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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Mia Couto //// Poema da despedida


...

Não saberei nunca
 dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
 só nós não podemos ser

Talvez o amor,
 neste tempo,
 seja ainda cedo

Não é este sossego
 que eu queria,
 este exílio de tudo,
 esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
 o que seja meu
 e quando tento
 o magro invento de um sonho
 todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
 alcança o mundo, eu sei
 Ainda assim,
 escrevo.


Mia Couto 





 

terça-feira, 28 de julho de 2015

são reis ///// Inesquecível!

Inesquecível!
 É assim que te vejo!
 É assim que te sinto!
 Inesquecível como o Verão
 inesquecível como o roçagar das asas de uma ave
 Inesquecível como o vento
 inesquecível como o olhar perdido adiante
 Inesquecível como esse abismo
 que me atiça e fascina
 Inesquecível como esse querer
 ser mar e céu
 eterna menina
 num abraço teu


são reis
 28jul15 
 
 
Foto de São Reis.
 
 

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Laura Santos ///// Como se.....

Como se...






 O firmamento parava nos meus olhos para te olhar. Como se a Primavera tivesse trazido as cores de todas as flores imperecíveis e os desígnios insondáveis do mundo e arredores. Dizias frases supostamente com sentido, e tomavas no teu o meu corpo como se não existisse a hora seguinte, e o amanhã pudesse ser remoto e adiável.

 Inventei em ti a frescura das manhãs e o mistério do movimento de translação da terra, a ondulação das giestas, os gestos quentes e atlânticos feitos de azul e mar. A certeza ilusória de um trilho em direcção ao sol poente, como anjo de asas cortadas que se tivesse esquecido de descobrir a claridade dos dias, mas se aventurasse na penumbra da noite.

 Reconheci o teu respirar no meu, sempre que a lua se sentava distraidamente no meu peito quando adormecias e me encostava a ti, e  existia uma leve brisa feita de ternura que despertava em deslumbramento todos os silêncios. Uma brisa feita de oceanos de palavras não ditas, amarrotadas nos bolsos, e da opulência de mãos acesas que davam luz aos corpos e incendiavam a matéria. Pendurei no teu corpo o infinito, como se um momento tivesse em si a semente robusta de um dia claro e abrangente. Como se tudo existisse em ti...

 Suaves gotas de chuva tépida molham o regresso dos dias. Descubro-te ainda em cada arco-íris, como se fosses o sol que me ilumina aonde quer que vá. Como se um brado sereno travasse os movimentos antes incontidos das marés, e todos os rios só encontrassem agora o caminho para o orvalho do meu olhar. Todo o sentimento de ausência pode ser um longuíssimo adágio ou uma sinfonia descontínua de sons e imagens difusas que estremecem no ruído dos dias. Ou tímidos vazios imperiais de desalento. Lá fora a manhã vagarosamente se anuncia. Restos de noite sobem de mão dada com a densa neblina enquanto o meu corpo, mera superfície lavrada, desperta a lembrança do Verão fazendo soprar um bafo quente de tempo irrepetível.

 Continuas a caminhar nos meus passos com a leveza das aves anónimas que há muito voaram para longe, aladas na ventania que deixa para trás árvores decapitadas.
Galopo contudo a crista da manhã como se me esquecesse de ser triste, e a tranquilidade da noite tivesse emprestado ao dia uma doce e serena resignação.



Laura Santos   



CLIQUE  NO ENDEREÇO 
https://youtu.be/DAQBiqomiNo

CECÍLIA VILAS BOAS


 E o que será senão amor?
 Quando os teus braços enlaçam o meu querer
 A tua boca beija-me em sonhos sem avisar
 E o teu corpo permanece em mim
 Tudo são violetas, aromas inebriantes

 Exaltação, chama que arde no meu peito
 Sinto-te! Nos beijos das tardes doiradas
 Onde me perco para te encontrar em silêncio
 São lágrimas de felicidade que acalentam os meus dias
 Tudo faz sentido agora!
 Já não existe morte porque me eternizaste
 Ah, como os amores são perfeitos…!
 Os suspiros
 Os corações
 As nossas almas juntas...

