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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

DE : RUY BELO



  • Vestigia Dei



    És tu quem perseguimos pelos lábios
    e tens em equilíbrio os seres e o tempo
    És tu quem está nos começos do mar
    e as nossas palavras vão molhar-te os pés
    Tu tens na tua mão as rédeas dos caminhos
    descem do teu olhar as mais nobres cidades
    onde nasceram os primeiros homens
    e onde os últimos desejarão talvez morrer

    Tu és maior que esta alegria de haver rios
    e árvores ou ruas donde serem vistos
    Por ti é que aceitamos a manhã
    sacrificada aos vidros das janelas
    aceitamos por ti o sol ou a neblina
    que faz dos candeeiros sentinelas
    É para ti que os pensamentos se orientam
    e se dirigem os passos transviados
    e o vento que nos veste nas esquinas

    És sempre como aquele que encontramos
    diariamente pela rua fora
    e a pouco e pouco vemos onde mora
    Só tu é que nos faltas quando reparamos
    que os papéis nos vão envelhecendo
    e os dias um por um morrendo em nossas mãos
    És tu que vens com todos os versos
    És tu quem pressentimos na chuva adivinhada
    quando os olhos ainda se nos fecham
    embora o sono nunca mais seja possível
    É tua a face oposta a todas as manhãs
    onde o tempo levanta ombros de espuma
    que deixam fundas rugas pelas faces

    Os céus contam contigo é para teu repouso
    a terra combalida e sem caminhos
    Ser indecomponível teu corpo foi maior
    que vítimas e oblações. Quando tu vens
    a solidão cai leve como a flor do lírio
    e as aves nos pauis levantam voo
    e há orvalho em teus primeiros pés

    Não assistisses tu a esta nossa vida
    caíssem-nos os gestos ou quebrados ou dispersos
    e nenhum rosto decisivo um dia fecharia
    todas as palavras com que dissemos os versos
    Vestigia Dei



Ruy Belo



És tu quem perseguimos pelos lábios

e tens em equilíbrio os seres e o tempo

És tu quem está nos começos do mar

e as nossas palavras vão molhar-te os pés

Tu tens na tua mão as rédeas dos caminhos

descem do teu olhar as mais nobres cidades

onde nasceram os primeiros homens

e onde os últimos desejarão talvez morrer



Tu és maior que esta alegria de haver rios

e árvores ou ruas donde serem vistos

Por ti é que aceitamos a manhã

sacrificada aos vidros das janelas

aceitamos por ti o sol ou a neblina

que faz dos candeeiros sentinelas

É para ti que os pensamentos se orientam

e se dirigem os passos transviados

e o vento que nos veste nas esquinas



És sempre como aquele que encontramos

diariamente pela rua fora

e a pouco e pouco vemos onde mora

Só tu é que nos faltas quando reparamos

que os papéis nos vão envelhecendo

e os dias um por um morrendo em nossas mãos

És tu que vens com todos os versos

És tu quem pressentimos na chuva adivinhada

quando os olhos ainda se nos fecham

embora o sono nunca mais seja possível

É tua a face oposta a todas as manhãs

onde o tempo levanta ombros de espuma

que deixam fundas rugas pelas faces



Os céus contam contigo é para teu repouso

a terra combalida e sem caminhos

Ser indecomponível teu corpo foi maior

que vítimas e oblações. Quando tu vens

a solidão cai leve como a flor do lírio

e as aves nos pauis levantam voo

e há orvalho em teus primeiros pés



Não assistisses tu a esta nossa vida

caíssem-nos os gestos ou quebrados ou dispersos

e nenhum rosto decisivo um dia fecharia

todas as palavras com que dissemos os versos
     ·  · 
    O


1 comentário:

Unknown disse...



VESTÍGIA DEI: RUY BELO!

EXCELENTE ESCOLHA!!!!!

E sem mais palavras para comentar!

Um beijo