Que estrela a minha estrela,
 E que infeliz que eu fui!
 Mas devo-te supor
 Sempre indulgente e boa:
 Escreve-me e perdoa
 Meu violento amor!
 Respeita uma afeição
 Inútil mas sincera!
 Tu és mulher, pondera
 O que é uma paixão.
 Com sangue era eu capaz
 De te escrever; portanto,
 Tinta não custa tanto,
 E não me escreverás?
 Uma palavra, sim,
 Que me não amas... queres?
 Enquanto me escreveres,
 Tu pensarás em mim!
 Só essa ideia, crê,
 Encerra mais doçura
 Que as provas de ternura
 Que outra qualquer me dê!



João de Deus, in 'Campo de Flores'  


(“Sol íntimo” deJoão de Deus)

Os olhos sempre que os pus
 Fitos nos astros do dia
 (Parece que se introduz
 Tanta luz na fantasia…)
Sabem o que acontecia?
 Fechava os olhos e via
 Do mesmo modo essa luz.
Assim foi certa visão
 Que tive por meus pecados!
 Nunca uma breve impressão
 Em meus olhos descuidados
 Deu tamanhos resultados…
Que é vê-la de olhos fechados,
 Ainda no coração!


(“Sol íntimo” deJoão de Deus)   





quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Edgardo Xavier /// Voz negra

VOZ NEGRA

Estou no teu deserto de silêncio e pedras.
 As nuvens negaram toda a água que traziam
 e nenhum rumor de ti há no meu tempo.
 Proscreves-me para o território da sede
 e já em mim arde a memória do teu oiro.
Toda a aridez floriu na evocação dos teus passos
 mas não senti na minha a pele da tua boca
 nem por mim correu, exaltada, a tua busca.
Espero-te. Sem ti o meu amor é um eco de distância
 hálito que ferve e já corre na minha terra dos medos
 como se a minha fosse a mão de Onã.


Edgardo Xavier. 





Florbela Espanca



O QUE ALGUÉM DISSE 

 "Refugia-te na Arte" diz-me Alguém
 "Eleva-te num vôo espiritual,
 Esquece o teu amor, ri do teu mal,
 Olhando-te a ti própria com desdém.

Só é grande e perfeito o que nos vem
 Do que em nós é Divino e imortal!
 Cega de luz e tonta de ideal
 Busca em ti a Verdade e em mais ninguém!"

No poente doirado como a chama
 Estas palavras morrem… E n’Aquele
 Que é triste, como eu, fico a pensar…

O poente tem alma: sente e ama!
 E, porque o sol é cor dos olhos d’Ele,
 Eu fico olhando o sol, a soluçar…
 


 Florbela Espanca   



terça-feira, 13 de outubro de 2015

Antonio Ramos Rosa


 Para Agripina

 Amanheceu a minha vida no teu rosto
 de uma doçura intensa e tão suave
 como se um divino fundo nele brilhasse
 Eu era o que nascia soberanamente leve
 e encontrava na limpidez centro do equilíbrio
 Só em ti cheguei amanhecendo
 na minha madurez. Entrei no templo
 em que a luz latente era a secreta sombra
 Foste sonhada por meus olhos e minhas mãos
 por minha pele e por meu sangue
 Se o dia tem este fulgor inteiro é porque existes
 E é porque existes que se levanta o mundo
 em quotidianos prodígios
 em que ao fundo brilha o horizonte


 António Ramos Rosa

 Portugal (Faro) 1924-2013
 
 
 
 

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

De Orlando Zabelo //// SEMPRE.....................................



   
De Orlando Zabelo //// SEMPRE.....................................



Queria estar contigo
Para ser o palhaço
Que te fizesse rir,
Para te dar o ombro
Onde repousasse a tua cabeça
Para descansar,
Para te dar o abraço
Que te confortasse,
Para chorar por ti
E não quebrares tu,
Para te dar a mão
Se perderes a força ao caminhar,
Para tudo isso e muito mais
Queria estar aí
Junto de ti...
Como a tua sombra,
Podes nem dar por ela
Mas sabes que te acompanhará
Sempre...