CECÍLIA VILAS BOAS, in O TEMPO DA ALMA (Chiado, 2014) 





domingo, 26 de julho de 2015

Cecília Vilas Boas //// EM MIM

Em mim

Um MAIS UM srsrsrsrsr ‏



Como nos céus
Existe em mim um infinito
Uma sede de ti
Uma angústia que permanece além do tempo
Vivo a intensidade do amor
Aquele que conheci
E a tormenta da saudade
Já nem sei bem o que sinto
As memórias dão colo às aves
Sei agora porque lhes dói o ser
Vivo de ilusões
Aquelas que o mundo não tem
Como queria não tentar compreender
Como desejava ser apenas razão!


Cecília Vilas Boas
In MARGINÁLIA, Edita-me, 2015.  




sábado, 25 de julho de 2015

Tereza Brinco Oliveira ///// O lado oculto....

O lado oculto




Sou esta metade. A que vês, a que sentes,
a que tateias. Aquela que sorri e chora. A que te dá vida
corpórea.
Sou a amante, a amiga, a companheira de uma vida...
ou de um só dia.
Sou essa que tem face mas sou a outra, também.
Sou a que sente em segredo, a que pensa e sonha e não diz a ninguém.
Sou a que se esbate na tela e bate no coração.
Sou o imaginário do que não digo, o mistério do que desejo,
o sortilégio do sonho, o feitiço da minha verdade,
a sedutora da minha própria vida,
o risco entre a sanidade e a loucura.
 

Tereza Brinco Oliveira
in "Marginália", Edita-me, 2015
Ilustração de César Paternosto  


Foto de Rogério Edgardo Xavier.


sexta-feira, 24 de julho de 2015

Helena Guimarães /// Pediste-me um dia um poema


Pediste-me um dia um poema



 Pediste-me um dia um poema,
 poema que fosse teu.
 Como ave delicada
 que agoniza quando presa,
 o poema nasce na alma,
 movimenta-nos o sangue
 com a força do desejo,
 humedece-nos os lábios
 com a ternura de um beijo,
 dança na bainhas dos versos,
 plana nas asas da calma,
 amordaçado, ele morre
 se soletrado fenece.
 Poema não compreendido
 torna-se vago, emudece.
 Procurei o teu poema
 no abraço da entrega,
 nas pegadas paralelas
 de mãos dadas junto ao mar,
 na cumplicidade da noite,
 na comunhão de um olhar.
 Só descobri versos vagos
 dançando ao som do medo,
 abandonos calculados,
 a reserva e o segredo.
 Pediste-me um dia um poema,
 poema que fosse teu.
 Mas nesses versos dispersos,
 o poema se perdeu.
 Não consegui e foi pena.
 Poema não construído
 torna-se num não-poema!

 HELENA GUIMARÃES    



 



terça-feira, 21 de julho de 2015

Apeteceu-me.....rsrsrsrsrsrsrs

Colei meu corpo ao seu,
apertando-o deliciosamente...
Teu jeito safado pedia para não parar
Tua pele, exalando o cheiro de fêmea,
me deixava desnorteado...
Quando colei minha boca na tua
perdi a compostura
Rasguei teu vestido para sentir o calor
de teu peito
Minhas mãos, inquietas,
desejavam tocar tuas curvas
Tentava, em vão, decorar teus segredos
Quase perdia a consciência enroscado
em teus braços
Se pudesse, te prenderia eternamente
em meus braços,
Gozando do prazer de dividir com você
este doce momento
Quando minha menina se transforma
na loba sedenta
Louca para saciar sua fome,
louca para ser possuída
E eu me transformo no menino vadio
que ela adora
Satisfazendo suas vontades
e dizendo palavrões ao pé do ouvido
Cada gesto, cada palavra,
cada toque a excita ainda mais...
Aos poucos nos perdemos dentro do outro
Um desejo, uma intenção, um só tesão
Somos duas crianças na beira de uma praia
construindo castelos de areia.
Cada uma desejando fazer o maior castelo
Esperando que as ondas do mar os carregue
para restar apenas a alegria....
Somos apenas paixão
Somos dois corpos fundidos em um só desejo
Numa ânsia louca de saborear cada momento,
cada ato, cada sensação
Depois, exaustos ainda resta o
calor de nosso corpos
para nos aquecer pela noite a dentro
Nenhuma palavra, nenhum olhar,
somente o calor dos corpos
de duas almas errantes 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

José Luís Outono ///// Apetece.......

