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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Ruy Belo //// Constatação



Constatação

[...]
 A noite desce já com seus cuidados
 e connosco nossos máximos inimigos
 não tardamos a ver-nos confrontados
 E eis que sei que irremediavelmente
 te perdi sem te ter encontrado
 sem haver esgotado o mundo pressentido
 no fundo da figura de mulher
 que só se atravessou no meu caminho quando já tinha apenas para dar-lhe
 o que de tão profundo em mim havia
 que subsistia para além da instituição
 incompatível com o verdadeiro amor
 Destino? Fatalismo? Não sei bem
 Eu sinto-me culpado porque todos temos decerto culpa em qualquer caso
 E não vejo nisto espírito cristão
 mas a simples constatação de que afinal
 era em parte nossa a mão que se movia
 Que venha a noite com os seus prodígios
 Sinto que sou maior do que mim mesmo
 que vou ter dimensões que só terei
 quando morrer e que hei-de até dizer
 palavras de pureza pavorosa
 Não tenho nada a ver com toda a gente
 Eu vi-te e só por ver-te tive em ti
 mais do que até teria se tivesse renascido
 Eras mulher a única mulher
 e indefeso a ti me confiei
 para me convencer de que sentia
 seja o que for quando afinal não sinto
 nada por mim nem por ninguém fora de ti
 Para continuar precisaria de ter fé
 e eu só acredito já naquilo que é
 [...]

Ruy Belo 


 

1 comentário:

Fatima maria disse...

Não tenho nada a ver com toda a gente
Eu vi-te e só por ver-te tive em ti
mais do que até teria se tivesse renascido

bjinho,Conde