Orlando Zabelo    




domingo, 11 de outubro de 2015

são reis

Não persigo
 nem vento nem flores
 caminhos ou cores
 Não consigo
 desenhar sorrisos
 onde ardem dores
 E por qualquer lado
 onde me arraste
 há sempre um canto aziago
 pleno contraste
 com a alvéola aura que me cobre
 com o manto de dor que me veste
 E assim
 de canto em canto
 de mim perdida
 vou vivendo a vida
 nem sempre alegre
 nem sempre triste
 olhando o negrume
 que persiste
 em rodear os meus passos
 e o cinza alabastro
 com que cinzelo as palavras
 uma a uma
 como se fossem obras de arte
 em mim retidas
 e guardadas
 esperando melhores dias
 esperando tocar-te com a leveza
 de uma estrela cadente
 como se fosse canto
 como se fosse gente!...


são reis
 031014.

Foto de São Reis.


sábado, 10 de outubro de 2015

Vinicius de Moraes. AUSÊNCIA

Ausência
 
 
 
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
 Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
 No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
 E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
 Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
 Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
 Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
 Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
 Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
 Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
 Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
 Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
 Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
 E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
 Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
 Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
 E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
 Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


Vinicius de Moraes. 

"Vem beber a noite pelos meus dedos
conhecer o sabor das estrelas
sem mesmo lhes tocares
em cada beijo meu
Vem quieto e sereno
beirar a margem do meu corpo
ceder à tentação da carne
fazer florir a paixão
nessa união de corpos e almas
Vem!
Vem que os pássaros já dormem
e a noite já é senhora
desse pedaço de mim
onde os olhos flamejantes 
e a boca sequiosa te procuram

são reis"


Casimiro de Abreu //// Sonhando

Sonhando
 
 
 

Um dia, oh linda, embalada Ao canto do gondoleiro, Adormeceste inocente No teu delírio primeiro, - Por leito o berço das ondas, Meu colo por travesseiro! Eu, pensativo, cismava Nalgum remoto desgosto, Avivado na tristeza Que a tarde tem, ao sol-posto, E ora mirava as nuvens, Ora fitava teu rosto. Sonhavas então, querida, E presa de vago anseio Debaixo das roupas brancas Senti bater o teu seio, E meu nome num soluço À flor dos lábios te veio! Tremeste como a tulipa Batida do vento frio... Suspiraste como a folha Da brisa ao doce cicio... E abriste os olhos sorrindo Às águas quietas do rio! Depois - uma vez - sentados Sob a copa do arvoredo, Falei-te desse soluço Que os lábios abriu-te a medo... - Mas tu, fugindo, guardaste Daquele sonho o segredo!...


Casimiro de Abreu  


 






sexta-feira, 9 de outubro de 2015

por Ricardo- águialivre

Quero sentir que vives em mim.
 .
 Quero sentir que vives em mim
 Que esvoaças pela maresia do entardecer
 Como esvoaça a esperança
 Quero sentir o chão que me suporta
 Quando te procuro e não encontro
 Mas nada mais importa
 No silêncio do sentir
 Quero caminhar por entre os teus sonhos
 Ser a claridade que ilumina o teu quarto
 Ser o elixir do teu sossego
 O grito do teu silêncio
 Quero envolver-te em meus braços
 Ser a alegria dos teus passos
 Encontrar-te nos meus sentimentos
 Perfumada como uma rosa em jardim
 Que dança perante os arvoredos
 Quero quebrar os teus e os meus medos
 Derreter esse gelo num beijo
 Qual lume que arde em desejo
 Quero sentir que vives em mim
 Meiga, terna, amiga ... sim


 por Ricardo- águialivre  



Eduardo Baqueiro //// Tua praia



 



 






Tua praia

 
Mais uma vez estive em tua praia!
Eu já gostava dela bem antes
de conhecê-la...
Hoje, tua praia, tornou-se um lugar
onde minhas emoções extravasam!
E eu a adoro!
Ela estava deserta, da maneira como gosto,
Era de madrugada,
só ouvia as ondas do mar me saudando...
Escutava tua voz rouca e sexy
falando baixinho ao meu ouvido!
Falava do amor que sentes por mim,
da falta que faço em tua vida
da saudade que sentes deste teu poeta,
do desejo que te domina em ser
somente minha!
Desta vez, não chorei, somente caminhei...
Caminhei até meu corpo exaurir toda
energia contida em meu peito...
Sentei numa pedra e fechei meus olhos
e vi você, minha menina safada, que corria
de encontro aos meus braços!
Te apertei com força,
tentei esgotar nossa vontade num
momento apenas,
Mas meu desejo somente aumentava
Esta fome de teu corpo...
Tirei tua roupa e vi teu corpo nu e atrevido
me provocando, me chamando,
me convidando
Teus braços abertos me buscavam
Com a mesma intensidade com que
eu te desejava...
Aproximei minha boca da tua boca e,
Sem nenhuma resistência,
senti tua língua me invadindo...
O mundo girava em torno de nós e
Eu me deliciava de você,
me entregava à nossa loucura,
Desejava apenas acontecer para você,
neste momento!
Nossas mãos, atrevidas,
percorriam nossos corpos,
Falavam a língua do silêncio...
Sentia teus gemidos de prazer
ao te penetrar,
Me deliciava de teu show, de teu prazer...
Meu tesão explodia dentro de você
sem controle, sem limite...
Amamos até o pôr do sol...
Seguimos nossos caminhos
com um sorriso nos lábios
E a certeza de que a felicidade existe,
Está escondida em nossos corações
E se liberta na tua praia...
Numa linda madrugada enluarada...