Apetece
 
 
 


Apetece dizer e não sei dizê-lo
 Apetece querer e não sei almejar sequer
 Apetece abraçar e não sinto no outro lado entrega
 Apetece gritar, mas a rouquidão trai o sentir
 Apetece sair... partir... ir onde nunca fui
 Apetece correr a memória esquecida e escrever
 Apetece tanto... e tanto é um grama de matéria pó
 Apetece sorrir no meio das lágrimas secas
 Apetece e já nada apetece no esvair do viver
 Apetece dizer e não sei dizê-lo!

José Luís Outono, in Mar de Sentidos  
 
 
 

 

domingo, 19 de julho de 2015

Isabel de Sousa (luadiurna) Quando te vi.....



QUANDO TE VI.....





 quando te vi
 acendi todas as estrelas do espanto e do prazer
 abri todos os sorrisos iluminados pelo teu olhar
 corri as cortinas do tempo amarrotadas no sotão do passado

 quando te vi
 abri todas as portas derrubei todas as barreiras
 tirei do armário o vestido de arminho e as flores de laranjeira
 e
 adornei-me de pureza na pueril inocência das crianças
 quando te vi
 tatuei o teu nome na alma
 e é lá que ainda te guardo
 ao abrigo do meu sentir


 Isabel de Sousa    (luadiurna) 



António Amaral //// “Poeta”


“Poeta”


 “Poeta” não sou,
 Escrevo com uma pena torta,
 Palavras que não consigo ler.
 O que alinho, cada letra,
 Nasce dentro dos olhos,
 Diluída pelas chuvas ácidas
 De desilusões, injustiças,
 Fantasmas, medos, sonhos
 Misturados em mágoas,
 Gotas de amor, de paixão,
 Ódios e uma raiva enorme
 Perante a impotência diária
 De nada conseguir mudar,
 Mesmo que lute, mesmo que invista,
 Mesmo que morra.

 Quando escrevo, é como se
 Água corresse, arrastando todo o lixo,
 Limpando tudo…
 Mas depois se releio, magoa,
 Fere, e o sabor que fica na boca
 É amargo, como se veneno fosse,
 E os olhos não resistem,
 O soluço solta-se.
 Gostava de escrever sussurros
 E não gritos,
 Murmúrios de ribeiro
 E não o barulho das cataratas,
 O sopro leve da brisa
 E não o uivo do furação enraivecido.
 Como vou conseguir
 Amar assim?
 Talvez no dia em que conseguir
 Ser “Poeta”.

 António Amaral  





sábado, 18 de julho de 2015

Pedro Tamen ///// Arder

Arder





Ardes-me no peito onde a custo
o meu amor perpassa, e vai até
às loucuras do corpo
e às agruras da alma.
Ardes-me no minuto, no segundo,
na hora amaciada por olhos entrevistos,
ardes-me no sangue obstruído
e na certeza muda que me diz
que o coração existe.

Pedro Tamen




quinta-feira, 16 de julho de 2015

Mario Benedetti - No te rindas.


Com assunto.....‏

 
 
 
No te rindas, aún estás a tiempo

De alcanzar y comenzar de nuevo,

Aceptar tus sombras,

Enterrar tus miedos,

Liberar el lastre,

Retomar el vuelo.

No te rindas que la vida es eso,

Continuar el viaje,

Perseguir tus sueños,

Destrabar el tiempo,

Correr los escombros,

Y destapar el cielo.

No te rindas, por favor no cedas,

Aunque el frío queme,

Aunque el miedo muerda,

Aunque el sol se esconda,

Y se calle el viento,

Aún hay fuego en tu alma

Aún hay vida en tus sueños.

Porque la vida es tuya y tuyo también el deseo

Porque lo has querido y porque te quiero

Porque existe el vino y el amor, es cierto.

Porque no hay heridas que no cure el tiempo.

