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segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" (heterónimo de Fernando Pessoa)







Quando Vier a Primavera Quando vier a Primavera,  Se eu já estiver morto,  As flores florirão da mesma maneira  E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.  A realidade não precisa de mim.  Sinto uma alegria enorme  Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma. Se soubesse que amanhã morria  E a Primavera era depois de amanhã,  Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.  Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?  Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;  E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.  Por isso, se morrer agora, morro contente,  Porque tudo é real e tudo está certo.  Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.  Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.  Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.  O que for, quando for, é que será o que é.  Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" (heterónimo de Fernando Pessoa)





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