Eduardo Baqueiro  













Ricardo- águialivre

Apetece-me viajar por entre as raias do teu sonhar
 
 

Apetece-me viajar por entre as raias do teu sonhar
Amanhecer deitado na nobreza do teu sentimento
Serenamente absorver toda a doçura do teu olhar
Fazer do teu carinho o elixir do meu pensamento
.
Apetece-me trilhar admirando secas folhas caídas
Pelo abandono das pétalas da leviana melancolia
Sentir no meu peito tuas lágrimas finas e sentidas
Seres a luz do meu alento, feito brilho do meu dia
.
Apetece-me caminhar entre ventos e favos de mel
Como a abelha adeja em jardim de aromada flor
Sentir tua ternura esquecida de uma relação cruel
 
E em silêncio, saber dizer-te: Amo-te meu amor


 


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Julio Cortazár //// Después de las fiestas




Y cuando todo el mundo se iba
Y nos quedábamos los dos
Entre vasos vacíos y ceniceros sucios,


Qué hermoso era saber que estabas
Ahí como un remanso,
Sola conmigo al borde de la noche,
Y que durabas, eras más que el tiempo,


Eras la que no se iba
Porque una misma almohada
Y una misma tibieza
Iba a llamarnos otra vez
A despertar al nuevo día,
Juntos, riendo, despeinados.

Julio Cortazár



Depois das festas


E quando todo mundo estava indo
E nós ficávamos os dois
Entre copos vazios e cinzeiros sujos,


Quão belo era saber que estavas
Alí como um refúgio,
Sós comigo nos limites da noite,
E que duravas, eras mais do que o tempo,


Eras a que não se ia
Porque um mesmo travesseiro
E um mesmo calor
Ia nos chamar outra vez
Ao despertar de um novo dia,
Juntos, rindo, despenteados.





quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Eduardo Baqueiro //// Sonhando.....

Sonhando
 
 
 Deitado na minha cama sinto
 Teu perfume que exala pelo ar...
 No fundo, uma canção suave,
 tão suave quanto as ondas de teu mar!
 Embalando meu peito,
 Dando asas ao meu coração,
 As paredes de meu quarto se abrem,
 Uma brisa salgada invade meu rosto
 A alegria invade minh'alma...
 É o bom dia acordando o menino dentro de mim!
 Não sei o que me faz sentir assim
 Se o amor que sinto por ti
 Ou a saudade que embriaga meu ser...
 Continuo a caminhar por suas praias
 na esperança de te encontrar...
 Menina dos cabelos de mel, da pele clara,
 dos olhos que me enfeitiçam!
 Esta vontade de tocar suas mãos
 Não me sai do pensamento,
 O desejo de ouvir contos de sua vida,
 Suas alegrias e tristezas...
 Sempre esta voz que me enfeitiça
 Me faz sentir livre e feliz como nunca antes senti!
 O amor chegou no peito e abriu o coração
 Para nunca mais fechar...


Eduardo Baqueiro  






terça-feira, 6 de outubro de 2015

José Gomes Ferreira //// CHOVE.....

Chove...
 
 
 
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu...

uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
 

 José Gomes Ferreira  
 
 
 
 

são reis

Eras tu a abrir as manhãs
tu a orientar o sol e o vento
tu a orvalhar a terra
e a fazer girar as árvores
a traçar o rumo às aves...