Abrir las puertas,

Quitar los cerrojos,

Abandonar las murallas que te protegieron,

Vivir la vida y aceptar el reto,

Recuperar la risa,

Ensayar un canto,

Bajar la guardia y extender las manos

Desplegar las alas

E intentar de nuevo,

Celebrar la vida y retomar los cielos.

No te rindas, por favor no cedas,

Aunque el frío queme,

Aunque el miedo muerda,

Aunque el sol se ponga y se calle el viento,

Aún hay fuego en tu alma,

Aún hay vida en tus sueños

Porque cada día es un comienzo nuevo,

Porque esta es la hora y el mejor momento.
 
Porque no estás solo, porque yo te quiero.

https://youtu.be/k3zmuVHDeagMario Benedetti

quarta-feira, 15 de julho de 2015

J. G. de Araujo Jorge


Esta saudade és tu... E é toda feita
 de ti, dos teus cabelos, dos teus olhos
 que permanecem como estrelas vagas:
 dos anseios de amor, coagulados.

 Esta saudade és tu... É esse teu jeito
 de pomba mansa nos meus braços quieta;
 é a tua voz tecida de silêncio
 nas palavras de amor que ainda sussurram...
 Esta saudade são teus seios brancos;
 tuas carícias que ainda estão comigo
 deixando insones todos os sentidos.
 Esta saudade és tu... é a tua falta
 viva, em meu corpo, na minha alma, viva,
 ... enquanto eu morro no meu pensamento.


 J. G. de Araujo Jorge

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Sophia de Mello Breyner Andresen

Se todo o ser ao vento abandonamos

E sem medo nem dó nos destruímos,

Se morremos em tudo o que sentimos

E podemos cantar, é porque estamos

Nus, em sangue, embalando a própria dor

Em frente às madrugadas do amor.

Quando a manhã brilhar refloriremos

E a alma beberá esse esplendor

Prometido nas formas que perdemos.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen  



domingo, 12 de julho de 2015

José Angel Buesa ///// O grande amor

O grande amor




Um grande amor, um grande amor distante
É algo assim como uma enredadeira
Que não quisera florescer em vão
E continua a florescer ainda que não queira.
Um grande amor se nos acaba um dia
E é tristemente igual a um poço seco,
Pois, já não têm mais a água que tinha
Porém, lhe queda, todavia, o eco.

E, nesse grande amor, aquele que ama
Compartilhará o destino da fogueira,
Que o consome todo com a sua chama
Porque não sabe arder de outra maneira.
 
 
 
José Angel Buesa  
 
 
 
 

sábado, 11 de julho de 2015

"Longa é a noite"...

"Longa é a noite"

Passeias nua suavemente
pela minha mente
sinto o teu toque
mesmo distante de ti.

Imagino-te...
Toco a tua pele
com a ponta dos meus dedos,
delicadamente que só assim me sentes.

Aconchego o teu corpo
nos meus braços
a cada momento
com esta certeza de ti.

Longa é a noite
quando recordo a tua voz,
beijo-te uma, outra e ainda outra vez,
alimento assim esta vontade de ti.

De palavra em palavra
procuro chegar a ti
zango-me com o mundo
só porque não te deitas aqui.

Esta saudade imensa
queima a alma já de si perdida.
Sou apenas uma sombra
que vive em ti...
 
 

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Eugénio de Andrade ///// Procuro-te

Procuro-te
 

Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.
Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.
Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.
Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.
Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.
Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.


Eugénio de Andrade, in "As Palavras Interditas"




