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domingo, 24 de fevereiro de 2019

© EUGéNIO DE ANDRADE As Mãos e os Frutos, 1948





POESIA
HOJE DEITEI-ME AO LADO DA MINHA SOLIDÃO

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão. 
O seu corpo perfeito, linha a linha, 
derramava-se no meu, e eu sentia 
nele o pulsar do próprio coração.

Moreno, era a forma das pedras e das luas. 
Dentro de mim alguma coisa ardia: 
a brancura das palavras maduras 
ou o medo de perder quem me perdia.

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão 
e longamente bebi os horizontes. 
E longamente fiquei até sentir 
o meu sangue jorrar nas próprias fontes.


© EUGéNIO DE ANDRADE
As Mãos e os Frutos, 1948

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