Eras tu, sempre tu
mesmo quando eu ainda não sabia
que tu eras a claridade
da minha noite escura
a saída do labirinto dos meus olhos
o leito tranquilo
da minha revoltosa nascente
Eras tu!
Dentro e fora de mim
e eu não percebia...


são reis 

 


 

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Ricardo- águialivre

Feridas abertas no sentir do meu coração 
 
 
 

 Quando te sinto nua sobre o meu corpo quente
 E o teu beijo desassossega o meu pensamento
 Fecho os olhos na doçura de um corpo carente
 Fazendo do teu corpo, meu desejado momento
 Silêncios invadem o anoitecer da minha prece
 Nas gotas soltas da sudação que vive em mim
 Quando o teu corpo, alvorada que me apetece
 Transpira na anuência de um carinho sem fim
 Jaz o sentimento num clamor silente e abafado
 Nas lágrimas implantadas nas rugas da ternura
 Sintonia de amor em traços de afectiva paixão
 Nas correntes do meu ser imortalizei o passado
 Quando sinto as incisões da imperfeita loucura
 Como feridas abertas no sentir do meu coração


Ricardo- águialivre   



Cidália Ferreira. //// Num constante devaneio...

Num constante devaneio...
 
 

Num constante desassossego
Devaneiam sentimentos
Por solitários caminhos
E lugares desconhecidos,
Respiro-te noite e dia
Sonho contigo, abraças-me
Sussurras-me ao ouvido
Desassossegas-me a mente
Levando-me ao delírio,
Em cada gota de água
Vejo gravado o teu nome
E na imensidão de um lago
Onde meus braços se abrem
Para poder receber
Os mais loucos momentos
Que por ti sentem prazer,
Num constante devaneio
Gritando aos sete ventos
A vontade, de contigo me perder

Cidália Ferreira. 



domingo, 4 de outubro de 2015

são reis Inesquécível

inesquecível
 
 
 
 
 inesquecível como o roçagar das asas de uma ave
 Inesquecível como o vento
 inesquecível como o olhar perdido adiante
 Inesquecível como esse abismo
 que me atiça e fascina
 Inesquecível como esse querer
 ser mar e céu
 eterna menina
 num abraço teu

são reis
 28jul15 




Florbela Espanca

Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
 Dizendo coisas que ninguém entende!
 Da tua cantilena se desprende
 Um sonho de magia e de pecados.
 Dos teus pálidos dedos delicados
 Uma alada canção palpita e ascende,
 Frases que a nossa boca não aprende
 Murmúrios por caminhos desolados.
 Pelo meu rosto branco, sempre frio,
 Fazes passar o lúgubre arrepio
 Das sensações estranhas, dolorosas...
 Talvez um dia entenda o teu mistério...
 Quando, inerte, na paz do cemitério,
 O meu corpo matar a fome às rosas!


 Florbela Espanca  


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Maria Olinda Maia //// São momentos......


São momentos...
No silêncio da madrugada
 acalento os teus sonhos.
Acendes um cigarro
 e eu abro o champanhe.
O dia começa a clarear.
 Amar-te na alegria dos beijos
 na ternura do encontro dos corpos.
 Amar-te com a minha alma
 com a minha vida.


Maria Olinda Maia  



Francisco Valverde Arsénio /// Não Me Lembro/ Mas Sei !

Não Me Lembro / Mas Sei!




Não me lembro se chegaste a pedir para entrar nos meus dias. Mas que importa, apetece-me afundar no teu olhar e perder-me num momento que não termine nunca. Só eu sei como a voz dos teus olhos tem mais timbre que o som das gotas de orvalho… e elas caem nesta madrugada vindas do cimo de todas as flores. Enraizaste-te em mim como a neblina ao beijar a terra por cima do monte… intensamente… e os corpos evadem-se nessa bruma densa… toco-te… tocas-me a alma com esse sabor selvagem de quem está presente mesmo quando ausente… és mulher!



© Francisco Valverde Arsénio  



quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Maria do Rosario Pedreira

Não partas já. Fica até onde a noite se dobra
 para o lado da cama e o silêncio recorta
 as margens do tempo. É aí que os livros
 começam devagar e as cores nos cegam
 e as mãos fazem de norte na viagem. Parte apenas
 quando amanhã se ferir nos espelhos do quarto
 em estilhaços de luz; e um feixe de poeiras
 rasgar as janelas como uma ave desabrida.
 Alguém murmurará então o teu nome, vagamente,
 como a gastar os dedos na derradeira página.
 E então, sim, parte, para que outra história se
 invente mais tarde, quando os pássaros gritarem
 à primeira lua e os gatos se deitarem sobre
 o muro, de olhos acesos, fingindo que perguntam.



Maria do Rosário Pedreira