Ruy Belo //// Constatação



Constatação

[...]
 A noite desce já com seus cuidados
 e connosco nossos máximos inimigos
 não tardamos a ver-nos confrontados
 E eis que sei que irremediavelmente
 te perdi sem te ter encontrado
 sem haver esgotado o mundo pressentido
 no fundo da figura de mulher
 que só se atravessou no meu caminho quando já tinha apenas para dar-lhe
 o que de tão profundo em mim havia
 que subsistia para além da instituição
 incompatível com o verdadeiro amor
 Destino? Fatalismo? Não sei bem
 Eu sinto-me culpado porque todos temos decerto culpa em qualquer caso
 E não vejo nisto espírito cristão
 mas a simples constatação de que afinal
 era em parte nossa a mão que se movia
 Que venha a noite com os seus prodígios
 Sinto que sou maior do que mim mesmo
 que vou ter dimensões que só terei
 quando morrer e que hei-de até dizer
 palavras de pureza pavorosa
 Não tenho nada a ver com toda a gente
 Eu vi-te e só por ver-te tive em ti
 mais do que até teria se tivesse renascido
 Eras mulher a única mulher
 e indefeso a ti me confiei
 para me convencer de que sentia
 seja o que for quando afinal não sinto
 nada por mim nem por ninguém fora de ti
 Para continuar precisaria de ter fé
 e eu só acredito já naquilo que é
 [...]

Ruy Belo 


 

terça-feira, 7 de julho de 2015

RAMOS DE DESEJOS.....

RAMOS DE DESEJOS


debruçado na noite
na ternura da madrugada
abri as janelas
da esperança

despi as angústias
de palavras inúteis
na sonolência dos afectos

respiro o odor da tua pele
beijada de carícias
na memória dos encontros

recordo o perfume
dos teus seios
vejo nos teus olhos
ramos de desejos
da cor dos meus
 
.................................

domingo, 5 de julho de 2015

luadiurna

Para que me visses
 incendiei o sol de abril
 abri os casulos das borboletas azuis
 espelhando no ceu as gaivotas
 e o rio

 o teu rosto queimava
 na hora do meio dia
 e â noite
 a lua trazia-me a loucura
 das palavras sussurradas
 onde se instalava
 o frémito da paixão
 a manhã era um sorriso aberto
 no meu corpo
 
 os girassois caminham
 em direção â luz

 luadiurna  




sábado, 4 de julho de 2015

Ana Alvarenga //// Já fiz tanto por amor.....


Já fiz tanto por amor...

 Já fiz tanto por amor.
 Já fiz tanto e (afinal) não fiz nada:
 está tudo por fazer...

 Madrugadas para inaugurar,
 beijos para tecer,
 corpos por TOCAR,
 noites de enternecer.
 Já fiz tanto por amor...
 Já fiquei, já parti;
 Já fui, já fugi;
 Já desisti, já combati;
 Já teimei, já insisti;
 Já obriguei, já ri.
 Já fiz tanto por amor...
 enlouqueci os rios,
 enfraqueci os mares,
 devorei mil-sóis,
 prendi os ventos,
 soltei as feras.
 Já fiz tanto por amor...
 desmaiei pelo teu sorriso,
 rendi-me ao teu olhar,
 entreguei-me ao teu beijo,
 suspirei de saudade,
 e amei-te - como só eu sei amar...
 Já fiz tanto por amor...
 e ainda tudo me falta fazer.

 Ana Alvarenga   





quinta-feira, 2 de julho de 2015

Sophia de Mello Breyner Andresen //// A solidão

A Solidão


A noite abre os seus ângulos de lua
E em todas as paredes te procuro
 A noite ergue as suas esquinas azuis
E em todas as esquinas te procuro
 A noite abre as suas praças solitárias
E em todas as solidões eu te procuro
 Ao longo do rio a noite acende as suas luzes
Roxas verdes azuis.
 Eu te procuro.


Sophia de Mello Breyner Andresen 
 
 
 
 

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Delfim Peixoto //// Quando.....


 “Quando…”



 Quando me abres assim os teus braços
 E eu entro na tua alma tudo se rejuvenesce.
 É assim, o amor, são os laços
 É o calor que cresce.
 E quando tu vens assim, calma, maravilhosa
 Devias saber
 Seres a minha alma
 Sem o saber!
 Quando eu te abro assim os meus braços
 E entras na minha alma, tudo resplandece.
 É assim a paixão, os abraços,
 É a paixão que cresce.
 E quando eu vou assim, devagar,
 Sei que sou a tua alma,
 Sem o saber!
 Quando nos envolvemos assim,
 E as nossas almas se encontram,
 Nascem estrelas no céu,
 Nasce música no ar,
 Nasce a sensação
 De que afinal,
 estamos a
 Amar!!!

Delfim Peixoto